domingo, 31 de agosto de 2008

CARMINHA JEROMINHO É A SUPREMA OBRA-PRIMA DO SUPREMO

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Carminha: é assim que o Supremo julga

por Paulo Henrique Amorim

Máximas e Mínimas 1392

Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista

“O sol é o melhor desinfetante.”
(Autor anônimo)

. Diz o Globo de sábado: Na operação “Voto Livre, que mobilizou 230 agentes, a Polícia Federal prendeu 13 pessoas, entre elas a candidata a vereadora Carminha Jerominho, do PTdoB, filha do vereador Jerominho e sobrinha do deputado Natalino Guimarães, ambos já presos por envolvimento com milícias.
. Carminha Jerominho foi transferida para uma prisão de segurança máxima no Paraná, ficará em solitária, não receberá visitas e terá duas horas de banho de sol por dia.

. Por decisão do Supremo, sob a liderança do Supremo Presidente Gilmar Mendes – clique aqui para ler sobre ele e o “Plano Cohen” –, Carminha Jerominho poderá continuar a campanha eleitoral e se re-eleger vereadora.

. Registre-se, a bem da verdade, que Carminha Jerominho não foi algemada ao ser presa.

. O Supremo Tribunal Federal realizou em Carminha Jerominho a sua obra-prima.

. Ela continua candidata e, se for eleita, toma posse.

. E não foi algemada.

. E ainda há quem leve esse Supremo a sério.

Em tempo: um amigo do Conversa Afiada, obrigado por profissão a freqüentar o Supremo, expõe a estratégia do Ministro Carlos Alberto Direito (indicado por Nelson Jobim e pelo Presidente que tem medo). Direito votará sempre de dentro das trevas. Se o relator der um voto de qualidade, um voto iluminado pelo sol, e contra o voto dele, Direito pede vistas. Para esconder o seu voto contra, diante da qualidade do voto do relator. Esconde e adia. Tira o problema da pauta. Desvia a atenção do PiG. Não se contrapõe ao relator, no momento em que a sociedade aplaude o relator. Quando a memória do voto do relator e os aplausos se dissiparem, Direito vai lá e vota – contra. Foi o que fez com as células troncos embrionárias. E fará com a reserva indígena da Raposa Serra do Sol.

Em tempo 2: outro leitor do Conversa Afiada, que mora em Brasília e, também, é obrigado a cobrir as atividades do Supremo: “O Gilmar Mendes foi lá para cumprir uma tarefa. A primeira era fazer o ‘desmanche’ do Conselho Nacional de Justiça. E isso ele já fez. A outra é assumir a Presidência da República de fato e de direito. De fato, ele já assumiu.”

Fonte: Conversa Afiada

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MENDES E VEJA REEDITAM PLANO COHEN



MussoMendes: e se o
homônimo não for homônimo ?

por Paulo Henrique Amorim

Máximas e Mínimas 1391

Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista

“O sol é o melhor desinfetante.”
(Autor anônimo)

. As manchetes do PiG desta manhã chuvosa de domingo dizem que o Supremo Presidente, o nosso Mussolini, “exige”, “cobra”, “vai chamar o Presidente Lula às falas”, “convoca os Ministros do Supremo”, porque a Veja, a última flor do Fascio, diz que o Supremo Presidente foi grampeado (clique aqui para ler).

. Veja como o PiG está indignado:

Clique aqui para ler a manchete da Folha de S. Paulo.

Clique aqui para ler a manchete do Estadão.

Clique aqui para ler a manchete do Globo.

. Primeiro, é preciso saber se a Veja mente.

. Ou se é uma daquelas denúncias de contas secretas do Presidente da República no exterior.

. Segundo, quem é a fonte da Veja ?

. Não se pode dar credibilidade a uma denúncia tão grave, se a fonte é anônima.

. Terceiro, a Veja é o que é: uma cloaca que deveria ser fechada num programa de Saneamento Básico.

. A Abin diz que não grampeou.

. A PF diz que não grampeou.

. Por que se deve acreditar mais no Supremo Presidente do que na PF e na Abin ?

. E, se o Daniel Dantas, que responde a processos criminais por grampo ilegal, tiver feito grampo e, como de hábito, co-assinar “reportagens” da Veja ?

. E, se o nome de Gilmar Mendes aparecer numa investigação legal da Polícia Federal ?

. Não porque tenha sido diretamente grampeado.

. Mas, e se o seu nome tiver aparecido num grampo legal de outro investigado ?

. E, se o Gilmar Mendes que aparece numa investigação da Polícia Federal não for um homônimo ?

. Justifica-se, então, reeditar o Plano Cohen (*) para abafar a crise e dar o Golpe do “Estado de Direita”.

. O Supremo Presidente Gilmar Mendes é o líder do Golpe e seu maior beneficiário.

. Ele não ameaça as instituições.

. Ele já as destruiu.

. Ele É o Presidente Supremo.

. Ele é o nosso Mussolini.

Em tempo: diálogo com um leitor do Conversa Afiada:

- Como é que o Estadão e a Folha embarcam numa informação da Veja, com fonte anônima ?, ele pergunta.

- O que você esperava deles ?, pergunto.

- A Veja não tem um mínimo de credibilidade.

- Se o Brasil fosse um país sério como a Argentina, tinha feito com o Roberto Civita o que a Argentina fez com o tio dele, o Cesare Civita.

- O que a Argentina fez com o Civita ?, o amigo leitor perguntou.

- Disse assim: “andate via”.

- E se foi a própria Veja que grampeou e publicou ?

- Não tem importância. O Estadão e a Folha publicariam assim mesmo, mesmo depois de saber.

- Mas como é que pode ?

- Meu querido, é o golpe.

- Que golpe ?

- O Partido da Imprensa Golpista e o Golpe do “Estado de Direita”. Até parece que você não lê o Conversa Afiada ...

(*) Clique aqui para ler sobre o Plano Cohen no Wikipédia.

Clique aqui para ler o texto "Paranóia rechaçada", no site da Carta Capital.


Fonte: Conversa Afiada

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OBAMA DÁ O NÓ NOS FABRICANTES DO ÓBVIO

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por Luiz Carlos Azenha

Para compensar o dia de quem pagou 4 reais na Folha de S. Paulo para ler um artigo requentado do neocon Robert Kagan, assessor do John McCain:

do Frank Rich, no New York Times, neste domingo, 31/08/2008

Parem as máquinas. Essa eleição, afinal, não é sobre os Clinton. Não é sobre as colunas da Acrópole construídas no estádio de Denver. Não é sobre a Paris Hilton ou o Hanoi Hilton [nome que era dado à prisão em que John McCain foi mantido, quando foi prisioneiro de guerra no Vietnã]. Embora a eleição ainda possa ser sobre Sarah Palin [a vice de McCain]. Depois de uma orgia semanal de melodrama fabricado, sob o rótulo de "cobertura da convenção" na TV, Barack Obama desceu no estilo deus ex machina -- sim, isso também é grego -- para deixar as coisas claras. Os Estados Unidos enfrentam muitas dificuldades, ele disse, para se entregar "a uma eleição importante sobre miudezas".

Como foi notado de forma universal, Obama fez o que devia em seu discurso. Ele jogou fora a messiânica "Mudança na Qual Podemos Acreditar" por um discurso político mais concreto de "Mudança que Precisamos". Ele enfiou seus dentes políticos de Chicago [onde começou a carreira] em John McCain. Obama ainda é um cara fraquinho mas sua determinação de encarar os adversários (estrangeiros e republicanos) o transformou em um Denver Bronco plausível [o time de futebol que é dono do estádio em que Obama discursou, em Denver].

Mas isso é uma surpresa? Dificilmente. Nenhum grande discurso de Obama -- sempre definido antecipadamente como decisivo, "o mais importante de sua carreira" -- foi um desastre; a maior parte foi de golaços, quando não gols de placa. O que é mais surpreendente é como a mídia se mostra surpresa com o replay de resultados idênticos. De fato, a desconexão entre a realidade dessa campanha e como é percebida e apresentada pela mídia já se transformou em um fato. A disfunção da mídia é, em si, uma janela sobre a dinâmica das Eleições 2008.

Na Convenção Democrata, assim como durante as primárias, quase todas as narrativas estavam erradas. Aquelas eleitoras de Hillary -- mostradas na TV como um bando que perseguia câmeras nas ruas de Denver -- repetiria Chicago 1968 [quando houve distúrbios civis]. Com o apoio tácito de Hillary, a votação se tornaria uma guerra. Bill Clinton causaria destruição ao assumir o palco.

Na TV, cada um destes balões foi inflado até o momento de ser esvaziado pela realidade, quando os fabricantes do óbvio [bloviators] mais uma vez se disseram surpresos, em choque com o inesperado. Eles foram pegos de surpresa quando descobriram que Obama não era muito negro para conseguir os votos dos brancos, não era muito branco para conseguir votos dos negros, não era inexperiente para ser derrotado pela incomparável máquina bem organizada e financiada dos Clinton.

Enquanto isso, o candidato conhecido como "Obama sem Drama", por causa de sua frieza, estava fabricando sua própria história escondido nos bastidores. Enquanto vários comentaristas decretaram que a convenção estava chata -- poucos ataques a McCain na primeira noite, um apoio muito fraco de Hillary na terça e assim por diante -- Obama manteve as cartas escondidas e construiu, passo a passo, uma história que atingiu o climax na quinta-feira. O arco dramático foi meticulosamente calibrado, como toda a estratégia política de Obama.

