sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Notícias de Gaza-Auschwitz - por Georges Bourdoukan - fonte: http://blogdobourdoukan.blogspot.com/

Na quarta feira o Hamas se dispôs dialogar com Israel pela milésima vez.

Israel respondeu com uma chuva de mísseis que assassinaram quatro crianças e um bebê.

Na quarta feira o Haaretz publicou uma pesquisa na qual 62% dos israelenses manifestavam-se favoráveis a uma solução com o Hamas.

Israel enviou helicópteros e tanques para assassinar, até o momento, 30 palestinos.
Entre os mortos, as quatro crianças e o bebê.

As crianças, com idades entre 7 e 12 anos, foram assassinadas quando jogavam bola em um terreno baldio.

O porta-voz da Agência da ONU de Ajuda aos Refugiados Palestinos (Unrwa), Christopher Gunness, "condenou fortemente" a ação que levou à morte do bebê.

Gaza-Auschwitz continua cercada, água e luz continuam cortadas, alimentos e remédios não conseguem atravessar as barreiras israelenses.

Isto significa que centenas de palestinos morrerão de fome, sede e por falta de medicamentos. Não se conhece ainda o número de feridos.


Mas para essa humanidade apática isto não tem a minima importância, já que logo todos estarão mortos.
Como se tornar um monstro


Trechos do editorial do diário israelense Haaretz: “A noite o programa televisivo de investigação "Fact" mostrou imagens de nosso próprio Abu Ghraib.


É duvidoso que um país, que cresceu acostumado a 40 anos de ocupação e as histórias que acompanham a esta ocupação cheguem a emocionar.

Nos acostumamos a tratar os palestinos como pessoas inferiores.

As gerações passam e os novos soldados maltratam quase da mesma maneira os residentes da ocupada Hebron”.

Depois de relacionar uma série de torturas infligidas aos palestinos o Haaretz prossegue: “Uma de suas “travessuras”(dos soldados) foi para saber quanto tempo um palestino que estavam afogando podia agüentar sem respirar ”.

O Haaretz encerra o seu editorial: “Pessoas absolutamente normais, como disse o psicólogo estadunidense acerca dos torturadores de Abu Ghraib, são capazes de comportar-se como monstros quando recebem de seus superiores a mensagem de que é permitido maltratar, agredir, afogar, queimar e transformar os torturados em farrapos e com isso sentir o quanto um ser humano é capaz de criar maldades contra outras pessoas que estão sob o seu controle.


Algo de horrível está nos ocorrendo, dizem na brigada Kfir.
Esse “algo” é a ocupação.”

Clique
AQUI para ler a íntegra do editorial em inglês.
Relator da ONU justifica terrorismo por parte de palestinos e abre polêmica

Por Marcelo Ninio, na Folha:

Um relatório preparado por um investigador das Nações Unidas afirma que o terrorismo palestino é "conseqüência inevitável" da ocupação israelense e pode ser comparado à resistência ao nazismo e à luta contra o apartheid, o antigo regime de segregação racial da África do Sul.

A comparação enfureceu a diplomacia israelense, que considerou o documento uma espécie de luz verde da organização ao terror.

O documento preparado por John Dugard, investigador independente da ONU para o conflito entre Israel e os palestinos, será apresentado no dia 17 de março no Conselho de Direitos Humanos da organização.

Em um de seus trechos mais polêmicos, Dugard diz que é preciso lembrar o "contexto histórico" ao analisar a violência palestina."

A história está repleta de exemplos de ocupações militares às quais se resistiu com violência, atos de terror. A ocupação alemã foi resistida por muitos países europeus durante a Segunda Guerra", exemplifica. (os negritos são do Blog)

Assinante clique aqui para ler o texto completo
posted by bourdoukan
fonte: http://blogdobourdoukan.blogspot.com/

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Integração inteligente - por Mauricio Dias - fonte: http://www.cartacapital.com.br

Integração inteligente

Mauricio Dias

Começa a ganhar vida, na quarta-feira 5, a Universidade Federal da Integração Latino-Americana, a Unila, um dos mais importantes projetos do governo Lula, com a posse dos 13 membros da Comissão de Implantação da universidade, presidida pelo sociólogo Hélgio Trindade.

A Unila é uma evolução. A proposta inicial, a Universidade do Mercosul, de caráter supranacional, no modelo da União Européia, esbarrou na resistência dos vizinhos. Eles contribuiriam também para a implantação do projeto. Houve uma reação à força do Brasil e o conseqüente receio do “imperialismo” brasileiro.

Lula bateu o martelo. Queria uma universidade que unisse a América Latina. O governo brasileiro bancaria. A nova proposta foi bem recebida no continente pelos seus propósitos.

A Unila é uma alavanca importante para a integração latino-americana e para o desenvolvimento regional.

Todas as atividades serão baseadas na “pluralidade de questões e enfoques, liberdade de pensamento, pluralismo de idéias”, como destaca o Projeto de Lei enviado há poucos dias ao Congresso Nacional.

A universidade deverá estar concluída em quatro anos. Ficará em Foz do Iguaçu, em terreno de 40 hectares doados pela Hidrelétrica de Itaipu. Tem previsão de abrigar 10 mil alunos nos cursos de graduação, mestrado e doutorado. Serão contratados 500 professores. A metade dos alunos e professores será do Brasil e a outra metade dos países do continente. O ensino será feito em português e espanhol.

A Unila é o projeto mais ousado no setor de educação. Um programa que diferencia o governo Lula. FHC promoveu, depois da ditadura militar, a mercantilização do ensino superior no País. Em razão disso, o País tem 75% de matrículas feitas nas universidades privadas e ocupa o sétimo lugar no ranking dos países nos quais o ensino superior é mais privatizado. Os Estados Unidos estão em 20º lugar.

A diferença de Lula, que, a rigor, não estancou a privatização, é a promoção da interiorização das universidades federais. O governo já criou 12 universidades públicas e espalhou pelo País mais de 60 campi das universidades públicas existentes.

O entusiasmo fez o sociólogo Hélgio Trindade mergulhar de cabeça no projeto da Unila. A integração do Mercosul, ele acredita, se fará pela economia, sim. Pela política também. Mas “principalmente” pelo conhecimento que a geração de estudantes da Unila vai propagar.


Luzes sobre o golpe no Chile

O historiador Moniz Bandeira vai marcar o próximo dia 11 de setembro, data do golpe militar, em 1973, no Chile, com chumbo pesado.

Os Estados Unidos, principalmente, e o Brasil, secundariamente, são alvos do livro Fórmula para o Caos. 11 de Setembro de 1973: o Terror no Chile, que estuda as causas internas e externas da deposição do presidente Salvador Allende.

Segundo Moniz Bandeira, o golpe foi marcado para 11 de setembro para coincidir com a esquadra americana nas proximidades das águas chilenas, a pretexto das manobras de treinamento da Operação Unitas XIV. Havia uma expectativa de guerra civil. Os marines desembarcariam com o propósito de “salvar vidas americanas”.

A expressão “fórmula para o caos” foi usada por Henry Heckscher, chefe da CIA em Santiago. Designa o conjunto de operações encobertas para impedir a posse de Allende e, depois, para a deposição dele.

O livro, com lançamento simultâneo no Brasil, na Argentina e no Chile, apresenta farta e inédita documentação dos arquivos do Centro de Informações do Exército (Ciex), do extinto Serviço Nacional de Informações (SNI) e os papéis do Itamaraty.

A participação do Brasil só é mais efetiva após a consumação do golpe. Além de ter sido o primeiro país a reconhecer a junta militar chilena, mandou para lá militares e policiais e abriu o caixa do Banco do Brasil, com uma linha de crédito de 200 milhões de dólares.

Os ditadores se uniram sob as bênçãos do Tio Sam.


Aqui e lá
Acostumado a traduzir os humores eleitorais da sociedade brasileira, o presidente do Ibope, Carlos Augusto Montenegro, arrisca uma avaliação sobre a sociedade americana e o democrata Barack Obama.

“Ganhe ou perca, será vítima do preconceito. Ele é o Lula americano”, afirma.

Obama pela cor da pele. Lula pela origem social.

fonte: http://www.cartacapital.com.br
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O escorregão gerencial do governo e o legalismo da oposição contra os pobres. Mas só contra eles - por Alon Feuerwerker

Por Alon Feuerwerker


Se o governo tivesse trabalhado um pouco mais e lançado o programa Territórios da Cidadania no ano passado teria evitado a atual polêmica sobre a legalidade da ação, que vai cuidar de promover o desenvolvimento humano nas áreas mais pobres do interior do Brasil. Para uma administradora que faz da competência gerencial sua bandeira para 2010, a ministra Dilma Rousseff pisou na bola. Lá atrás ela deveria ter ido para cima dos ministros preguiçosos, cobrado prazos e exigido rapidez. Coisa que sabe fazer bem. Mas a ministra dormiu no ponto. Agora o assunto está no Supremo Tribunal Federal, pois a oposição diz que em ano de eleição a lei proíbe ações desse tipo. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reagiu contra a oposição, como é natural. Ainda que, convenhamos, é muito provável que o PT também recorresse aos tribunais numa situação assim se estivesse ele próprio na oposição. O empesteamento crônico do ambiente político nacional pelos gases malcheirosos do udenismo, do macartismo e do farisaísmo é uma obra histórica executada a quatro mãos pelo PT e pelo PSDB, há anos. Foi o PT, aliás, quem inventou a moda de ir toda hora à Justiça para recorrer de decisões políticas do Congresso que lhe desagradavam. Agora é a volta do cipó de aroeira no lombo de quem mandou dar. O Territórios da Cidadania parece ser um ótimo programa e torço para que não seja interrompido. É uma evolução em relação ao Bolsa Família. Além disso, fortalece politicamente o Ministério do Desenvolvimento Agrário. A reforma agrária é até o momento o grande fracasso de um governo Lula marcado por belas realizações na economia e na esfera social. Vamos ver se agora vai. Mas esse episódio da luta da oposição contra o Territórios da Cidadania mostra como o Brasil é mesmo um país reacionário na alma. Nos mesmos dias em que colocou o Territórios para andar, o governo anunciou que vai propor a redução do dinheiro que as empresas pagam à Previdência Social. Já comentei o assunto aqui no blog:

[Lula] enfiou na reforma [tributária] um docinho dos sonhos dos empresários (que financiam as campanhas eleitorais): a diminuição da contribuição patronal à Previdência Social. O Brasil é mesmo um país exótico. Durante anos ouvimos falar do déficit previdenciário, dos desequilíbrios atuariais, da necessidade de fechar um buraco que ameaça as contas nacionais e impede a elevação do país ao tal "investment grade". Nesse esforço para equilibrar os números, o governo Lula implantou inclusive a contribuição dos inativos no setor público. Agora, nem bem se começa a discutir a reforma dos impostos e já aparece uma proposta para aumentar o rombo previdenciário. Proposta patrocinada pelo governo e apoiada pelos mesmos ideólogos que há anos anunciam a chegada do Juízo Final no sistema nacional de aposentadorias.

Clique aqui para ler Entreter a oposição e o Congresso e veja também o post anterior a este. Contra dar mais dinheiro a quem já tem muito a oposição não chia. Mas dar dinheiro para o pobre do interior em ano de eleição não pode. Já diminuir o imposto do empresário que vai financiar a campanha eleitoral, isso pode sim. Não só pode. Deve. Os mesmos que apontam a suposta ilegalidade na implantação do Territórios da Cidadania em ano de eleição exigem que a redução da contribuição patronal à Previdência Social aconteça o mais rápido possível. Essa é a nossa oposição. Por isso é que escrevi em Sobre a fisiologia e os papagaios, em junho do ano passado, quando comentava a pendenga entre o Senado e Hugo Chávez:

E depois se espantam quando as pesquisas dão a popularidade de Lula lá em cima. O nosso governo pode até não ser aquela brastemp. Mas, comparado com a nossa triste oposição (oposição?), vocês hão de convir que ele dá de dez.

fonte: http://blogdoalon.blogspot.com/

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quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

REPÚBLICA DO ATRASO ATACA DIREITOS TRABALHISTAS - por Altamiro Borges - fonte: http://www.viomundo.com.br

REPÚBLICA DO ATRASO ATACA DIREITOS TRABALHISTAS

por ALTAMIRO BORGES

Numa atitude ousada e até surpreendente, o presidente Lula anunciou na semana passada que enviará ao Congresso Nacional o pedido de ratificação imediata das Convenções 151 e 158 da Organização Internacional do Trabalho (OIT). A primeira institui a negociação coletiva no setor público e a segunda proíbe as demissões imotivadas na iniciativa privada. Caso sejam aprovadas, estas duas medidas representarão enorme avanço nas relações trabalhistas no país, marcadas até hoje pela vigência da ditadura das empresas. O governo Lula lançou a bola em campo e os times adversários, capital e trabalho, já se preparam para um embate que promete ser duro e educativo.

