segunda-feira, 30 de junho de 2008

Começou a guerra interna em Veja


por Luis Nassif

Os ataques que André Petry (colunista da Veja) está sofrendo nos blogs de Veja - através de comentários anônimos - mostra uma guerra surda em jogo.

Não conheço Petry, nunca falei ou me correspondi com ele, mas para qualquer leitor salta à vista seu nível, superior ao dos demais diretores da revista.

O uso de Blog da própria revista para atacá-lo, utilizando o expediente baixo dos comentários anônimos (antes empregado apenas contra os de fora) com desqualificações pesadas, é um indício de guerra interna, tão sem limites quanto às guerras externas articuladas pela direção da revista.

Repito: em 38 anos de jornalismo jamais presenciei um jogo tão violento e despudorado quanto o praticado pela atual direção da revista.

Fonte: Blog do Nassif


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PUNIÇÃO PARA JORNALISTAS DESONESTOS



por Mário Augusto Jakobiskind
.

Apesar do silêncio e muitas vezes da parcialidade da mídia conservadora, vários fatos estão ocorrendo nesta América Latina que mereceriam no mínimo algum destaque nas páginas internacionais.

É o caso, por exemplo, do Chile, onde o Colégio de Jornalistas, a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) daquelas bandas, está pedindo desculpas aos familiares de vítimas da ditadura Pinochet pela participação "culposa e antiprofissional" que tiveram os responsáveis pelos principais jornais e televisões na edição de notícias sobre falsos enfrentamentos entre integrantes de um grupo de esquerda, que resultaram na morte de mais de 100 opositores.

As investigações feitas pela Comissão de Ética do Colégio de Jornalistas confirmaram a culpa dos profissionais de imprensa Roberto Araya Silva, expulso da entidade, e de Julio López Blanco, Vicente Pérez Zurita, Manfredo Mayol, todos eles na época do Canal 7, e Claudio Sánchez, do Canal 13. Estes quatro jornalistas foram suspensos e criticados publicamente pela conduta antiética que tiveram nos casos da Operação Colombo e Rinconada de Maipú.

Também foram suspensos e repreendidos publicamente Fernando Díaz Palma (então diretor do jornal As Últimas Notícias), Alberto Guerrero Espinoza (diretor do La Tercera) e Beatriz Undurraga Gómez, do El Mercúrio, jornal que na época do golpe que derrubou o presidente constitucional Salvador Allende recebeu mais de um milhão e meio de dólares da CIA.

O serviço de inteligência da ditadura de Pinochet, então sob a responsabilidade do general assassino Manuel Contreras, pagou a edição de publicações na Argentina e no Brasil para a divulgação de falsas notícias sobre os enfrentamentos entre militantes esquerdistas. Com base nesta “informação”, os jornalistas punidos divulgaram a noticia como se fosse verdade, exatamente para retirar a culpa da própria ditadura. Os proprietários dos veículos de comunicação, claro, estavam acumpliciados com a ditadura.

Enquanto isso, na Bolívia, dirigentes “autonomistas” da “Meia Lua” - Departamentos (Estados) de Beni, Pando, Santa Cruz e Tarija – em uma medida decididamente golpista, decidiram não se submeter ao referendo de 10 de agosto próximo, aprovado pelo Congresso para confirmar ou revogar o mandato do Presidente Evo Morales. Os governos destes departamentos realizaram plebiscitos, considerados ilegais, que apoiaram a “autonomia”, embora com as abstenções dos eleitores os números favoráveis às autonomias se reduziram, o que não foi quase divulgado.

O Conselho Nacional Democrático - que reúne os dirigentes mencionados, além de empresários, e de democrático só tem mesmo o nome - quer que sejam realizadas eleições presidenciais. Na verdade, os democratas desde criancinha, herdeiros de tradicionais grupos que historicamente sempre abominaram a democracia e até mesmo davam proteção a notórios criminosos de guerra nazistas, entre os quais o matador Klaus Barbie, querem mesmo derrubar Evo Morales. Como estão sem condições de realizar a empreitada golpista como faziam no passado, ou seja, acionando as Forças Armadas, adotaram uma outra estratégia, contando com o apoio incondicional da Embaixada estadunidense na Bolívia.

Em outros países da América Latina ocorrem fatos, quase não divulgados, que confirmam as transformações porque passa o continente considerado por europeus progressistas, entre os quais o cientista político alemão Thomas Mitschein, o jornalista e cientista político alemão Ingo Niebel e o espanhol Ignácio Ramonet, diretor do Le Monde Diplomatique, como o “continente da esperança”, porque por aqui se confirma na prática que um outro mundo é possível.

Os referidos participaram recentemente, em Belém do Pará, do seminário Futuro da Democracia na América Latina – movimentos social e político, importante evento que faz parte do calendário que precede o Fórum Social Mundial a ser realizado no próximo mês de janeiro na mesma Belém.

Não é à toa que o governo estadunidense resolveu reativar a IV Frota, desativada desde 1950. Ou será que alguém ainda tem dúvida a respeito?

Fonte: Direto da Redação


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Diga não ao projeto do Senador Azeredo




Ao aprovar o projeto Substitutivo ao PLC 89/2003, PLS 137/2000 e PLS 76/2000, redigido pelo Senador Azeredo, a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara quer transformar milhares de internautas em criminosos.

O Senador Azeredo quer tornar uma das atividades mais criativas da Internet em ato criminoso. Quer transformar os fansubbers, os fanfictions e a tradução de séries de TV em crime. O Senador considera que traduzir um Mangá é um crime tão grave como invadir um banco de dados e subtrair dinheiro de um aposentado.

Milhares de jovens e adultos participam de grupos de Fansubbers traduzem animes (desenhos animados) do japonês para o português. Eles legendam estes desenhos e distribuem gratuitamente pela rede. Trata-se de um fenômeno mundial e muito popular no Brasil. Jovens, Advogados, médicos, engenheiros, universitários, com idade entre 16 e 35 anos, serão considerados criminosos assim que o Substitutivo do Senador Azeredo for aprovado no Plenário.

Além dos fansubbers, o Senador Azeredo quer colocar na prisão também os criadores de Fanfics ou Fanfictions. São ficções criadas por fãs de uma série de TV ou cinema qualquer. Pessoas comuns fazem o que Walt Disney fez com os Irmãos Grimm, recriam seus contos e estórias, mas fazem por hobby, sem intenção comercial. O fanfic são contos ou romances escritos por quem gosta de determinado filme, livro, história em quadrinhos ou quaisquer outros meios de comunicação. Somente um dos sites mais interessantes de Fanfic em português, criado em novembro de 2005, conta com aproximadamente 7,511 histórias (24,081 capítulos e o impressionante total de 37,620,962 palavras). Este site e centenas de blogs estarão na mira do substitutivo do Senador Azeredo.

Isto porque ninguém poderá usar nenhum arquivo sem a expressa autorização do seu autor. O artigo 285-B do Substitutivo do Senador Azeredo diz que será considerado CRIME:

"Obter ou transferir dado ou informação disponível em rede de computadores, dispositivo de comunicação ou sistema informatizado, sem autorização ou em desconformidade à autorização, do legítimo titular, quando exigida:
Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.
Parágrafo único. Se o dado ou informação obtida desautorizadamente é fornecida a terceiros, a pena é aumentada de um terço."

Como bem afirmou o jurista Lawrence Lessig, a criatividade estará em perigo se substituirmos a cultura da liberdade pela cultura da permissão. O Senador Azeredo com o artigo 285-B pretende criminalizar uma das principais características da cibercultura que é o remix, que são as práticas recombinantes. Azeredo quer bloquear uma das principais condições para a criatividade que é a reciclagem de idéias, a possibilidade de compartilhar bens culturais.

Será que todos os Senadores brasileiros sabem que eles irão considerar criminoso um jovem que baixa um capítulo da série Lost para traduzi-la, inserir a legenda em português, para distribui-la gratuitamente em redes P2P? Não é possível que eles considerem o ato de solidariedade do jovem, ao distribuir gratuitamente o vídeo legandado, como algo que exija o aumento de sua pena em "um terço".

Será que nossas cadeias precisam de gente criativa? O que este artigo 285-B tem a ver com o combate a pedofilia? Trata-se de uma agenda oculta? Será que nossas Casas legislativas querem criminalizar a cibercultura?


O PARECER do senador Azeredo pode ser obtido no endereço:
http://webthes.senado.gov.br/sil/Comissoes/Permanentes/CCJ/Pareceres/PL

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Diga não ao projeto do Senador Azeredo

Por Sérgio Amadeu da Silveira

Na última semana, em uma sessão corrida e esvaziada, a Comissão de Constituição e Justiça do Senado aprovou o projeto de lei (PLC) 89/03 que define quais serão as condutas criminosas na Internet.

Os exageros que constam do projeto podem colocar em risco a liberdade de expressão, impedir as redes abertas wireless, além de aumentar os custos da manutenção de redes informacionais. O mais grave é que o projeto apenas amplia as possibilidades de vigilância dos cidadãos comuns pelo Estado, pelos grupos que vendem informações e pelos criminosos, uma vez que dificulta a navegação anônima na rede. Crackers navegam sob a proteção de mecanismos sofisticados que dificultam a sua identificação.

Veja o aburdo. Com base no artigo 22 do PLC 89/03, os provedores de acesso deverão arquivar os dados de "endereçamento eletrônico" de seus usuários. Terão que guardar os endereços de todos os tipos de fluxos, inclusive a voz sobre IP, as imagens e os registros de chats e mensagerias instantâneas, tais como google talk e msn.

O pior. A lei implanta o regime da desconfiança permanente. Exige que todo o provedor seja responsável pelo fluxo de seus usuários. Implanta o "provedor dedo-duro". No inciso III do mesmo artigo 22, o PLC 89/03 exige que os provedores informem, de maneira sigilosa, à polícia os "indícios da prática de crime sujeito a acionamento penal público". Ou seja, se o provedor identificar um jovem "baixando" um arquivo em uma rede P2P, imediatamente terá que abrir os pacotes do jovem, pois o arquivo pode ser um MP3 sem licença de copyright. Mas, e se ao observar o pacote de dados reconhecer que o MP3 se tratava de uma música liberada em creative commons? O PLC implanta uma absurda e inconstitucional violação do direito à privacidade. Impõe uma situação de vigilantismo inaceitável.