Sua campanha, diferentemente do que dizem os homens da fantasia na TV, conhecia a verdade. A pesquisa do New York Times/CBS News, conduzida na véspera da convenção, demonstrou que os democratas não estavam tão divididos quanto o Partido Republicano. Nos dois partidos, 79% dos eleitores apoiavam seus respectivos candidatos. Uma pesquisa simultânea, do Wall Street Journal/NBC News, também demonstrou que 79% dos democratas apoiavam Obama o que, como escreveu Amy Walter no National Journal, é um índice ligeiramente mais alto do que os de John Kerry e Al Gore na mesma época -- 77% --, na véspera das convenções que os indicaram.

No entanto, evidências empíricas não conseguem competir com o "clássico favorito" da mídia, que é a novela dos Clinton. Então, quando Hillary declarou há um mês que seus delegados precisavam de uma catarse, certamente estava criando a base para um "golpe" na convenção. Mas nunca foi de interesse de nenhum dos Clinton sabotar Obama. O discurso de Hillay na terça-feira, podemos argumentar o melhor de sua carreira, foi tanto sobre seu próprio desejo de reconciliação com os democratas de Obama -- dos quais um dia ela pode precisar -- quanto de liberação de seus cabos eleitorais. Os Clinton nunca deixam de pensar no dia seguinte.

O mais recente golpe de sorte dos democratas é que a campanha de McCain ficou tão desnorteada quanto a imprensa com a falsa narrativa sobre Hillary. McCain queria escolher seu colega democrata Joe Liberman para vice. Um ex-democrata que difere do Partido Republicano ao apoiar o aborto poderia ter reanimado a campanha do maverick com mais força do que Palin, que está rompendo o teto de vidro [que limita as mulheres] com um atraso de 25 anos em relação aos democratas [que lançaram Geraldine Ferraro como vice lá atrás]. Liberman teria alguma força para enfrentar a trinca Obama-Hillary-Bill que vai invadir o Sul da Flórida [uma referência aos eleitores judeus que podem decidir a eleição na Flórida, um estado decisivo. Lieberman é de ascendência judaica].

A única razão que levou McCain a ceder à direita religiosa e escolher Palin é que ele acredita que existe um exército de mulheres leais a Hillary que vai mesmo votar num candidato conservador simplesmente por ser mulher. É isso o que acontece quando você acredita no que aparece na TV. Não só a premissa é falsa, mas é tão sexista quanto a piada cruel que McCain conta sobre Janet Reno, Hillary e Chelsea Clinton [a piada diz que Chelsea é filha de Hillary com a ex-secretária de Justiça, que é muito feia].

Dado o comportamento da mídia até agora não há razão para acreditar que os cenários falsos não vão se repetir. A questão é: o que leva isso a acontecer? Distorção ideológica, vício nos Clinton ou a insistente atração pelo McCain não dá conta de explicar tudo. Os jornalistas também são americanos -- ainda que muitos leitores duvidem disso -- e nessa hora grave, em que está em jogo o futuro da nação, podemos estar tão perdidos como todos os outros.

Nós também ficamos ansiosos e temerosos com os tempos duros na economia e com a perspectiva de mudança. O You Tube, meio que transformou a cultura e a política, não existia quatro anos atrás. Em quatro anos é até possível que nem todos, mas muitos, dos jornais e revistas que cobrem essa campanha nem existam no formato atual, se existirem. Os três telejornais das três grandes redes e os departamentos de jornalismo como existem hoje podem ser extintos até lá.

É um sinal dos tempos que a rede CBS não fez um estúdio para a sua âncora, Katie Couric, em Denver. É sintomático que a rede CNN consistentemente bateu a ABC e a CBS na audiência da semana passada e, contando o fim-de-semana, também a NBC. Agora que a mídia está sendo transformada na velocidade comparável ao da duplicação de capacidade dos microchips, a ascendência do cabo pode ser tão breve quanto o reino da AOL. Andrew Rasiej, o fundador do Forum da Democracia Pessoal, que monitora a intersecção da política com tecnologia, diz que quando as redes de TV medem seu sucesso pela fatia da audiência, "elas ainda contam cavalos quando o mundo já está contando locomotivas". A internet, nas suas interações infinitas, está erodindo toda a mídia do Século 20.

A campanha de Obama faz tempo está a bordo destas locomotivas digitais. Sua habilidade em contar sua história longe do radar da grande imprensa explica em parte porque a ascensão de Obama tem sido muitas vezes subestimada. Até agora estamos incertos de seu tamanho. A audiência extraordinária de Obama na TV, quinta-feira à noite, maior que a da abertura das Olimpíadas, que a do Oscar desse ano ou qualquer final do programa American Idol pode ser apenas uma contagem de cavalos. O alcance da campanha online -- contando com espectadores, assim como contribuintes de campanha e organização em rede -- permanece desconhecido.

Nada disso, nem o sucesso do discurso de Obama, garante a vitória democrata. O que é certo é que não há como prever o final dessa corrida. Apesar das nossas tentativas de prever o resultado dessa eleição usando o prisma de eleições recentes e não-recentes, continuamos fracassando. A convenção da semana passada não poderia ser transformada num replay dos anos 60, independentemente do esforço da imprensa em vender os partidários de Hillary como reencarnação de facções rebeldes do passado, dos democratas do Sul até a esquerda anti-guerra. Longe de ser descendente de 1968, a reunião democrata de 2008 foi a primeira que se manteve dentro do previsto e evitou os discursos politicamente corretos para agradar a cada grupo partidário.

Não voltamos a 28 de agosto de 1963. Como um jovem de 14 anos de idade, em Washington, eu estava no parque, levado pela minha mãe, uma professora, com a esperança de aprender alguma coisa [no discurso de Martin Luther King]. Numa época em que a capital, com sua grande população de negros, ainda estava distante um ano de votar para presidente, quem é que poderia imaginar que um dia um negro teria alguma chance de se eleger presidente? Eu, não.

Mas mesmo quando paro para respirar e apreciar esse momento marcante de nossa história, não é possível. Os tempos são outros. Depois da catástrofe dos governos Bush, os problemas graves que nos afligem em quase todas as frentes podem nos deixar com nostalgia de quando nossos problemas mais graves eram entre brancos e negros.

Como disse Obama, essa é uma eleição importante. Só vamos nos dar conta da magnitude de nossa escolha quando e se pararmos de nos distrair com coisas pequenas, quando não pequenas e imaginárias.

Fonte: Vi o Mundo

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MÁQUINA (REPUBLICANA) DE MOER CARNE

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de Paul Harris, no jornal britânico The Guardian

A "sala de guerra" dos republicanos em Denver parecia inofensiva. Era numa rua movimentada de um bairro de motéis modestos e postos de gasolina. Só um cartaz feito à mão, com uma seta e as palavras "John McCain" indicava o caminho.

Mas as aparências enganam. Mais de duas dúzias de assessores republicanos estavam acampados em Denver na semana passada, liderando os ataques contra Barack Obama, que discursava diante da Convenção Democrata por perto: "Viemos aqui para deixar os democratas putos", disse um assessor republicano com um sorriso.

Eles conseguiram. A cada dia novos anúncios martelavam um incansável batucar de negatividade, pintando Obama como muito liberal, muito inexperiente e praticamente um perigo para o futuro dos Estados Unidos. Luzes-guia do universo republicano desfilavam diante das câmeras numa demonstração disciplinada da construção da mensagem do partido. Uma performance típica veio do ex-prefeito de Nova York, Rudy Giuliani. "Há ainda uma série de questões sobre o preparo de Barack Obama para comandar o país", disse Giuliani, antes de dar um passo ao lado para mostrar o anúncio mais recente numa TV gigante de tela plana.

O anúncio atacou Obama como tão ignorante em política externa que é virtualmente uma ameaça para si mesmo. Tocou nas questões que amedrontam, como o terrorismo islâmico e as armas nucleares do Irã. Depois as posições de Obama em segurança nacional foram apresentadas como ingênuas ou fracas. "Esses são anúncios para contrastar", Giuliani disse depois. "Os dois lados fazem isso".

É uma meia-verdade. Os democratas lançam anúncios de ataque e fazem campanhas negativas, mas ninguém faz isso como o Partido Republicano. Sob uma sucessão de gênios da escuridão, o partido aperfeiçoou a arte negra das campanhas negativas. Criou a mais eficaz máquina de ataque do mundo ocidental, com o objetivo único de destruir oponentes e ganhar eleições. Para os adversários é uma fonte de choque, desgosto e mais do que inveja. Os tentáculos dessa máquina vão da campanha de McCain aos cantos obscuros de programas de rádio, da internet a grupos que se dispõem a propagar qualquer tipo de boato.

Agora essa máquina focalizou com intensidade em Obama. O clamor é alto e agudo: Obama é vaidoso, inexperiente, liberal e perigoso. O clamor é apoiado por um coro clandestino que sussura que ele tem um passado secreto no Islã e usa linguagem carregada de tintas raciais. E o volume só vai aumentar. Esta semana, enquanto McCain e os republicanos se reunirem na convenção em Saint Paul, Minnesotta, o barulho vai se tornar ensurdecedor. Tem um único objetivo -- manter a Casa Branca nas mãos republicanas a qualquer custo e contra toda a expectativa.

O atual cérebro da máquina de ataque republicana é conhecido como "o Bala". Ele é Steve Schmidt, um protegido do guru de Bush, Karl Rove. Apelidado tanto pelos resultados que obteve quanto pela própria careca, ele fez o nome como comandante da sala-de-guerra que destruiu o democrata John Kerry em 2004. Trazido para acertar a campanha em julho, Schmidt impôs disciplina em uma campanha desorganizada. Ele dissuadiu McCain de suas conversas informais com repórteres e mudou o foco, com o objetivo de tornar Obama inelegível.