A ira dos empresários

O anúncio destapou o ódio do capital. Num artigo no jornal Valor, sugestivamente intitulado “os empresários reagem ao avanço sindical”, dirigentes de poderosas entidades patronais voltaram a repetir a cínica choradeira sobre os altos custos da força de trabalho no Brasil. “Essas normas são um retrocesso e prejudicam o ambiente de negócios”, chiou Armando Monteiro Neto, presidente da Confederação Nacional das Indústrias (CNI). Para ele, o presidente Lula, que teve “bom senso na macroeconomia”, sofreu uma “recaída” e voltou as suas origens sindicais, propondo medidas que elevam os custos do trabalho e prejudicam a competitividade das empresas capitalistas.

Ainda mais irado, o consultor de empresa José Pastore, que coordenou o programa trabalhista do tucano Geraldo Alckmin, garantiu que o presidente Lula deseja impor uma “república sindical” no país – relembrando o velho bordão dos golpistas de 1964. Entre outras “provas”, ele criticou a medida provisória que legaliza as centrais, a recente decisão do Judiciário de ampliar o poder de substituição processual dos sindicatos e a lei 11.430 que inverte o ônus da prova no caso de dano à saúde do trabalhador. Para ele, estas e outras medidas são “uma bomba atômica” que fomentam a ação sindical e expressam o “socialismo legalista” (!) que o governo Lula quer bancar no país.

Deixando de lado as neuras da direita nativa, o texto do Valor revela que a nata empresarial está preocupada com o fantasma do avanço da influência sindical no parlamento e no governo. A CNI inclusive estaria dando “acompanhamento especial” a projetos que afetariam a lucratividade das empresas. “Seus autores são parlamentares de três partidos (PT, PCdoB e PDT) e há também o projeto do Executivo que estabelece a política permanente de valorização do salário mínimo”. De maneira arrogante e elitista, o presidente da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro, Eduardo Eugenio Gouvêa, afirma que estes e outros projetos visam “valorizar a incompetência”.

Uma injustiça histórica

A imediata gritaria dos empresários indica que a batalha pela ratificação das convenções não será fácil. Ela também confirma o reacionarismo dos patrões, talvez devido às origens como donos de escravo. As normas da OIT, um fórum tripartite, não têm nada de “socialismo legalista”. Apenas disciplinam as relações de trabalho, visando inibir o poder ditatorial das empresas. No caso da Convenção 151, ela corrige uma antiga injustiça imposta pelas forças conservadoras. Até hoje os servidores públicos nunca tiveram o direito à negociação coletiva, sendo vítimas da truculência de vários governos, que sequer recebem os sindicatos do setor para discutir as suas demandas.

Para Jucélia Vargas, dirigente da Federação dos Servidores de Santa Catarina, a ratificação desta convenção representaria um “marco histórico” na organização dos trabalhadores. Os artigos 4 e 5 garantem o direito à sindicalização, fixando as normas de proteção contra práticas discriminação anti-sindical. Já o artigo 8º define mecanismos para solução de conflitos via negociação coletiva. “Ela traz algumas garantias para a concretização da democracia nas relações de trabalho no setor público e representa um novo momento para o sindicalismo que defende os servidores públicos”. Prevendo a reação da direita, Jucélia alerta: “O governo federal fez a sua parte. Façamos a nossa, com unidade e mobilização, para que possamos ser vitoriosos em mais esta etapa da batalha”.

O fim da demissão imotivada

Já a Convenção 158 da OIT mexe diretamente com os interesses do capital. Segundo Henrique Júdice, num minucioso artigo no jornal Correio da Cidadania, “ela proíbe que o trabalhador seja demitido sem motivo razoável relacionado à sua conduta, à sua capacidade profissional ou às necessidades estruturais da empresa. Ela é mais flexível do que o antigo regime de indenização e estabilidade no emprego instituído por Getúlio Vargas e abolido pelo regime de 64, mas é um enorme avanço comparado à atual legislação brasileira, pelo qual o trabalhador pode ser demitido por qualquer motivo ou sem motivo algum”.

“Além de proibir a demissão injustificada, ela estabelece algumas causas que não podem ser consideradas justas: atuação sindical, cor, religião, opiniões, gravidez ou situação familiar. Ela proíbe também que o trabalhador seja demitido por ter entrado na justiça contra a empresa ou por faltar ao serviço quando doente... Assegura que todo empregado demitido terá direito de recorrer à justiça contra a demissão. Se a empresa não provar que a causa apontada ocorreu e que é justa, será condenada a reintegrá-lo. No caso de demissão em massa (‘corte de pessoal’, na linguagem dos gerentes) por alegada necessidade econômica da empresa, a Justiça poderá examinar se essa necessidade realmente existe. Se concluir que não, poderá, igualmente, reintegrar os demitidos”.

As mentiras da mídia patronal

Escorada na manipulação da mídia, a elite empresarial difunde a idéia de que a Convenção 158 é uma aberração jurídica e que prejudicará o desenvolvimento do país. Não informa, por exemplo, que esta norma da OIT já foi ratificada por 180 países e que nenhum deles faliu por este motivo. Ela também não confessa que a demissão imotivada é um perverso mecanismo para estimular a rotatividade no emprego e, como efeito, rebaixar os salários – o que prejudica o crescimento da renda, do consumo e o próprio desenvolvimento nacional. No ano passado, 14,3 milhões de trabalhadores foram contratados no país, mas, em compensação, 12,7 milhões foram demitidos. Trabalhadores novos e com salários mais baixos substituíram os mais antigos e com renda maior.

Além de estimular a rotatividade no emprego e de reduzir o poder aquisitivo dos assalariados, a demissão imotivada é um poderoso instrumento de inibição da organização de classe. Muitos trabalhadores são dispensados porque se sindicalizaram ou participaram de uma assembléia. Ela é a expressão cabal da “ditadura nas fábricas”, onde a democracia nunca existiu. O grande medo dos empresários é que a ratificação da Convenção 158 encoraje a ação coletiva e a participação dos trabalhadores nos sindicatos. Batendo recordes de produtividade e lucratividade, o capital teme ser afetado no seu paraíso de opulência e ser obrigado a socializar um pouco dos lucros.

Hora da onça beber água!

Dado ao seu alto poder inflamável, a convenção 158 já foi motivo de outras escaramuças no país. Em 1992, ela foi assinada pelo presidente Itamar Franco e ratificada no Congresso Nacional. No entanto, não entrou em vigor porque o Poder Judiciário – fiel aliado do capital – declarou que ela era incompatível em virtude de uma manobra jurídica; os tratados internacionais têm, no Brasil, o status de lei ordinária, ao passo que a Constituição prevê que a proteção ao trabalhador contra demissão imotivada seria regulada em lei complementar. Na seqüência, para evitar dor de cabeça e servir aos seus patrões, o presidente FHC simplesmente revogou a adesão do país à Convenção.

Agora, o presidente Lula, retomando suas origens operárias, coloca novamente a bola em jogo. A disputa será pesada e poderá ter um enorme efeito pedagógico. As centrais sindicais (CTB, CUT, FS, UGT, CGTB e NCST), unidas na jornada pela redução da jornada, prometem fazer barulho em defesa destas normas. Até o PSTU, ácido opositor do governo Lula, reconheceu que elas são positivas. Artigo do jornal Opinião Socialista diz que “a ratificação das convenções significaria o direito de organização sindical aos servidores e o fim das demissões sem justa causa”. Mas, sem perder o hábito, ele critica Lula, “que poderia assinar a adesão, sem necessidade de aprovação dos parlamentares”, o que não é verdade. De qualquer forma, chegou a hora da onça beber água!

Altamiro Borges é jornalista, membro do Comitê Central do PCdoB e autor do livro “As encruzilhadas do sindicalismo” (Editora Anita Garibaldi, 2ª edição).

fonte: http://www.viomundo.com.br


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Desafios da interatividade - http://diplo.wordpress.com

Está surgindo, diante de nossos olhos, uma nova forma de ação política. O problema é torná-la visível, reconhecida, capaz de refletir sobre si mesma e de se reproduzir constantemente

Tornar o leitor participante ativo da produção do jornal tem, para Le Monde Diplomatique, sabor especial. É que, sumultaneamente com a interatividade proporcionada pela internet, está em curso um outro movimento — provavelmente ainda mais profundo: o repensar da própria política. Uma parcela crescente das sociedades deixou de identificála (como os Fóruns Sociais Mundiais já haviam demonstrado) apenas com a representação. Política já não é o comparecimento às urnas, em intervalos regulares, para delegar, a partidos ou indivíduos, o poder de expressar nos projetos, valores e desejos. Esta forma limitada de democracia esvaziou-se aceleradamente nas últimas décadas — mas em seu vácuo não ha apenas desencanto, impotência social e agigantamento do poder econômico e das finanças.

Emergiu também a noção de que é possível mudar o mundo construindo permanentemente valores, lógicas sociais e poderes contra-hegemônicos. Multiplicam-se as iniciativas transformadoras autônomas. Às vezes, têm personalidade formal: um movimento social, uma ONG, uma cooperativa, uma associação. Em inúmeros casos, são informais: uma comunidade de software livre que trabalha em regime de colaboração, um grupo de ativistas em favor da liberdade de compartilhar conhecimento e produções culturais. Não negam a política, assim como os blogueiros não negam os jornais. Vão além: querem ser — por meio de sua vida, quotidiano e iniciativas transformadores — a política.

Este novo ativismo nunca pára de produzir reflexões e análises. Mas seu pensamento não é matéria dos jornais convencionais. Presos a uma visão que não vê espaço público além das instituições, eles dedicam suas páginas ao que diz cada vez menos (as manobras nos parlamentos, os escândalos de corrupção, o jorgo eleitoral — enfim, a política-espetáculo), enquanto fecham os olhos ao que interesa a um público cada vez maior (o exame profundo da realidade, as ações que criam novas lógicas sociais, as formas alternativas de cultura e convívio, por exemplo).

A nova cultura política que emerge precisa de espaços de diálogo. É neles que ela pode compartilhar experiências; debater pontos de vista, aprofundar compreensões e construir consensos; expor divergências, entender seu sentido e, se for o caso, resolvê-las; agir em conjunto, por meio da sedução de idéias e projetos. Estes espaços de diálogo também são necessários para que a nova cultura possa se expandir. Tornando conhecidas suas narrativas de mundo, suas práticas; revelando que é possível construir o futuro comum por meio de ações autônomas; estimulando, pela força dos exemplos, o surgimento de uma imensa diversidade de novas iniciativas.

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Redes livres, criatividade e repressão - fonte: http://diplo.wordpress.com

A prisão, em São Gonçalo (Baixada Fluminense), de Bruno Assumpção, um jovem empreendedor especialista em redes de comunicação, pode abrir um debate indispensável no Brasil. Bruno descobriu como distribuir, para algumas dezenas de vizinhos, o sinal de banda larga de internet que recebe de uma operadora telefônica. Bolou um modelo de negócio bem-sucedido: por R$ 30, mais uma placa para conexão sem fio, é possível navegar sem limite de tempo, com velocidade razoável, deixando livre o telefone. Deixou de freqüentar as estatísticas de desocupação.

Foi preso há cerca de um mês, porque as leis de propriedade que herdamos do passado são incapazes de lidar com a idéia dos bens comuns – embora novas relações sociais, e o avanço da tecnologia os multipliquem sem cessar. Parte da história de Bruno (que aguarda julgamento em liberdade) está contada numa ótima reportagem de Ítalo Nogueira, publicada na Folha de hoje (sim, há alguns resquícios de bom jornalismo na mídia comercial…) e reproduzida em nosso clip.

Há centenas de Brunos espalhados pelas periferias do Brasil. É pelas quebradas que está chegando, no país, a idéia das redes livres. Em várias partes do mundo, coletivos dispostos a lutar pela liberdade de informação estão montando redes alternativas às comerciais — e quase sempre gratuitas. A tecnologia sem fio permite que os sinais da internet sejam captados em qualquer parte do mundo, por um custo irrisório. As informações e serviços disponíveis na rede são produzidas por bilhões de pessoas. Que sentido há em oferecer a mega-empresas o direito de cobrar por eles?

No clip há mais informações e links sobre redes livres que estão sendo montadas em muitas partes do mundo. O blog produzirá matéria a respeito. Para contribuir, envie seu comentário, informação ou análise.

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Um modo radical de apoiar Barack Obama - fonte: http://diplo.wordpress.com

Ícone do ativismo independente, Grace Lee Boggs sugere: mais importante que votar no candidato é não entregar a ele a responsabilidade pelas mudanças

Ela participou ativamente de todos os movimentos sociais importantes em seu país, no século passado — sindicatos, igualdade racial, feminismo, ambientalismo, luta contra as guerras do Vietnã e Iraque. Aos 92 anos, continua a ser a animadora do Detroit Summer, uma iniciativa que procura “redefinir, redesenhar e reanimar” a antiga “capital do automóvel”, por meio de ações de seus cidadãos. Sua experiência, sua capacidade de propor a seus interlocutores novos desafios e sua disposição de falar sem tribuna fizeram dela uma personagem conhecida e admirada no mundo dos grassroots movements – os movimentos de base que se multiplicam pelos EUA. Não significa que seja uma outsider: seu livro autobiográfico, Leaving for Change [Viver para Mudar], é amplamente adotado, na academia, nos estudos sobre movimentos sociais, Detroit e norte-americanos de ascendência asiática (ela é filha de chineses).