Como ficam as cidades que abriram os sinais wireless? A insegurança jurídica que o PLC impõe gerará um absurdo recuo nesta importante iniciativa de inclusão digital. Como fica um download de um BitTorrent? Deverá ser denunciado pelos provedores? Ou para evitar problemas será simplesmente proibido por quem garante o acesso?

Como fica o uso da TV Miro (www.getmiro.com/)? Os provedores deverão se intrometer no fluxo de imagens e pacotes baixados pelo aplicativo da TV Miro? E um podcast? Como o provedor saberá se não contém músicas que violam o copyright? Se o arquivo trazer músicas sem licença, o provedor poderá ser denunciado por omissão? Pelo não cumprimento da lei?

O PLC incentiva o temor, o vigilantismo e a quebra da privacidade. Prejudica a liberdade de fluxos e a criatividade. Impõe o medo de expandir as redes.

O artigo 22 do projeto deve ser integralmente REJEITADO.
(iii) Art. 22
Art. 22. O responsável pelo provimento de acesso a rede de
computadores é obrigado a:
I - manter em ambiente controlado e de segurança, pelo prazo de três anos, com o objetivo de provimento de investigação pública formalizada, os dados de endereçamento eletrônico da
origem, hora, data e a referência GMT da conexão efetuada por meio de rede de computadores e por esta gerados, e fornecê-los exclusivamente à autoridade investigatória mediante prévia
requisição judicial;
II - preservar imediatamente, após requisição judicial, no curso de investigação, os dados de que cuida o inciso I deste artigo e outras informações requisitadas por aquela investigação, respondendo civil e penalmente pela sua absoluta
confidencialidade e inviolabilidade;
III - informar, de maneira sigilosa, à autoridade competente, denúncia da qual tenha tomado conhecimento e que contenha indícios da prática de crime sujeito a acionamento penal público
incondicionado, cuja perpetração haja ocorrido no âmbito da rede de computadores sob sua responsabilidade.
§ 1° Os dados de que cuida o inciso I deste artigo, as condições de segurança de sua guarda, a auditoria à qual serão submetidos e a autoridade competente responsável pela auditoria, serão
definidos nos termos de regulamento.
§ 2° O responsável citado no caput deste artigo, independentemente do ressarcimento por perdas e danos ao lesado, estará sujeito ao pagamento de multa variável de R$
2.000,00 (dois mil reais) a R$ 100.000,00 (cem mil reais) a cada requisição, aplicada em dobro em caso de reincidência, que será imposta pela autoridade judicial desatendida, considerando-se a natureza, a gravidade e o prejuízo resultante da infração, assegurada a oportunidade de ampla defesa e contraditório.
§ 3° Os recursos financeiros resultantes do recolhimento das multas estabelecidas neste artigo serão destinados ao Fundo Nacional de Segurança Pública, de que trata a Lei n° 10.201, de
14 de fevereira de 2001.


VEJA O OUTRO exemplo de artigo aprovado no PLC:
(i) Art. 2o (ref. art. 285-A)
Art. 285-A. Acessar rede de computadores, dispositivo de comunicação ou sistema informatizado, sem autorização do legítimo titular, quando exigida:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.
Parágrafo único. Se o agente se vale de nome falso ou da utilização de identidade de terceiros para a prática do crime, a pena é aumentada de sexta parte.


Este artigo criminaliza o uso de redes P2P e até mesmo a cópia de uma música em um i-pod. Ao escrever que o acesso a um "dispositivo de comunicação" e "sistema informatizado" sem autorização do "legítimo titular", ele envolve absolutamente todo tipo de aparato eletrônico. Se a empresa fonográfica escreve, nas licenças das músicas que comercializa, que não admite a cópia de uma trilha de seu CD para um aparelho móvel, mesmo que seu detentor tenha pago pela licença, estará cometendo um crime PASSÍVEL DE PENA DE RECLUSÃO DE 1 A 3 ANOS.

O projeto de lei é tão absurdo que iguala os adolescentes que compartilham músicas aos crackers e suas quadrilhas que invadem as contas bancárias de cidadãos ou o banco de dados da previdência.

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PROJETO DE AZEREDO QUER PROIBIR A TROCA DE ARQUIVOS MP3. QUER COIBIR O USO JUSTO DE OBRAS PROTEGIDAS POR COPYRIGHT.


O Projeto Substitutivo do Senador Azeredo (SUBSTITUTIVO ao PLS 76/2000, PLS 137/2000 e PLC 89/2003) está mais preocupado em proibir a troca de arquivos do que com o combate a pedofilia.

Veja o que o projeto diz no Art. 154-B:

"Obter dado ou informação disponível em rede de computadores, dispositivo de comunicação ou sistema informatizado, sem autorização do legítimo titular, quando exigida.
Pena - detenção, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
...
§ 1º - Nas mesmas penas incorre quem mantém consigo, transporta ou fornece dado ou informação obtida nas mesmas circunstâncias do "caput", ou desses se utiliza além do prazo definido ou autorizado.

§ 2º - Se o dado ou informação obtida desautorizadamente é fornecida a terceiros pela rede de computadores, dispositivos de comunicação ou sistema informatizado, ou em qualquer outro meio de divulgação em massa, a pena é aumentada de um terço."


Agora, repare qual é a definição de "dispositivo de comunicação" que o Senador Azeredo inseriu em seu projeto:
"Art. 154-C. Para efeitos penais considera-se:
I- dispositivo de comunicação: o computador, o telefone celular, o processador de dados, os instrumentos de armazenamento de dados eletrônicos ou similares, os instrumentos de captura de dados, os receptores e os conversores de sinais de rádio ou televisão digital ou qualquer outro meio capaz de processar, armazenar, capturar ou transmitir dados utilizando-se de tecnologias magnéticas, óticas ou qualquer outra tecnologia eletrônica ou digital similar;"

O PROJETO DO SENADOR AZEREDO, NA VERDADE, ESTÁ VOLTADO PRINCIPALMENTE À DEFESA DA INDÚSTRIA DOS INTERMEDIÁRIOS. VISA FUNDAMENTALMENTE:

1- proibir o compartilhamento de arquivos via BitTorrent (... " transporta ou fornece dado ou informação obtida nas mesmas circunstâncias")

2- criminalizar o download, a cópia e o envio de vídeos no Youtube que não estejam com as licenças claramente definidas (... "Se o dado ou informação obtida desautorizadamente é fornecida a terceiros pela rede de computadores...a pena é aumentada de um terço")

3- quer impedir o transporte de músicas e arquivos MP3 em i-pod (... "nas mesmas penas incorre quem mantém consigo, transporta ou fornece dado")

4- definir como crime o arquivamento de filmes que passam na TV (pois a TV digital e o setup box são "os instrumentos de armazenamento de dados eletrônicos ou similares, os instrumentos de captura de dados")

5- tornar um ato criminoso o fato de copiar e scanear livros e papers para o seu computador, pen-drive, sem autorização do autor, mesmo que seja para uso próprio (..."sem autorização do legítimo titular")

6- incentivar a prisão de quem baixa games e aplicativos shareware e os utiliza além do prazo definido pelo vendedor (..."desses se utiliza além do prazo definido ou autorizado")

7- inibir e transformar em criminoso quem cede o sinal da TV a cabo de sua sala para o quarto do seu irmão ou vizinho ("...conversores de sinais de rádio ou televisão digital ou qualquer outro meio capaz de processar, armazenar, capturar ou transmitir dados utilizando-se de tecnologias magnéticas, óticas ou qualquer outra tecnologia eletrônica ou digital similar")

8- transformar milhares de blogueiros que baixam imagens disponíveis na web, com ou sem mudanças em Gimp ou outro software de desenho vetorial, em criminosos. Para Azeredo, quebrar a jenela de um carro para roubar um Toca-CD e copiar uma imagem no Flickr sem consultar o autor deve receber tratamento similar. ("... Se o dado ou informação obtida desautorizadamente é fornecida a terceiros pela rede de computadores...a pena é aumentada de um terço.")

PRECISAMOS nos mobilizar em defesa da liberdade de expressão, contra o vigilantismo e contra a idéia absurda que impede a cópia de um filme, um livro e uma música para uso pessoal. O uso justo é o garante a existência das bibliotecas. É o que garante que o justo equilíbrio entre a apropriação privada da cultura e a disseminação livre e pública dos bens culturais.

O PLC do Senador Azeredo serve aos interesses da indústria de intermediação. Para combater a pedofilia não precisamos destes artigos na lei. Para combater os cracker precisamos de outros dispositivos. No próximo post, mostrarei as consequências nefastas do projeto do Senador Azeredo, que atrasará a inclusão digital e a formação de redes de conexão wireless abertas.

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PROJETO NO SENADO INVIABILIZARÁ REDES ABERTAS


Enquanto vários prefeitos estão abrindo o sinal de Internet wireless para sua população, a Comissão de Constituição e justiça do Senado aprova o PLC 89/2003 que responsabiliza o provedor de acesso por alguma ação ilegal que parta da sua rede. Também torna a "delação" uma obrigação do provedor. O resultado será um estado de vigilantismo. A consequência será incentivar redes cada vez mais fechadas, sem possibilidades de uso de P2P (bem ao gosto das operadoras e da MPAA e da RIAA), de implementar projetos como seti@home, de usar tecnologias novas.

Por que? Porque o provedor terá a obrigação de notificar as autoridades competentes (leia: polícia) que um pacote de dados é suspeito. O problema é como o provedor irá identificar, por exemplo, se uma pessoa que está usando uma aplicação BitTorrent estará ou não realizando um ato ilegal (baixando um filme protegido por copyright). É provável que se escolha entre dois caminhos: invadir a privacidade e olhar os pacotes baixados ou simplesmente proibir o uso do Torrent para evitar um processo posterior. Um terceiro caminho (mais absurdo ainda!) é inundar a polícia com listas semanais de usuários do provedor que acessaram redes P2P.