Schmidt trabalha com o princípio de repetir a mesma mensagem simples em tom alto e freqüentemente. Anúncios atacam Obama como uma "celebridade" ou um falso messias. Com isso se espera transformar o ponto forte de Obama -- a capacidade de inspirar --- num problema fatal. Essa estratégia é apoiada por outra mensagem: Obama não está preparado para ser presidente. "Não está preparado-2008" é o nome de um site da internet montado pela campanha. A linguagem pode ser dura. "Estamos na caça da Casa Branca. Barack Obama terá que mostrar mais que uma língua esperta, palavras brilhantes e um belo terno", diz o republicano de Maryland Michael Steele.

A campanha parece feliz ao torcer palavras. No anúncio que Giuliani mostrou, Obama foi atacado por se referir à "pequena" ameaça nuclear do Irã. Na verdade, Obama disse que o problema do Irã era "pequeno se comparado com a União Soviética". Outros comerciais misturam imagens do candidato democrata com imagens de Britney Spears. Um anúncio em estilo de piada pintou Obama como uma figura no feitio de Moisés, capaz de partir o Mar Vermelho. Brincando com a mensagem de "esperança" e "mudança" o radialista Rush Limbaugh se refere no ar a Obama como "o Messias".

Os cães de ataque se abraçam sem problemas em políticos que já atacaram. Na semana passada os republicanos elogiaram as conquistas e o brilhantismo de Hillary Clinton, tentando explorar divisões no Partido Democrata. Agora buscam ex-apoiadores de Clinton que apóiam McCain e os mostram como se fossem prisioneiros de guerra. "O McCain realmente admira e respeita [Hillary] e elogia a campanha que ela fez", diz Carly Fiorina, uma assessora de McCain. São palavras surpreendentes vindas de uma figura importante de um partido que passou duas décadas demonizando Clinton como uma feminista esquerdista. Mas essa é uma das chave do sucesso da máquina de ataque republicana: o passado não existe. O que interessa é o agora. Os democratas sabem que mais do mesmo virá. "Essa será a pior campanha que já enfrentamos", diz Terry McAuliffe, ex-dirigente da campanha de Clinton.

Schmidt e sua operação de relações públicas são apenas a ponta visível desta máquina. Os anúncios mais agressivos não são feitos pela campanha de McCain. Eles são feitos pelos assim chamados "grupos 527" -- nomeados pelo número de um artigo da lei -- que não podem ser ligados oficialmente a qualquer campanha. Esses grupos são financiados privadamente e existem paralelamente às campanhas, uma espécie de CIA por fora do orçamento. Os democratas também são ajudados por grupos 527, embora Obama tenha tentado reduzir essas atividades. Mas os republicanos as consideram altamente eficazes.

A campanha do Swift Boat, que levantou questões sobre o serviço militar de John Kerry no Vietnã, na campanha de 2004, era de um grupo 527.

[John Kerry, condecorado por bravura no Vietnã, perdeu a eleição para George W. Bush, que fugiu do serviço militar]

Foi financiada principalmente por um bilionário do Texas, Harold Simmons. Simmons doou o equivalente a 6 milhões de reais a um grupo 527 chamado American Issues Project. Na semana passada o AIP lançou o anúncio mais negativo da campanha até agora. Ligou Obama a Bill Ayers, um ex-radical que pertenceu ao Weather Undergound, um grupo que usou bombas nos anos 60 [durante a campanha por direitos civis]. Ayers, agora professor, fez parte de um grupo contra a pobreza do qual Obama também participou e os dois têm outras ligações menores. O anúncio, no entanto, usa imagens dos atentados de 11 de setembro para pintar Obama como amigo dos terroristas. Muitos outros anúncios do AIP estão em preparação.

Mas não são apenas os 527 que atuam. Há uma indústria dedicada a publicações anti-Obama. A mais popular é "The Obama Nation", do polemista republicano Jerome Corsi. O livro pinta um Obama radical que teve uma ligação passada e secreta com o islamismo -- críticos dizem que é possível provar que o livro está errado. Corsi também pediu a Obama que faça um teste de drogas e advertiu que ele pode criar um "departamento contra crimes de ódio", se eleito. "The Obama Nation" é um bestseller promovido por figuras conhecidas da mídia, como o comentarista conservador Sean Hannity, da Fox News. Em seu show, Hannity permitiu a Corsi dizer que Obama quer que mulheres façam aborto mesmo depois da criança ter nascido. Em vez de refutar a acusação, Hannity se disse chocado. O incidente fez com que um grupo de análise de mídia liberal afirmasse que Obama nunca apoiou o assassinato de recém-nascidos.

Ainda assim Hannity e um grupo de figuras da mídia conservadora fazem eco aos ataques da máquina republicana e os propagam para milhões. Esse grupo inclui gente da TV como Glenn Beck, da CNN (que na semana passada chamou Obama de "marxista"), Matt Drudge na internet e personalidades do rádio como Rush Limbaugh, o mais poderoso dos Estados Unidos, com uma audiência estimada de 20 milhões de ouvintes em 600 emissoras. Limbaugh freqüentemente pinta Obama como tendo sido beneficiado pela "ação afirmativa" em sua carreira política. Ele também faz freqüentes referências ao sobrenome de Obama, Hussein. São duas formas de inflamar questões raciais e religiosas. E podem ser eficazes.

O pai da moderna máquina de ataque republicana foi Lee Atwater, originário da Carolina do Sul, apaixonado pela guitarra de blues e pelos ataques políticos brutais que, antes de morrer de câncer no cérebro em 1991, escreveu cartas para se desculpar diante daqueles que suas campanhas haviam destruído.

Antes de sua profunda mudança Atwater mudou a cara da política americana. Durante os anos 70 ele transformou o pessoal em político. As táticas dele foram condenadas mas foram eficazes, especialmente na destruição do candidato presidencial democrata Michael Dukakis em 1988 e na eleição de George Bush pai. Dukakis foi acusado de ser depressivo, a mulher dele por um dia ter queimado uma bandeira americana e finalmente Dukakis foi atingido por um anúncio com tons raciais estrelado pelo assassino negro Willie Horton, condenado por roubo e estupro depois de ser solto num programa que dava liberdade condicional em fins-de-semana. [Dukakis era governador de Massachussets quando Horton foi solto, tirando proveito do programa]. "Lee Atwater arruinou a política. Tudo começou com ele", diz McAuliffe.

Atwater foi mentor do jovem Karl Rove. Rove, por sua vez, foi mentor de Schmidt. "Há uma razão pela qual Steve Schmidt, que foi cria de Rove, que foi cria de Atwater, está dirigindo a campanha de John McCain", diz Joe Conason, autor do livro Big Lies. A razão é simples -- essas táticas funcionam. Quando os republicanos estão se distanciando de Bush, atacar Obama pessoalmente é o caminho mais sólido.

A campanha de Obama parece determinada a não repetir os erros de Kerry, Al Gore e Dukakis. Está contra-atacando. A admissão de McCain de que ele não sabia quantas casas tinha foi explorada ferozmente. A campanha de Obama usa palavras-código para se referir à idade de McCain. Em seu discurso de quinta-feira passada [na Convenção Democrata] Obama usou linguagem dura para atacar McCain. De fato, ele fez ameaças veladas de que fará novos ataques, quase que pedindo para que McCain faça dessa campanha uma briga pessoal.

A campanha de Obama enfrentou os anúncios negativos agressivamente. Sítios da internet foram criados para desmentir acusações. Quando o anúncio da AIP sobre Ayers foi lançado, assessores de Obama entraram em contato com emissoras de TV para pedir que fosse rejeitado. Algumas concordaram, outras não. Mesmo a Fox não colocou no ar. A campanha foi ao Departamento de Justiça pedir que os anúncios fossem tirados do ar. Essa atitude relembra a postura de Bill Clinton antes de chegar à Casa Branca. O livro de Corsi também foi recebido com uma onda de desmentidos que reduziu o seu impacto. "O livro de Corsi não foi bem sucedido. Não como o ataque do Swift Boat", disse Conason.

Obama aprendeu a se defender mas a máquina de ataque democrata é muito menor que sua equivalente republicana. De qualquer forma já se sabe como um ataque contra McCain funciona. Em 2000 a máquina republicana quebrou McCain quando ele enfrentava Bush nas primárias. Então, sob a liderança de Rove, McCain foi pintado como um homem instável que poderia ter tido uma filha ilegítima negra. Isso destruiu as chances de McCain. [A instabilidade teria sido causada por tortura quando McCain foi prisioneiro de guerra no Vietnã; quanto ao boato sobre a filha, McCain tem uma filha adotiva que é negra].

Agora a mesma máquina apóia McCain. Esta semana em St. Paul essa máquina se prepara para repetir as cinco vitórias nas últimas sete eleições. Ainda assim, em meio a tantas acusações, talvez este ano haja algo mais importante em jogo do que a Casa Branca. Meses antes de morrer, contaminado por um terrível câncer e sem poder se mover, Atwarer escreveu um artigo para a revista Life. Ele apelou para que futuros líderes políticos corrigissem esse estilo faminto de fazer política que ele aperfeiçoou.

"Eles devem ser forçados a falar ao vácuo espiritual que está no coração da sociedade americana, esse tumor da alma", ele escreveu. Mas, enquanto o campo de McCain se prepara, a maior parte dos assessores republicanos pensa nas muitas vitórias de Atwater. Poucos vão considerar o custo dessa tática ou o pedido que Atwater fez antes de morrer.

Quem são os cães de ataque?

Sean Hannity

Ninguém faz o slogan da Fox News, de ser "justa e equilibrada", parecer mais ridículo do que Hannity. O apresentador é tão de direita quanto possível e é altamente eficaz como parte da propaganda republicana. Ele tem um show com o liberal Alan Colmes, mas Colmes faz o papel de apanhar, não de uma visão alternativa. Hannity promove o trabalho de Jerome Corsi.

