terça-feira, 24 de junho de 2008

O meio ambiente nas eleições





Névoa de poluição concentrada no Rio de Janeiro. Programas de governo devem contemplar adaptações às conseqüências irreversíveis das mudanças ...
Névoa de poluição concentrada no Rio de Janeiro. Programas de governo devem contemplar adaptações às conseqüências irreversíveis das mudanças climáticas, afirma Feldmann


por Fabio Feldmann
De São Paulo

Com a proximidade das eleições municipais, os primeiros arranjos vão sendo elaborados para a escolha dos candidatos, de suas alianças e da equipe que trabalhará arduamente durante esses meses que seguem até as eleições em outubro. É hora de se pensar também no programa de governo desses futuros candidatos e em como o tema ambiental será incorporado nesses programas.

Há muito venho falando da importância que o tema das mudanças climáticas exerce nos governos locais e de como estes devem necessariamente se preparar para tratar do tema de forma objetiva e clara. Obviamente, a plataforma ambiental dos candidatos não deve se resumir ao tratamento do tema das mudanças climáticas, mas deve incorporá-lo de forma sistêmica e completa.

É necessário que os futuros governantes vejam a questão ambiental como uma questão transversal, que exige medidas nas mais diversas esferas para que seja equacionada com sucesso. Governos locais têm o poder de elaborar e implementar projetos com grande potencial de transformação, já que são capazes de identificar e contemplar as especificidades de cada local, garantindo a elaboração de políticas que supram exatamente a necessidade da comunidade local, sem serem demasiado amplas e sem objetividade.

No caso das mudanças climáticas faz-se necessário que os programas de governo contemplem duas linhas principais de atuação: a mitigação das emissões atuais e a adaptação às já inevitáveis conseqüências das mudanças climáticas.

A primeira linha diz respeito à análise criteriosa dos padrões de emissões dos municípios e através do resultado dessa análise a identificação de possíveis medidas que possam minimizá-las ou mesmo zerá-las em um certo espaço de tempo.

Tais medidas podem estar intimamente ligadas ao uso mais racional de energia, à adoção de padrões mais sustentáveis de construção e uso de matéria-prima, do zoneamento mais inteligente quanto ao uso do solo, ao estímulo ao uso do transporte coletivo, entre outras alternativas não menos importantes e impactantes.

Quanto à segunda linha, essa diz respeito à elaboração de políticas que visem a adaptação às conseqüências já irreversíveis das mudanças climáticas, que obviamente são diversas de acordo com a localização do município. Municípios costeiros precisam atentar para o aumento do nível do mar, por exemplo, enquanto municípios mais urbanos precisam estar atentos à possível formação de ilhas de calor.

O fortalecimento da defesa civil também é um importante ponto a ser tratado, já que a ocorrência de eventos climáticos extremos tende a se tornar cada vez mais freqüente e com maior intensidade.

Sou suspeito para falar, mas é preciso que finalmente a questão ambiental seja tratada com seriedade e responsabilidade pelos próximos governos que venham tomar posse nas cidades brasileiras. Um ponto importante a ser relembrado é que as questões ambientais e seu tratamento não seguem na maioria das vezes o horizonte de tempo eleitoral com o qual os políticos estão acostumados, exigindo que medidas de médio e longo prazos sejam tomadas, mesmo que seu resultado não venha a ser vislumbrado no presente governo.

Além disso, não podemos esquecer que os candidatos a vereador também exercem papel importante, uma vez que o Poder Legislativo tem a função de elaborar e apresentar Projetos de Lei que visem o tratamento das mais diversas matérias municipais, sendo um canal importante a ser trabalhado no que se refere à temática ambiental.

É necessário que desde já estejamos atentos ao discurso dos nossos candidatos para prefeito e vereador, para que possamos cobrar um posicionamento coerente e responsável dos mesmos frente tais questões, tanto agora nas eleições quanto depois de seu resultado.


Fabio Feldmann é consultor, advogado, administrador de empresas, secretário executivo do Fórum Paulista de Mudanças Climáticas Globais e de Biodiversidade e fundador da Fundação SOS Mata Atlântica. Foi deputado federal, secretário do Meio Ambiente do Estado de São Paulo. Dirige um escritório de consultoria, que trabalha com questões relacionadas ao desenvolvimento sustentável.

Fale com Fabio Feldmann: fabiofeldmann08@terra.com.br


Fonte: Terra Magazine
Share/Save/Bookmark

Nenhum comentário: