por Luis Nassif
Em sua coluna no Valor, Delfim Netto bate no tema recorrente do Blog: a imprudência com a apreciação do real.
A ciência do "faz de conta" e a urna
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(...) A urna revela a livre escolha dos cidadãos soberanos no mercado "político", da mesma forma que os preços revelam a escolha (condicionada por sua renda) dos consumidores soberanos no mercado de bens e serviços. No mercado "político" o condicionante é que há uma inevitável troca física entre a possibilidade de maior consumo "hoje" e, logo, menor investimento "hoje" e, conseqüentemente, menor crescimento e menor consumo "amanhã". Nos países (como o Brasil) onde a necessidade cria uma preferência hiperbólica pelo "consumo hoje", a maior tarefa do macroeconomista é exercer o seu talento retórico no esforço didático de convencer os cidadãos da insuperável troca entre o "presente" e o "futuro". É preciso que nas urnas eles aceitem uma combinação adequada entre o desejo de acelerar o crescimento e o de aumentar a equidade na distribuição de seus frutos.
Já deveríamos ter aprendido que as sugestões da economia do "faz de conta", caricaturizada na tríade reformista "estabilizar, privatizar e liberalizar" só sobrevivem quando produzem resultados palpáveis imediatos. Elas são, sem dúvida, condições necessárias para acelerar o crescimento, mas inservíveis quando não executadas com inteligência e paciência que as levem a sobreviver nas urnas.
Um exemplo de conselho que nos parece típico dos "fora de lugar" é a sempre renovada sugestão da economia do "faz de conta" de valorizar ainda mais o real elevando brutalmente a já maior taxa de juro real do mundo para controlar a taxa de inflação. Há razoáveis evidências empíricas da Economia Política em torno de três proposições:
1) uma "super-valorização" cambial temporária pode causar perda definitiva da competitividade de alguns setores (desatualização tecnológica, redução de escala etc.);
Comentário
Repito aqui o que venho dizendo há meses. No ano passado parecia terrorismo inócuo. Hoje, está mais factível. No ano que vem, possibilidade concreta: a era Lula poderá terminar como a era FHC, por irresponsabilidade com o câmbio.
A pesquisa CNI-IBOPE demonstrou a importância da estabilidade econômica na aprovação do governo. O povo confia no presidente, acredita nele - como acreditava em 1998, na véspera da explosão do câmbio.
Lembro-se de emails que recebia de leitores aturdidos. Até uma semana antes da explosão do câmbio, se valiam dos argumentos de FHC contra os críticos da política cambial: eram adeptos da fracassomania, mercadores do atraso e aquelas bobagens todas repetidas à exaustão pelos papagaios na mídia. Agora, me dizia o leitor, o FHC e o Malan dizem que quem dizia aquilo (que o câmbio não podia mudar) era terrorista.
A era FHC terminou ali. Lula está adiando o acerto de contas com o câmbio para preservar, agora, sua popularidade. Quando vier o ajuste na marra, será condenado não apenas pelos eleitores mas pela história.
2) uma proteção tarifária e creditícia bem escolhida e temporária pode criar vantagens comparativas definitivas pelo "aprender fazendo", da qual abundam exemplos nacionais;
3) a descoberta de abundantes recursos naturais com robusta demanda externa pode ser uma tragédia: reduz a competitividade dos outros setores no curto e médio prazos e, sem inteligência adequada, reduz o bem estar no longo.
A ciência do "faz de conta" nunca resistiu à tentação de valorizar o câmbio para reduzir a inflação, cada vez que nossos "termos de troca" melhoraram. E o Brasil nunca deixou de pagar caro por isso, como vai, lamentavelmente, fazê-lo de novo, em breve...
Fonte: Blog do Nassif
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