Tendo lutado pela transformação social por mais de 70 anos, Grace Lee Boggs impressiona pela lucidez, bom-humor, capacidade de renovação permanentemente e desapego em relação às velhas certezas. Em entrevistas recentes, disponíveis no YouTube, afirma que continua a se sentir revolucionária, mas aprendeu a afastar a idéia de revolução da “conquista” do Estado. Acredita agora nas “ações autônomas de transformação estrutural e auto-transformação”. Vê a história de seu país marcada, no último meio século, tanto pela concentração de riqueza e poder quanto pela sucessão de movimentos humanizadores muito potentes. Acha que os grassroots movements precisam avançar. Não basta protestar, ou resistir; é preciso produzir as mudanças.

Essa ativista e pensadora não-convencional, que não crê nem em grandes líderes nem nas instituições que eles dirigem (ou pelas quais são comandados…), tem escrito artigos em que revela um entusiasmo crescente pela campanha de Barack Obama à presidência dos EUA. Ela está empolgada tanto pelo seu carisma quanto por sua disposição para contrariar a lógica que exige políticos carismáticos. Em choque direto com o discurso da representação (inclusive o de esquerda), diz Grace, Obama não se apresenta como o portador da esperança. “Estou propondo a vocês que acreditem não apenas em minha habilidade de promover mudanças em Washinton. Estou propondo que acreditem na habilidade de vocês”, disse ele num discurso recente.

Esta postura, prossegue Grace, é coerente com as origens políticas de Obama, um ativista articulador de comunidades. Já foi manifestada em 1995, quando, ao concorrer pela primeira vez para o Senado, ele teve oportunidade de formulá-la em termos teóricos: “Para que nossa agenda avance, não podemos ver os eleitores ou as comunidades como consumidores, como simples beneficiários da mudança. É hora de os políticos e outros líderes verem os eleitores, moradores ou cidadãos como produtores da mudança.O objetivo de nosso movimento deve ser a agenda completa da criação de comunidades produtivas. É aí que está nosso futuro”.

Além de atenta ao discurso de Obama, Grace tem observado com atenção as reações que ele desperta. Ela considera típicas as frases a seguir, extraídas do blog de uma jovem ativista ambiental: “Obama é o primeiro candidato presidencial que conseguiu construir uma campanha em torno da frase célebre de Gandhi, ’seja você a mudança que quer ver no mundo’. Por isso, amo seu passado de organizador. É a primeira vez que vejo alguém articular a necessidade de cada um engajar-se no processo, ao invés de vomitar retórica de velha política”.

A eventual vitória de Obama e sua capacidade de mobilização seriam suficientes para que o país mais poderoso do planeta pudesse emitir sinais positivos para a humanidade? Grace não lida com a passividade das apostas, mas com a esperança da ação. Ela faz questão de lembrar Martin Luther King e a advertência feita por ele, pouco antes de morrer: exceto no caso de uma grande revolução de valores, que superasse o racismo, o materialismo e o militarismo, os EUA seriam “tragados pelos longos, escuros e vergonhosos corredores que o tempo reserva aos que possuem poder sem compaixão, vontade sem moral e força sem visão”. Este futuro tenebroso chegou, diz ela, em referência à guerra infinita no Iraque, ao descaso com o aquecimento global, ao abismo de desigualdade que vai se abrindo na sociedade norte-americana.

Grace conclui: “Para ser parte da solução, precisamos reconhecer que somos parte do problema. Ele exige enormes mudanças, não só em nossas instituições mas também em nós mesmos. Embora sua imagem seja inspiradora, Obama sozinho não é o movimento para a mudança. Temos o direito e a obrigação de criar o projeto que queremos que ele represente. Ao invés de projetar em sua pessoa redentora o futuro que desejamos, ao invés de nos enxergar apenas como seguidores de um líder carismático, podemos e devemos ser os líderes pelos quais esperamos”.

fonte: http://diplo.wordpress.com


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Oposição vai ao Supremo contra programa que prevê R$ 11,3 bi para combater pobreza - fonte: http://blogdomello.blogspot.com/

Se nossa “grande imprensa” não estivesse tão comprometida com a oposição, essa notícia certamente mereceria a primeira página de todos os jornais. Mas não foi manchete em nenhum deles. Os presidentes do DEM, Rodrigo Maia, e do PSDB, Sérgio Guerra, vão entrar com ações na Justiça contra o programa Territórios da Cidadania. O programa prevê investimentos de R$ 11,3 bilhões para combate à pobreza em 985 municípios brasileiros.

Mas a oposição é contra, porque diz que o programa é eleitoreiro, já que estamos em ano de eleições municipais.

Bom, como no Brasil temos eleições de dois em dois anos, parece que a oposição quer que o governo só trabalhe também de dois em dois. Nos outros, o governo deveria fazer o quê? Jogar paciência, freecell ou spider no computador?

Em vez de querer obrigar o governo a cruzar os braços em ano eleitoral, a oposição deveria parar de trabalhar contra os pobres, pelo menos em ano de eleição, pra ver se assim consegue uns votinhos a mais.

Depois se espantam quando a popularidade de Lula está lá em cima e as chances deles lá embaixo. É que o povo já percebeu que eles só querem atrapalhar.

Daqui a pouco é o PSDB que vai ter que fazer como o antigo PFL: trocar de mosca, quer dizer, de nome pra fingir que ainda está vivo.

Vamos colaborar com os tucanos? Você tem alguma sugestão de nome para dar ao PSDB?

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Sobre a crise Boliviana - fonte: http://www.agenciacartamaior.com.br

ENTREVISTA – EVO MORALES

“O embaixador dos EUA lidera a conspiração contra meu governo”

Presidente da Bolívia acusa embaixador dos Estados Unidos no país de conspirar contra o governo e de tentar repetir no país "o que fizeram no Kosovo". Evo Morales revela que camponeses e indígenas já pediram armas para defender o governo, mas defende revolução pelas urnas e não pelas armas.

Às sete da manhã, o Palácio Quemado já está um formigueiro e os ministros devem ter paciência para conversar com o chefe de Estado. “É assim mesmo”, diz um embaixador com experiência na dinâmica “evista” a um ministro novato no gabinete que se impacienta com a demora de Evo Morales em chegar a uma reunião com exportadores.

Em um intervalo de alguns minutos, o líder cocalero conversou com Il Manifesto sobre temas da atualidade nacional e internacional. Enquanto tomava um suco de mamão, acusou o embaixador dos Estados Unidos, Philip Goldberg, de conspirar contra seu governo e de tentar repetir na Bolívia “o que fizeram no Kosovo”. Admite que camponeses e indígenas pediram armas para defender o governo diante das demandas autonomistas de Santa Cruz. E assinala que, se o diálogo não avançar, a saída será convocar um referendo revogatório para o presidente e os governadores, “para que o povo diga a quem apóia”.

Il Manifesto: Como é possível retomar o diálogo com os governadores opositores?
Evo Morales: Nós apostamos na autonomia. No referendo de 2006, a maioria dos bolivianos disse “Não”, mas em quatro regiões ganhou o “Sim”. Por isso garantimos autonomias na nova Constituição e sinto que é necessário criar um espaço no Poder Executivo, um ministério de Autonomias que comece a construir com os movimentos sociais uma autonomia baseada na legalidade e na solidariedade entre regiões. Mas alguns grupos confundem autonomia com separação ou independência.

Il Manifesto: Santa Cruz segue avançando direção de seu referendo autonomista de 4 de maio...
Evo Morales: Gostaríamos que parassem para que pudéssemos avançar juntos.

Il Manifesto: Se o diálogo fracassar segue valendo a proposta do referendo revogatório?
Evo Morales: Exato. Por isso dissemos que apostamos nas urnas e não nas armas.

Il Manifesto: Mas admitiu também que alguns setores campesinos pediram armas para defender o governo. Como é isso?
Evo Morales: Recebi algumas ligações telefônicas e sou transparente. Comentei com a imprensa que tergiversou sobre minhas declarações. Preocupou-me bastante receber chamadas de companheiros do campo e da cidade que me disseram textualmente: “Irmão presidente, quando era dirigente sindical você se fez respeitar, agora nós faremos respeitar, nos dê armas”. Eram fortes as chamadas. Em um certo momento tive que desativar meu celular, que atendo só de madrugada.

Il Manifesto: E qual foi sua resposta a esses pedidos?
Evo Morales: Por certo não estamos de acordo com isso. Disse que é preciso fazer uma revolução nas urnas e não com armas, e estamos cumprindo isso. Mas as agressões e humilhações causam estas reações em nossos companheiros. Inclusive houve uma marcha a La Paz pedindo-me armas. Tudo isso é provocado por uma direita racista que já me chamou de macaco. E se tratam o presidente como um animal, o que podem esperar os camponeses e indígenas?

Il Manifesto: O sr. se referiu ao Kosovo. Crê que pode ocorrer o mesmo na Bolívia?
Evo Morales: Quero que o mundo inteiro saiba é que há uma conspiração contra minha pessoa encabeçada pelo embaixador dos Estados Unidos (Philip Goldberg). Perguntemo-nos de onde veio o embaixador estadunidense (que atuou no Kosovo). Não vamos permitir que os Estados Unidos sigam conspirando para dividir a Bolívia com grupos oligárquicos e mafiosos. Se os EUA lutam contra a corrupção e a injustiça por que não extraditam o ex-presidente Gonzalo Sánchez de Lozada? (acusado por quase uma centena de mortes, produto da repressão na “guerra do gás” de 2003). Quando os povos se levantam, estas autoridades pró-império e pró-capitalistas correm para onde isso ocorre. Quando já não podem dominar, porque há democracias libertadoras e não comprometidas, os EUA fomentam a divisão.

Il Manifesto: Considera encerrado, com as desculpas do embaixador, o caso da utilização de bolsistas como informantes?
Evo Morales: O senhor Vincent Cooper (funcionário da segurança da embaixada dos EUA) é persona non grata para a Bolívia e o assunto está sendo investigado. Hoje sabemos que utilizam seus estudantes, que vêm com vontade de aprender, para fazer espionagem. Descobrimos até que a polícia boliviana fazia espionagem e perseguições para a embaixada-norte-americana.

Il Manifesto: Acredita que uma vitória democrata nos EUA poderia melhorar as relações?
Evo Morales: Entendo que há políticas de Estado nos EUA, mas gostaríamos que começassem a respeitar os direitos humanos e os processos de libertação e as transformações profundas que estão ocorrendo na América Latina. Para isso, devem pôr fim à prática da espionagem, da tentativa de submissão e da soberba. O ex-embaixador Manuel Rocha chamava-me de Bin Laden.

Il Manifesto: Como viu a saída de Fidel Castro do poder?
Evo Morales: Como o Che, Fidel é um símbolo imbatível para toda a humanidade. É um homem histórico. Em minhas conversas de horas e horas com Fidel ele sempre me falava da vida, da saúde e da educação Hoje isso se materializou na Bolívia com a Operação Milagre, com mais de 100 mil pessoas operadas dos olhos gratuitamente. Ficará um grande vazio.

* Entrevista publicada originalmente em Il Manifesto, Itália

Tradução: Marco Aurélio Weissheimer

http://www.agenciacartamaior.com.br


A solução democrática da crise boliviana - por Emir Sader (http://www.agenciacartamaior.com.br)

Ninguém poderia esperar que uma oligarquia que se havia apropriado do Estado e dos bens fundamentais do país, que se considerava dona da Bolívia, fazendo rodízio no poder entre seus três partidos durante décadas, iria aceitar passivamente que a maioria indígena do país – 64% se consideram indígenas na Bolívia – lhes arrebatasse tudo isso.

Os partidos da direita entraram em crise, perderam as eleições, conseguiram, no entanto, pelas estruturas oligárquicas que haviam construído , manter a maioria dos governos de estado – mesmo onde Evo ganhou – e no Senado, assim como maioria nos quatro estados da chamada “meia lua” – Santa Cruza de la Sierra, Tarija, Beni e Pando -, onde concentram seus grandes investimentos as empresas exportadoras, base econômica do poder da direita.

A direita foi recuando, conforme perdeu o governo e a maioria no Parlamento, reagrupando forças nesses território, para tentar bloquear os avanços do novo governo, principalmente a nacionalização dos recursos naturais – que a direita tinha privatizado -, a reforma agrária e a convocação da Assembléia Constituinte para propor as bases de um novo Estado – plurinacional, intercultural, soberano, comunitário, com autonomias. Trata de manter os dois pilares materiais do seu poder econômico – os impostos sobre as exportações dos hidro-carburetos e o monopólio da terra. Para isso funciona seu projeto de autonomia.

