segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

O medo do desconhecido - por Márcia Pinheiro - fonte: http://www.cartacapital.com.br

O medo do desconhecido

25/02/2008 11:47:45

Márcia Pinheiro
Tenho conversado com pessoas do mercado financeiro que conheço há mais de 15 anos. Falamos dos indicadores econômicos, das expectativas e do futuro. Teimamos em adivinhar o futuro. Só que uma coisa tem sido ignorada por essas fontes, quase amigos, pelo contato de tanto tempo. O mundo mudou. Não falo do ingresso de China e Índia na economia global, fato tão batido quanto pouco compreendido. Chamo a atenção para o discurso.

Evidentemente que a eles interessa se a Bolsa sobe ou cai e se a taxa futura de juro vai se comportar conforme previram. É o seu ganha-pão administrar o dinheiro dos outros, da forma mais rentável possível. Mas se tento colocar em xeque a estrutura que fez ruir o mercado americano, por exemplo, desconversam. O raciocínio das mesas de operação é binário, disse-me uma vez Tereza Fernandez, excelente consultora da MB Associados. Ou compra ou vende.

Adapto-me. Compro a idéia de que estamos passando por uma das maiores transformações das últimas décadas. No mundo todo, vozes poderosas pedem maior controle sobre os fluxos financeiros. Caso de Angela Merkel, primeira-ministra alemã. De maneira mais diplomática, têm teor semelhante as mensagens expressas por Dominique Strauss-Khan, diretor-gerente do FMI. O papo está na roda.

No Brasil, infelizmente, pruridos dominam o governo. Não ouvi do presidente Lula uma frase mais assertiva sobre o apoio a tais controles. OK, o País está mais forte. Excelente ter zerado a dívida externa. Ótimo que a inflação esteja novamente voltando a patamares aceitáveis. Mas a prudência recomenda que o cadeado seja colocado na porta antes de o ladrão entrar na casa.

Sugiro ao leitor um pit stop no site www.dowbor.org. Intelectuais brasileiros e estrangeiros discutem os papéis do FMI, do Banco Mundial e do sistema financeiro, com ênfase em aspectos ambientais e sociais. O mote é colaboração.

Dica econômico-cultural

Você já deve ter ouvido falar em John Kenneth Galbraith, um dos mais brilhantes economistas do século passado. Pode não saber, no entanto, que ele é um ficcionista maravilhoso. Leia O Professor (A Tenured Professor, 1990). A edição em português está esgotada, mas sempre há possibilidades no mundo do copyleft. Em inglês, consegue-se nas prateleiras das boas livrarias. Só vou citar um detalhe, que em nada prejudica o saboroso texto: o personagem principal é um professor de economia que cria o Índice de Expectativas Irracionais. Paro por aqui. Deleite-se. É genial.
fonte: http://www.cartacapital.com.br

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