Trata-se da implantação de uma sociedade da vigilância e do medo. É um projeto que nasce da mentalidade autoritária que irá igualar o Brasil ao despotismo chinês.

Vou sugerir aos meus amigos que são bons designers que façam um selo para a gente colocar em todos os blogs. Algo como: diga não ao PLC 89/03! Contra o vigilantismo na rede! Em defesa da privacidade e da liberdade!

Fonte: Blog do Sérgio Amadeu


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Defesa do Consumidor

Por incrível que pareça, eu nunca andei de avião. E não sou complexada por isso.Sei que quem anda de avião é a minoria, mas de qualquer forma esse texto abaixo serve pra orientar os viajantes quando estiverem lhes tratando como lixo.



Férias de julho: previna-se nas viagens aéreas

por Rizzatto Nunes
De São Paulo

* Você está com a passagem, mas não te deixam entrar! O overbooking.

Começo por um problema comum: A companhia aérea não deixa o passageiro-que está com a passagem na mão! - embarcar.

Essa prática das companhias aéreas chamada de overbooking é a venda de maior número de passagens do que de assentos. Ela viola as garantias do Código de Defesa do Consumidor, plenamente aplicáveis às relações entre passageiro e companhia aérea.

* Danos materiais e morais

Por ser conduta enganosa e abusiva, ela é ilegal. Se você passar por isso, saiba que tem direito a pleitear indenização pelos prejuízos sofridos.

* Atraso no embarque

- Tolerância

Infelizmente a lei, que é de um período muito diferente do atual (O Código Brasileiro de Aeronáutica - CBA, de 1986), estabelece que o direito do consumidor só tem início a partir de 4 horas de atraso em relação ao horário marcado. Essa tolerância legal para os tempos atuais, em que os usuários do sistema de transporte aéreo deles se utilizam porque precisam ganhar tempo em suas atividades, parece-me mereceria diminuição. De todo modo, é o que está em vigor e é o que o Poder Judiciário tem reconhecido.

Mas, superadas as 4 horas, surgem os direitos que a seguir explicito.

- Embarque em outro vôo e sem custo

A companhia aérea tem a obrigação de embarcar o passageiro em outro vôo para o mesmo destino ou restituir o valor do bilhete imediatamente ao passageiro, caso este assim o deseje. Se no outro vôo da própria companhia aérea ou da outra só existir lugar em classe superior à adquirida pelo passageiro, este deve ser embarcado sem pagar nenhum acréscimo. Lamentavelmente, nos tempos atuais, às vezes, sequer há outro vôo para o embarque!

- Atraso na escala

Se o atraso ocorrer na escala do avião, valem os mesmos direitos ao passageiro, após as 4 horas de interrupção.

- Alimentação, hospedagem e indenização

As companhias aéreas são responsáveis por dar e garantir, à suas próprias expensas, alimentação e hospedagem aos passageiros, incluindo transporte para ida e volta de hotel.

Nesses casos, tais despesas minimizam, mas não excluem a responsabilidade civil, através de pagamento da indenização, que pode ser pleiteada pelo passageiro que foi prejudicado.

E não importa o motivo do atraso. Pode ser por falha mecânica, fechamento do aeroporto por causa de nevoeiro ou chuvas ou, ainda, problemas com conexão etc. A responsabilidade da companhia aérea, depois das 4 horas, é objetiva, sendo, pois, irrelevante o motivo.

* Indenização tarifada

O passageiro vítima do atraso tem direito a uma indenização fixada em 150 OTNs nos vôos nacionais, cujo valor atualmente está em torno dos R$5.500,00. O Poder Judiciário tem condenado as companhias aéreas a fazer esse pagamento em vários processos.

No caso dos vôos internacionais, há uma enorme discussão judicial a respeito de qual seria a indenização tarifada, em função do conflito existente entre Tratados Internacionais, a Código Brasileiro de Aeronáutica e o Código de Defesa do Consumidor. Há decisões fixando a indenização em 332 DES (Depósitos Especiais de Saque) ou o equivalente atual aos R$1.000,00; outras fixando naquelas mesmas 150 OTNs; e também é possível encontrar decisão livre da desvinculação, fixando valor em torno dos R$5.000,00.(Como a discussão jurídica é de alta complexidade, para quem tiver interesse em conhecê-la por completo, indico meu site abaixo, no qual as decisões estão publicadas).

Além desse valor, o consumidor pode pleitear o gasto que eventualmente teve com hospedagem, alimentação, transportes com ônibus, táxi etc.

* Produza e guarde as provas

Se você for vítima do atraso, é fundamental que produza e guarde as provas das ocorrências, para poder fazer o pleito extrajudicial ou judicialmente. Você deve, pois:

a - guardar tickets de embarque ou qualquer outro documento entregue e que mostre o horário marcado para o embarque e a horário real em que o mesmo tenha ocorrido;

b - guardar tickets da mudança de horários, mudança de vôo ou de companhia aérea;

c - tirar fotos dos painéis do aeroporto que indiquem o atraso;

d - imprimir e guardar material publicado na internet relativo ao assunto e de preferência se foi produzido pela própria companhia aérea ou pela Infraero;

e - comprar e guardar jornais e revistas que apresentem o atraso;

f - anotar o nome, endereço e telefone dos demais passageiros e de outras pessoas que estejam no aeroporto, que poderão testemunhar o atraso;

g - anotar o nome, endereço e telefone do agente de viagem que estiver presente para que ele testemunhe;

h - pedir no hotel declaração da hospedagem ou recibo, no caso da companhia aérea ter oferecido a hospedagem;

i - guardar o recibo de pagamento do hotel, caso tenha se hospedado diretamente;

j - guardar notas fiscais da alimentação feita;

k - guardar recibos de pagamentos do táxi ou outro tipo de transporte utlizado.

* Chegue cedo ao aeroporto

Mesmo antigamente, quando os serviços oferecidos nos aeroportos eram melhores, devia-se tomar cuidado para não perder o avião. Nos últimos tempos, então, nem preciso falar, pois é sabido de todos que desde a crise de 2006/2007 os aeroportos brasileiros nunca mais foram os mesmos. Lembro também que essa regra vale para aeroportos em outros países, mesmo aqueles que ainda operam com qualidade os seus serviços.

Pergunte à agência de turismo ou companhia aérea quanto tempo antes do embarque você deve chegar no aeroporto. A regra geral é esta: Apresente-se ao balcão da companhia aérea 1 hora antes do horário do vôo nacional e 2 horas antes do horário do vôo internacional. Desde 2006 eu aconselho que se chegue ao menos 1 hora e meia antes.

E não se esqueça que, em épocas de temporada (feriados, férias etc.) o atendimento fica pior ainda, com longas filas nos guichês. E há também problemas para chegar ao aeroporto (congestionamentos, estacionamentos, táxis, ônibus etc.) que podem gerar atrasos.

No caso dos vôos charter, leia no contrato a exigência da companhia aérea. De todo modo, chegue com 2 horas de antecedência.

* Vá portando documentos originais

Tenha em mãos o documento de identidade original (RG ou outro equivalente com foto) para apresentar ao balcão da companhia aérea. Nas viagens internacionais, leve, naturalmente, o passaporte (em alguns países do Mercosul, por exemplo Argentina e Chile, só é preciso apresentar a identidade original. Cheque quais são esses países com a agência de turismo).


Rizzatto Nunes é mestre e doutor em Filosofia do Direito e livre-docente em Direito do Consumidor pela PUC/SP. É desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo. Autor de diversos livros, lançou recentemente o "Bê-a-bá do Consumidor" (Editora Método). Coordena um site voltado ao Direito do Consumidor e à Defesa da Cidadania, no qual tem seu blog: www.beabadoconsumidor.com.br

Fale com Rizzatto Nunes: rizzattonunes08@terra.com.br

Fonte: Terra Magazine


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Índios isolados: mídia mundial erra em cobertura


por Altino Machado
De Rio Branco (AC)

O sertanista da Funai José Carlos dos Reis Meirelles Júnior, coordenador da Frente de Proteção Etnoambiental Rio Envira, distribuiu uma nota de esclarecimento em decorrência de várias notícias veiculadas na semana passada dando conta de que seriam uma fraude as fotos dos índios isolados atirando contra um avião na fronteira Brasil-Peru.

A confusão começou quando Gabriel Elizondo, correspondente da Al Jazeera no Brasil, entrevistou o sertanista em Feijó (AC) e relatou que a existência dos índios isolados na região é conhecida desde 1910. O sertanista já havia declarado isso em outras tantas entrevistas.

Porém, baseado naquele relato, Peter Beaumont, do jornal inglês The Observer, deduziu que o sertanista não fizera uma "descoberta inédita" e que a existência da tribo era do conhecimento do governo brasileiro há quase cem anos.

Embora Meirelles jamais tenha reivindicado o ineditismo, o relato da Al Jazeera e as precipitadas conclusões de Peter Beaumont, especialista em temas do Oriente Médio, muito respeitado pelo seu trabalho no Iraque, serviram para revigorar a disposição dos madeireiros de continuar explorando as terras dos índios isolados do lado peruano.

- Peter Beaumont copiou o que escrevi e tirou conclusões sobre um assunto o qual ele desconhece. Nós tivemos o trabalho de viajar até Feijó, no Acre, para entrevistar o sertanista Meirelles e lamentamos as consequências negativas do que fez The Observer - disse Gabriel Elizondo a Terra Magazine.

CTRL+C, CTRL+V

Até a holandesa Radio Nederland contribuiu para divulgar a versão equivocada de que tudo não passou de uma fábula. O website da emissora veiculou conclusões do antropólogo holandês Peter Jona, para quem houve encenação para a foto dos índios atirando flechas contra o avião do sertanista.

O comando de computador para copiar (CTRL+C) e colar (CTRL+V) afetou até o jornal espanhol El País, que se baseou na conclusão precipitada do Observer para tratar o sertanista como fotógrafo e concluir que tudo não passou de "una historia bonita, pero un fraude".

Na verdade, poucos correspondentes estrangeiros no País escreveram sobre os índios isolados. Gerhard Dilger, correspondente do diário alemão Taz, na semana passada foi um dos poucos a esclarecer os leitores de seu país a respeito das controvérsias.