Jerome Corsi

Corsi ganha a vida publicando livros em que prefere a polêmica aos fatos. O primeiro ataque do nativo de Cleveland foi contra John Kerry, num livro chamado Unfit for Command. Mas seu "grande sucesso" foi o The Obama Nation. É um bestseller na lista do New York Times. Quando o título é falado rapidamente faz um trocadilho para "abominação". Corsi deve achar engraçado.

Rush Limbaugh

Um colosso dos conservadores dos Estados Unidos, o programa de rádio dele é ouvido por milhões. Tem um ponto-de-vista altamente conservador, no qual o aquecimento global não existe e há terroristas em todo canto. Ele sempre fala sobre a questão da raça de Barack Obama -- mas pediu aos ouvintes que apoiassem Obama nas primárias democratas, no que batrizou de Operação Caos, parte da estratégia de dividir o partido adversário.

Glenn Beck

Crítica do "politicamente correto" no rádio e na TV. Certa vez disse, do documentarista Michael Moore: "Estou pensando se poderia matá-lo pessoalmente ou poderia contratar alguém para fazê-lo. Acho que daria conta". Recentemente perguntou a um pastor, no ar: "Obama é o anti-Cristo?". Escreveu dois bestsellers: Um Livro Inconveniente e Os Estados Unidos Reais: do Coração e do Interior.

Steve Schmidt

Conhecido como "a Bala" por sua careca e sua tática, Schmidt é o autor da estratégia de ataque de John McCain. Ele é disciplinado e opera nos bastidores. É muito eficaz e ajudou a destruir John Kerry em 2004 e a reeleger Arnold Schwarzenegger como governador da Califórnia em 2006. O que não é comum para um profissional de campanha, diz que odeia Washington DC e prefere sua casa na cidade liberal de San Francisco.

Fonte: Vi o Mundo

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O BRASIL QUER FAZER COCÔ NO RIO AMAZONAS

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por Luiz Carlos Azenha

Se um dia me fosse dado o direito de gastar dinheiro público eu faria uma coisa muito simples: pagaria uma passagem de avião para cada brasileiro conhecer a Amazônia. Nada de ir apenas a Manaus. Seria obrigatório fazer "programa de índio". Viajar de barco. Subir o rio Negro e o Solimões. Ir aos confins do Brasil, às fronteiras com a Guiana, a Venezuela, a Colômbia e o Peru.

Tive a sorte de fazer isso, graças à família Marinho e à TV Cultura de São Paulo -- ou seja, neste último caso graças ao contribuinte paulista. Pouca gente pode dizer: "Conheço a Amazônia". É pretensioso. Dá para dizer: conheci alguma coisa. É fascinante. É maravilhoso. É inacreditável. Você volta com outra visão do Brasil.

Pagar uma viagem para cada brasileiro conhecer a Amazônia, presumo, teria um caráter altamente educativo. Foi o que aconteceu comigo. Minha ficha caiu quando eu subia o rio Solimões em direção a Tefé, de onde viajei para conhecer a Reserva de Desenvolvimento Sustentável de Mamirauá. Esta reserva é um modelo da exploração economicamente sustentável da floresta. Os moradores locais foram treinados para policiar o parque. São os maiores interessados em evitar a destruição. Há um sistema de rodízio que permite a pesca em algumas lagoas. Há um sistema que permite a retirada de madeira mas nunca de árvores-matrizes, responsáveis pela reprodução da floresta. A reserva é visitada por centenas de turistas americanos e europeus, que pagam caro para fotografar os bichos.

Foi nessa viagem que eu me dei conta de minha ignorância sobre a Amazônia. E da necessidade de mudar de paradigma quando se discute o "desenvolvimento" da Amazônia.

Não dá para aplicar, na Amazônia, o mesmo modelo de desenvolvimento aplicado em São Paulo.

Para início de conversa é preciso considerar a complexidade do sistema de águas e das enchentes. Boa parte da Amazônia fica sob a água por alguns meses do ano. É justamente por isso que não dá para aplicar, na Amazônia, a agricultura intensiva de outras regiões brasileiras. A interligação dos rios significa que, se você colocar 5 milhões de pessoas no estado de Roraima o cocô dessas pessoas vai acabar no rio Branco, que deságua no Negro, que acaba no Amazonas.

Se você colocar 5 milhões de pessoas em Roraima, da noite para o dia, você vai precisar de uma indústria local que produza -- e polua -- para cinco milhões de pessoas. Onde é que vai parar essa sujeira? Vai ficar contida em uma estufa em Boa Vista? Ou vai descer os rios e se juntar à poluição causada por outros milhões?

O Brasil desconhece a Amazônia. E nem sabe direito o que quer fazer nela e dela. Enquanto isso o Brasil deveria ter cuidado com o que faz na Amazônia. Para não repetir lá, com efeitos muito mais perversos, o que fez em São Paulo com o rio Tietê, por exemplo. Com a impermeabilização dos solos. Com a destruição da mata Atlântica.

Destruir o brasileiro já mostrou que sabe.

Sabemos preservar? Queremos preservar? Esse é o desafio. Porém, pelos comentários que leio neste site a respeito das terras indígenas nós não temos nada a aprender com eles. Temos que "civilizá-los", transformá-los em consumidores plenos. O Brasil branco só vai ficar feliz quando estiver fazendo cocô, em peso, no rio Amazonas...

Fonte: Vi o Mundo

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A FOLHA, IMPRESTÁVEL

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por Luiz Carlos Azenha

Desculpem. Não quero parecer pedante. Mas é que depois de uma temporada fora do Brasil -- e, principalmente, depois de uma temporada me informando sobre o Brasil pela internet -- não posso deixar de lamentar a qualidade dos jornais brasileiros. Aliás, daquele que se diz o melhor jornal brasileiro, a Folha de S. Paulo.

Ai que tristeza. Morri com 4 reais.

Nem sei por onde começar. Sei, sim. Vou começar pelo artigo que a Folha de S. Paulo reproduziu sobre Barack Obama, assinado por Robert Kagan.

Demonstra a falta de noção do jornal.

Como notou a Folha, nas letrinhas pequenas, Kagan é assessor informal do candidato republicano John McCain.

Só isso já deveria ser motivo para o jornal não publicar o artigo de Kagan sobre Obama.

Kagan é neocon. David Brooks é neocon. William Kristol é neocon. Os neocons são uma "praga" . Contaminaram o "jornalismo" americano. Usei aspas pelo fato de que não se pode falar em jornalismo neocon. As duas palavras não se misturam. Ou não deveriam se misturar. Os neocon primeiro são ativistas políticos. A verdade factual não interessa a eles. São propagandistas de sua posição ideológica. O jornalismo é apenas um instrumento, um meio.

Acreditar que o Kagan vai escrever algo que não tenha um objetivo político é o mesmo que acreditar que o Ali Kamel ou o Reinaldo Azevedo estão preocupados com a verdade factual. Eles se acreditam envolvidos numa gigantesca batalha ideológica contra o "mal" de ocasião: hoje é o Lula, amanhã é estado brasileiro, depois de amanhã o Bolsa Família, no dia seguinte os professores do ensino público e mais adiante os "esquerdistas".

O importante é ter um "inimigo" a ser derrotado através do convencimento. O jornalismo é uma ferramenta de convencimento. Se for preciso suprimir uma informação vale, já que para os neocon o jornalismo, repito, é apenas um meio para atingir um objetivo. É só ler o Weekly Standard para entender: o objetivo da revista é propagandear o discurso neocon.

Voltando ao Kagan, no artigo ele diz que Barack Obama também terá uma política externa intervencionista. Afirma isso baseado em um discurso de Obama. Só saberemos a política externa do democrata quando ele assumir, se for eleito. É possível especular. Obama é um camaleão que se adapta às circunstâncias. Aliás, como qualquer político.

Meu ponto é que você não pode julgar o Obama pelo que escreve um assessor do John McCain, especialmente um neocon. O objetivo do artigo do Kagan é desacreditar Obama entre a esquerda do Partido Democrata, cuja militância é importante numa disputa eleitoral como a que vai acontecer em novembro.

Os neocon acreditavam que a derrubada de Saddam Hussein criaria no Iraque uma democracia secular que serviria de farol para o Oriente Médio.

Produziram um governo majoritariamente xiita, fortemente influenciado pelo Irã, que ganhou importância regional e hoje projeta seu poder no Líbano -- através do Hezbollah -- e nos territórios palestinos -- através do Hamas.

Na cabeça dos neocon o próximo objetivo é "patrocinar" um ataque dos Estados Unidos -- ou Israel -- ao próprio Irã. Na cabeça deles depois de ter livrado Israel de um inimigo regional -- o Iraque -- agora falta o Irã.

Eles acreditam que tudo se resolve pela via militar, não levam em conta a "lei das conseqüências não pretendidas" -- que deu em um governo xiita no Iraque -- e desprezam a história, a diversidade e as nuances dos países árabes e muçulmanos.

Para os neocon o negócio é sentar paulada na cabeça da "turma dos turbantes", acreditando que isso beneficia Israel.

Como notou um comentarista em um jornal de Israel, os israelenses deveriam se preocupar quando entre os grandes defensores do país nos Estados Unidos figuram líderes de um grupo cristão que crê no fim do mundo.

O que os neocon estão fazendo agora, nos Estados Unidos, é se posicionando para influenciar quem quer que seja eleito, depois de terem sido chutados do governo Bush.

Preferem John McCain, que tem a guerra no sangue.

Mas, num governo Obama, travarão sua guerra ideológica com o objetivo que descrevi acima.

Um bom jornal ouviria gente pró e contra o Obama, com o objetivo de tentar antever a tendência da política externa de um eventual governo democrata. Mas isso envolve tempo e dinheiro. Fica mais fácil mandar traduzir um artigo de propaganda eleitoral de um assessor de McCain e publicá-lo como "jornalismo".

