Névoa de poluição concentrada no Rio de Janeiro. Programas de governo devem contemplar adaptações às conseqüências irreversíveis das mudanças climáticas, afirma Feldmann |
por Fabio Feldmann
De São Paulo
Com a proximidade das eleições municipais, os primeiros arranjos vão sendo elaborados para a escolha dos candidatos, de suas alianças e da equipe que trabalhará arduamente durante esses meses que seguem até as eleições em outubro. É hora de se pensar também no programa de governo desses futuros candidatos e em como o tema ambiental será incorporado nesses programas.
Há muito venho falando da importância que o tema das mudanças climáticas exerce nos governos locais e de como estes devem necessariamente se preparar para tratar do tema de forma objetiva e clara. Obviamente, a plataforma ambiental dos candidatos não deve se resumir ao tratamento do tema das mudanças climáticas, mas deve incorporá-lo de forma sistêmica e completa.
É necessário que os futuros governantes vejam a questão ambiental como uma questão transversal, que exige medidas nas mais diversas esferas para que seja equacionada com sucesso. Governos locais têm o poder de elaborar e implementar projetos com grande potencial de transformação, já que são capazes de identificar e contemplar as especificidades de cada local, garantindo a elaboração de políticas que supram exatamente a necessidade da comunidade local, sem serem demasiado amplas e sem objetividade.
No caso das mudanças climáticas faz-se necessário que os programas de governo contemplem duas linhas principais de atuação: a mitigação das emissões atuais e a adaptação às já inevitáveis conseqüências das mudanças climáticas.
A primeira linha diz respeito à análise criteriosa dos padrões de emissões dos municípios e através do resultado dessa análise a identificação de possíveis medidas que possam minimizá-las ou mesmo zerá-las em um certo espaço de tempo.
Tais medidas podem estar intimamente ligadas ao uso mais racional de energia, à adoção de padrões mais sustentáveis de construção e uso de matéria-prima, do zoneamento mais inteligente quanto ao uso do solo, ao estímulo ao uso do transporte coletivo, entre outras alternativas não menos importantes e impactantes.
Quanto à segunda linha, essa diz respeito à elaboração de políticas que visem a adaptação às conseqüências já irreversíveis das mudanças climáticas, que obviamente são diversas de acordo com a localização do município. Municípios costeiros precisam atentar para o aumento do nível do mar, por exemplo, enquanto municípios mais urbanos precisam estar atentos à possível formação de ilhas de calor.
O fortalecimento da defesa civil também é um importante ponto a ser tratado, já que a ocorrência de eventos climáticos extremos tende a se tornar cada vez mais freqüente e com maior intensidade.
Sou suspeito para falar, mas é preciso que finalmente a questão ambiental seja tratada com seriedade e responsabilidade pelos próximos governos que venham tomar posse nas cidades brasileiras. Um ponto importante a ser relembrado é que as questões ambientais e seu tratamento não seguem na maioria das vezes o horizonte de tempo eleitoral com o qual os políticos estão acostumados, exigindo que medidas de médio e longo prazos sejam tomadas, mesmo que seu resultado não venha a ser vislumbrado no presente governo.
Além disso, não podemos esquecer que os candidatos a vereador também exercem papel importante, uma vez que o Poder Legislativo tem a função de elaborar e apresentar Projetos de Lei que visem o tratamento das mais diversas matérias municipais, sendo um canal importante a ser trabalhado no que se refere à temática ambiental.
É necessário que desde já estejamos atentos ao discurso dos nossos candidatos para prefeito e vereador, para que possamos cobrar um posicionamento coerente e responsável dos mesmos frente tais questões, tanto agora nas eleições quanto depois de seu resultado.
Fale com Fabio Feldmann: fabiofeldmann08@terra.com.br
Fonte: Terra Magazine
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