quarta-feira, 23 de julho de 2008

Opportunity: Sem controle

por Gilberto Nascimento

O banco de Daniel Dantas não é muito cuidadoso com a origem dos recursos de seus clientes. Causou estranheza para os delegados envolvidos na Operação Satiagraha o número de investidores que não têm renda compatível com o volume de dinheiro aplicado na instituição.

Um desses casos é o do administrador de empresas Ronaldo Adler, condenado a seis anos e seis meses de prisão por envolvimento em fraudes contra o Fisco do Rio de Janeiro – o chamado propinoduto. O caso veio à tona durante investigações de promotores da Suíça que buscavam informações sobre vultosos depósitos irregulares em bancos daquele país. Adler foi processado por formação de quadrilha, falsidade ideológica, crime contra o sistema financeiro e lavagem de dinheiro. Ele recebia 20 mil reais por mês como executivo da Coplac, a representante no Brasil do banco suíço Discount Bank and Trust Company, que depois se transformou no Union Bancaire Privée. O saldo de suas aplicações no Opportunity, em 31 de dezembro de 2002, era de 5,6 milhões de reais. No período analisado, não houve movimentação em sua conta.

A elevada soma aplicada e o envolvimento de Adler no esquema do propinoduto eram motivos mais que suficientes para o Opportunity adotar medidas a fim de evitar um crime financeiro. Mas não foi feito nada daquilo que prevê o próprio plano de Políticas de Prevenção e Detecção de Lavagem de Dinheiro (PDLD) do banco. O relatório da Operação Satiagraha mostra que o Opportunity não monitora suas contas de depósitos. Os diretores do banco alegaram que, por ser “um subproduto na instituição” e em razão de os clientes serem conhecidos, “não estariam correndo risco em situações de lavagem de dinheiro”, detecta o relatório da Polícia Federal. Assim, eles excluíram essas contas do plano de prevenção. Outro motivo foi o de evitar custos.

Vários outros casos foram apontados, embora com os nomes de investidores preservados. Um militar aposentado, por exemplo, com salário de 9 mil reais, tinha aplicações de 9 milhões de reais. Um físico, com salário de 10 mil reais, aplicou 17 milhões de reais.

O Opportunity admitiu nunca ter controlado essas operações. “Nunca implementou controles, tampouco efetuou registros internos de forma a detectar operações das contas de depósitos de seus clientes que caracterizem indício de crimes previstos na Lei nº 9.613/98 (de lavagem de dinheiro)”, atesta o documento da PF. O presidente do banco, Dório Ferman, e o diretor Itamar Benigno Filho – dois dos executivos presos na Satiagraha ao lado de Dantas – confirmaram essas afirmações, segundo os delegados participantes na operação. A família Dantas tira proveito direto do banco. Há um profundo envolvimento da instituição com os parentes de Dantas. Um deles recebeu transferências de terceiros da própria instituição em valores acima de 1 milhão de reais. Entre 2004 e 2006, no total foram 13 milhões de reais.

A irmã Verônica, como sócia da empresa Sweet River Fund Delaware, recebeu um depósito na sua conta investimento de 2,9 milhões de reais e aplicou em fundo do Opportunity. “Essas operações são típicas na instituição, clientes recebendo recursos na sua conta investimento no Opportunity por meio de transferências de contas de investimento de outras instituições e investindo nos fundos de investimento do banco. Na ocasião do resgate, transferem para a conta investimento no próprio Opportunity e, em seguida, para a conta corrente dentro da instituição”, aponta o relatório da PF.

O banco ainda exclui do plano de prevenção de lavagem de dinheiro as operações realizadas pelos funcionários, empresas do grupo, diretores e familiares ligados ao Opportunity. É um grande negócio para a família e os amigos de Dantas.

Fonte: Carta Capital
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