Fonte: Vi o Mundo

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A Folha, imprestável II

por Luiz Carlos Azenha

A Folha de S. Paulo, desmentida pelos fatos, insiste na mentira.

É inacreditável.

O jornal publicou um editorial, Ocupar as Fronteiras, desmentido pelo Itamaraty.

O editorial dizia que o Brasil apoiou a Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas e que essa declaração contraria a Constituição Brasileira. Ou seja, uma acusação séria.

O fato, que a Folha omitiu, é que a extrema-direita doidivanas usa a declaração supra-citada como exemplo de que os indígenas brasileiros serão usados para desmembrar o Brasil.

Essa "viagem" tem um objetivo: tomar terra dos indígenas, em nome das mineradoras e do agronegócio.

Como notou o Itamaraty, contestando o editorial da Folha, a declaração acima citada não tem "coercitividade jurídica". O que o Itamaraty quis dizer, de forma diplomática, é que o documento não vale nada.

Além disso, a própria declaração contém uma cláusula -- convenientemente omitida pela Folha -- dizendo que o documento não pode ser usado como endosso em "qualquer ação direcionada a desmembrar ou a reduzir, total ou parcialmente, a integridade territorial ou a unidade política de Estados soberanos e independentes".

Ou seja, o jornal errou e, em vez de assumir, reafirma o erro cometido.

A Folha virou porta-voz da extrema direita doidivanas, que está por trás da campanha para extingüir a reserva Raposa/Serra do Sol, em Roraima.

Feito isso, essa mesma turma quer acabar com a reserva dos ianomâmis e outras.

Ser a favor da defesa das fronteiras brasileiras é o mesmo que ser a favor do fim do câncer.

Todo mundo é.

O problema é como fazer isso.

Os militares, sabemos, acreditam que a integração deve ser feita pelo desenvolvimento no modelo que se deu aqui em São Paulo: enchendo a Amazônia de indústrias e produção.

A lógica é perversa: vamos destruir tudo. Feito isso, os Estados Unidos e a Europa não poderão cobiçar a Amazônia.

Mas existe uma opção, sim.

É o Brasil imaginar que a integração econômica da Amazônia se dará sem a devastação da floresta, num mundo que está se tornando pós-industrial, em que o valor dos serviços -- turismo, por exemplo -- será maior que o valor da manufatura.

Nesse mundo a ocupação da Amazônia será feito dentro de um zoneamento, com a definição prévia de áreas de agronegócio, de mineração, produção de energia e assim por diante.

As reservas indígenas têm um papel a desempenhar neste mundo: além da preservação cultural, a preservação dos bens da União contidos nelas. Rios, matas, santuários ecológicos.

A biodiversidade será o engenho de uma economia moderna, dos séculos 21 e 22.

Estou falando na exploração dos recursos naturais com o objetivo de desenvolver a biotecnologia e outras indústrias "limpas".

Vamos transformar o rio Amazonas num imenso Tietê? É isso o que interessa?

Infelizmente, este é um debate quase inexistente no Brasil.

O curioso é notar como o discurso de defesa "dos interesses nacionais" é usado.

Se for para tomar terra dos índios, em nome do agronegócio e das mineradoras, vale se enrolar na bandeira do Brasil.

Mas se o governo brasileiro fala em aumentar sua participação nos lucros do petróleo aí não pode.

Aí é o estado ameaçando a iniciativa privada.

Ou seja, estamos assistindo à defesa seletiva da soberania brasileira.

Soberania sim, mas desde que em defesa dos interesses da elite branca do Sul Maravilha.

Fonte: Vi o Mundo

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sábado, 30 de agosto de 2008

Grito dos Excluídos prepara manifestações para a semana do 7 de setembro

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Carta da Comissão 8/CNBB apoio ao 14º Grito de 2008

Irmãos e Irmãs! Companheiros e companheiras!

A Coordenação Nacional do Grito dos Excluídos, juntamente com as Pastorais Sociais e movimentos populares, conta com o apoio e a participação de todas as comunidades, escolas e organizações sociais na realização das diversas atividades do Grito Nacional, a se realizarem em muitas localidades do nosso país na semana que antecede o dia 7 de setembro. Neste ano, na sua 14ª edição, o Grito dos Excluídos reforça a Campanha da Fraternidade, tendo como tema "A Vida em primeiro lugar – Direitos e participação popular".

Uma das maiores atividades do Grito dos Excluídos acontece no dia 7 de setembro, no Santuário Nacional de Aparecida, juntamente com a Romaria dos Trabalhadores. Nos estados, municípios, dioceses e paróquias, as iniciativas visam somar esforços em defender todas as formas de vida, desde o seu início até o seu declínio natural. O grito visa também: lutar contra as formas de exclusão e as causas que levam o povo a viver em condições de vida precárias e muitas vezes sem perspectiva de futuro; denunciar a política econômica que privilegia o capital financeiro em detrimento dos direitos sociais básicos; construir alternativas que tragam esperança aos excluídos e perspectivas de vida para as comunidades locais; promover a pluralidade e igualdade de direitos, bem como o respeito nas relações de gênero, raça e etnia; multiplicar assembléias populares para discutir a organização social a partir do município, fortalecendo o poder popular em tempos de eleições municipais.

Diante de situações de exclusão, Jesus defende os direitos dos fracos e o direito a uma vida digna para todo o ser humano. O compromisso com esta causa nos compromete com o esforço de superação da exclusão em nosso país, participando da construção de uma sociedade justa e solidária.

Dom Pedro Luis Stringhini – Presidente da Comissão Episcopal Pastoral para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz.

Website: http://www.gritodosexcluidos.org/

E-mail: gritonacional@ig.com.br



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Barbariecracia

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por Frei Betto

O êxodo da população do bairro carioca de Vigário Geral, acossado pelo tiroteio entre traficantes e policiais, deixa sem aulas 3.071 crianças, fecha o comércio local, impede os moradores que ali permanecem de exercerem o direito elementar de ir e vir.

A frágil democracia brasileira se encontra ameaçada nas grandes cidades. À margem do Estado legal se expande e fortalece o Estado ilegal. A barbárie se faz presente lá onde o poder público se faz ausente. Quando muito, o Estado marca presença eventual como força repressiva, jamais como ente administrativo.

Em favelas, impera o narcotráfico, que coopta crianças e jovens, cobra proteção do comércio local, administra bailes e quadras de esportes, pune severamente quem transgride a "lei do cão" e ainda presta assistência social a vizinhos, como internação hospitalar, compra de remédios, bolsas de estudo, consertos domiciliares e ampliação de barracos.

Nas periferias, as milícias, em geral dominadas por policiais, ditam normas e procedimentos: cobram pedágio dos moradores e comerciantes, controlam o fornecimento de gás, monopolizam o transporte em vans e microônibus, impõem aos eleitores seus candidatos.

Quanto mais omisso o poder público nessas áreas densamente povoadas por famílias de baixa renda, maior o império da barbariecracia – o regime da barbárie, que se impõe pelo terror.

Moradores de favelas e subúrbios, em sua imensa maioria, são gente honesta e trabalhadora, como constatei nos cinco anos em que morei na favela de Santa Maria, em Vitória. Porém, são desprotegidos enquanto cidadãos. Não dispõem de áreas de lazer, esporte e cultura; as escolas são sucateadas, os professores mal remunerados (e ainda há governos que reagem ao piso nacional), o ensino é de má qualidade; o serviço de saúde agoniza; o saneamento é precário; o número de moradias construídas com financiamento público é ínfimo.

Basta mapear as obras do poder público, como a expansão do metrô carioca, para se constatar que a prioridade recai sobre a minoria da população de renda média ou alta. A parcela capaz de retribuir em dividendos eleitorais. É esta reduzida, mas poderosa faixa da população – formadora de opinião –, que merece o melhor serviço público. O resto, considerada a inexistência do Deus-dará, é empurrado às mãos dos meliantes.

Entre os municípios do Rio e São Paulo, há pelo menos 2 milhões de jovens, de 14 a 24 anos, que não terminaram o ensino fundamental. Desse contingente procedem 80% dos homicidas e também 80% dos assassinados. O que comprova que a violência urbana não decorre da pobreza, mas sim da falta de educação de qualidade.

Se o Estado se fizesse presente nessas áreas explosivas, através de escolas e cursos profissionalizantes, atividades esportivas e artísticas, com certeza o narcotráfico perderia força a médio prazo. Nem o próprio traficante deseja que seu filho lhe siga os passos.

E quando o governo fará uma ampla reforma nos critérios de seleção e formação de policiais civis e militares? Como se explica que agentes do Estado cometam assassinatos, tráfico de armas e drogas, tortura e roubo de bens encontrados em mãos de bandidos?

Infelizmente, no Brasil cultura é luxo da elite. Basta conferir o orçamento do Ministério da Cultura. As poucas iniciativas dependem do mecenato de empresas que raramente investem no mundo dos pobres.

Esta é a mais perversa forma de privatização: a que cede aos traficantes e às milícias clandestinas o direito de agir como um Estado dentro do Estado. Como todos sabemos que eles não delimitam seu raio de ação às áreas de baixa renda, as classes média e alta se tornam reféns permanentes da barbárie, seja invadidas pelo pavor ao risco de violência, seja pelo compulsório confinamento às grades de suas moradias e à blindagem de seus veículos.

Imaginem se os R$ 60 bilhões gastos por ano em segurança privada no Brasil fossem investidos em educação de crianças e jovens em situação de risco e na formação de policiais íntegros!

Frei Betto é escritor, autor de "Calendário do Poder" (Rocco), entre outros livros.