Acenam com a separação, mas sabem que, sem apoio – nacional e internacional – para isso, usam essa chantagem para tentar manter os estados que governam imunes ao imenso processo de democratização econômica, social e política e cultural que representa o programa do MAS.

Sua mais recente iniciativa foi a convocação de uma consulta sobre a autonomia em Santa Cruza de la Sierra, o principal bastião econômico e política da direita, para o dia 4 de maio, como uma espécie de anúncio de ruptura política e institucional com o governo. E de desafio para um enfrentamento, buscando saber com que força conta o governo.

O governo cumpriu com suas promessas e começou a mudar a cara da Bolívia, na direção da sua democratização, nacionalizando os hidrocarburos – o que lhe permitiu, de imediato, subir os impostos que recebe de 18 a 84% -, começando políticas sociais redistributivas - para as crianças e para os idosos, em primeiro lugar – iniciando o processo de reforma agrária, convocando a Assembléia Constituinte.

Para esta convocação, o governo poderia propor a representação das comunidades dos povos originários, conforme reivindicação desses povos. Provavelmente obteria uma maioria de 2/3, necessária para aprovar seu projeto de Constituição, sem votos da oposição. No entanto, facilitar o boicote que certamente a oposição decretaria, em condições muito diferentes das da Venezuela. Neste país, uma vez recuperado o controle sobre a Pdvsa, o Estado tornou-se muito forte e o empresariado privada, débil. Tanto assim que ao boicotar as eleições parlamentaria, se enfraqueceu mais ainda, deixando ao governo uma folgada maioria parlamentar, sem que isso o enfraquecesse.

Na Bolívia, pelo selvagem processo de privatização levado a cabo nos anos anteriores – chamado eufemisticamente de “capitalização” – o Estado se tornou muito fraco e a grande burguesia privada, muito forte. Caso boicotasse, política e economicamente, o governo, lhe assentaria um golpe muito forte e promoveria um processo de separação de fato, que levaria a uma crise institucional muito grave. A posição do governo foi convocar eleições pelos métodos tradicionais de representação, porque a alternativa seria levar a um enfrentamento, inclusive violento, sem que possa contar com segurança com as FFAA, além da crise nacional a que isso conduziria o país, um dos objetivos da direita, para tornar o país ingovernável quando um dia assume, pela primeira vez, a presidência da Bolívia.

A compopsição da Assembléia Constituinte confirmou a maioria de votos que havia tido Evo Morales, sem no entanto a maioria absoluta, o que levou a situações de impasse com a oposição, que buscou travar e inviabilizar a nova Constituição. A posição do governo foi a de levar as diferenças a uma consulta popular final, que daria o formato final à Constituição. Sentindo que seria derrotada, a oposição passou a usar a violência, para cercar o edifício em que se reunia a Constituinte, em Sucre, agregando a reivindicação da transferência da capital política do país para essa cidade.

Para romper o impasse e devolver à Assembléia Constituinte capacidade de funcionamento, o governo deslocou o lugar de seu funcionamento e foi aprovada, por maioria de votos o projeto da nova Constituição, que será submetido a uma consulta popular nacional. Além disso, Evo Morales propôs a todos os governantes – a começar por ele, mas também os governadores dos estados – que se submetam a um referendo revogatório.

O governo coloca, assim, nas mãos do povo as duas decisões fundamentais – a sobre a nova Constituição e a sobre a legitimidade dos governantes atuais. A oposição se nega e quer fazer um referendo pela autonomia de Santa Cruz, um referendo que concebe a descentralização apenas para a direção dos estados e não para as comunidades – como o faz o projeto de Nova Constituição.

Neste momento se reabriu um novo processo de negociações entre o governo e a direita, mas que costuma esbarrar nos três temas centrais para os quais o MAS foi eleito: o projeto de Constituição, a reforma agrária e a centralização dos recursos dos hidrocarburetos, para recompor o Estado boliviano e para políticas sociais.

Por Emir Sader
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O jeitinho brasileiro - fonte: http://www.projetobr.com.br/blog/5.html

O jeitinho brasileiro
(do blog do Luis Nassif - http://www.projetobr.com.br/blog/5.html)

Por Rui Daher

Até me constranjo, Nassif, em trazer este assunto para um Trivial que homenageia Ari Barroso. Justo ele que sabia como ninguém dar um "jeitinho" para criar obras-primas musicais e pérolas futebolísticas.

Mas este é o espaço reservado para assuntos variados, então, aqui vai, com a licença de Ari. Hoje, a "Folha" nos traz a notícia do lançamento do livro "Cultura das Transgressões, Lições do Brasil", organizado por FHC e Marcílio Marques Moreira.

Escrevem o livro vários pensadores tucanos e quase-tucanos. A tese lá desenvolvida, apoiada em estudo do Banco Mundial e pesquisa do instituto Latinobarometro, é de que o "jeitinho brasileiro" atrapalha nossa economia. Fato que tende a ser resolvido mediante as pressões internacionais advindas com a globalização.

Mais que sempre, hoje é dia de sentir falta de Darcy Ribeiro, Celso Furtado e Gilberto Freyre. Dadivosa, a "Folha", no mesmo caderno (Dinheiro), nos informa que "Escândalo de sonegação europeu se espalha". Em pelo menos treze países. Não duvido que os participantes do livro atribuam o fato aos brasileiros que para lá emigram.

Leia aqui sobre o escândalo da sonegação.


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SALÁRIO MÍNIMO: LULA 4 X 1 FHC - por Paulo Henrique Amorim - fonte: http://conversa-afiada.ig.com.br

"Em nenhuma democracia séria do mundo,
jornais conservadores, de baixa qualidade

técnica e até sensacionalistas, e uma única

rede de televisão têm a importância que têm

no Brasil. Eles se transformaram num partido

político – o PIG, Partido da Imprensa Golpista."

. O PIG vai se estrebuchar.

. O Farol vai se apagar !

. A Miriam Leitão não vai analisar !

. Os colonistas vão explicar: a parafuseta do virabrequim, associada à disfunção do M4 nos meios de pagamentos da Islândia, o consumo de suínos na China e a luminosa gestão de Alan Greenspan ... tudo isso para explicar que:

. No último dia do Governo Fernando Henrique, um salário mínimo do trabalhador brasileiro equivalia a US$ 56.

. A oposição, como o senador Paulo Paim, se esgoelava o tempo todo para que o salário mínimo no Governo FHC fosse de US$ 100.

. O novo salário mínimo do Governo Lula será, segundo o Ministro Paulo Bernardo (clique aqui para ler) de R$ 412, 40.

. Com o dólar a R$ 1,68 – que horror ! -, o salário mínimo do Governo Lula chegará a US$ 245.

. Ou seja, no Governo Lula, o salário mínimo é 4,3 vezes maior do que o do Governo FHC !

. O pobre não merece tanto !

. Para que tanto salário mínimo ?

. Ninguém mais vive de salário mínimo !

. A Previdência vai estourar !

. Se é assim, temos que acabar com o Bolsa Família, o Sorridente, o Luz para Todos, porque o pobre nada em dinheiro (ou melhor, em dólares...) ...

. É um desperdício !

. Precisamos enxugar o Estado!

. Clique aqui para ler que a oposição faz oposição ao pobre.

Leia também:

Dívida: FHC foi um desastre

Clique aqui para ler "Não Coma Gato por Lebre".

fonte: http://conversa-afiada.ig.com.br


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OPOSIÇÃO FAZ OPOSIÇÃO AOS POBRES - por Paulo Henrique Amorim - fonte: http://conversa-afiada.ig.com.br

"Em nenhuma democracia séria do mundo,
jornais conservadores, de baixa qualidade

técnica e até sensacionalistas, e uma única

rede de televisão têm a importância que têm

no Brasil. Eles se transformaram num partido

político – o PIG, Partido da Imprensa Golpista."

. O programa “Territórios da Cidadania” renovou a oposição da Oposição aos pobres.

. Arthur Virgilio Cardoso, Sérgio Guerra, Rodrigo Maia e Agripino Maia reocuparam o espaço que provisoriamente tinham perdido no PIG para atacar o programa: querem acabar com o programa.

. Os argumentos não têm “consistência”, como a candidatura José Serra à Presidência da República, segundo a colonista Eliane Cantanhêde.

. O mais grave deles é o de que estamos num ano eleitoral.

. Logo, num ano eleitoral, eles contam (até quando, Catilina ?) com o Ministro (?) Marco Aurélio de Mello na presidência do TSE.

. E, se dependesse de Mello, o Presidente Lula, sequer, tinha tomado posse ...

. Desde a campanha para derrotar a CPMF, a oposição, sob a liderança do Farol de Alexandria, demonstra que o problema não é com o Governo Lula.

. É com os pobres.

. E agora vai ao Supremo, ao MP, à Policia Federal, ao Vaticano, ao Bei de Tunis, à Corte Internacional de Haia, onde for, para impedir que o programa “Luz para Todos” ou o “Sorridente” chegue aos pobres.

. Hoje, nesta quarta-feira, o PIG parece indignado com o fato de, sem a CPMF, a arrecadação em janeiro ter sido muito boa.

. Clique aqui para ver a manchete indignada do Globo - apenas para assinantes do Globo, clique aqui para ler a manchete do Estadão e clique aqui para ler a manchete da Folha.

. Um horror: o plano do PIG de “starve the beast”, matar o Estado de fome, não deu certo, ainda !

. O horror é que o Governo Lula pega esse dinheirão e destina aos pobres !

. Onde já se viu isso ?

. Arthur Virgilio Cardoso tem razão: ele é o único candidato “consistente” da Oposição: ele é contra os pobres e, logo, contra os impostos.

. Ele é o nosso Bush, o nosso Sarkô.

fonte: http://conversa-afiada.ig.com.br
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Notícias do Movimento Nossa São Paulo



Jovens de SP participam de conferência para debater políticas públicas
Participantes fizeram propostas e elegeram os delegados que serão representantes nas conferências estadual e nacional.
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Encontro do Fórum reúne lideranças da Brasilândia e Freguesia do Ó
Moradores fizeram plenária geral para elaborar propostas para os bairros e a cidade.
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Faltam livros
Em oito áreas de subprefeituras na Zona Leste e Sul da capital não há livros disponíveis em bibliotecas públicas para moradores de 7 a 14 anos. Leia mais no Observatório Cidadão Nossa São Paulo.

Percepção do paulistano
São Paulo é injusta para 69% dos moradores e acolhedora para 43%. Leia mais sobre a pesquisa Ibope com a população da cidade.

Monitoramento cidadão
Além de São Paulo, em Ilhabela e no Rio de Janeiro sociedade civil se mobiliza para construir indicadores de qualidade de vida e monitorar a gestão pública.
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Conquista
Câmara aprova por unanimidade em última votação projeto que obriga prefeito a detalhar programa de governo e a prestar contas. Leia mais

"Movimento Nossa São Paulo"


Visite o portal: www.nossasaopaulo.org.br


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terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Desejo e reparação - por Leandro Fortes - fonte: http://www.cartacapital.com.br

Em janeiro de 2001, 29 oficiais da Marinha do Brasil receberam em casa um comunicado sigiloso do Comando Naval. Foram convocados a se apresentar para exames de saúde no Hospital Marcílio Dias e no Instituto de Radioproteção e Dosimetria (IRD) da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), no Rio de Janeiro. Em comum entre eles, o fato de terem servido na Guerra da Bósnia, na ex-Iugoslávia, entre 1993 e 1995, como observadores estrangeiros da Organização das Nações Unidas (ONU).

A CNEN queria verificar se eles tinham sido contaminados por radiação emitida pelo Urânio-235, utilizado na munição das tropas da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) durante o conflito. O resultado do exame, e o possível acompanhamento de casos positivos, é mantido sob sigilo, até hoje.

A comissão de energia nuclear tomou essa iniciativa depois de, no início de 2000, militares de Portugal, Espanha, Itália, Bélgica, Holanda e Alemanha, também observadores na Bósnia, terem morrido ou ficado doentes, principalmente de patologias renais e cancerígenas. Os sintomas obedeciam ao mesmo padrão observado em soldados americanos da Guerra do Golfo, em 1991, onde as Forças Armadas dos Estados Unidos utilizaram, pela primeira vez, o Urânio-235 – o chamado urânio empobrecido – em munição.

As doenças relacionadas a essa exposição ficaram conhecidas por “Síndrome do Golfo”. A partir da morte de militares portugueses, passou, porém, a ser denominada “Síndrome dos Bálcãs”. O Comando da Aeronáutica também realizou exames em 29 militares da FAB que lá estiveram, assim como o Ministério da Defesa, em três funcionários. O Exército, dono do maior efetivo na missão, de 170 militares, além de responsável por 46 policiais militares estaduais, não tomou, ao menos oficialmente, essa providência. O Ministério da Defesa também jamais se pronunciou sobre o assunto.

