GUERRA CONTRA O TERRORISMO DE BUSH POUPA EX-AGENTE DA CIA QUE DERRUBOU AVIÃO CUBANO COM 87 PESSOAS A BORDO
fonte:http://www.viomundo.com.brpor Luiz Carlos Azenha
Atualizado em 19 de fevereiro de 2008 às 12:45 | Publicado em 19 de fevereiro de 2008 às 12:16
WASHINGTON - No início do ano passado fui conhecer Cuba com minhas filhotas. Em nossas andanças fotografei este outdoor exigindo Justiça e lembrando o trigésimo aniversário de um atentado terrorista. Eu sabia muito pouco a respeito do episódio. Comprei um livro local relatando o caso. E fiz uma pesquisa mais extensa em São Paulo e Washington. O caso foi convenientemente "esquecido" pela mídia.
O vôo 455, da Cubana de Aviación, decolou de Barbados, no Caribe, a caminho de Havana, no dia 6 de outubro de 1976. Houve uma explosão na cabine de passageiros. O avião caiu. Foram 57 civis cubanos, 11 guianenses e 5 norte coreanos mortos. O vôo havia feito várias escalas anteriores. Em Barbados desembarcaram Freddy Lugo e Hernán Ricardo Lozano, que usou o nome falso de José Vázquez Garcia. A bordo, eles deixaram a bomba que detonou o avião. O atentado foi organizado em Caracas por um grupo que combatia o governo de Fidel Castro e tinha ligações tanto com a CIA quanto com o DISIP, o serviço de inteligência da Venezuela.
Na época, George Bush pai era diretor da Central de Inteligência Americana. Em maio de 2005 o Arquivo de Segurança Nacional da Universidade de George Washington publicou documentos oficiais do governo americano demonstrando que a CIA sabia dos planos para derrubar um avião desde junho de 1976.
Este é um dos documentos que estão no Arquivo. Um relatório do FBI que diz: "No dia 7 de outubro, 1976, diante da prisão de Vazquez e Lugo em Trinidad, CENSURADO estava arranjando para que Luis Posada e Orlando Bosch Avila deixassem a Venezuela assim que possível. A fonte admitiu que Posada e Bosch tinham organizado a derrubada do avião e prometeu mais detalhes no dia 8 de outubro de 1976."
Outro documento mostra que o adido do FBI na embaixada dos Estados Unidos em Caracas "tinha tido vários contatos com um dos venezuelanos que colocaram a bomba no avião e deu a ele um visto para entrar nos Estados Unidos cinco dias antes do atentado, apesar da suspeita de que ele estava engajado em atividades terroristas sob o comando de Luis Posada Carriles", de acordo com texto publicado na página do Arquivo de Segurança Nacional.
Outro documento, do Escritório de Inteligência e Pesquisa do Departamento de Estado informa que uma fonte da CIA tinha ouvido de Posada em setembro de 1976: "Vamos atacar um avião cubano".
Nos documentos obtidos pelo Arquivo não há qualquer indício de que a CIA tenha avisado o governo de Fidel Castro sobre os planos para derrubar um avião civil.
Luis Posada Carriles merece um capítulo à parte neste caso. Ele fez parte da Brigada 2506, organizada pela CIA para invadir Cuba em fevereiro de 1961. Mas não chegou a desembarcar na ilha durante a fracassada operação.
Carriles serviu ao exército americano de 1963 a 1965. Foi recrutado e treinado pela CIA em demolições. Foi instrutor de grupos paramilitares. Foi desligado formalmente da agência em julho de 1967, mas recontratado quatro meses depois, quando servia à DISIP, o serviço de inteligência da Venezuela. Carriles continuou na CIA até 1974, quando se afastou. Mas manteve contatos com a agência até pelo menos julho de 1976, três meses antes do atentado ao avião da Cubana de Aviación. Tudo isso está documentado.
Nos anos 60, Posada participou de um plano para sabotar um navio soviético ou cubano no porto de Veracruz, no México, para o qual contaria com cerca de 35 quilos de explosivos C-4 e detonadores. Também teria participado de um ataque a uma biblioteca soviética na Cidade do México. Foi um dos conspiradores para derrubar o governo da Guatemala, armado com napalm, 25 quilos de explosivos C-4 e 10 quilos de explosivos C-3.
Mas a derrubada do avião foi o "ponto alto" da carreira de Posada Carriles, que trabalhava com Orlando Bosch, criador da Coordenação Unida de Organizações Revolucionárias (CORU). A CORU se dedicava a promover ataques a interesses cubanos e soviéticos na América Latina, em coordenação com outros órgãos oficiais de espionagem, no que ficou conhecido como Operação Condor.
Os planos para atacar o avião foram feitos em reuniões no Hotel Hilton de Caracas. O chefe do DISIP na época, Orlando Garcia Vazquez, hoje vive nos Estados Unidos. O serviço de inteligência da Venezuela prestou serviços à CIA em várias missões na América Central e no Caribe.
No atentado de 1976, Freddy Lugo e Vazquez Garcia foram encarregados de plantar a bomba na cabine de passageiros do avião. Um deles, depois do "sucesso" do ataque, teria ligado para Bosch e dito: "Um ônibus com 73 cães a bordo caiu de um precipício e todos morreram."
Depois do atentado, Orlando Bosch e Posada Carriles foram presos em Caracas. Em setembro de 1985, Posada escapou da prisão pagando propina. Foi para El Salvador, onde passou a atuar sob o coronel Oliver North na rota de abastecimento dos "contras" que tentavam derrubar o governo sandinista da Nicarágua. Ele usava o nome Ramon Medina.
Bosch nunca foi julgado pelo atentado contra o avião. Em 1987, com a ajuda do embaixador do Estados Unidos em Caracas, ele foi colocado em liberdade e viajou para Miami. Ficou detido durante seis meses por ser foragido da Justiça, mas foi libertado com apoio de políticos ligados à família Bush. Permanece livre.
Em 1997 Posada Carriles ajudou a organizar uma série de ataques à bomba contra hotéis e casas noturnas de Havana. Ele admitiu sua participação em entrevista a uma TV de Miami. Em 2000 ele foi preso no Panamá por organizar um atentado contra Fidel Castro quando este visitava o país. Posada Carriles foi perdoado pela presidente do Panamá. Em 2005 foi detido no Texas por entrar ilegalmente nos Estados Unidos. Pagou fiança e foi libertado. Na ocasião o próprio Departamento de Estado se referiu a ele como envolvido em ataques terroristas.
Hoje em permanece livre em território americano. Em setembro de 2005, quatro anos depois dos atentados contra o World Trade Center e o Pentágono, um juiz americano negou o pedido de extradição de Posada Carriles para a Venezuela, alegando que ele "poderia ser torturado."
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