A desinformação que dominou parte da imprensa internacional foi comemorada por madeireiros e autoridades do governo peruano, bem como por alguns veículos da mídia brasileira e peruana, que reproduziram diversas reportagens baseadas na "recortagem" do Observer.

O site de notícias chinês China View confundiu até a função de Meirelles, chamando o sertanista de fotógrafo: "O fotógrafo que divulgou as fotos de uma tribo isolada na Amazônia (...) admitiu que elas eram parte de uma fraude para chamar a atenção para os perigos causados pela indústria madeireira do Brasil".

As fotos dos índios isolados foram divulgadas em primeira mão por Terra Magazine no dia 23 de maio, quando o sertanista entregou à reportagem dois CDs com 1.090 fotos tiradas durante os cinco dias de sobrevôo na região da fronteira Brasil-Peru. Meirelles decidiu divulgá-las para denunciar ao mundo a exploração ilegal de madeira nas terras dos índios isolados, o que resultou em pressão da opinião pública internacional contra o governo e os madeireiros peruanos.

Farsa peruana

Em Pucalpa, capital do departamento peruano de Ucayali, região controlada pela madeireira Forestal Venao, que explora mogno em área indígena, o jornal Ahora já havia publicado, no dia 5 de junho, uma foto na qual aparecem seis indígenas, com a seguinte manchete na primeira página: "Supuestos no contactados dicen que ONG pago para fotografiarlos desnudos". As organizações WWF e Aidesep negaram as acusações.

A Survival International, uma organização que defende os direitos dos povos indígenas isolados, que ajudou a divulgar as fotos dos índios isolados após terem sido publicadas em Terra Magazine, não havia descrito a tribo como "perdida" e havia dito na época que o objetivo era mostrar ao mundo sua existência.

A organização tem buscado o direito de publicar algo no Observer para tentar corrigir o erro. O dano do artigo de Peter Beaumont é incalculável. As ilações dele têm sido consideradas muito negativas para os índios isolados, porque escreveu exatamente o que as madeireiras, petrolíferas e politicos anti-indígenas queriam ler. Também atingiu o esforço do sertanista Meirelles e de entidades como Survival e Coordenação Geral de Índios Isolados da Fundação Nacional do Índio, que defendem os direitos dos isolados e tentam dar visibilidade aos problemas que eles enfrentam.

As trapalhadas da mídia forçaram o sertanista Meirelles a enviar para Terra Magazine, para a antropóloga Fiona Watson, diretora de campanhas da Survival Internacional, e para a Associação dos Correspondentes de Imprensa Estrangeira no Brasil, uma nota de esclarecimento.

Segundo Meirelles, a opinião pública nacional e internacional, abastecida por informações da mídia, podem ser ótimos aliados dos isolados na defesa de seus territórios e de seu modo de vida.

- Se a imprensa internacional insistir em publicar informações erradas, desencontradas e se ater somente à polêmica e ao exótico, estará prestando, gratuitamente, espero, um ótimo serviço aos interesses dos madeireiros ilegais, concessionários de lotes petrolíferos e minerais ou agentes do agronegócio que cobiçam e invadem o território desses povos - afirma Meirelles.

Leia a íntegra da nota do sertanista da Funai:

"1 - Os povos isolados da região da divisa do Acre com o Peru começaram a "conhecer" o homem branco quando a empresa seringalista inicia a instalação dos seringais nos altos rios do Acre.

2 - Alguns povos foram exterminados, outros contatados e alguns poucos continuaram isolados, e assim permanecem até hoje.

3 - Esta data de 1910, motivo de alguma controvércia na mídia, talvez esteja sendo confundida com a criação do SPI - Serviço de Proteção ao Índio. O não índio que "descobriu" pela primeira vez este povo já está morto. Deve ter sido algum nordestino que veio nas primeiras levas de seringueiros para explorar borracha no Acre, no final do século 19.

4 - Especificamente, os índios que aparecem nas fotos, sabe-se de sua existência há muito tempo. A frente Envira que os protege há 20 anos, quando lá chegou, colheu depoimentos de índios aculturados e seringueiros da região, cujos pais e avós davam notícias desse povo, brabo, como por aqui se chama, que mora nas terras firmes, entre os rios Envira e Tarauacá.

5 - Quem nada sabe, ou tem muito pouca informação sobre o assunto, quando lê "índio isolado", fica com a impressão que descobriu-se estes índios agora, que nunca antes ninguem tinha notícias deles. Tomara que fosse assim. Pelo menos os índios isolados não teriam passado por mais de 100 anos de perseguições e mortes com que a nossa "civilização" os brindou.

6 - Creio que o futuro desses povos está hoje em nossas mãos. Um ótimo aliado que podem ter na defesa de seus territórios e de seu modo de vida é a opinião pública nacional e internacional, abastecida por informaçóes da mídia. Se a imprensa internacional insistir em publicar informações erradas, desencontradas e se ater somente à polêmica e ao exótico, estará prestando, gratuitamente, espero, um ótimo serviço aos interesses dos madeireiros ilegais, concessionários de lotes petrolíferos e minerais ou agentes do agronegócio que cobiçam e invadem o território desses povos.

José Carlos Meirelles

Coordenador da Frente de Proteção Etnoambiental Rio Envira- Fundação Nacional do Índio"

Fonte: Terra Magazine


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Pensamento único, manchete única, informação única



por Antônio Mello

Reparem nos títulos a seguir, que pesquei agora pela manhã no Google Reader. Exceto o Estadão, que acrescentou um Evo ao Morales, todos exatamente iguais. O conteúdo também, chupado da BBC.

BBC: Morales perde nova eleição regional na Bolívia
G1: Morales perde nova eleição regional na Bolívia
Terra: Morales perde nova eleição regional na Bolívia
Folha: Morales perde nova eleição regional na Bolívia
Estadão: Evo Morales perde nova eleição regional na Bolívia

Fonte: Blog do Mello

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E na Palestina...

Olê, olê-olê, olá!

por URI AVNERY

O que tanto excitou os israelenses esta semana? O que os pôs grudados à televisão, de ouvido no rádio? O que os fez correr às bancas, para comprar jornais?


O drama no Parlamento onde, a certa altura, parecia que todos contrariariam todas as leis da natureza e aprovariam a demissão deles mesmos? As violações do cessar-fogo, da Tahdiyeh[1][1], nos arredores da Faixa de Gaza, depois da execução de militantes da Jihad em Nablus? As negociações de paz com a Síria? A discussão sobre a troca de prisioneiros com o Hizbóllah no norte e com o Hamás no sul?

Não sejamos ridículos! O evento que mobilizou todas as emoções mais tumultuadas em Israel, esta semana, foi o campeonato europeu de futebol, Alemanha versus Turquia, Espanha contra Rússia! Que partidas! Que gols! UAU!

COMPARADOS a estes, os jogos disputados na arena política não passaram de ‘show do intervalo’. Por exemplo: o jogo “será que sobreviverei?”, que Ehud Olmert está jogando.
Desde que ficou provado sem sombra de dúvida que Olmert é corrupto, seu governo perdeu o mais valioso item do patrimônio de qualquer governo em sociedade democrática: a confiança dos cidadãos.


Ninguém mais acredita no que o atual governo diga. Desconfia-se de tudo o que o governo diga. Todas as decisões são suspeitas a priori – nenhuma das decisões é tomada com vistas a qualquer objetivo público; tudo é feito exclusivamente para que o governo ganhe mais um mês, uma semana, um dia de sobrevida. O governo já não governa.

Lembra-me uma cena de um filme antigo, adaptado de “Volta ao mundo em 80 dias”, romance de Jules Verne. Para ganhar uma aposta, o herói tem de atravessar o continente americano, de trem, em velocidade máxima. Quando a locomotiva fica sem carvão, os vagões são desmontados um a um e toda a madeira é posta para queimar. Depois, o herói começa a queimar a própria locomotiva, até que só reste a máquina, a caldeira e as rodas.


O governo de Israel está como aquele trem. Para sobreviver, está tendo de jogar-se na fogueira, ele mesmo.

Ehud Barak impôs um ultimatum: se Olmert não fosse substituído, ele, Barak, poria fim à coalizão. Mas, quando o prazo já se esgotava, Barak entendeu que Olmert o arrastaria com ele, na direção de um abismo terrível chamado “eleições”. Todas as pesquisas mostraram que, se houver eleições, o Likud voltará ao poder. Os dois Ehuds puseram-se freneticamente a procurar um modo de escaparem, ambos, da mesma arapuca. Agora estão lá, como dois boxeadores exaustos, apoiados um no outro para não desabarem.

Até agora, Olmert está sobrevivendo. As primárias do partido Kadima só acontecerão em setembro – partido fictício, que vive em estado semelhante ao de seu fundador, Ariel Sharon, mantido vivo em respirador artificial e sem poder mover-se.

Até quando? Setembro? Maio de 2009? Novembro de 2010? Ninguém sabe. Mas uma coisa é certa: o governo de Olmert não pode fazer coisa alguma, nada.

EXEMPLO Nº 1: Tahdiyeh.

O exército queria o cessar-fogo, porque não tem meios para deter os mísseis lançados da Faixa de Gaza, e faria qualquer coisa para não ter de re-ocupar a Faixa – operação cara, perigosa, arriscadíssima. Queria o cessar-fogo e ao mesmo tempo não queria: queria logicamente; não queria emocionalmente.

Semana passada, escrevi que seria muito fácil violar o cessar-fogo: “O exército mata meia dúzia de militantes da Jihad Islâmica na Cisjordânia. E a organização retruca com uma salva de Qassams em Sderot. O exército declara que o cessar-fogo foi violado e retruca com uma incursão na Faixa de Gaza.”[2][2] Mas eu não esperava que acontecesse tão imediatamente. E já aconteceu: o exército israelense executou dois militantes da Jihad Islâmica na Cisjordânia, a Jihad Islâmica respondeu com foguetes Qassams, o exército reimpôs o bloqueio…

Quem tomou a iniciativa da provocação? Olmert? Barak? O Comandante do Exército? O subcomandante? Ninguém diz coisa alguma. Certo, sem dúvida alguma, é que não há governo... portanto, não há quem diga coisa alguma.