No fim de 2001, quando os oficiais da Marinha foram convocados secretamente para os exames, um fato iria chamar a atenção dos militares envolvidos na operação. O general-de-brigada Newton Bonumá dos Santos, comandante-geral dos observadores estrangeiros na Bósnia, seria acometido de um tumor letal no cérebro e morreria em julho de 2002, no Hospital Central do Exército (HCE). Bonumá, por conta de comandar toda a tropa de estrangeiros, esteve em muitas das áreas reconhecidas, posteriormente, pelas Nações Unidas, como de alto índice de radiação. Como nunca foi examinado pela CNEN e, certamente, ter sido o militar brasileiro mais exposto às zonas de risco espalhadas pelos Bálcãs durante o conflito na ex-Iugoslávia, há grande possibilidade de o general ter sido vítima dos efeitos da munição radioativa utilizada pela Otan.

Na Bósnia, em 1994, no comando de 800 observadores internacionais de mais de 20 nacionalidades diferentes, o general tinha pouca noção dos perigos da munição empregada pela Otan. Cuidava de tocar um trabalho complicado e arriscado, além de inédito. Nunca antes um oficial brasileiro tinha comandado tropas estrangeiras na Europa.

Além dos conflitos entre sérvios, croatas, bósnios e montenegrinos, Bonumá ainda teria de se preparar para uma guerra pessoal em conseqüência de uma súbita paixão por uma funcionária da ONU, filha de um general croata, herói da Segunda Guerra Mundial. O oficial brasileiro era casado e, ao descobrir um novo amor em meio ao flagelo da Guerra dos Bálcãs, iria comprometer, para sempre, a carreira no Exército.

Até voltar da ex-Iugoslávia, em 1995, Bonumá era considerado um dos oficiais mais brilhantes do Exército Brasileiro. Havia sido um dos raros professores estrangeiros da Academia Militar de West Point, nos Estados Unidos, a mais conceituada do mundo. Também estava entre os primeiros colocados nos cursos de formação do Exército. Ostentava uma ficha impecável e tinha estado à frente de comandos de grande relevância. Ainda assim, em 1998, foi preterido da promoção para general-de-divisão (três estrelas), ao que tudo indica por ter largado a primeira mulher, após 30 anos de casamento, e se unido à economista Jagoda Bulat (pronuncia-se “Iágoda Búlat”), a croata por quem se apaixonou durante a guerra.

O oficial havia sido assessor pessoal do então ministro do Exército Zenildo de Lucena, mais tarde nomeado comandante da força, com a criação do Ministério da Defesa, em 1999. Nem isso serviu para neutralizar a fúria das mulheres dos generais, responsáveis pelo eficiente lobby que resultou no fim da carreira do ex-comandante dos observadores estrangeiros na Bósnia.

“Imaginaram que, com a separação conjugal, eu deixara de ter uma conduta inatacável”, lamentou Bonumá à época.

Lançado ao ostracismo, trabalhou numa editora de publicações militares e passou a viver com Jagoda num apartamento na Gávea, no Rio, embora ela viajasse constantemente à Croácia por não possuir visto definitivo no Brasil. Acompanhado ou não, o general vivia só e isolado. Os amigos, muitos com mais de 30 anos de relacionamento, passaram a evitá-lo e a tratá-lo como um leproso funcional. Temiam se tornaralvos do lobby das mulheres dos generais na hora da promoção.

No início de 2001, um amigo da Marinha, o comandante-de-mar-e-guerra Márcio Bonifácio Moraes, alertou-o sobre os casos suspeitos de mortes de militares supostamente provocadas pela munição da Otan. Ex-observador nos Bálcãs, o comandante encabeçou a lista de convocados a comparecer ao Hospital Naval Marcílio Dias.

Nada foi encontrado de anormal no oficial, mas o comandante Moraes passou a investigar a existência de outros casos mundo afora e, com alguma regularidade, informava Bonumá sobre o tema. Estranhava, sobretudo, a omissão do Exército em relação aos exames de contaminação de radioatividade, ao contrário da disposição da Marinha e da Aeronáutica. Desligado da rotina da caserna e desgostoso com a atitude do Exército em relação a ele, Bonumá deu pouca atenção às preocupações do amigo e, no final daquele ano, partiu para um período em Zagreb, capital da Croácia, ao lado da nova mulher.

Ao voltar dos Bálcãs, o militar começou a sentir uma dor de cabeça persistente e uma sonolência incomum. Nunca tivera, antes, problemas graves de saúde. Ao contrário. Era atlético, afeito a caminhadas nas zonas conflagradas (e contaminadas) da Bósnia, quando lá serviu, e gostava de, com freqüência, subir o Pico da Tijuca (1.021 metros de altitude), no Rio, para se exercitar. Em março de 2002, foi diagnosticado um câncer no cérebro do general. Jagoda, então, foi morar com ele definitivamente, para apoiar o tratamento. Como o crescimento do tumor foi muito rápido, ela o internou no HCE e passou a, praticamente, morar no quarto do hospital. A ela, Bonumá comentou da possibilidade de ter ficado doente por causa da Síndrome dos Bálcãs, como desconfiava o amigo Moraes. Mas não teve mais tempo para insistir no assunto, pois logo perdeu a capacidade de falar.

O general morreu em 17 de julho de 2002, aos 60 anos, durante uma troca de lençóis da cama onde permaneceu entrevado. O general Zenildo de Lucena, mesmo na reserva, foi quem mais o visitou. A maioria dos amigos o evitou até no leito do HCE, assim como os dois filhos do primeiro casamento.

O capitão Harley dos Santos, um dos observadores seqüestrados na Bósnia para ser usado como escudo humano por separatistas, nunca apareceu por lá. À época, Harley, hoje tenente-coronel, foi salvo graças à intervenção e ao prestígio de Bonumá entre as partes envolvidas no conflito. Na Croácia, o oficial chegou a ser condecorado ao lado do general.

O filho não foi sequer ao enterro, no Cemitério São João Batista, no Rio. “Naquele instante, o Brasil se tornou um país muito triste para mim”, conta Jagoda.

Incrivelmente, o Comando do Exército alega não ter solicitado exames médicos aos militares enviados aos Bálcãs porque, segundo a assessoria da força, “a ONU não considerou essa questão, por não ter sido comprovado que a Otan teria utilizado esse tipo de munição”.

Estranho, pois foi justamente a Otan que preparou um guia sobre o uso desse tipo de munição – posteriormente, a organização elaborou um relatório para negar supostas conseqüências maléficas do urânio empobrecido nos ataques. Para o Exército Brasileiro, “a alegação do seu uso, segundo relatos da época, partiu de elementos da população local”.

A coisa vai mais além, segundo a resposta passada a CartaCapital pelo Centro de Comunicação do Exército (Ccomsex): “Em face de a ONU não reconhecer o uso dessa munição por parte da Otan, os militares que retornaram da missão somente realizaram os exames médicos de rotina por término de missão no exterior”. Lembrete: o segundo relatório sobre o tema é da ONU, no qual se recomendam medidas de descontaminação dos locais atingidos pela munição. Também contatadas pela revista, Marinha e Aeronáutica não responderam sobre uma possível contaminação radioativa de militares das duas forças.

Na verdade, a morte de Bonumá eliminou qualquer possibilidade de o Exército convocar militares para exames de contaminação de radioatividade.

Na avaliação de um oficial ligado ao Alto-Comando da força, qualquer movimento nesse sentido poderia levantar suspeitas sobre negligência ou parecer ter sido motivado pelo tumor do qual Bonumá foi vítima. Em outras palavras, poderia macular a imagem do Exército e, de quebra, lançar dúvidas sobre a omissão em relação aos militares enviados à ex-Iugoslávia, motivo de orgulho da tropa verde-oliva.

Há, ainda, uma outra razão, muito mais comezinha.

Jagoda, hoje com 60 anos, casou-se formalmente com o general em 26 de junho de 2002, 21 dias antes de ele morrer. Incapaz de se levantar da cama e de assinar o ato de casamento, Bonumá nomeou o comandante Moraes para representá-lo na cerimônia, na verdade, um ato burocrático firmado em um cartório do Rio de Janeiro. “Ele me pediu em casamento em inglês, idioma no qual conversávamos”, lembra Jagoda.

Mesmo terminal, o general previu deliberadamente as conseqüências daquela ação, levada a cabo para garantir algum sustento à mulher, por meio de pensão militar. Foi o último ato de amor do general. A partir dali, iniciou-se um litígio de família que se arrasta até hoje.

A Jagoda, o Comando do Exército designou 25% da pensão do general (2,3 mil reais), o nome de casada (que ela não usa) e um apartamento de quatro quartos no Humaitá, bairro de classe média baixa do Rio. O restante da pensão ficou dividido em 50% para a ex-mulher e 25% para a filha, enquanto ela for solteira – um anacronismo legal mantido no Exército desde o fim da Guerra do Paraguai, em 1870.

O general também deixou uma conta de 120 mil dólares em um banco da Flórida, nos Estados Unidos. O dinheiro, fruto de economias do serviço no exterior, foi imediatamente retirado da conta pela ex-mulher, Maria Luiza Bonumá dos Santos, e depositado na conta de um dos filhos do general. A Justiça do Rio ordenou, porém, que metade do dinheiro fosse redepositado na conta de origem e ficasse à disposição de Jagoda.

No processo que abriu contra o Exército, a croata pede para ficar com 50% da pensão do general. O processo chegou até o Superior Tribunal de Justiça, no início do ano passado. Em 8 de maio de 2007, o plenário do Tribunal reconheceu os direitos de Jagoda, mas deu ganho de causa à União, a terceira parte interessada no processo, por tratar-se de fundos oriundos do Tesouro Nacional.

A viúva croata, então, foi obrigada a se resignar com os 25% da pensão, embora a sentença ainda não tenha sido publicada. Somente depois disso a advogada dela, Dómina Zerbouli, poderá saber se há chance de um novo recurso, desta vez no Supremo Tribunal Federal.

Os efeitos do urânio empobrecido

O urânio empobrecido (DU, sigla do termo em inglês Depleted Uranium) é um produto do processamento do mineral. É a parte menos radioativa do urânio, inútil para uso em armas e reatores nucleares. No início dos anos 70, os Estados Unidos começaram a usá-lo em mísseis não-nucleares e em balas comuns e de tanques. A grande densidade do material dá um poder de penetração maior à munição, capaz de fazê-la varar couraças de tanques e outros veículos blindados. Além dos EUA, a Rússia e alguns países da Europa possuem a tecnologia militar do urânio empobrecido. Documentos do Pentágono, obtidos pela imprensa americana, registraram o lançamento de mais de 900 mil projéteis de urânio empobrecido sobre o Iraque e o Kuwait, em 1991. Na Bósnia, foram 10 mil e, no Kosovo (durante o conflito de 1999), 31 mil.

Pressionada pelos países europeus envolvidos na Guerra dos Bálcãs, mas, sobretudo, pelas mortes suspeitas de soldados de várias nacionalidades, a Otan iniciou, em 2000, uma investigação nas áreas contaminadas. Em outubro do ano seguinte, a Comissão de Ciência e Tecnologia da organização divulgou um relatório sobre o uso do urânio empobrecido no Leste Europeu. O texto, absolutamente alinhado às declarações das autoridades americanas sobre o tema, nega qualquer risco à saúde dos militares e civis atingidos pela radiação, e manda o mundo tratar o DU como uma “munição comum”. Baseado nesse salvo-conduto sanitário, o urânio empobrecido ainda é usado, e em larga escala, pelas tropas dos EUA mobilizadas na invasão do Iraque, desde 2003.

Apesar das declarações sobre o caráter inofensivo do urânio empobrecido, referendado pelo relatório da Otan, não era essa a orientação passada aos soldados americanos. Aliás, nunca transmitida aos militares brasileiros e de outras nacionalidades envolvidos na missão de paz patrocinada pela ONU na ex-Iugoslávia.

Um guia distribuído pela Otan aos militares e funcionários americanos enviados aos Bálcãs, com o aval das Nações Unidas, alertava sobre a proibição de contato em áreas atingidas pela munição radioativa e a necessidade de roupas especiais para o acesso a esses locais. E explicava mais: os efeitos da radiação poderão ser sentidos muitos anos depois da exposição. O guia, conhecido por Depleted Uranium Awarness, trata a munição DU como perigosa e fatal para o organismo humano, por causa dos riscos de ingestão, inalação e contato com a pele do pó radioativo lançado pelo urânio após os ataques. Sem falar na contaminação de alimentos, solo e água.

