Dica econômico-cultural
18/02/2008 16:06:58
Márcia PinheiroNão sei se me tornei um pouco cínica ou se tudo realmente soa velho no mercado editorial brasileiro dedicado à economia. Nem estou falando dos livros de auto-ajuda empresarial, que se empilham em lugares nobres das livrarias consideradas chiques. Quem achar uma única reedição de um bom autor da História do Pensamento Econômico ganha um sorvete da minha amiga e vizinha de site Cynara Menezes.
Mas sempre há sopros de vida, ainda que tardios. Quatro anos após publicada nos Estados Unidos, A Corporação, de Joel Bakan, será lançada aqui pela Editora Novo Conceito. Fez um sucesso enorme mundo afora, ao relatar a história das corporações, suas motivações pouco nobres e como influenciaram e ainda moldam a vida de todos nós.
É um texto que remonta à descoberta das máquinas a vapor, em 1712, o nascimento da era industrial. Mais-valia, mais produtividade, mais lucros. Atravessa os séculos e expõe como a corporação se tornou uma pessoa. Pessoa jurídica, que não teria absolvição em nenhum julgamento nos tribunais de direitos humanos. E padece de uma doença: é psicopata.
Pior. Houve a conivência do Estado, que perdeu o papel de zelar pelo bem da sociedade. Os governos mancomunaram-se com as corporações. Vide os encontros anuais em Davos, em que presidentes trocam tapinhas nas costas com CEOs corporativos, como se fosse normal. Enoja ainda testemunhar falsas preocupações com meio-ambiente e responsabilidade social, temas fashion no discurso do mundo empresarial. Franklin Roosevelt ainda resiste como a maior recente referência moral sobre o papel do Estado na economia.
Como eu havia visto o DVD (The Corporation, de Mark Achbar, Jennifer Abbott e Joel Bakan), com base na obra, fiquei um pouco decepcionada com a edição brasileira. O texto me pareceu pesado. Uma tradução mais bem cuidada talvez corrigisse o timing do pêndulo, um pouco errático na edição nativa. Mas aconselho tanto o livro como o DVD, são mídias complementares, apesar de o filme ser superior. Nem que seja para você ficar um pouquinho indignado. Um tiquinho revoltado. Tome uma posição. Faz um bem danado à saúde mental.
Economia & Mercado - fonte: http://www.cartacapital.com.br
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