EXEMPLO Nº 2: A troca de prisioneiros.

O negociador alemão tenta, há muito tempo, fazer algum acordo para trocar dois prisioneiros israelenses presos pelo Hizbóllah, por prisioneiros libaneses. Acredita-se que os israelenses tenham sido gravemente feridos no momento em que foram capturados e morreram há muito tempo. Sem confirmação, porque o Hizbóllah não fala.

Na religião dos judeus, o “resgate de prisioneiros” é obrigação sagrada. Na Idade Média, quando um judeu londrino foi capturado por piratas turcos, os judeus de Istambul tiveram de pagar o preço do resgate. No exército de Israel, o resgate de prisioneiros é missão considerada prioritária: assim como não se abandona um soldado ferido em combate, assim também não se abandona um soldado que caia prisioneiro do inimigo. Mais de uma vez, centenas de prisioneiros palestinos foram trocados por um único soldado de Israel.

Pelo menos oficialmente, o objetivo da II Guerra do Líbano foi libertar, sem troca, os mesmos dois soldados cuja libertação ainda está sendo negociada. Por isto se sacrificaram as vidas de 150 soldados e civis israelenses e de mais de mil combatentes e civis libaneses. E deu em nada. Assim sendo, quem se negaria a libertar cinco prisioneiros libaneses, em troca dos dois soldados israelenses?

A dificuldade é que há um conflito mítico. Um dos cinco prisioneiros a serem libertados é Samir Kuntar, o qual, com o seu grupo, é responsável por um ataque especialmente brutal, em Israel. “Kuntar, o assassino” (como é chamado pela mídia israelense) está gravado na memória nacional como um monstro, que matou toda a família Haran de modo particularmente horrendo. No Líbano, é claro, é considerado herói nacional, que recebeu a missão de executar e executou missão perigosa, muito fundamente infiltrado em território inimigo.

De um lado, o dever mítico de “resgatar os prisioneiros”; de outro, a recusa a libertar um “monstro”. Alguém tem de decidir. Olmert decidiu. Dia seguinte, decidiu o contrário. Mais dois dias, voltou à primeira decisão. Outros dois dias, reverteu a reversão. Em todos os casos, o problema foi sempre o mesmo: o que mais o ajudará a sobreviver? Que decisão será mais popular?

O mesmo se aplica ao caso do soldado Gilad Shalit, prisioneiro do Hamás na Faixa de Gaza. Este, pelo menos, sabemos que está vivo. O Hamás permite que envie uma mensagem, de tempos em tempos.

Aqui, o mito é outro: são prisioneiros que têm “sangue nas mãos”. E não qualquer sangue, mas “sangue judeu”, como os redatores de discursos jamais se esquecem de repetir. O Hamás exige, em troca deste soldado, que se libertem centenas dos seus combatentes, que participaram de ataques a Israel. E aí, outra vez, aparece o dilema: ou esquecer o “resgate dos prisioneiros” ou esquecer o “sangue judeu”.

Tudo isto é ridículo. Na guerra, o sangue jorra e respinga. Todos nós temos “sangue nas mãos”. Eu tenho. Não há dúvidas de que Ehud Barak também tem.

“A morte e a vida estão em poder da língua”, lembra-nos a Bíblia (Provérbios 18:21) – o que inclui a língua escrita. Basta dizer e escrever “soldado capturado”, em vez de “soldado seqüestrado”; “prisioneiros de guerra palestinos”, em vez de “criminosos palestinos”; “combatentes inimigos” em vez de “assassinos com sangue judeu nas mãos”... e tudo fica mais simples. Mas a mídia vociferante, sempre em busca de leitores, ajuda a pôr fogo no palheiro, pela simples escolha das palavras.

E Olmert não se decide. O que será mais popular? Libertar o soldado que já passou dois anos numa cela escura e cuja vida continua em perigo, ou libertar “assassinos” com “sangue nas mãos”? Não param de encomendar pesquisas secretas de opinião, e nem assim conseguem decidir.

EXEMPLO Nº 3: Síria.

Parece que há negociações. Parece que falam de paz. Os turcos convidam negociadores de Israel e da Síria para um encontro num hotel e pulam de quarto em quarto em negociações “indiretas”.
É só teatro. Bebem vinho em taças vazias. Ninguém acredita seriamente em paz, se as colônias israelenses não forem removidas do Golan. Só que, enquanto negociam, constroem-se mais prédios nas colônias.


A idéia de que Olmert teria força moral e política para liquidar aquelas colônias é cômica. Ele nem sonha com o fim das colônias. De fato, ele não faz, sequer, qualquer esforço para preparar a opinião pública para tal eventualidade. Na melhor das hipóteses, o fim daquelas colônias só seria possível depois de longo, firme e persistente esforço de persuasão, que teria de ser empreendido sob forte comoção na opinião pública.

Então... para que tanta encenação? Cada grupo tem seus motivos:

Bashar al-Assad explora com grande talento as “negociações” para escapar do “eixo do mal” e evitar um ataque militar dos EUA (cada dia menos provável) e para escapar do isolamento.
O governo turco, sob ameaça de inimigos domésticos (o exército e os tribunais), vai ganhando prestígio e anda firmemente na direção de sua grande ambição: ser admitido na União Européia.
Até o atlético Nicolas Sarkozy fareja uma chance. Depois de ter passado por Israel, em tour de bajulação, assessorado por sua estonteante esposa (e a mídia em Israel praticamente ignorou a crítica que ele fez às colônias), ele agora quer receber Olmert e Assad em Paris, em grande show, à volta da mesma mesa (mas sem apertos de mão). Quem recusará um convite de um homem que está próximo de assumir a presidência rotativa da União Européia e aspira a ser coroado Napoleão IV?!


Olmert é, claro, quem mais tem a ganhar. Esta semana, da tribuna do parlamento, ele vociferou, em resposta aos membros do Likud que o vaiavam: “Vocês não querem a paz!”
Então, lá está ele: não Olmert o corrupto; não Olmert o fracassado, mas Olmert o valente, o bravo, auto-imolado no altar da paz, ele, aquele que realizará todos os sonhos de tantas gerações... desde que o deixem no poder.


EXEMPLO Nº 4: A Palestina.

Tudo o que se lê acima se aplica ainda mais claramente às relações com a Palestina. Eles reúnem-se. Abraçam-se. Trocam promessas. Há uma legião de mediadores, cada um deles interessado em abocanhar o seu naco.

Esta semana, aconteceu outra cena das mais lamentáveis, sob os auspícios de Angelika Merkel, que também honrou Israel, recentemente, também em peregrinação de obediência. Foi uma conferência “pelos palestinos”. Para discutir o quê? A ocupação. As colônias. O Muro. Os milhares de palestinos que estão presos em Israel. E a limpeza étnica que prossegue em Jerusalém.
Sobre o que falaram? Sobre treinar a polícia palestinense, que garantirá a segurança da ocupação. Sobre construir prisões na Palestina, para encarcerar membros do Hamás. Só pensam em Lei & Ordem – a lei e a ordem da ocupação.


Que estrelas brilharam lá? As de sempre: o inevitável Tony Blair. A tragicômica Condoleezza Rice. E, é claro, Tzipi Livni (que, no mesmo dia, exigiu que o exército de Israel invada Gaza). Todos, todos, trabalhando pela paz.

ERA UMA VEZ... quando os israelenses jogavam futebol e jogos políticos. O envolvimento emocional era profundo. Hoje, só o futebol sobreviveu, jogo jogado por regras claras, transparentes. O que se vê é o que é. Pode-se assistir sem náusea. O jogo político hoje horroriza, escandaliza, enoja. É o preço que Israel está pagando pela sobrevivência de Olmert.

*Uri Avnery,85 anos, é membro fundador do Gush Shalom (Bloco da Paz israelense). Adolescente, Avnery foi combatente no Irgun e mais tarde soldado no exército israelita. Foi três vezes deputado no Knesset (parlamento). Foi o primeiro israelense a estabelecer contato com a liderança da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) em 1974. Foi durante quarenta anos editor-chefe da revista noticiosa Ha'olam Haze. É autor de numerosos livros sobre a ocupação israelense da Palestina, incluindo My Friend, the Enemy (Meu amigo, o inimigo) e Two People, Two States (Dois povos, dois Estados).


* URI AVNERY, 28/6/2008, “Ole - Ole, Ole, Ole”, na página de Gush Shalom [Grupo da Paz], na internet em http://zope.gush-shalom.org/home/en/channels/avnery/1214689946/
Copyleft.
[1][1] “Calma”, em árabe. Designa o cessar-fogo acordado entre o Hamás e Israel, há alguns dias.
[2][2] URI AVNERY, 22/6/2008, “All Quiet on the Gaza Front”, em Gush Shalom [Grupo da Paz], em http://zope.gush-shalom.org/home/en/channels/avnery/1214084739/

Fonte: Blog do Bourdoukan
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O PiG ENLOUQUECEU. JOGUE-O NO LIXO



Folha e Estadão: só o golpismo os aproxima


por Paulo Henrique Amorim

Máximas e Mínimas 1221


Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.

. Diz o Estadão na primeira página, deste domingo, dia 29: “De olho em 2010, PT esquece aliados”.

. Clique aqui para ler.

. Segue o Estadão na sua profunda análise: o PT recusou acordos com partidos aliados e é o recordista de candidaturas próprias nas capitais.

. Não atendeu nem mesmo os apelos do Presidente Lula – prossegue a profunda análise do Estadão.

. Diz a Folha (da Tarde *), na pág. A4: “alianças municipais ignoram disputa entre Lula e oposição – em 24 capitais há coligação entre partidos da base do governo federal e adversários”.

. Continua a Folha em sua profunda análise: “A tendência é que as convenções confirmem o embaralhamento entre governistas e oposição em pelo menos 80% dos maiores municípios”.

. Clique aqui para ler.

. Afinal, qual é o PiG que tem razão: o Estadão ou a Folha ?

. Os dois não podem estar certos.