Em 2003, e sobre pressão dos Estados Unidos e da Guerra do Iraque, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), divulgou um novo estudo sobre os riscos de contaminação por urânio empobrecido na Bósnia. Segundo o texto, após sete anos do fim do conflito, ainda foi possível detectar DU nos locais onde fora usado, inclusive na água potável e no ar. Todo o urânio encontrado em 2002, quando o estudo foi terminado, estava, de acordo com o Pnuma, abaixo do nível considerado inseguro. Ou seja, apesar de não ter sido constatado risco na data de encerramento da pesquisa, todos os locais examinados foram áreas de contaminação em potencial durante a guerra. No fim do texto, os técnicos do Pnuma recomendaram às autoridades locais “tomar medidas de prevenção e descontaminação”.

fonte: http://www.cartacapital.com.br
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Guerra do Iraque 'custa mais de US$ 3 tri' - fonte: http://blogdobourdoukan.blogspot.com/

Guerra do Iraque 'custa mais de US$ 3 tri'

A informação é de Joseph Stiglitz prêmio Nobel de economia em entrevista à BBC:

"Quando fomos à guerra, o governo Bush disse que iria custar entre US$ 50 bilhões e US$ 60 bi. Na época, um economista da Casa Branca (Larry Lindsey), disse que o custo poderia chegar a US$ 200 bi. Ele foi demitido e sua declaração considerada "bobagem".

O custo estimado hoje é que exceda US$ 3 trilhões(cerca de R$ 5,1 trilhões )", disse Stiglitz.
"Atualmente os Estados Unidos dão US$ 5 bilhões de ajuda à África por ano. Isso representa 10 dias de guerra no Iraque. Se incluirmos os outros custos seriam 7 a 8 dias. Isso contra um ano de ajuda à África."


"Pelo custo de duas semanas de guerra, poderíamos acabar com o analfabetismo no mundo”.

No livro A guerra de US$ 3 trilhões - O custo real do conflito no Iraque (em tradução livre), a ser lançado nesta semana, Stiglitz e a co-autora Linda J. Bilmes investigam os números por trás da guerra e os prejuízos para a sociedade.

O livro ainda compara este conflito com outros, anteriores, em que os Estados Unidos estiveram envolvidos.

"Esta é a segunda maior guerra dos Estados Unidos, depois do Vietnã, e a segunda maior em custos, depois da 2ª Guerra Mundial. Mas quando vimos o custo por soldado, este é ainda maior no Iraque”.

Segundo o economista, o custo de cada soldado na 2ª Guerra, em que 16,3 milhões de soldados americanos lutaram por quatro anos, foi de menos de US$ 100 mil (em valores ajustados para 2007), enquanto que a guerra do Iraque vem custando US$ 400 mil por soldado.

Stiglitz explica que, nesta guerra, uma das diferenças que contribui para o aumento do custo é que, normalmente, o número de soldados feridos em uma guerra corresponde a duas vezes o número de mortos, mas nesta guerra, segundo o economista, o número de feridos chega a 15 para cada soldado morto.

Muitos desses ferimentos são problemas que os Estados Unidos terão que bancar pelos próximos 50 anos, e isso acrescentam ao custo da guerra, diz Stiglitz.

"A devastação é grande", afirma. "Em uma em cada cinco famílias com um soldado deficiente, uma pessoa terá que pedir demissão do emprego para cuidar dele", diz.

"A guerra também fez com que o preço do petróleo aumentasse muito. Isso é dinheiro jogado pelo ralo. Esse foi um dos grandes problemas dessa guerra para a economia.

Antes da guerra, o preço era de US$ 23 a US$ 25 o barril de petróleo, e as bolsas de futuro acreditavam que a cotação permaneceria estável pela próxima década. Agora o preço do barril chega a US$ 100 - principalmente por causa das incertezas provocadas pela guerra”.

fonte: http://blogdobourdoukan.blogspot.com/

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segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

A capa de Veja que você nunca vai ver - por André Lux - fonte: http://www.revistaforum.com.br/sitefinal/blog/

Esta capa aí debaixo é uma criação do editor de Blogues Independentes do site da Fóurm. Como o André Lux sabe que a Veja não é um produto jornalístico, ele só está brincando, claro. Mas não deixa de ser uma boa idéia usar a sugestão para uma capa da Fórum.... Aliás, leitor, aproveite ao comprar esta Fórum com o Boal na capa, que está execelente, mas já encomende a próxima. Ainda não posso falar com quem é a entrevista, mas posso garantir que numa certa revista a redação vai tremer.

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O medo do desconhecido - por Márcia Pinheiro - fonte: http://www.cartacapital.com.br

O medo do desconhecido

25/02/2008 11:47:45

Márcia Pinheiro
Tenho conversado com pessoas do mercado financeiro que conheço há mais de 15 anos. Falamos dos indicadores econômicos, das expectativas e do futuro. Teimamos em adivinhar o futuro. Só que uma coisa tem sido ignorada por essas fontes, quase amigos, pelo contato de tanto tempo. O mundo mudou. Não falo do ingresso de China e Índia na economia global, fato tão batido quanto pouco compreendido. Chamo a atenção para o discurso.

Evidentemente que a eles interessa se a Bolsa sobe ou cai e se a taxa futura de juro vai se comportar conforme previram. É o seu ganha-pão administrar o dinheiro dos outros, da forma mais rentável possível. Mas se tento colocar em xeque a estrutura que fez ruir o mercado americano, por exemplo, desconversam. O raciocínio das mesas de operação é binário, disse-me uma vez Tereza Fernandez, excelente consultora da MB Associados. Ou compra ou vende.

Adapto-me. Compro a idéia de que estamos passando por uma das maiores transformações das últimas décadas. No mundo todo, vozes poderosas pedem maior controle sobre os fluxos financeiros. Caso de Angela Merkel, primeira-ministra alemã. De maneira mais diplomática, têm teor semelhante as mensagens expressas por Dominique Strauss-Khan, diretor-gerente do FMI. O papo está na roda.

No Brasil, infelizmente, pruridos dominam o governo. Não ouvi do presidente Lula uma frase mais assertiva sobre o apoio a tais controles. OK, o País está mais forte. Excelente ter zerado a dívida externa. Ótimo que a inflação esteja novamente voltando a patamares aceitáveis. Mas a prudência recomenda que o cadeado seja colocado na porta antes de o ladrão entrar na casa.

Sugiro ao leitor um pit stop no site www.dowbor.org. Intelectuais brasileiros e estrangeiros discutem os papéis do FMI, do Banco Mundial e do sistema financeiro, com ênfase em aspectos ambientais e sociais. O mote é colaboração.

Dica econômico-cultural

Você já deve ter ouvido falar em John Kenneth Galbraith, um dos mais brilhantes economistas do século passado. Pode não saber, no entanto, que ele é um ficcionista maravilhoso. Leia O Professor (A Tenured Professor, 1990). A edição em português está esgotada, mas sempre há possibilidades no mundo do copyleft. Em inglês, consegue-se nas prateleiras das boas livrarias. Só vou citar um detalhe, que em nada prejudica o saboroso texto: o personagem principal é um professor de economia que cria o Índice de Expectativas Irracionais. Paro por aqui. Deleite-se. É genial.
fonte: http://www.cartacapital.com.br

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O Império dos Sarney

Coisas do Maranhão..... Eta Brasil !!!................
Isso é que é Império. Voltou a Monarquia?


Assunto: Acredite se quiser--> Coisas do Maranhão..... Eta Brasil !!!


Por favor, após leitura, envie para parentes e amigos para que façam o mesmo, para que muitos saibam, obrigado.

- Para nascer, Maternidade Marly Sarney;

- Para morar, escolha uma das vilas: Sarney, Sarney Filho, Kiola Sarney ou, Roseana Sarney;


- Para estudar, há as seguintes opções de escolas: Sarney Neto,
Roseana Sarney, Fernando Sarney, Marly Sarney e José Sarney;

- Para pesquisar, apanhe um táxi no Posto de Saúde Marly Sarney e vá até a Biblioteca José Sarney, que fica na maior universidade particular do Estado do Maranhão, que o povo jura que pertence a um tal de José Sarney;


- Para inteirar-se das notícias, leia o jornal O Estado do Maranhão, ou ligue a TV na TV Mirante, ou, se preferir ouvir rádio, sintonize as Rádios Mirante AM e FM, todas do tal José Sarney. Se estiver no interior do Estado ligue para uma das 35 emissoras de rádio ou 13 repetidoras da TV Mirante, todas do mesmo proprietário;

- Para saber sobre as contas públicas, vá ao Tribunal de Contas Roseana Murad Sarney (recém batizado com esse nome, coisa proibida pela Constituição, lei que no Estado do Maranhão não tem nenhum valor);

- Para entrar ou sair da cidade, atravesse a Ponte José Sarney, pegue a Avenida José Sarney, vá até a Rodoviária Kiola Sarney. Lá, se quiser, pegue um ônibus caindo aos pedaços, ande algumas horas pelas 'maravilhosas' rodovias maranhenses e aporte no município José Sarney.

Não gostou de nada disso? Então quer reclamar? Vá, então, ao Fórum José Sarney, procure a Sala de Imprensa Marly Sarney, informe-se e dirija-se à Sala de Defensoria Pública Kiola Sarney...

Seria cômico se não fosse triste...

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Entrevista com diretor do documentário "Pro Dia Nascer Feliz", João Jardim - fonte: http://carosamigos.terra.com.br/

Entrevista

Entrevista - JOÃO JARDIM


O cineasta João Jardim fala de seu segundo longa-metragem, o documentário “Pro Dia Nascer Feliz”, filmado em seis escolas brasileiras. O filme, que fala da adolescência e sua relação com a escola, foi premiado com quatro Kikitos e eleito melhor documentário na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

Entrevistadores: Marina Amaral, Marcos Zibordi, Thiago Domenici, Juliana Sassi, Sofia Amaral, Juliana Pacheco.
Fotos: Cazu

Marina Amaral – Já que seu filme trata de adolescentes, poderíamos começar pela sua adolescência e sua relação com a escola. Como você viveu essa fase?
Tive uma vida de adolescente bem classe média mesmo, escola particular no Rio de Janeiro. Para mim, a questão da escola é como a descrevo para os adolescentes: ela é importante, mas não aparenta ser porque o que a gente leva mais da adolescência são as nossas dificuldades, as coisas boas, o que a gente viveu ou não viveu. Não tenho nenhuma história mais específica para contar da escola, não era muito bom aluno nem muito ruim... Poderia falar mais do meu problema de visão na escola, mas esse tem a ver com o outro filme...

Marina Amaral – O Janela da Alma...
É. A questão desse filme (Pro Dia Nascer Feliz) é mais relacionada a um incômodo meu em relação a uma situação social, enquanto o Janela se relacionava muito com a minha adolescência, essa coisa de usar óculos e ter dificuldade de fazer esporte, perceber o quanto os óculos estigmatizavam naquele momento. Mas não tenho muito para contar sobre as escolas em que estudei, eram sempre medianas, mas aprendia, sabe? O problema é que sempre quis fazer cinema, então sempre achei que a escola não falava nada a respeito daquilo que mais me interessava.

Marina Amaral – E você se interessou por cinema apenas assistindo aos filmes?
Assistindo aos filmes. Acho que aprendi mais no cinema do que... Não. Não dá para dizer isso de uma maneira verdadeira, porque acho que na escola também aprendi muita coisa, aliás, o trabalho da escola é ensinar a pensar. Mas, sobre a vida, como são as pessoas, valores éticos, acho que aprendi mais vendo filmes. E até desenvolvi esse jeito de observar, sou muito observador.

Marina Amaral – E como você chegou ao tema “escola”?
Esse tema partiu de duas coisas. Primeiro, de uma razão prática, porque há tempos eu estava fazendo uma pesquisa sobre gravidez na adolescência para um possível filme e percebi que o discurso dos adolescentes de todas as classes sociais era muito antagônico à escola. Lógico, o adolescente naturalmente é do contra, mas achei um pouco exagerado, como se realmente houvesse um conflito. E a escola também reclamava muito do adolescente, falando que ele não quer estudar, não quer saber, não está interessado em aprender. Então encontrei um conflito, o que é necessário para fazer um filme. A isso se junta uma coisa pessoal minha, de querer fazer um filme para falar da desigualdade, para tentar melhorar o Brasil, ao que remete o título do filme: meu desejo de discutir um tema que eu acho da maior relevância, de uma maneira subjetiva. O filme fala daquilo que a gente já sabe, mas de uma outra forma. Não traz informação nova, mas traz outro olhar, um conhecimento emocional que permite outras reflexões.

Marcos Zibordi – É engraçado você ter falado do título, porque lembra a música do Cazuza que não tem muito a ver com o tema, é uma história de amor... Foi uma tentativa de se aproximar do adolescente?
Com certeza. Eu tinha a preocupação de fazer um título que não tivesse proximidade com o universo educacional porque isso seria ruim para o filme, mas que tivesse proximidade com o universo adolescente. Mas o título é uma escolha pessoal, é uma coisa muito difícil, quase como um filho. Desde o início, quando o filme ainda era projeto, sempre teve esse nome.

“Os professores têm de ser preparados para ensinar alguém que nunca viu um livro em casa, nunca foi a um cinema. E aí vêm as pesquisas: 60 por cento dos alunos não aprenderam – e por que não aprenderam?”

Marcos Zibordi – Essa questão da proximidade é interessante porque no filme fica evidente que, salvo raras exceções, os professores só estão próximos fisicamente dos alunos. Na sua opinião, a responsabilidade maior pelo processo está na mão do professor?
Na verdade, não dá para responsabilizar ninguém pelo problema e, ao mesmo tempo, dá para responsabilizar todas as pessoas. Sou contra aquele discurso de que o Brasil foi colonizado, a escravidão só foi abolida há cem anos etc. e tal. Acho que a gente já está bem crescidinho, já podia ter se conscientizado e mudado essa realidade. Mas é um sistema muito arcaico, difícil de mudar. As pessoas não querem mudar a escola, a maneira de ensinar...

Marcos Zibordi – Quando você fala as pessoas, está abrangendo aí o professor, o diretor...
Todo mundo. A instituição escola não está funcionando desde que ela se tornou mais democrática, ou seja, antes existia uma escola para a classe média, não é? Aquela escola que todo mundo lembra que era boa. Só que era boa porque os alunos traziam de casa uma bagagem muito maior, então o professor só tinha que transmitir o conteúdo. Quando a escola ampliou e passou a atender a maior parte da população, começou a receber crianças que tinham que aprender tudo dentro da escola. Essa é a realidade, o povo brasileiro nunca teve escola antes, agora tem, mas a escola não se adaptou para lidar com alunos cujos pais não tiveram formação alguma, que não podem olhar o caderno do filho quando chegam em casa porque não aprenderam o que os filhos aprendem. E os professores também foram formados num tipo de universidade que nunca considerou esses alunos, e que continua não considerando. Agora até talvez esteja mudando, mas ainda não tem essa percepção de que os professores têm de ser preparados para ensinar alguém que nunca viu um livro em casa, nunca foi a um cinema. E aí você lê nos jornais as pesquisas: 60% não aprenderam – e por que não aprenderam? E essa coisa de falar “ah, porque estão mais interessados na Internet” não é verdade.

Marcos Zibordi – Nãoproblema nenhum com a Internet...
Não, exatamente... Só ajuda. Então, é porque eles estão mais interessados no que está fora da escola? Sempre foi assim! O que falta é esse conhecimento de como ensinar pessoas que chegam muito cruas à escola. Desconstruiu-se a forma anterior de ensinar, que talvez não fosse boa, mas não se criou outra. O professor fica lá, ensina, e não aprendem. Lógico, se estiver numa condição ideal, uma turma de 25 alunos numa escola toda bonitinha, aprende. É verdade. Só que essa não é a realidade brasileira e nem vai ser, então é preciso desenvolver uma tecnologia de como ensinar essas pessoas numa turma de quarenta e poucos alunos, numa escola mais ou menos destruída. E é essa mudança que se precisaria fazer no currículo, na forma de ensinar, porque a dinâmica dentro da sala de aula é praticamente igual àquela que existia há vinte anos, quando quem chegava lá éramos nós, a classe média.

Thiago Domenici – Eu acho que um dos grandes problemas do ensino é o método de avaliação, muito punitivo. Você acha que isso influencia também?
Cara, eu acho que esse problema vem depois. Uma das coisas mais danosas é a falta de avaliação que existe na escola em geral. É preciso avaliar mais do que se avalia, porque uma das coisas mais tenebrosas é que um professor que não consegue ensinar é tratado igual ao que consegue ensinar, e este não tem reconhecimento algum, nenhum benefício. Imagina se você, no seu trabalho, não tivesse possibilidade de reconhecimento. Para mim, essa questão, a da não-avaliação do professor, vem antes da questão de como avaliar o aluno.

“Uma das coisas que mais me revoltaram enquanto fazia o filme foi ver o sofrimento do professor. A desmotivação que o professor sofre é enorme.”

Marina Amaral – E o desrespeito dos alunos em relação aos professores? Também não desestimula o professor?
Mas isso é uma outra questão também. A gente vive numa sociedade muito violenta, uma sociedade que oferece uma escola ruim. E na fase da adolescência há vários motivos para o desequilíbrio emocional. É normal esse desequilíbrio, na adolescência você está descobrindo um monte de coisas, muitas delas ruins. O que o aluno faz é expressar sua revolta com a sociedade perante aquela pessoa que simboliza o sistema. E o professor teria de saber que quando o aluno o agride, dizendo “vá tomar no cu”, isso se relaciona a outras questões, ou ao ambiente em que vive. Na medida em que o professor tiver conhecimento de que aquilo não é pessoal, de que aquilo é um comportamento do jovem na sociedade do século 21, dentro do caos urbano que a gente vive no Brasil... Então acho que o professor teria que ser instrumentalizado para lidar com essa violência sem se ofender tanto, porque uma das coisas que mais me revoltaram enquanto fazia o filme foi ver o sofrimento do professor. A desmotivação que o rofessor sofre em função do comportamento do aluno é enorme, realmente o aluno é muito violento, mas isso não vai mudar. O que pode mudar é preparar o professor, dar subsídios para ele encontrar forças para lidar com isso sem se abalar tanto.

Marina Amaral – E a escola fica com muitos problemas para lidar, como aparece na cena do conselho de classe, não é? Os professores estão numa sinuca, porque, se reprovam o menino que não sabe nada, mas parece estar se regenerando, podem estar tirando sua chance de escapar à marginalidade.
Por isso que os professores teriam que chegar à escola melhor instrumentalizados. O currículo que forma o professor não lida com essas questões, não o prepara para a realidade que vai encontrar. Não é que ele não saiba ensinar, mas ele não sabe lidar com os adolescentes violentos e desinteressados.

Juliana Sassi – A que você atribui essa desvalorização do professor?
É uma questão ampla, professor tem muito emprego.

Juliana Sassi – E ganha mal...
Ganha mal, mas isso é relativo. Ganha mal para quem? Para que classe social? Hoje em dia tem muitas professoras que são filhas de empregadas domésticas, de porteiro. Nesse caso é uma ascensão social.

Juliana Sassi – Mas é uma profissão desvalorizada.
É uma profissão desvalorizada, com certeza. Mas o que eu estou dizendo é que, como não tem desemprego para professor, é uma profissão que atrai muita gente que precisa de trabalho, mas que não se compromete muito. Além disso, o fato de serem muitas pessoas torna difícil aumentar o salário, sem falar na questão da falta de avaliação do trabalho deles que já falei.

Marina Amaral – Como os professores te receberam? Porque os alunos, imagino, gostavam de falar...
Variava, variava. Eles desconfiavam muito, né?

Marcos Zibordi – Alunos também?
Todos.

“As pessoas que dominam o pensamento sobre educação continuam sem ver que a escola não funciona para mais da metade dos alunos.”

Thiago Domenici – O que perguntavam pra você?
Perguntavam como seria o filme, se era para falar mal da escola, falar mal do professor... Mas, repito, não acho que a culpa é do professor. O professor é mais um na engrenagem de um sistema muito grande, muito difícil de modificar, até porque não se vê uma decisão nesse sentido, de mudar a escola porque não está funcionando. Imaginem uma fábrica em que só 40 por cento dos carros andam; é óbvio que a linha de montagem seria mudada radicalmente. Mas as pessoas que dominam o pensamento sobre educação continuam sem ver que a escola não funciona para mais da metade dos alunos. Elas não assimilam essa falência, falta percepção sobre a realidade dentro da escola. E aí não tem jeito. Vejam, por exemplo, a questão da progressão continuada. Na teoria, está certíssima, surgiu porque se descobriu que cada aluno aprende uma coisa com determinada idade, então não adianta avaliar no primeiro ano porque alguns alunos só vão aprender aquilo depois. O melhor seria avaliar só na quarta série. Mas não deu certo porque, na prática, o que acontecia? Os professores do terceiro ano pegavam alunos que não tinham aprendido nada desde o primeiro ano. E, além disso, os professores não gostavam do sistema de progressão continuada e sem o convencimento do professor nada funciona. Muito do que se vê hoje é fruto desse fracasso, porque os alunos vão passando de ano sem aprender, então cada vez vão tendo notas piores.

Thiago Domenici – Como foi feita a escolha das seis escolas abordadas no documentário?
Levamos em conta duas coisas. Primeiro, a variedade de locais e realidades, por isso São Paulo, Rio e Pernambuco. Depois, os temas que queria abordar: violência na escola, falta do professor, enfim, eu ia procurando escolas que revelassem esses conflitos. Também tinha o fato de a escola me receber bem, porque eu tinha que perceber que não seria interrompido no meio do trabalho – foram muitas idas a cada escola –, senão haveria um problema de produção enorme.

Sofia Amaral – E foi difícil achar escolas receptivas?
Com certeza. E também acontecia de a escola permitir em um primeiro momento e depois, quando eu voltava lá, diziam: “Ah, agora não pode”. E aí como continuar o filme? Por isso fiquei com aquelas em que senti uma cumplicidade da direção em relação ao filme, não bastava uma autorização para filmar lá uma semana.

Juliana Pacheco – E o roteiro você fazia sempre em função da pesquisa?
Totalmente em função da pesquisa. Também fui editando no decorrer. Filmei a primeira parte, editei uma parte, filmei a segunda parte, editei mais um pouco e ainda fiz uma pequena filmagem depois.

Juliana Pacheco – Aquela parte em que você fala da violência você fez depois? Que fala da menina que matou a outra...
Foi depois, mas eu já estava com a idéia de fazer, é que demorou muito a autorização para entrevistar a menina.

Marina Amaral – Você escolhia a escola e surgiam os personagens?
Tudo ao mesmo tempo. Isso também foi outra coisa determinante. Porque como o filme não é uma pesquisa e sim uma amostragem, a escolha tem muito a ver com processo intuitivo, de eu achar que ali tinha personagens e escola boa. As duas coisas contavam.

Marcos Zibordi – Porque, inclusive, a menina de Pernambuco é uma personagem tão forte, que a gente imagina que...
Ela surgiu quando a gente já estava nas filmagens. Íamos fazer a entrevista com uma outra menina, a Viviane, que a gente tinha pesquisado, mas, quando a gente viu a Valéria... Documentário tem muito disso, você tem que estar aberto para o acaso.

Marina Amaral – Você entrevistou vários adolescentes antes de filmar...
Vários. Houve muita pesquisa, muita conversa com muitos adolescentes, em que eu testava as perguntas, os assuntos, os temas...

“É inesperado você ver mulheres se pegando, se batendo, ameaçando, matando uma a outra... Na minha época, a violência era entre homens.”

Marina Amaral – E o resultado te surpreendeu ou você foi a campo sabendo o que ia encontrar?
Surpreendeu totalmente. Nem saberia dizer o quê, foram muitas coisas inesperadas. A Valéria, aquela pessoa preciosa que é, a intensidade da violência entre as mulheres, as alunas. É inesperado você ver mulheres se pegando, se batendo, ameaçando, matando uma a outra... Na minha época a violência era entre homens. Mulher hoje, em dia, está tão violenta quanto homem, ou mais.

Marcos Zibordi – Tem uma parte do filme que mostra o que a scola consegue e o que não consegue, que é a entrevista daquele garoto do Rio: ele não quer saber de nada, mas à banda ele se dedica. Muita gente critica essas iniciativas extracurriculares como pura diversão, sem valor educativo. O que você acha desse tipo de iniciativa?

Eu acho que criticar essas iniciativas é de uma burrice absurda. Quando você fala “ah, eu vou ter aula de teatro na escola”, claro que não é para se tornar ator. Na verdade, essas atividades são importantes para o aluno desenvolver um laço afetivo com a escola, para que ele possa expressar os sentimentos dele e aceitar se submeter a um determinado tipo de disciplina porque aquilo o interessa. Submeter um aluno rebelde a uma disciplina é uma vitória, mesmo que a disciplina só apareça quando ele vai para a banda. É isso que as pessoas não enxergam: aquele menino não vai ser músico, e nenhuma das pessoas que fazem aquele projeto na escola acha que está formando um músico. Aquela banda tem três objetivos: desenvolver um laço afetivo dos alunos com a escola, submetê-los a uma disciplina e dar-lhes a oportunidade de ser protagonistas. O resto vem em segundo plano. O processo de criação do fanzine é a mesma coisa. A adolescência é uma fase deprimida mesmo, muita gente pensa em se matar, o que não quer dizer que vão se matar de fato. Então, você tem que dar a eles a possibilidade de expressar os sentimentos naturais da idade, até para não xingar o professor. O depoimento da Natalie é impecável em relação a isso: antes, ela não queria saber de fazer nada, só queria saber de comer e dormir, aí ela começou a escrever poesia no fanzine da escola... Ela não vai ser poeta, nem queria isso...

Marcos Zibordi – Ainda sobre essa pequena passagem, fiquei impressionado porque a professora que toca o projeto do fanzine me pareceu a mais serena do documentário. Parecia uma pessoa realizada, enquanto as outras têm um semblante de tristeza, de decepção...
Mas a Celsa teve síndrome do pânico na sala de aula no ano seguinte! É por isso que insisto na questão do preparo emocional do professor. Você vê pessoas como ela, de coração muito aberto, sincera, envolvida no trabalho, se empenhando e aí surpreendida por aquela realidade de uma maneira muito intensa.

