O que vai abaixo é o artigo do autor destas Entrelinhas para o Correio da Cidadania. Em primeira mão para os leitores do blog.
O governador de São Paulo, José Serra, conseguiu abafar uma profunda crise em seu partido ao negociar a retirada da chapa que pregava a aliança do PSDB com o DEM em torno da reeleição do prefeito Gilberto Kassab. É evidente, porém, que a aclamação de Geraldo Alckmin como candidato à prefeitura de São Paulo pelo PSDB não resolve todos os problemas da agremiação. O processo de escolha do candidato tucano na capital paulista já foi por si só um desastre para o PSDB e revelou que o racha no partido é muito mais grave do que seus líderes admitem. A notícia de que o secretário municipal Walter Feldman, defensor da aliança com Kassab, só se arriscou a comparecer na Convenção de domingo acompanhado de quatro quarda-costas (sim, quatro, não um ou dois, mas quatro) é emblemática do momento que vive o PSDB.
Nos bastidores tucanos corre a versão de que Serra só interviu no processo porque percebeu que poderia ser responsabilizado por uma eventual derrota de Geraldo Alckmin na Convenção e ficar com a fama de mentor da "degola" da candidatura própria. Certamente este foi um fator que Serra pesou na balança, como também foi considerada a questão da candidatura presidencial de 2010 – Alckmin supostamente apoiou o nome do governador paulista para a sucessão de Lula. Quem convive com Serra acredita, porém, que o que de fato pesou na hora da decisão final sobre o que fazer com a candidatura de Geraldo Alckmin foi a crença do governador na vitória de Gilberto Kassab em outubro. Serra acha que o prefeito disputará o segundo turno com Marta Suplicy e vencerá a ex-prefeita com boa margem de votos.
O governador paulista pode ser muita coisa, mas bobo, não é. É difícil acreditar que ele possa ter tomado a difícil decisão de não permitir o enfrentamento da ala "kassabista" do PSDB com os "alckministas" com base em "wishfull thinking" sobre a vitória de Kassab nas urnas. Se Serra acha que o prefeito vai se dar bem nesta campanha, é porque os dados disponíveis para análise do cenário são favoráveis a Gilberto Kassab. De fato, o prefeito democrata já tem mais tempo de propaganda no rádio e televisão do que seus adversários, certamente deve conseguir mais recursos ao menos do que Alckmin, e tem um discurso coerente para apresentar, qual seja o da continuidade da atual gestão. O ex-governador e agora candidato do PSDB à prefeitura paulistana, ao contrário, terá muita dificuldade em levantar dinheiro junto a fornecedores do estado ou do município e vai precisar caprichar bastante para explicar ao distinto público por que poderia ser um prefeito melhor do que o atual, cuja gestão é apoiada pelo seu próprio partido.
É verdade que na política, como no futebol, em geral vence o time mais organizado taticamente e com os melhores jogadores. Serra avaliou que neste momento Kassab e a ex-prefeita Marta Suplicy (PT) têm os melhores times para a disputa de outubro. Da mesma maneira que ocorre no futebol, porém, pode dar zebra. E Alckmin tem todo o jeitão de ser a zebra da vez, pois apesar das desavenças internas em seu partido e da eventual falta de recursos para a campanha, parte de um enorme recall da eleição presidencial de 2006, em que firmou uma forte imagem "anti-petista". Ademais, Alckmin tem o dom de falar, falar, falar e nada dizer, o que pode ser bastante útil em uma eleição que ele no fundo não pode criticar o atual governo e deve se limitar a dizer que vai "fazer melhor" o que Kassab está fazendo.
Assim, com o time meio perneta, sem apoio integral nem em seu próprio partido e provavelmente sofrendo toda sorte de sabotagens internas na campanha, não é impossível imaginar que Geraldo Alckmin consiga uma empatia com o eleitorado e a vaga para o segundo turno. Evidentemente, hoje é muito difícil supor que Marta Suplicy possa ficar de fora, já que uma faixa do eleitorado tradicionalmente vota no candidato de esquerda com mais chances de vencer, o que reduz muito as chances de uma disputa entre Kassab e Alckmin no segundo turno, ainda mais com Paulo Maluf (PP) correndo por fora e também disputando os votos na faixa da direita.
Se, portanto, Alckmin passar para o segundo turno, Serra terá que fazer uma segunda avaliação da conjuntura política. Ou apóia o correligionário para valer, colocando o seu peso político (e econômico) a serviço da candidatura de Geraldo Alckmin, ou terá um inimigo no Palácio do Anhangabaú, caso o PSDB bata Marta Suplicy nas urnas.