. Ou o Governo faz ou não faz alianças.

. Num ponto, apenas, os dois concordam: o objetivo.

. Os dois têm o objetivo de desmoralizar o partido do Presidente e sua base política – ou porque fazem alianças (quando não deveriam), ou porque não fazem (quando deveriam).

. Na verdade, nenhum dos dois tem razão.

. Porque suas reportagens não se sustentam em fatos, mas em opinião.

. É mero palpite.

. É o “achismo”.

. Como também é “achismo” a manchete do Estadão de domingo: “Escalada (???) de preços traz de volta risco de indexação (???)”.

. Quem disse ?

. Onde ?

. O que está indexado ?

. O que, com certeza, está indexado é o Estadão: indexado, para sempre, ao golpismo (contra governos trabalhistas).

. (Acabei de chegar de Recife, onde fiz uma reportagem para o Programa “Domingo Espetacular” sobre um morador de rua que passou num concurso para escriturário do Banco do Brasil e quer ser empresário. Se você fosse o Bira, esse morador de rua, você compraria ações do Estadão ou de qualquer empresa de Ipojuca, um município perto de Recife, onde fica o porto de Suape e para onde vai a próxima fábrica da CSN ? Pergunte ao Bira se ele lê os editoriais do Estadão ... )

. Não leve o PiG a sério. Siga a “Lei Mário Soares”: clique aqui.

(*) Já estava na hora de a Folha tirar os cães de guarda do armário e confessar, como fez a Folha, que foi “Cão de Guarda” do regime militar. Instigado pelo Azenha – clique aqui para ir ao Viomundo – acabei de ler o excelente livro “Cães de Guarda – jornalistas e censores do AI-5 à Constituição de 1989”, de Beatriz Kushnir, Boitempo Editorial, que trata das relações especiais da Folha (e a Folha da Tarde) com a repressão dos anos militares. Octavio Frias Filho, publisher da Folha (da Tarde), não quis dar entrevista a Kushnir.

Leia também:

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A nova Miriam: Lucia Hippolito

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Fonte: Conversa Afiada

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GLOBO FICA EM TERCEIRO LUGAR DUAS VEZES NO DOMINGO



Leila Cordeiro: em Miami
só se fala da crise da Globo

A Leitora Marucia Cabral enviou ao Conversa Afiada o artigo “O império da TV Globo balança”, escrito por Leila Cordeiro e publicado no site Vermelho.

Leia o artigo de Leila Cordeiro:

27 DE JUNHO DE 2008 - 21h06

Leila Cordeiro: o império da TV Globo balança

O fenômeno da queda de audiência da Globo nos últimos meses já ultrapassou os muros de uma mera rivalidade entre ela e a concorrente Record. Agora é pra valer! Está nas folhas dos jornais e na internet, que a Globo perdeu, segundo o Ibope, nos últimos cinco anos, 20% da audiência entre 7 da manhã e meia-noite.

Por Leila Cordeiro, no Direto da Redação

Falar em queda do império, pode até parecer um exagero , mas se recorrermos à história vamos constatar que o que está acontecendo não está tão longe da verdade, não. Qualquer semelhança seria mera coincidência?

Os historiadores ensinam que a "queda do Império romano foi causada por uma série de problemas internos que fragilizaram o Império e o colocaram à disposição de invasões de outros povos". Apesar de ser uma obviedade, todo Império começa a decair após alcançar o seu apogeu, e com Roma não foi diferente.

Sem querer forçar a barra, não é mais ou menos o que está acontecendo na Globo? Pela própria mídia especializada sabe-se que problemas como briga pelo poder, dívidas e sobreposição de egos têm colocado a hegemonia da emissora em xeque.

Talvez ela tenha crescido tanto que perdeu a identidade e está se fragilizando pela própria mordida, ou seja, ela criou o monstro e foi engolida por ele.

Quando a Globo poderia imaginar que alguém teria poder de fogo para usar a mesma fórmula de sucesso que garantiu sua liderança por décadas? O formato vitorioso deu resultado nos estúdios da Barra Funda e se refletiu nos índices de audiência da emissora , o que, curiosamente, prova que a Globo teve o mérito de descobrir uma grade infalível de programação.

Mas, a meu ver, ela está perdendo o bonde ao se acomodar com a liderança, fenômeno que acontece com todo mundo que está na frente de uma competição e acha que nunca vai ser alcançado. Relaxou...dançou.

Hoje não existe mais o ovo de Colombo em nenhum segmento, principalmente no de televisão. Não há mais o que descobrir e sim aprimorar.

Falta talvez à Globo a humildade dos grandes conquistadores e dos sábios de dar oportunidade a quem está chegando, ao sangue novo sem vícios. Ignorando isso, ela abriu um leque de oportunidades à Record que ao contrário da rival vem investindo em novos talentos e idéias.

Com isso, a Globo que nunca precisou "se deitar na cama pra fazer a fama" está correndo atrás dos pontos perdidos no Ibope fazendo auto-promoções na mídia escrita onde tenta vender ainda seu peixe.

A verdade é que nenhum monopólio faz bem. Para os mercados artístico e publicitário o importante mesmo é o sucesso individual do produto para que ele possa se sobressair e garantir a vitória antes mesmo do público mudar de canal.


Em tempo: Leila Cordeiro foi uma das melhores repórteres da Globo. Hoje, vive em Miami com o marido, Eliakim Araújo. Os dois são os responsáveis pelo “Direto da Redação”.

Em Tempo 2: Ontem, domingo, dia 29, a Globo ficou em terceiro lugar duas vezes. Durante a final da Eurocopa, na Record, enquanto a Globo mostrava aquele melancólico jogo do São Paulo; e, no Faustão. Terceiro lugar num domingo, quem diria, hein ?

Leia também:

Vermelho – Record cresce mais entre pobres e jovens, diz Ibope

IBOPE: publicidade na internet tem espaço para cescer

Clique aqui para acessar o site Vermelho.

Fonte: Conversa Afiada


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domingo, 29 de junho de 2008

Documentário imprescindível a quem quer entender como funciona o cérebro dos americanos!





PETER DAVIS, CORAÇÃO E MENTE DE DOCUMENTARISTA

A história dos documentários políticos nunca mais foi a mesma depois de Corações e mentes. Lançado em 1975, quando a Guerra do Vietnã ainda era uma ferida grande demais na história norte-americana, o filme de Peter Davis tornou-se um dos mais contundentes argumentos no processo de transformação da opinião pública em relação ao conflito.

Combinando informação e emoção, Corações e mentes trouxe à tona as devastadoras conseqüências humanas desta guerra, que durou mais de dez anos e deixou um rastro de centenas de milhares de mortos. Pela primeira vez, apresentava-se não só o ponto de vista do soldado norte-americano, mas também o sofrimento do “outro”, daqueles que, antes deste documentário, permaneciam “fora do quadro”. O título é retirado da famosa frase do presidente Lyndon B. Johnson: “A vitória da América dependerá dos corações e mentes das pessoas que moram no Vietnã.” A montagem de um farto material de arquivo e de depoimentos colhidos nos anos de 1972 e 1973 revelou o sofrimento e a resistência do povo vietnamita, a dor das vítimas e, também, a corrupção que levou à perpetuação quase infinita de um conflito condenado ao fracasso.

Antes de Corações e mentes, Davis já havia provocado polêmica com três filmes feitos para a televisão: Hunger in America e The Heritage of Slavery, ambos de 1968, e The Selling of the Pentagon, de 1971 – todos dedicados a assuntos praticamente ignorados pelo cinema e pelos meios de comunicação da época, mas que nem por isso eram menos reais. Sem medo da controvérsia e disposto a apontar aspectos da América que permaneciam camuflados, Davis firmou-se como a voz dissonante fundamental para a compreensão de questões mal-resolvidas da política norte-americana, tanto interna como externamente. Esses quatro filmes se somam ao mais recente Jack, realizado em parceria com o filho Nick, em 1993 – para apresentar ao público do Festival do Rio o trabalho coerente e afiado de Peter Davis, cineasta que nasceu em 1937 e gerou uma obra de rara atualidade.

A importância de se assistir aos documentários de Peter Davis neste ano de 2004 não é apenas pelo valor histórico que eles ganharam, nem apenas pela imensa força que o gênero voltou a apresentar junto ao público. Trata-se, sobretudo, de uma (re)visão fundamental neste momento em que a história se repete como farsa, e os Estados Unidos, parecendo ter oportunamente esquecido as lições do Vietnã, voltam a exercer a beligerância intolerante em interesse próprio.



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por Latuff


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Hamilton de Souza: escalada autoritária contra os movimentos


A precária, incipiente e limitada democracia liberal brasileira está mais uma vez ameaçada de retrocesso autoritário: a investida do Ministério Público do Rio Grande do Sul contra o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) representa um atentado direto à Constituição e uma ameaça concreta ao Estado de Direito proclamado pelo regime atual e por suas classes dominantes.

por Hamilton de Souza*

Tornado público recentemente, o documento do Conselho Superior dos promotores e procuradores gaúchos revela mais uma decisão na escalada de violências praticadas pelo Estado, nos vários níveis, contra os direitos assegurados aos cidadãos e aos movimentos sociais. O órgão do Ministério Público pediu nada menos do que “a dissolução do MST e a declaração de sua ilegalidade”, como se fosse possível banir da realidade brasileira a manifestação legítima de quem luta por reforma agrária e melhores condições de vida.

Todo mundo sabe que os movimentos sociais nascem de demandas populares, da defesa de conquistas e de direitos. No Brasil, ao longo do século 20 surgiram dezenas de movimentos sociais em defesa da reforma agrária – exatamente porque a concentração fundiária é a maior do mundo e existe uma expressiva população rural que precisa de terra para morar e trabalhar. A maior parte desses movimentos sofreu dura repressão política e policial – com milhares de vítimas da violência do Estado. As elites brasileiras se recusam a realizar uma reforma agrária que atenda as demandas dos trabalhadores rurais.

Da mesma forma, nas últimas décadas surgiram pelo País afora centenas de movimentos sociais vinculados às lutas por moradia, por creches, por postos de saúde, por escola pública, por transporte público e, também, às lutas das mulheres, dos negros, dos gays e lésbicas. Enfim, existem movimentos sociais ligados às mais variadas causas e demandas. Todos esses movimentos expressam reivindicações legítimas e fazem parte da dinâmica de uma sociedade que quer ser democrática. Cabe ao Estado, aos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário e aos governantes em geral, garantir o atendimento aos movimentos sociais, na medida em que são eles as verdadeiras vozes do povo.

Uma sociedade moderna, constituída por cidadãos autônomos e conscientes, funciona melhor com a existência de muitos movimentos sociais organizados, desde os que defendem a melhoria do bairro e da cidade, os que cuidam das causas nacionais (meio ambiente, saúde, educação, emprego, salário), até os que expressam segmentos sociais e categorias profissionais. A livre organização dos trabalhadores evidentemente faz parte de uma sociedade democrática. Tanto é que é garantida formalmente pela Constituição de 1988.

Por isso mesmo devem ser repudiadas – veementemente – todas as iniciativas autoritárias que tratam os movimentos sociais com discriminação e preconceito, que tentam restringir e limitar a sua atuação, ou que querem reprimir e criminalizar as organizações que representam milhões de brasileiros, como é o caso do MST. É preciso reagir contra as violências dos agentes públicos; é preciso defender mais democracia e menos autoritarismo. O Brasil já sofreu demais sob ditaduras.

*Hamilton Octavio de Souza é jornalista e professor da PUC-SP.

Fonte: Vermelho


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EUA mantém crianças prisioneiras em base militar no Afeganistão

do site Vermelho

A Organização Afegã de Direitos Humanos denunciou hoje que dez crianças com idades entre nove e treze anos permanecem presas há vários anos na base aérea americana de Bagram, ao norte de Cabul.

O diretor da ONG, Lal Gül, afirmou à Agência Efe que as crianças estão retidas sem acusações em um centro de detenção por causa de um "possível crime" que seus pais teriam cometido contra as forças da coalizão lideradas pelos Estados Unidos.

"Não acho que crianças de nove ou dez anos possam realizar atividades terroristas ou antiamericanas", disse Gül, que afirmou que a organização também tem informações que apontam que esses menores foram vítimas de abusos.

Fontes da coalizão dos EUA procuradas pela Efe não quiseram comentar o assunto.

Segundo o ministro de Justiça afegão, Sarwar Danish, 200 crianças estariam detidas em centros penitenciários afegãos.

Um recente relatório divulgado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e pela Comissão Independente Afegã de Direitos Humanos assegura que os menores sob detenção enfrentam a violação de seus direitos sob a forma de maus-tratos, falta de acesso à educação e de serviços sanitários básicos.

O estudo se baseia em dados recolhidos durante mais de um ano em 22 províncias afegãs.

A responsável do Unicef no Afeganistão, Catherine Mbengue, disse que é necessário "mais investimento para evitar que as crianças entrem em conflito com a lei", além de "continuar ajudando aos menores que já estão detidos".

Fonte: Vermelho


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Para O Globo, vale tudo para atacar o governo. Até dizer que 20,7% é maioria

por Antônio Mello

Taí a imagem que reproduz a manchete da primeira página de O Globo (clique nela para ampliá-la) que não me deixa mentir. Para o jornalão carioca, 20,7% (ou seja, 20,7 em 100) é maioria.

Onde está o truque? É que eles somam aos 20,7% os 34,1% que, segundo pesquisa do Ibase, “sofrem com falta de comida em casa”. O que não quer dizer em absoluto que passem fome – como, aliás, fica claro na matéria do jornalão. Ou seja, o que há ali não é notícia, é distorção, manipulação.

É só o jornalismo de resultados de O Globo em ação. É como o futebol de resultados: joga-se feio, para-se a jogada com falta, utilizam-se os recursos necessários – ainda que desleais – para que se consiga o resultado desejado. No caso da mídia corporativa, criticar o Bolsa Família para atingir o governo Lula.

Na própria matéria isso fica claro. Destacada num box, há a declaração de uma beneficiada, Clotilde Alves do Nascimento, que tem dois filhos e marido desempregado: “Eu até sonho em comprar carne”. Mas aí O Globo vem com a crítica: Beneficiada no Piauí usa dinheiro para comprar geladeira, fogão e roupas.

Que horror, não? A mulher disse que antes cozinhava com carvão. Agora comprou um fogão.
- Que esbanjadora!
Comprou também uma geladeira.
- Perdulária.
E também cadernos, material escolar, roupas e sandálias.
- Uma consumista típica, já sonhando com Daslu, talvez.
Ao final, ela ainda confessa que “cede ao pedido dos filhos por biscoitos e sucos para a merenda”.
- Onde está a polícia que não prende essa mulher? Chamem o TRE!

Mas a crítica de O Globo, na linha de Kamel, é um engodo, conforme mostrei aqui, Kamel descobriu qual é o grande problema do Brasil hoje. Eles confundem Bolsa Família com Fome Zero e criticam o que o programa tem de mais generoso e antipopulista: a possibilidade de o beneficiado gerenciar o benefício, usar o dinheiro naquilo que julga importante para sua família. Ainda que esse “importante” lhes seja imposto de fora, via propaganda, incentivo ao consumismo, especialmente direcionado às crianças (lembre-se de que dona Clotilde afirma que “cede ao pedido dos filhos por biscoitos e sucos para a merenda”), como tem criticado o ministro Temporão, que quer proibir propaganda de fast-food, antes das 21h. Mas isso é assunto para outra postagem.

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Também para o Estadão, na hora de atacar o governo 20,7% é maioria

Seguindo a voz do dono (afinal, dizem que o Estadão já pertence às Organizações Globo), o Estadão consegue transformar uma minoria de 20,7% em maioria, exatamente como fez ontem O Globo, e denunciei aqui: Para O Globo, vale tudo para atacar o governo. Até dizer que 20,7% é maioria.

Só que o Estadão foi mais comedido e não botou a mentira no título nem na primeira página. O título do Estadão (reproduzido na imagem) fala em insegurança alimentar. Mas o “olho” distorce: Maioria dos assistidos pelo programa passa fome, diz pesquisa do Ibase.

É mentira. A pesquisa não diz isso. Muito pelo contrário. A pesquisa do Ibase diz que uma minoria de 20,7% afirma que ainda passa fome. Essa informação (20,7%) é omitida na matéria do próprio Estadão, de autoria de Roldão Arruda, de onde retiro o trecho a seguir:

Pesquisa recém-concluída sobre o Programa Bolsa-Família, realizada pelo Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), tem uma notícia boa e outra ruim para o governo. A boa é que o dinheiro distribuído pelo programa tem sido usado principalmente para melhorar a alimentação das famílias - exatamente como se desejava. Do total de 5 mil titulares do cartão pesquisados, 87% disseram que empregam o dinheiro em alimentos. "Aumentou a quantidade e a variedade dos alimentos consumidos", diz a pesquisadora Mariana Santarelli, do Ibase.

A notícia ruim é que mesmo com a injeção de recursos entre as famílias mais carentes, elas continuam ameaçadas pela insegurança alimentar. Nas conversas com os pesquisadores, 83% dos titulares revelaram se enquadrar num dos três níveis em que se classifica a insegurança: grave, moderada e leve. No primeiro, o cidadão passa fome; no segundo, tem de reduzir a quantidade de alimentos da família, para que não falte; e, no terceiro, ele tem medo de não conseguir nada para comer no futuro próximo.

Como se vê nos destaques em negrito, apenas na insegurança grave o cidadão passa fome. Nas demais, não. O que é completamente diferente de afirmar que Maioria dos assistidos pelo programa passa fome, diz pesquisa do Ibase.

É por isso que os jornalões acabam sendo vendidos, engolidos por seus sobreviventes, perdendo a cada diz mais leitores, enquanto cresce o número de pessoas que procuram informação alternativa na blogosfera, em blogs sobre política, redes sociais, listas e grupos de discussão.

Fonte: Blog do Mello


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Aqui e lá



por Emir Sader

Um cartaz em uma manifestação de imigrantes equatorianos – eles são mais de 700 mil, chegados depois da dolarização da moeda do país -, lutando pela sua legalização, dizia: “Estamos aqui, porque vocês estiveram lá.” Afirmação sintética sobre a relação entre colonizadores e colonizados, entre globalizadores e globalizados.

A chamada Diretiva da vergonha – assim caracterizada pela carta de Evo Morales pedindo aos governos europeus para não aprová-la – reflete uma virada geral para a direita no continente, de tal forma que, ao mesmo tempo que foi aprovada a duríssima legislação sobre os imigrantes, a duração da jornada de trabalho foi aumentada para além das 48 horas semanais, incluídas as horas extras. Agora a jornada deve ser negociada diretamente entre patrões e trabalhadores, podendo chegar até a 78 horas – mais do que o dobro das 35 horas aprovadas há duas décadas na França.

Em algumas regiões a polícia tem o poder de deter a qualquer pessoa por 42 dias sem acusações. Alguns serviços secretos estão autorizados a violar, sem autorização judicial, os correios eletrônicos. Os imigrantes sem documentos podem ser detidos por até 18 meses. As crianças podem ser enviadas a países distintos de sua origem. O governo italiano mandou ao Parlamento projeto de lei que pode castigar com até 4 anos de prisão a imigrantes ilegais. Autorizou também a polícia a deter e expulsar aos ciganos. A França fixou cotas de estrangeiros a ser expulsos cada ano, numero ascendente conforme passam os anos.

A Inglaterra aumenta de 28 a 42 dias a detenção sem acusações a suspeitos de terrorismo. A França autoriza o interrogatório de suspeitos durante 6 dias sem a intervenção de advogados e as normas que controlam os aeroportos se tornaram secretas.

A Espanha, mesmo sendo o país que regularizou a situação de centenas de milhares de estrangeiros, apresenta, no entanto, o caso mais evidente de discriminação. Por um lado, tolera os latino-americanos – brancos, de fala espanhola, religiões ocidentais -, a ponto de tê-los recrutado para fazer a guerra no Iraque e no Afeganistão, com uniformes espanhóis. Mas rejeita os africanos, que chegam diariamente a suas fronteiras, especialmente desde o Marrocos, o Senegal e a Mauritânia. Somente neste ano 12.260 chegaram e foram rechaçados.