Thiago Domenici – Como é que se pode dar esse preparo para o professor?
Na universidade, nos cursos de capacitação é preciso haver essa preocupação com a forma como o professor se insere na escola. Ele precisa estar mais amparado em todos os sentidos, não é só “Ah, vamos ensiná-lo a dar aula, porque se ele der aula bem tudo se resolve”.

Sofia Amaral – Você deve ter assistido a muitas aulas em muitas escolas. O que você achou do conteúdo ensinado na maioria delas?
Essa questão do conteúdo é complicada, porque é preciso ensinar o que está no currículo e, para isso, o que existe realmente é um quadro-negro, uma professora e o aluno. Não tem como mudar isso.

Sofia Amaral – Mas você viu professores cometendo erros, por exemplo, ao ensinar história?
Não, isso não.

Sofia Amaral – Erros de português?
Não, não vi nada disso, o que vejo mais é assim: você ensina inglês durante um ano, chega ao final e os alunos não aprenderam. Seria o caso de ensinar diferente? Talvez mesmo no sentido do conteúdo, mudar um pouco o currículo. Eles até tentam, há livros didáticos melhores, existe uma evolução na forma de transmitir o conteúdo. Com certeza há professores despreparados, mas também tem muitos que são preparados do ponto de vista do conteúdo. Muitos. O problema maior é a questão de como lidar com quem não aprende. O cara que chegou ao segundo ano e não se alfabetizou vai para a aula de reforço escolar, que é sempre precária. Quando o aluno não aprende, qual é a deficiência? Como tratar essa deficiência? Precisa-se desenvolver uma tecnologia para lidar com aquele que não aprende.

“Também há os pais negligentes, mas acho que a violência é mais problemática. A violência de pai que bate na mãe, pai que rouba, não tem princípios éticos...”

Marina Amaral – A última cena do filme – as criancinhas carregando o prato de mingau e ainda procurando um lugar para sentar – dá uma sensação de abandono da meninada. Os adultos – pais e professores – não estão cuidando direito das crianças?
Não, eu não vejo assim. Acho que hoje em dia os pais têm uma grande preocupação com os filhos, mas também não os vejo muito instrumentalizados para educá-los. Alguns têm dificuldades por trabalhar muito, o sistema de transporte é precário em todas as grandes cidades, chegam tarde em casa e dão muito pouca atenção aos filhos. Outras vezes eles querem dar atenção, mas os filhos aprendem coisas que eles não sabem, não estudaram – a maior parte da população brasileira só fez até a quarta série. Também há os negligentes, mas acho que a violência é mais problemática. A violência de pai que bate na mãe, pai que rouba, não tem princípios éticos...

Marina Amaral – Ou pai que nem existe também...
Também é muito comum, e a mãe cuida de três ou quatro filhos. É muito complicada essa situação familiar. E não dá para cobrar da escola cuidar disso também, mas com certeza seria muito importante trabalhar essa questão com a família. O que tem muito é isto: pai ou mãe saem para trabalhar, fica um filho cuidando do outro, quem educa o filho menor é o mais velho, ou alguém da família ou da vizinhança E até nas famílias de classe média alta isso acontece, no filme tem uma menina do colégio Santa Cruz que fala que o pai não liga pra ela, só está preocupado com o trabalho. São duas problemáticas diferentes, mas os pais da classe média também têm muita angústia por causa de dinheiro ou trabalham demais...

Marcos Zibordi – Para continuar tendo dinheiro.
Exatamente. E as famílias muito desagregadas, um fruto da sociedade moderna, os pais casam várias vezes e aí o filho é criado pela mãe, a mãe trabalha, não tem dinheiro nem tempo...

“Ela mata a colega na escola, na frente de todo mundo, porque a escola é o local onde se desenvolvem as relações e eles têm que se afirmar naquele espaço.”

Thiago Domenici – E qual foi a sua sensação quando ouviu a menina que matou a colega falar que esfaqueou e tudo bem porque teria três anos de pena?
Ah, absurdo, e eu não podia expressar nada ali, né? Tem que ouvir...

Thiago Domenici – Ela está na FEBEM?
Não está aqui em São Paulo, está em outra cidade, até coloquei essa informação no DVD, porque acharam que era na mesma escola em que eu mostrei a briga das meninas.

Marina Amaral – Dá a impressão de que o filme vai discutindo os problemas normais da escola e da adolescência e, de repente, vem o caso da menina, que é muito forte, ultrapassa a reflexão. Como você vê esse caso no contexto do filme?
Acho que, na verdade, ele é a continuação do filme. Você tem aquela história da violência daquelas duas meninas contra a colega e percebe que o medo dessa garota era real, que se ela não tivesse saído da escola poderia ter acontecido uma coisa daquele tipo. O cotidiano deles já é muito violento, e aquilo... É que eu não posso dizer onde foi gravado, no documento que assinei ao entrevistá-la me comprometi a nunca revelar isso publicamente. Mas ela é de uma cidade muito violenta, então ela já tem toda uma...

Marina Amaral – Vivência de violência...
É. Das periferias. É difícil, mas achei que aquilo ali tinha a ver com o subtexto do filme, o protagonismo, a necessidade de afirmação dos adolescentes. Por que ela matou a outra na escola? Na verdade, aquilo está ali porque ela mata a colega na escola, na frente de todo mundo, porque a escola é o local onde se desenvolvem as relações e eles têm que se afirmar naquele espaço. Se o filme fosse didático, o que não pretende ser, ia querer dizer o que com isso? Que a escola precisa dar ao adolescente a oportunidade de ser protagonista, isso é que o realiza: ser reconhecido de alguma forma. Todos nós queremos ser reconhecidos dentro do nosso grupo e a escola precisa se conscientizar disso pra lidar melhor com essas relações.

Marcos Zibordi – Acho quedez anos ninguém imaginaria que os documentários seriam tão importantes e entrariam para a história do cinema dentro e fora do Brasil. Como você esse movimento de expansão do documentário?
Ah, eu não sei, cara, mas acho que no caso do Brasil é porque tem muitas pessoas que estão querendo pensar o Brasil de forma audiovisual, porque a gente precisa disso e não vê na televisão esse tipo de coisa. A televisão é muito focada na questão jornalística, as pautas são muito determinadas. O documentário é mais reflexivo mesmo e, tendo mais gente fazendo, tem mais chance de ter uma coisa boa.

Marina Amaral – E, mesmo nos filmes de ficção, em muitos a realidade política e social é o foco, mais do que o enredo.
Aí acho que é uma tendência, o exemplo mais forte disso agora é o Borat. É uma ficção feita documentalmente, impressionante, porque o cara vai fazer um documentário nos Estados Unidos e, na verdade, essa é a ficção.

Marina Amaral – Pra começar, ele não é um repórter do Cazaquistão.
É, exatamente. Então é uma brincadeira, mas é a estética do documentário invadindo a ficção.

Marina Amaral – O Antônia.
É, o Antônia.

Marina Amaral – Mesmo o Céu de Suely.
Mas aí você podia falar que tem o neo-realismo italiano, que já foi cinema trazendo realidade dentro do cinema.

“Cada patrocinador é uma batalha e cada um dá um pouquinho porque acha que a idéia só vale um pouquinho, entendeu? Mas é assim mesmo, não tem jeito.”

Thiago Domenici – Qual é a dificuldade prática de fazer um documentário hoje no Brasil?
Acho que é sempre difícil fazer qualquer coisa no Brasil. Mas ao mesmo tempo é inerente, esse é o processo, então você tem que se preparar pra enfrentar as dificuldades. Mas não acho que seja mais fácil ou mais difícil que fazer ficção, depende da qualidade da tua idéia, do quanto você se dedica a desenvolver a idéia, a procurar um patrocinador para aquela idéia.

Marina Amaral – Tem muitos patrocinadores no seu filme.
Muitos patrocinadores. Cada um é uma batalha e cada um dá um pouquinho, porque acham que a idéia só vale um pouquinho, entendeu? Mas é assim mesmo, não tem jeito.

Marina Amaral – Quanto custou o filme?
Custou quase 1 milhão.

Marina Amaral – E a Petrobrás Cultural não daria o total?
A Petrobrás não patrocinou o filme. A Petrobrás patrocinou o lançamento do filme. Quem patrocina o filme é a Eletrobrás, a Comgás, a Oi e o BNDES, que são os mais importantes. A Petrobrás entrou num momento superimportante, que foi o momento do lançamento do filme, outro gargalo que sem apoio é difícil.

Marina Amaral – Havia aquela discussão sobre quanto se subsidiava ou não o cinema nacional, essa discussão ficou ultrapassada? Como é que você essa questão?
Eu vejo de várias maneiras. Acho que, poxa, tem que ter subsídio pro cinema no Brasil, mas também tem que ter o cinema não subsidiado, como A Grande Família, Casseta e Planeta. O cara faz um filme comercial sem dinheiro público, acho perfeito, o chato seria A Grande Família ter dinheiro público, chegar eu lá na Petrobrás com um documentário sobre educação e ter A Grande Família na concorrência, aí gera confusão de valores: um filme vai atingir 2 milhões de pessoas, o outro 50.000. Um produto com um enfoque extremamente comercial, mesmo que com qualidades artísticas, não deve concorrer comigo em nenhum momento. Nem me incomodaria concorrer com o Cidade de Deus, ou outros filmes que deram certo, mas poderiam ter dado errado – a busca deles é artística. O que acho legal do cinema brasileiro hoje é essa pluralidade, não deve ter nenhum tipo de policiamento, o ideal é que tenha todo tipo de filme.

Marcos Zibordi – E como está indo o seu filme?
Já está com 20.000 espectadores e está no começo, porque ele só foi para Rio e São Paulo por enquanto. A gente vai para Porto Alegre esta semana e depois Salvador, Recife, e aí acho que vai chegar a 40.000.

Sofia Amaral – Depois que a gente assistiu ao seu filme tivemos a sensação de que essa é uma história sem saída. Você parece concordar com aquela professora que diz que a escola é uma instituição falida...
Mas é isso.

Marcos Zibordi – E você fala isso com essa doçura?
Mas, então, vamos arrumar uma solução.

Marina Amaral – E o interessante é que no Brasil sempre se diz que a resposta para todos os problemas é a educação...
Marcos Zibordi – E a educação não tem saída.
Não, mas tem.

“Acho que tinha que chamar o adolescente para pensar a escola. Talvez pensar junto um pouco. Mas isso também é utópico, então...”

Marina Amaral – O que você imagina?
Aí eu já não sei dizer. Não sei mesmo, a gente já falou várias coisas aqui que poderiam ser saídas, mas eu não saberia enumerar. Acho que tinha que chamar o adolescente para pensar a escola, talvez. Pensar junto um pouco. Mas isso também é utópico, então...

Marina Amaral – Se a escola boa para o adolescente for aquela em que o professor falta bastante...
Não é verdade, sabia? É verdade ali no dia-a-dia, mas, se você chamá-los pra discutir – não vai chamar qualquer um, tem que ser aqueles que podem contribuir –, para estabelecer melhor a problemática, para poder pensar uma solução, pode ajudar. Não que eles tenham que dizer o que tem que ser feito. Mas eles são os consumidores, como você vai fazer um produto sem ouvir quem vai consumir? Não que você tenha que obedecê-lo, é mais pra entender como ele funciona, como reage.

Marina Amaral – E tem muitos professores recomendando ver o filme, você tem notícias disso?
Tem bastante.

Sofia Amaral – A gente estava assistindo com dois grupos grandes.
Marina Amaral – Começou a sessão e eles fazendo o maior barulho, o esperado, aquela confusão.
Mas eram escolas públicas ou particulares?

Marina Amaral – Pública e de segundo grau, rapazes e moças com a professora. Estavam fazendo piadas e foram silenciando conforme o filme engatava, silêncio absoluto e total.
Ai, que legal. Que ótimo, cara, isso é muito bom. Eu já tinha visto, já vi uma vez assim também. Eles reagem muito também, né? Uau...

Marina Amaral – Por que os professores levam os alunos pra assistir a um retrato tão corrosivo da escola? Se você fizesse um filme sobre a Igreja, destruindo a Igreja, os bispos mandariam os padres assistirem?
Mas toda a arte tem essa função, na verdade. Do espanto, de produzir espanto, e de ser espelho.

Marina Amaral – Os professores ficam cúmplices do filme?
Completamente. Eles querem que o adolescente se veja ali dentro daquele contexto, veja a posição do professor naquela história, entendeu? Que bom, que legal que estava cheio de adolescente. Nas autoridades é que eu percebo mais indiferença. Não teve nenhuma manifestação, nenhum tipo de comentário...

Marina Amaral – Nem governador, secretário?
Ninguém se manifestou pra nada, nem pra chamar um prefeito pra ver o filme, um governador, nem pra convidar o filme pra nada... Nem mesmo nas cidades em que foi filmado.

fonte: http://carosamigos.terra.com.br/


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