Parece simples, mas é um pouco mais complicado, porque ainda que Serra trabalhe de verdade por Alckmin, também não é certo que, uma vez eleito, o ex-governador tenha muita boa vontade em apoiar a postulação de Serra para concorrer em 2010 à presidência do Brasil. Primeiro, porque a prefeitura será um excelente palanque para uma candidatura presidencial do próprio Alckmin, que poderá ver em 2010 uma boa janela de oportunidade para chegar ao Planalto (uma vez que Lula não concorrerá); e em segundo lugar, porque quem sempre apoiou as pretensões de Alckmin no processo pré-eleitoral deste ano foi o governador de Minas Gerais, Aécio Neves. Se a primeira hipótese hoje parece distante e pouco provável, sobre a segunda não há muita dúvida: afinal, como diz a música, por que Alckmin pagaria com traição a quem sempre lhe deu a mão?
Como se pode ver, a eleição municipal deste ano em São Paulo é fundamental para a definição do cenário eleitoral de 2010. José Serra tanto pode praticamente selar a sua candidatura pelo PSDB, ironicamente com uma vitórida do democrata Kassab, ou ficar muito mais longe dela, se tucano Geraldo Alckmin se tornar prefeito de São Paulo. Confuso? Bastante, mas assim é a política brasileira...
___________________________________________________________________
Conforme queríamos demonstrar
No artigo para o Correio da Cidadania reproduzido aqui duas notas atrás, o autor destas Entrelinhas desenvolveu e abraçou a tese de que ao governador José Serra não resta outra saída senão trabalhar contra o candidato do PSDB à prefeitura de São Paulo e a favor do prefeito Gilberto Kassab (DEM). Não se trata de uma tese particularmente original, na verdade ela é até óbvia para qualquer analista que tente raciocinar a partir do ponto de vista e dos interesses de José Serra.O que este blog não esperava, porém, é que o governador fosse dar uma demonstração de seu, digamos assim, apreço pelo prefeito Kassab logo no dia seguinte à Convenção do PSDB qeu escolheu Geraldo Alckmin para a disputa de outubro na capital paulista. Como se pode ler abaixo na reportagem da Agência Estado, Serra e Kassab curtiram o frio paulistano desta tarde no mesmo palácio, juntinhos. Claro que o governador não poderia dizer outra coisa para a imprensa se não que o prefeito é "automaticamente convidado" para eventos como os de hoje, mas o simbolismo do encontro é evidente: nesta segunda-feira, Serra não esteve com o candidato de seu partido, mas com o seu candidato à prefeitura de São Paulo. É como se ele, Serra, perguntasse, à la Reinaldo Azevedo: entenderam ou vou precisar desenhar?
A seguir, a matéria a Agência Estado:
Após PSDB lançar Alckmin, Serra e Kassab participam de evento
Governador de SP foi indagado sobre presença do prefeito e respondeu ' ele é convidado automaticamente'
SÃO PAULO - O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), participou nesta segunda-feira, 23, de evento em São Paulo para anunciar financiamentos no valor de R$ 2,8 bilhões para a expansão das linhas de trem e de metrô na cidade ao lado do prefeito da capital paulista, Gilberto Kassab (DEM). Indagado sobre o cunho político da presença de Kassab na cerimônia, um dia após a convenção do PSDB que rompeu formalmente a aliança com o DEM e anunciou Geraldo Alckmin (PSDB) como candidato à Prefeitura de São Paulo, o governador esquivou-se: "O prefeito é convidado automaticamente a qualquer ato envolvendo a cidade de São Paulo". Sobre questões partidárias, Serra não se manifestou. "Não posso falar de política toda vez que há um anúncio como esse", disse.
Um acordo fechado a menos de 12 horas da convenção do PSDB no domingo pôs fim à disputa entre o ex-governador e Kassab para a escolha do candidato dos tucanos à Prefeitura de São Paulo. O partido teve chapa única encabeçada por Alckmin, que foi lançado candidato com apoio unânime do PSDB. Numa reunião no sábado, o grupo de tucanos pró-Kassab concordou em retirar a chapa que pedia o apoio à reeleição do atual prefeito.
O acordo foi selado no mesmo dia em que o governador José Serra retornou a São Paulo de uma viagem ao exterior. O vereador Gilberto Natalini, um dos articuladores da chapa pró-Kassab, disse, sem revelar nomes, que a decisão do grupo atende a um pedido feito por lideranças nacionais e estaduais do PSDB. "Houve um apelo do partido em nível nacional, de lideranças estaduais de vários locais e a bancada, embora tenha certeza de que a sua tese sairia vencedora, decidiu reconsiderar e não vamos concorrer", afirmou. "Duas candidaturas jogam água no moinho do PT."
O presidente nacional do PSDB, Senador Sergio Guerra (PSDB-PE) disse que Serra teve papel decisivo no acordo que definiu um candidato próprio para o PSDB. "Sem dúvida, equilíbrio, ponderação e firmeza, também sempre foram a marca dele ", respondeu ao ser questionado sobre o papel de Serra na decisão tomada no sábado, antes da convenção do partido, no domingo.
Fonte: Blog Entrelinhas
Nenhum comentário:
Postar um comentário