Os que foram legalizados, o foram quando a economia espanhola crescia, a população espanhola diminuía e ninguém queria fazer trabalhos desqualificados. Mas agora que chega a recessão, fecham-se as portas para os imigrantes.

“A mensagem européia é clara – diz um colunista espanhol: “imigrantes, não, muito obrigado; petróleo, passe, por favor”. Em outras palavras, livre comércio, mas numa sociedade que considera aos seres humanos mercadorias, estes – ou estas – são excluídos(as) da lei geral. As mercadorias podem e devem circular livremente, os seres humanos, não.

Os seres humanos – neste caso, imigrantes – estão acompanhados das idéias. O norte globalizador envia sistematicamente suas interpretações do mundo – via grande mídia, via internet, via cinema, editoras, etc. – para o sul globalizado, que não tem como difundir suas visões do mundo, visto desde a periferia.

Não é necessário recordar que sempre aceitamos aos imigrantes europeus, sem nenhuma política de cotas. Mas as reações são imediatas. Uma vez Garcia Marquez anunciou que não permitiria mais a venda dos seus livros na Espanha, se passasse a ser solicitado visto para os colombianos. Agora Hugo Chávez anuncia que deixará de vender petróleo aos países que aplicarem a Diretiva da vergonha. O Mercosul condenou expressamente a medida. Imigrantes sem papéis invadiram centros que deveriam atendê-los em Paris. Marroquinos se aproveitaram que todos os espanhóis estavam assistindo à cobrança de pênaltis, em que a seleção do seu país derrotou à italiana, para saltar os muros da fronteira em grande quantidade.

A fronteira entre direita e esquerda nunca é tão clara quanto no que se refere à política com os imigrantes. Porque eles estiveram aqui, há tantos dentre nós por lá.

Fonte: Blog do Emir Sader
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sexta-feira, 27 de junho de 2008

Livro Colapso. de Jared Diamond

Eu sempre farei a propaganda desse livro!

Colapso - Jared Diamond



COLAPSO

Jared Diamond
Editora Record, 2005

Neste livro, Jared Diamond usa lições dos desastres ambientais do passado como alerta para os perigos que ameaçam a sobrevivência dos seres humanos

O geógrafo Jared Diamond é uma rara combinação de cientista e bom contador de histórias.

Graças a essas duas virtudes, é capaz de transformar assuntos sérios e complicados, porém relevantes, em textos atraentes, de fácil compreensão mesmo para leitores não familiarizados com o tema.

“Colapse: how societies choose to fail ou succeed ” é o segundo bestseller de Diamond (*). O primeiro, “Guns, Germs and Steel”, ganhou o prestigiado Prêmio Pulitzer, nos Estados Unidos. A receita é semelhante. Ambos misturam ciência, pesquisa histórica e experiências pessoais do autor para explicar alguns dos aspectos mais fascinantes da história da civilização.

Em “Guns, Germs and Steel”, Diamond fazia uma radiografia das raízes dos seres humanos para demonstrar como a combinação de clima e recursos naturais havia contribuído decisivamente para o surgimento e a prosperidade das grandes civilizações.

Por essa teoria, a geografia somada à disponibilidade de determinados recursos, como animais facilmente domesticáveis, tinham sido fundamentais para que alguns povos se desenvolvessem e triunfassem sobre outros menos favorecidos.

Em “Colapso”, ele dá um passo adiante ao tirar lições do passado como alerta para os riscos de um colapso ambiental no futuro do planeta.

Neste livro, com o uso de descobertas científicas em disciplinas tão diferentes quanto a zoologia, sismologia, botânica, história das religiões e física nuclear, Diamond investiga o lado dos derrotados: por que algumas grandes civilizações, que tinham tudo para dar certo, fracassaram ou desapareceram enquanto outras prosperaram? Um exemplo é o destino misterioso da sociedade primitiva que colonizou a Ilha de Páscoa.

Além dos gigantescos menires de pedra que até hoje assombram os turistas, nada mais restou dessa antiga civilização polinésia.

Destino semelhante tiveram os maias, na América Central, e os vikings, no norte da Europa. Por que, depois de florescer de forma tão exuberante num determinado período, todas essas civilizações sumiram do mapa deixando para trás apenas ruínas de suas construções?

Uma primeira conclusão é que o futuro de todos os grupamentos humanos primitivos sempre dependeu da forma como encararam ou enfrentaram os desastres ambientais que os aguardavam.

O planeta Terra, observa Diamond, é um ambiente altamente mutável, no qual o sucesso e a continuidade da vida estão intimamente associados à sua capacidade de se adaptar às mudanças.

Sociedades que souberam cuidar dos seus recursos naturais foram mais bem sucedidas ao se antecipar às alterações climáticas e ambientais de modo a conseguir sobreviver à elas.

Povos que, ao contrário, exploraram em excesso esses recursos, movidos pela necessidade ou pela imprevidência, traçaram o caminho do próprio fracasso.

É o que Diamond chama de “eco-suicídio”, ou seja, a incapacidade de entender a fragilidade do meio ambiente combinada com a ganância que leva a exploração dos recursos naturais muito além do limite sustentável.

Rano Raraku

Um caso exemplar é o dos polinésios da Ilha de Páscoa. Plantada no meio do Oceano Pacífico, essa ilha vulcânica, descoberta em 1722 pelo explorador holandês Jacob Roggeveen, é uma dos pontos mais remotos do planeta.

A terra mais próxima pelo leste é a costa do Chile, situada a 4.100 quilômetros de distância. A oeste, são as Ilhas de Pitcairn, separadas por mais 2.400 quilômetros de mar.

A ilha é conhecida pelas centenas de estátuas gigantescas de pedra com feições humanas, que há séculos miram o oceano de forma enigmática.

Algumas pesam mais de 270 toneladas. A existência desses monumentos rochosos indicam que nessa ilha um dia floresceu uma civilização criativa e ambiciosa, mas quando os europeus lá chegaram tudo que viram pela frente foi um povo empobrecido sobrevivendo a duras penas da agricultura rudimentar num solo pedregoso em acelerado processo de desertificação.

Ao passar por ali em 1774, o explorador britânico James Cook descreveu os habitantes como “pequenos, esquálidos, tímidos e miseráveis”.

O que aconteceu? A explicação de Diamond: os moradores da Ilha de Páscoa exageraram na exploração dos seus recursos ambientais. Quando os primeiros seres humanos ali chegaram, por volta do século nono da Era Cristã, a ilha era coberta por um densa floresta tropical, repleta de aves e animais, mas o desmatamento sem controle para uso agrícola e exploração da madeira rapidamente transformaram a região num deserto.

A extinção das espécies nativas inviabilizou a caça e a coleta de frutos. Para complicar a situação, o oceano em volta era pobre em peixes e frutos do mar, devido à ausência de corais.

O resultado óbvio foi que, em pouco tempo já não havia recursos para alimentar a população, estimada em cerca de 30 000 habitantes no seu auge. A chegada dos europeus, portadores de doenças como varíola e sarampo, foi uma contribuição adicional e decisiva para o desastre.

“Não existe exemplo mais clamoroso de sociedade que destruiu a si própria explorando além da conta seus recursos naturais”, escreve Diamond.

Ao investigar essa e outras histórias semelhantes de civilizações fracassadas, Diamond identifica alguns padrões de erro, como o crescimento populacional descontrolado e a exploração excessiva da caça, pesca e outros recursos naturais - todos problemas agravados por fatores como secas, invernos rigorosos, convulsões políticas ou guerras civis.

Ciclos de desmatamento excessivo deram lugar à erosão do solo e à fome decorrente do desaparecimento de animais e espécies vegetais usadas na alimentação, seguida da decadência de toda uma civilização.

Natureza e seres humanos, afirma Diamond, estão ligados para sempre por laços indissolúveis. O futuro de um dependerá sempre do outro.

A diferença agora é que nunca antes os problemas foram tão graves e em escala tão gigantesca. Enquanto as civilizações antigas enfrentaram problemas locais ou regionais, desta vez a humanidade inteira encontra-se diante do desafio de salvar o planeta. Não é mais apenas um povo ou uma nação ameaçada, mas todos os seres humanos.

“O paralelo entre o destino da Ilha de Páscoa e o mundo moderno é absurdamente óbvio”, afirma o autor.

“Graças à globalização, ao comércio internacional, aos aviões a jato e à Internet, todos os países do mundo hoje compartilham os mesmos recursos finitos.

A Ilha de Páscoa era um lugar isolado no Oceano Pacífico, tanto quanto a Terra é um planeta solitário na imensidão do universo. Quando os habitantes polinésios da ilha se viram em dificuldade, não havia para onde fugir, da mesma forma como nós, seres humanos atuais, não teremos para onde ir caso os problemas atuais continuem a se agravar até o limite do desastre”.

O autor fornece uma lista de doze desafios para a humanidade hoje:

1. Destruição dos habitats naturais
2. Pesca exagerada nos rios e oceanos
3. Redução na diversidade biológica
4. Empobrecimento do solo
5. Crise do petróleo e falta de recursos fósseis capazes de fornecer energia para uma população crescente
6. Dramática redução nos estoques de água potável
7. Redução da energia solar devido às mudanças climáticas
8. Contaminação do solo por resíduos tóxicos
9. Invasão dos antigos habitats naturais por pragas e espécies alienígenas
10. Atividade humana exagerada
11. Super-população do planeta
12. Aumento no impacto per-capita sobre os recursos naturais

Apesar do tom pessimista, Jared Diamond encerra seu livro com uma nota positiva: de todas as sociedades que, ao longo da História, contemplaram o colapso, apenas a nossa tem a oportunidade de aprender com o passado.

O problema é que, dependendo de como essas lições forem estudadas e aplicadas, talvez não haja mais ninguém para contar essa história no futuro - como fez Diamond.

(*) Esta resenha foi feita com base na edição original, em inglês, publicada em 2005 nos Estados Unidos pela Editora Viking Penguin


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