Fonte: Correio da Cidadania

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sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Fiscalização resgata trabalhadores em área da Petrobras

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Trabalhadores contratados por terceiros para derrubada de árvores foram encontrados pelo governo federal em fazenda comprada pela empresa estatal para a exploração de xisto


Por Repórter Brasil

O grupo móvel de fiscalização do governo federal resgatou hoje pelo menos 12 pessoas em situações degradantes de trabalho na fazenda Dois Irmãos, pertencente a Petrobras, a oito quilômetros do centro do município de São Mateus, Estado do Paraná. Os trabalhadores atuavam no desmatamento de área que foi comprada para a extração de xisto.

A empresa permitiu que os antigos donos explorassem a madeira da fazenda entre 2003 e este ano, mas a autorização de desmatamento da área de 374 hectares estava em seu nome. Os ex-proprietários (ou pessoas que compraram deles os direitos de exploração) contrataram, então, trabalhadores para fazerem a derrubada.

Dentre as mais de 50 pessoas encontradas no serviço, o grupo móvel considerou que, ao menos, 12 pessoas estavam em condições degradantes, que desrespeitavam as normas de saúde e segurança do trabalhador e alojadas em barracos de lona sem condições de habitação. Segundo Benedito de Lima e Silva Filho, auditor fiscal do trabalho e coordenador da ação, os trabalhadores não tinham registro e parte deles não estava recebendo salário. A condição foi considerada pelos fiscais do trabalho e o Ministério Público do Trabalho como análoga à de escravo.

A operação, que começou nesta quarta (27) e contou com a participação do procurador do Ministério Público do Trabalho Gláucio Araújo de Oliveira e de agentes da Polícia Federal, também encontrou quatro jovens com menos de 18 anos, sendo que um deles com 16.

A empresa - que ainda não tomou posse dessa área para explorar o xisto - afirmou que não é a responsável pelos resgatados. Mas, de acordo com Benedito, ela vai arcar com os direitos trabalhistas, uma vez que os contratadores de mão-de-obra não têm condições de pagá-los. A Petrobras receberá os autos de infração resultantes da ação e o Ministério Público do Trabalho irá acordar com a empresa um termo de ajustamento de conduta para evitar que o ocorrido se repita.

Os resgatados estão alojados em hotéis aguardando o pagamento de seus direitos, o que deve ser feito nesta sexta (29). A empresa deve assumir diretamente o processo de corte de madeira e limpeza no restante da área.

A Petrobras é signatária do Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo e, desde 2005, corta a comercialização de etanol de usinas presentes na "lista suja" do trabalho escravo do Ministério do Trabalho e Emprego.

Fonte: Repórter Brasil

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A História das Coisas - vídeo imprescindível, se ainda queremos salvar a Terra.



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Mac Dia Feliz: o ouro de tolo

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Poderíamos comparar o Mac Dia Feliz, guardadas as devidas proporções, a um “Projétil Feliz”, “Droga Feliz” ou “Álcool Feliz”, onde os incautos de boa vontade poderiam comprar e consumir os referidos produtos em nome da solidariedade aos dependentes químicos ou da “sensação de segurança”.

por Ary da Silva Martini

A Chama Olímpica continua acesa. Pequim não morreu! Pequim é aqui! Nesse dia 30, que se repete desde 1988, Gustavo Borges e a dupla Lara Teixeira e Nayara Figueira (nado sincronizado) comandarão com potentes braçadas e perfeitos movimentos, o envio para os estômagos de alegres famílias, milhares de Big Macs (com 504 Kal, é o maior de todos!). Nesse dia, ao ingerir um ou mais Big Mac, você estará colaborando com o combate ao câncer infanto-juvenil. Coma muitos Big Macs (é o que diz o site institucional)! Quanto mais você comer, mais estará ajudando!

Uma verdade inconveniente: desde 1988 essa é a maior fonte de recursos para o combate ao câncer infanto-juvenil. Isso é uma vergonha! Seria muita pretensão minha desconstruir a lógica perversa que a campanha divulga. Também me faltam elementos (embora inúmeras publicações e estudos médicos já divulgados) para afirmar que o consumo de carne vermelha (principalmente) provoca alguns tipos de câncer e comprovadamente o Mal de Alzheimer. Sobre isso, nada encontrei no site da empresa. Pelo contrário. Lá, “o doutor” justifica e induz ao consumo: “seu filho pode comer à vontade – muitos lanches – desde que você não note início de obesidade”. Ou “crianças e adolescentes em fase de crescimento precisam comer seis vezes ao dia”

Fecha o pano. Vamos a Londres.

No período de 19 a 25 de maio, aconteceu em Londres a National Vegetarian Week – 2008. A Associação Vegetariana do Reino Unido, fundada em 1847, é a mais antiga do mundo e desde 1992 organiza a Semana Vegetariana para divulgar o vegetarianismo e seus benefícios.
No evento ocorreu o lançamento do documentário holandês Meat the Truth, assinado por Marianne Thieme, membro do parlamento holandês e criadora do Partido dos Animais (o primeiro e único no mundo). O documentário enfatiza as conseqüências ambientais de uma dieta rica em proteína de origem animal, assim como os dados estatísticos apresentados no filme, comprovam que se todos os moradores do Reino Unido deixassem de comer carne por um dia, seria o mesmo que tirar cinco milhões de carros das ruas por um ano. Dentro da mesma lógica, seria possível alimentar, não fosse a indústria da carne, 40 bilhões de pessoas somente nas terras já utilizadas.

A autora talvez tenha tentado complementar um vazio deixado por Al Gore, em "Uma Verdade Inconveniente", provavelmente intimidado pela poderosa indústria que sustenta o gigantesco consumo de carne nos EUA.

Ao contrário das grandes estréias na Inglaterra, no lançamento do filme Marianne dispensou o glamour da limusine e chegou ao cinema de bicicleta-táxi, acompanhada de outros membros do partido.

Toda a cadeia produtiva que envolve a agricultura e a pecuária para tal fim, requer combustível não renovável, cereais processados quimicamente, hormônios e fármacos com índices quase letais para o organismo humano e consumo induzido pela indústria, tendo como foco principal o homem adulto e de forma imoral e covarde o consumidor infantil.

A indústria de alimentos desenvolveu um método, até então inimaginável e extremamente sórdido, para subverter um sistema natural da alimentação humana: o fenômeno do “estômago fixo” – o ser humano come para satisfazer sua necessidade biológica até o limite de sua fome. Como não havia o que fazer com o excedente do milho e outros cereais produzidos para alimentação animal, as empresas americanas desenvolveram alimentos processados a partir desses grãos, invertendo a ordem: já não se come mais para se alimentar, mas sim pelo para ingerir “coisas” industrializadas que dão a sensação de fazer parte do mundo globalizado, exercer o poder de compra e enaltecer o consumo insustentável, transformando isso em atitudes desconexas e inconscientes em relação ao meio ambiente e à própria saúde. O grande sonho da indústria da alimentação é resolver o “problema” do estômago fixo, transformando o homem numa máquina de comer.

A cadeia improdutiva da carne é cruel: polui e esgota os mananciais de água, provoca erosão e desertificação do solo, desmatamento nas áreas florestais e aquecimento global. Nada, absolutamente nada, justifica o consumo de carne. É imensa a quantidade de terras que são utilizadas para produzir alimentos para o gado, quando poderiam produzir comida para o povo pobre. É enorme a quantidade de água e de desmatamento que está embutida no processo industrial da carne e seus derivados.

Nesse sentido, a humanidade deve repensar esse consumo. O meio ambiente não suporta mais ser arrimo do desenvolvimento insustentável. A ascensão social (uma realidade no Brasil, China e Índia, majoritariamente), se não vier acompanhada de uma profunda mudança de estilo de vida, atingirá níveis de não-retorno em termos de sustentabilidade socioambiental.

Voltando ao Mac Dia Feliz, acho que poderíamos compará-lo, guardadas as devidas proporções impostas pela cultura, oportunismo e pelo desconhecimento, a um hipotético “Projétil Feliz”, “Droga Feliz” ou “Álcool Feliz”, onde os incautos de boa vontade poderiam comprar e consumir os referidos produtos em nome da solidariedade aos dependentes químicos ou da “sensação de segurança”, por exemplo. Coma muitos Big Macs (é o que diz o site institucional)!

Portanto, no alto do podium da Rede Mac Donald’s esse trio de atletas ostentará no peito globalizado o “ouro de tolo”: medalhas forjadas a partir da criminosa indústria do entupimento, que oferece a doença e afaga a “cura”. A humanidade deve repensar esse modo de consumo que exige, para satisfazer a gula, a vida de seres sencientes (que sentem dor e prazer). Desconstruir a perversa hierarquia “homem-animal-planta” é tarefa que se impõe, pois em nome dela são justificados os crimes, a exploração, a miséria, as injustiças e a degradação social e ambiental.

Por fim, qual será o limite, o ponto de não-retorno das conseqüências da visão utilitarista em relação às demais formas de vida? A total degradação ambiental, social e cultural, permitirá ao homem, tal qual Fênix, renascer das cinzas? A natureza agirá como mãe amorosa e, na undécima hora estenderá a mão tirando a humanidade, mais uma vez, do fundo do poço? Ou, cansada e exausta, não mais acreditando, dirá: eu avisei! Agora é tarde! Mac Donald? Não, obrigado.

Artigo escrito com colaboração de Mirian R. V. Kosby, ativista na defesa dos animais, especialista em Turismo Sustentável e em Alimentação Sustentável.

Bibliografia
Pollan, Michael, O dilema do onívoro: uma breve história de quatro refeições/ tradução Cláudio Figueiredo. Rio de Janeiro- Ed. Intrínseca, 2007.

