quarta-feira, 23 de julho de 2008

Daniel Dantas, Lula e a mulher de César



por Gustavo Gindre - Para o Observatório do Direito à Comunicação


"O cara vai pegar o que ele vendeu e vai cantar noutro lugar, entendeu? Vai tentar, ele tá começando outra vida pô, vamos ver”. De Luiz Eduardo Greenhalgh para Sigmaringa Seixas, em conversa telefônica grampeada pela Polícia Federal


Como diz o ditado, à mulher de César não basta ser honesta, tem que parecer honesta. Pois, se Lula pretende que a compra da Brasil Telecom pela Oi tenha uma áurea de decência, deve suspender imediatamente qualquer revisão do Plano Geral de Outorgas (PGO) até que a justiça se manifeste definitivamente sobre o mérito da operação Satiagraha, desencadeada pela Polícia Federal para investigar o banqueiro Daniel Dantas (DD). Vale lembrar que cabe ao presidente da República autorizar a mudança no PGO.

Segundo informações extra-oficiais que circulam pela imprensa, Banco do Brasil, BNDES e fundos de pensão de estatais (especialmente a Previ) irão diminuir sua participação na empresa resultante da compra. Ou seja, o governo anuncia que se trata de um bom negócio, mas ele próprio decide diminuir sua participação. É importante saber se esse desinvestimento trará prejuízo para os acionistas do BB (em especial a União), para o BNDES e para os fundos de pensão de estatais (cuja saúde financeira é fundamental para o futuro de milhares de trabalhadores e suas famílias).

Também pela imprensa ficamos sabendo que o BNDES deve emprestar uma quantia de alguns bilhões de reais para essa operação. Não é normal que o BNDES empreste recursos para meras aquisições. Por que dessa vez? Agora, a Oi acaba de anunciar oficialmente que pegou um empréstimo de R$ 4,3 bilhões com o Banco do Brasil em condições mais favoráveis do que as de mercado (CDI + 1,3% ao ano).

Pelo modelo societário proposto, Carlos Jereissati e a Andrade Gutierrez serão os principais acionistas dessa nova empresa. Esta última foi a maior financiadora da campanha de Lula em 2006 e propôs ao conselho da Oi a ajuda de R$ 5 milhões à Gamecorp, onde o filho de Lula é um dos sócios.

Daniel Dantas

Mas, a compra não será positiva apenas para Carlos Jereissati e a Andrade Gutierrez. O banqueiro Daniel Dantas, principal alvo da operação Satiagraha, deve receber um pouco mais de R$ 1 bilhão pela venda de suas participações tanto na Oi quanto, especialmente, na Brasil Telecom. Para que isso ocorresse, os fundos de pensão das estatais abriram mão dos processos que moviam contra Daniel Dantas tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos

Depois de muitos rumores, a operação Satiagraha está provando que DD nasceu pelas mãos do PFL, enriqueceu com os tucanos, mas já estendeu seus laços por todo o governo Lula. E de uma forma tão profunda que está surpreendendo até os mais céticos.

O ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, prestou consultoria para Dantas. Sua namorada, Evanise Santos, assessora da Casa Civil, se prestou a marcar encontros sigilosos para discutir a situação de DD.

A atual ministra da Casa Civil, Dilma Roussef, teve encontros não marcados em sua agenda para discutir a vontade de Dantas de “resolver” sua situação na Brasil Telecom. Logo depois destas reuniões, os fundos de pensão anunciaram que estavam desistindo dos processos judiciais.

O ex-deputado Luiz Eduardo Greenhalgh, membro da direção do PT e ex-candidato à presidente da Câmara dos Deputados, recebeu cerca de R$ 650 mil para ser o lobista de DD junto ao governo federal e contou com a ajuda do também ex-deputado petista Sigmaringa Seixas, frequentador da casa de Lula.

Antes mesmo da operação Satiagraha, em Brasília todos sabiam que o compadre de Lula, Roberto Teixeira, prestou consultoria para DD. Também era conhecido o fato de que, até assumir uma pasta no ministério de Lula, Roberto Mangabeira Unger funcionava como trustee dos negócios de DD nos Estados Unidos. E há ainda uma mal explicada participação do deputado federal pelo PT, José Eduardo Cardoso, em ação judicial envolvendo a Brasil Telecom que supostamente favoreceria Daniel Dantas.

Mas, foi com a Satiagraha que tornou-se pública a informação de que o chefe de gabinete de Lula, Gilberto Carvalho, tentou descobrir a quantas andavam as investigações contra Daniel Dantas, a pedidos do então lobista Greenhalgh.

Para Lula, isso significa que seu ex e sua atual ministra mais importante, um outro ministro, seu chefe de gabinete, um amigo pessoal, seu compadre e seu candidato à presidente da Câmara tiveram relações diretas com os negócios de Daniel Dantas, que agora, graças à decisão dos fundos de pensão de estatais, vai lucrar mais de R$ 1 bilhão.

Significa, também, que BNDES e BB vão emprestar dinheiro em condições melhores do que as do mercado para que a empresa que mais lhe doou recursos de campanha, e que financiou os negócios de seu filho, possa se tornar sócia majoritária (em conjunto com o irmão de um senador do PSDB) da futura maior empresa de telecomunicações do Brasil.

Pode ser que tudo isso não passe de uma terrível coincidência, mas se o presidente Lula pretende entrar para a história sem a pecha de ter compactuado com negociata bilionária, é bom suspender a mudança do PGO até a decisão judicial do mérito da operação Satiagraha.

Fonte: Observatório do Direito à Comunicação


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