quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Eleições Americanas - Décima vitória consecutiva de Obama - fonte: http://www.idelberavelar.com/

Décima vitória consecutiva de Obama

Desde que os irmãos Bush nos roubaram a eleição de 2000, eu prometi nunca mais fazer previsões em política. Mas o fato é que ficou difícil, muito difícil para Clinton. Quem sabe o Alon ou o Rafael possam me ajudar a lembrar alguma eleição – no Brasil ou em qualquer outro lugar – em que tenha havido uma virada de 30 pontos em duas semanas. Porque foi exatamente isso que Obama fez em Wisconsin, no coração da base clintoniana. Há 15 dias, Clinton chegou a liderar por 13 pontos.Obama venceu ontem por 58 x 41, num estado em que a população negra não passa de 4%. Talvez não fique claro de imediato para o leitor brasileiro a dimensão desse resultado. Para efeitos de comparação, imagine Lula vencendo José Serra por 7 x 3 em Higienópolis e nos Jardins. Ou, não importa, imagine Alckmin enfiando 7 x 3 em Lula no estado de Pernambuco. Foi mais ou menos isso o que aconteceu em Wisconsin ontem, numa primária em que 58% do eleitorado era feminino e 92% branco.

Digamos, então, que o Biscoito está preparado para fazer a seguinte afirmação: as chances de Hillary conquistar a indicação democrata para a presidência dos EUA são comparáveis às do São Paulo ser rebaixado para a segunda divisão no Campeonato Brasileiro deste ano. Para alcançar Obama, ela teria que vencer Ohio, Texas e Pensilvânia por diferenças de 65 a 35, o que simplesmente não parece possível neste momento. No próximo dia 04, votam Ohio, Texas e Rhode Island.

Em futuros posts, vou tentar explicar o que me parece que aconteceu aqui nos últimos meses. É verdade que a campanha de Obama tem mobilizado – particulamente entre os jovens – uma energia que há décadas não se via na política americana. Mas também é verdade que poucas vezes na vida vi uma campanha tão incompetente como a de Hillary Clinton. Até mesmo uma campanha razoavelmente administrada teria sido suficiente para ela, dada a grande diferença de reconhecimento entre os dois nomes e a colossal diferença de poder entre os dois grupos dentro do Partido Democrata.

Mas a campanha foi enterrada pela estratégia de ignorar os lugares onde sofria derrotas (não oferecendo parabéns ao vencedor e nem mesmo agradecendo seus voluntários), pelo recurso à sistemática negatividade (as pesquisas de boca-de-urna em Wisconsin mostraram uma imensa rejeição a essa estratégia, um dia depois de que a campanha de Clinton tirou da cartola uma incrível acusação de plágio contra Obama) e pela desqualificação dos estados vencidos pelo senador de Illinois (com argumentos do tipo: assembléias não contam, estados com população negra não contam, estados republicanos não contam etc., até o ponto em que Wisconsin, que é a epítome do estado que, segundo essa lógica, deveria “contar”, terminou rejeitando-a) .

Na quinta-feira à noite há um debate na CNN. Dentro do campo de Clinton há um intenso debate acerca da estratégia. Reforçar os ataques pessoais contra Obama ou dar outro giro, enfatizando os planos e as qualidades da senadora? A briga em torno disso é tremenda: ainda existe – acreditem – um setor da campanha argumentando que a estratégia negativa funcionou, pois a margem de Obama havia sido maior na Virgínia do que foi em Wisconsin! Quanto a Obama, tudo o que ele precisa fazer no debate é não prometer bombardear o Canadá.

PS: O Biscoito saúda Digby, blogueira pró-Hillary que já está pronta para unir forças em torno de Obama para o que verdadeiramente importa, que é derrotar a máquina republicana. Ao longo desta campanha, Digby se firmou como a melhor analista política democrata na blogosfera, mantendo sanidade e ponderação ao longo do processo. No Daily Kos, a fascinação com Obama às vezes prejudica bastante a percepção da realidade. E o clintoniano Left Coaster, que era um bom blog, já não posta do planeta Terra há meses. Em breve, faço um post sobre o terrível legado desta campanha sobre a blogosfera progressista gringa. O saldo não é positivo, não.

PS 2: Não, não tenho nada a dizer sobre a aposentadoria de Fidel. Pelo menos não aqui no blog. A discussão que se armaria já é por demais previsível e eu estou um pouco cansado dela. Eu até poderia tentar fazer uma avaliação mais tridimensional sobre o legado da Revolução Cubana. Mas a discussão descamba, não tem jeito. Até mesmo aqui ela descambaria.

por Idelber Avelar - fonte: http://www.idelberavelar.com/


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