Revista dos vegetarianos. Ano 2 – Número 21. Páginas 36 a 39


Ary da Silva Martini é consultor socioambiental, autor do site www.agenda21empresarial.com.br

Fonte: Agência Carta Maior

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A memória vence o tempo

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por Mauricio Dias

A revisão da Lei da Anistia é uma idéia que vai começar a transitar da esfera do Executivo para a do Judiciário. Na terça-feira 2, o deputado Brizola Neto reúne-se com Vieira da Cunha, presidente do Partido Democrático Trabalhista e líder na Câmara, para definir a questão. Com a ajuda de técnicos, vão elaborar uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) para ser encaminhada, pelo PDT, ao Supremo Tribunal Federal.

A idéia que move Brizola Neto é forte: não se pode abrigar com uma lei quem cometeu delitos tipificados como crimes contra a humanidade.

“Precisamos dar oportunidade para que os parentes desses brasileiros assassinados nos porões da ditadura militar saibam o que se passou com os seus mortos”, diz Brizola Neto. Aos 29 anos, a mesma idade da Lei da Anistia, o jovem parlamentar tem esses episódios gravados no DNA. Transmissão dos pais e, principalmente, do avô, o ex-governador do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro, Leonel Brizola, cassado e enviado para o exílio com a família por 15 longos anos. De 1964 a 1979.

A presença de Brizola Neto na política é um sinal de que o tempo não pode apagar a história ou fazer com que ela seja esquecida como pretendem os militares. Muitos deles, ainda vivos, atores principais da brutalidade imposta aos presos políticos.

O poeta Pedro Tierra, heterônimo de Hamilton Pereira, militante petista e ex-presidente da Fundação Perseu Abramo, preso e torturado, voltou ao tema no aniversário da Anistia. Fez um relato curto da sua saga pelos cárceres, iniciada “a 200 passos do Palácio das Esmeraldas, em Goiânia, sede do governo do estado”.

A pancadaria começou, “comandada por um capitão que ouvia a Sinfonia nº 2 em Ré Maior e Melisande, de Jean Sibelius, talvez para encobrir o grito dos torturados”.

Ele escreveu que “hoje, o esquecimento será considerado um delito de lesa-humanidade. Por isso, permitam-me os leitores lembrar. Há um dizer antigo: ‘Se calarmos, as pedras gritarão!’”

Hamilton tem marcas no corpo e na alma. Brizola Neto, na memória. Em 1972, quando Hamilton foi torturado, ele não era nascido.

O neto de Brizola quer também forçar o Executivo a abrir os documentos relativos às ações de repressão política. Para isso, está debruçado sobre a legislação criada no governo Fernando Henrique e reelaborada no governo Lula.

Na agenda do parlamentar ainda consta a tentativa de instalar uma Comissão Parlamentar de Inquérito para fazer o julgamento do golpe de 1964 com apoio de documentos liberados até agora pelos arquivos dos Estados Unidos.

“O golpe militar foi uma quebra da soberania nacional”, afirma Brizola Neto, em tom decidido.

Fonte: Carta Capital

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Tortura não pode

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por Celso Marcondes

“O ALCANCE DA LEI DA ANISTIA NA ERA PÓS-DITADURA”

Esse é o título do evento que o Centro Acadêmico XI de Agosto da Faculdade da Direito da USP promoverá no dia 1º de setembro, lá na Sala dos Estudantes, no Largo de São Francisco. Na convocatória está escrito: “juristas de renome apóiam a condenação dos crimes de tortura praticados durante a ditadura militar por tratá-los como crimes de lesa-humanidade, e não crimes políticos”.

São claros esses estudantes. Sem rodeios. Diretos: tortura é tortura, é proibida em qualquer circunstância e o tempo não apaga. Sempre achei que era assim, até que nas últimas semanas foi retomada essa polêmica, agora encampada pelos estudantes do XI de Agosto. Eles são muito bem-vindos.

Vou convidar para o debate do XI alguns amigos meus. Motivados pelo noticiário na imprensa, eles começaram a defender que o delegado que torturou preso político nos tempos da ditadura militar já foi perdoado pela Lei da Anistia. “Anistia”, disseram eles citando o Aurélio, “é perdão de crime político”.

Eu tinha questionado: “como o cidadão pode ser perdoado se jamais admitiu que tivesse cometido o crime?”. Em vez de me responderem, mudaram de terreno e me disseram que os defensores da punição são movidos por desejos de vingança. Acham que é um erro “remoer o passado”. “Logo agora que o País está tão bem”, disseram.

Tentei ser didático, usei argumentos de mais de 30 anos atrás, quando eu estudava na USP. Discursei. Falei para eles que a regra era simples, fácil de entender. Ela diz que torturar não pode. De jeito nenhum, em nenhum lugar do planeta, nenhuma pessoa. Não pode espancar, botar no pau-de-arara, dar choque elétrico, deixar sem comer e coisas assim. Não pode em nenhum lugar do mundo, nem aqui, nem na China.

Disse que não pode torturar ninguém. Não pode torturar o Fernandinho Beira-Mar para que ele diga onde estão os parceiros da liderança do tráfico. Não pode torturar o pivete para ele dizer para quem vendeu o relógio de ouro que roubou nos Jardins. Não pode torturar o casal Nardoni para que digam algo mais sobre a morte da Isabela. Não pode torturar o marginal que assaltou a casa dos meus pais, mantendo a família inteira sob a mira de revólveres durante duas aterrorizantes horas.

Perguntei aos meus amigos se eles concordavam com isso, não dando para eles a chance do “talvez”, nem do “depende das circunstâncias”. Pedi sim ou não. Lembrei a eles que a regra está na “Declaração Universal dos Direitos Humanos” e que ela tem a assinatura do Brasil.

Aí um deles lembrou que dia 10 de dezembro a Declaração vai fazer 60 anos. Ela foi aprovada numa Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas. Em 1948, o mundo estava em guerra, o presidente da República era o Eurico Gaspar Dutra. Depois dele vieram o Getúlio, o JK, o Jânio, o Jango. Teve até o Café Filho, o Carlos Luz, o Nereu Ramos e o Ranieri Mazzilli, de quem ninguém se lembra. Passaram todos esses e nenhum tirou a assinatura do Brasil da Declaração.

Depois veio a ditadura: Castello, Costa e Silva, Garrastazu, Geisel, Figueiredo. Teve até um Rademaker, um Marcio Melo, um Aurélio Lyra, de quem também ninguém se lembra. E não é que eles também mantiveram nossa assinatura na Declaração?

Meus amigos acompanhavam meu raciocínio e até me ajudavam a refazer a ordem certa dos presidentes. Quando chegamos ao Lula, e quase todos tinham votado nele, voltei à carga e disse que era lógico que a família de um jovem que foi morto sob tortura numa delegacia em 1971 tem o direito hoje de exigir punição aos responsáveis por este crime.

Eles ficaram quietos por um minuto, mas logo vieram de novo com a Lei de Anistia, dizendo que não admitiam a tortura, só que o caso estava encerrado. Preferi encerrar a discussão para não perder os amigos.

No dia 18 passado fui buscar argumentos na palestra do juiz espanhol Baltasar Garzón. Ele chegou e falou: “vingança é um sentimento, mas justiça é um valor”. Devia ter trazido meus amigos, pensei. Justiça é valor, porque não falei isso pra eles antes?

Falou também que achava engraçado que muita gente aplauda uma intervenção de um país em território de outro país para caçar traficante, mas não tolera que um estrangeiro se meta a investigar um crime contra os direitos humanos praticado em outra nação. Eu não tinha me dado conta disso até então.

Garzón explicou que o assunto não se esgota no Brasil, porque ele está submetido a Corte Interamericana de Direitos Humanos, que é um órgão da Organização dos Estados Americanos. “Cujos precedentes consideram inadmissíveis as excludentes de responsabilidade que pretendam impedir a investigação e sanção dos responsáveis pelas violações de direitos humanos”, segundo um manifesto da “Associação de Juízes para a Democracia”, distribuído no evento. Peguei um para levar aos meus amigos.

Para arrematar, indagado sobre sua expectativa sobre as futuras eleições norte-americanas, o espanhol saiu com essa: “se o Obama for eleito e tiver como programa a Declaração dos Direitos Humanos, eu acho que já está de bom tamanho”.

Sábio aquele espanhol, ele ficou menos de 48 horas no País e deixou sua marca. Ficou claro porque ele foi capaz de prender o Pinochet.

Ao final do encontro, constatei a presença no auditório de um punhado de advogados, procuradores e juristas, que também acham que a Declaração ainda vale. Nunca tinha pensado que precisaria de advogado para me dizer que aquela regrinha internacional não podia ser sobreposta por outra.

Louvo esses advogados. Mas essa não é questão exclusiva do Judiciário, como quer o Executivo - ou uma parte dele. É dos dois e de toda a sociedade. Os estudantes de Direito do Largo de São Francisco já perceberam isso.

Fonte: Carta Capital

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Poderes em conflito

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por Wálter Fanganiello Maierovitch

Montesquieu dedicou catorze anos para escrever a obra intitulada O Espírito das Leis (L’ Espirit des Lois), publicada em 1748.

No 11º volume, está a tese da separação dos poderes. Isto a partir da idéia-mãe de que o “poder absoluto corrompe absolutamente”.

Para Montesquieu, o Estado conta com três poderes: Legislativo, Executivo e Judiciário, cada qual com incumbências específicas. Atacada pelos jesuítas, a obra entrou para o canônico Index Librorum Prohibitorum, em 1751. Mais, a obra não era recomendada na Sorbonne.

A sua doutrina da separação e da tripartição, no entanto, foi acolhida em várias constituições, incluídas as nossas republicanas, com destaque: “Os poderes são independentes e harmônicos”.

Muito respeitada e citada em todas as discussões sobre a forma do Estado, a tripartição não empolgou a Europa.

Nas democracias parlamentaristas, o Legislativo e o Executivo não são independentes um do outro. O chefe do Executivo está condicionado a um mandato conferido pelo Parlamento, que pode ser revogado por meio do chamado voto de desconfiança.

Nesse sistema, o chefe de governo fica sempre dependente da vontade do povo, representada pelo Parlamento. A magistratura não é considerada poder do Estado. Na Itália, por exemplo, a magistratura é uma “ordem autônoma e independente de cada poder” (art. 104 da Constituição italiana). Por dispositivo constitucional, “os juízes estão sujeitos apenas às leis” (art. 101 da referida Constituição).

Com efeito, nem o sistema da tripartição e separação preconizado por Montesquieu e adotado no Brasil nem o das democracias parlamentares européias evitam os conflitos entre parlamentares, governantes e magistrados.

Para se ter idéia, depois de a magistratura do Ministério Público de Milão promover, em 2002, um processo criminal contra o então premier Silvio Berlusconi, o ministro da Justiça do governo, Vincenzo Caianello, suspendeu a escolta aos magistrados integrantes do pool de procuradores coordenados por Saverio Borelli, chefe do Ministério Público milanês. No caso, alegou-se caber com exclusividade ao Executivo fornecer agentes e veículos para as escoltas.

No Brasil, com as recentes renovações e mudanças operadas no Supremo Tribunal Federal (STF), os conflitos entre os poderes se acentuaram. Por exemplo, ao reconhecer a infidelidade partidária, o STF fixou data certa para caracterizá-la. Assim, tomou o lugar do legislador. E as medidas provisórias, com trancamento de pauta, fizeram do Executivo um voraz legislador.

No supracitado e novo STF, também é bastante comum a antecipação de decisões, fora dos autos e do momento processual apropriado. Nesta semana, quando ainda se discutia em audiências públicas o caso de aborto em face de anencefalia, total ou parcial, os jornais já anunciavam as “tendências” de oito dos onze ministros da casa. O ministro Eros Grau, em entrevista exclusiva para a Folha de S.Paulo, sentenciou: “Já existem duas hipóteses de aborto na lei. Eu não posso criar uma terceira”.

Na segunda-feira 25, e pela mídia, muitos congressistas externaram os seus descontentamentos com o STF, que, nos casos de súmulas vinculantes a respeito de emprego de algemas e proibição ao nepotismo, teria invadido a competência do Legislativo.

O nepotismo, ainda que camuflado em contratação cruzada, atenta contra princípios constitucionais básicos, a comprometer a moralidade administrativa. Acontece que o STF não se limitou a declarar a inconstitucionalidade e olvidou competir ao Legislativo disciplinar a matéria por lei.

No que toca à súmula vinculante sobre algema, o fato de o Legislativo tardar em elaborar normas para impedir os notórios abusos, não abria ao STF uma competência legislativa subsidiária. Além do mais, a Constituição, no seu artigo 103-A introduzido pela emenda constitucional 45/2004, só permite a edição de súmula vinculante após reiteradas decisões do STF. O STF, ao sumular, apreciara apenas quatro casos. Por evidente, não se tratava de repetições constantes, permanentes.

Já se escreveu que a pior das ditaduras não é a do Executivo, mas a do Judiciário, quando este se sobrepõe aos demais poderes e passa, como se legislador ou chefe de governo fosse, a disciplinar a vida em sociedade, tudo sem contar com representação popular direta, ou seja, por meio de eleições.

No momento, há prenúncio de um novo dissenso entre o STF e a Presidência da República. Ou seja, no julgamento, pelo STF, do caso da demarcação, por decreto presidencial de maio de 2005, da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima. No âmbito das suas atribuições constitucionais, consoante a ratificada Declaração dos Direitos dos Povos Indígenas (1993), o presidente Lula emitiu, em 2005, decreto a homologar a demarcação, em forma contínua, de área no extremo norte de Roraima, com 1,7 milhão de hectares, onde vivem cinco etnias, a totalizar 18 mil indígenas, aproximadamente.

Os critérios de conveniência e oportunidade competiam ao presidente da República. Destarte, ao STF não cabe uma decisão política sobre como seria conveniente demarcar a área, ou seja, de forma contínua ou com o estabelecimento de ilhas.

Na verdade, a ação popular em questão, já bem indeferida pelo voto do ministro-relator, Ayres Britto, procura jogar, para empolgar constitucionalmente, com a questão da (1) soberania na faixa de fronteira e do (2) risco de criação de um enclave, do tipo Tibete, Ossétia do Sul, Kosovo. Um enclave que, num futuro, poderia gerar conflito separatista em face da formação de uma nação indígena, a englobar atuais áreas brasileira e venezuelana. Ainda, como na Ossétia do Sul, onde 90% da população adotou a cidadania russa, os indígenas poderiam virar holandeses, ingleses, suecos etc., de modo a se ter o caldo para a internacionalização da Amazônia.

O STF, conforme a decisão dos ministros, poderá se tornar uma corte política, a tomar a função de Lula. E não será mais uma corte técnica, como desejável, e ensinado por Montesquieu.

Fonte: Carta Capital

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Contrato Metrô-Alstom é irregular, diz conselheiro do TCE-SP

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Por Vinicius Mansur

De acordo com o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE), Antonio Roque Citadini, o contrato de mais de R$ 600 milhões do Metrô, em São Paulo, com a empresa Alstom é irregular. Para adquirir 16 trens em 2007, no governo José Serra (PSDB), o Metrô usou um contrato de 1992. A Alstom já é investigada pelo Ministério Público estadual e federal e pela Polícia Federal, sob suspeita de ter pagado propina a integrantes do PSDB a partir de 1997, em troca de contratos com o governo de São Paulo.

O despacho de Citadini diz que o governo deveria ter providenciado uma nova licitação, uma vez que a Lei de Licitações limita em cinco anos a validade dos contratos de compra de equipamentos. A companhia alega que o contrato estava em aberto e, se não fosse executado integralmente, poderia ser motivo de processo judicial.

Existem suspeitas de que o valor pago à Alstom tenha sido superfaturado. Na última compra feita com o contrato de 1992, cada trem custou em média R$ 38 milhões. Porém, numa compra feita com concorrência internacional cinco meses depois, o Metrô pagou cerca de R$ 29 milhões por trem.

Citadini é o segundo conselheiro do TCE a apontar irregularidades nesse contrato. Em 2007, Eduardo Bittencourt Carvalho havia escrito que "todo o procedimento padece de profunda falta de transparência com relação a parâmetros básicos".

Fonte: Revista Fórum

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Ex-comandantes da ditadura argentina são condenados à prisão perpétua

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Por Redação Revista Fórum

A Justiça argentina condenou nesta quinta-feira, 28, à prisão perpétua o general da reserva Antonio Bussi, interventor na província de Tucumán durante a ditadura (1976-83), a qual chegou a governar também durante o período democrático, e seu chefe militar, o ex-general Luciano Menéndez, pelo assassinato de um senador.

Indiciados por centenas de crimes de lesa-humanidade, Bussi, de 82 anos, e Menéndez, de 81, foram julgados pelo seqüestro, tortura e assassinato do senador peronista Guillermo Vargas Aignasse, em um processo iniciado em 5 de agosto por um tribunal federal de Tucumán (norte).

O senador e físico com militância universitária tinha 33 anos quando foi seqüestrado de sua casa, em Tucumán, na madrugada do golpe de Estado de 24 de março de 1976, diante de sua mulher e dos dois filhos pequenos, cujos depoimentos foram ouvidos no tribunal.

Antes do anúncio do veredicto, de condenação aos militares, ambos os acusados remontaram à ditadura e às suas políticas de terrorismo de Estado, enquadrando-as em uma "guerra contra a subversão marxista".

Bussi se considerou "um perseguido político pelos derrotados do passado, em uma guerra justa e necessária", contra o que chamou "de agressão marxista e leninista".

Na terça-feira, a promotoria havia pedido "prisão perpétua em um presídio comum" para os dois réus, de modo que não pudessem se beneficiar da domiciliar por terem mais de 70 anos mas a solicitação foi indeferida.

Depois de conhecida a sentença, os manifestantes que estavam do lado de fora do tribunal demonstraram satisfação, embora alguns tenham protestado com violência justamente porque Bussi não ficará em cárcere comum.

Os manifestantes tentaram romper o isolamento mantido pela polícia diante da sede do tribunal, enfrentando-a com paus e pedras.

Antonio Bussi é considerado uma figura emblemática da chamada luta anti-subversiva na Província de Tucumán (norte), onde atuavam grupos guerrilheiros antes do golpe de Estado de 1976.

Interventor de Tucumán durante a ditadura militar, com a volta da democracia Bussi fundou e liderou o partido de direita Força Republicana, com o qual conquistou o governo em 1995 e, mais recentemente, a prefeitura da capital provincial.

(Com informações da agência EFE)

Fonte: Revista Fórum

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Três anos depois do Katrina, Nova Orleans ainda luta pela reconstrução

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Por Jordan Flaherty

Algumas organizações divulgaram relatórios na semana passada, examinando o estado actual da cidade, e activistas de base pretendem lançar a sua mensagem a partir das ruas. Para os que apenas ouviram histórias edificantes sobre a recuperação da cidade, os factos do terreno podem ser surpreendentes.

De acordo com um estudo do PolicyLink, 81% dos que receberam as doações do Road Home, um fundo federal administrado pelo Estado, receberam menos do que o necessário para reconstruir a sua casa. Ao beneficiário médio do Road Home faltou-lhe 35 mil dólares para o necessário para reconstruir a casa, e os lares afro-americanos tiveram uma defasagem maior, em média de 35%, se comparados com os lares brancos.

Mais de um em cada três endereços residenciais - sobre 70 mil - permanecem vagos ou desocupados, de acordo com um relatório do Greater New Orleans Community Data Center (Centro de Dados da Comunidade da Grande Nova Orleães). Ao mesmo tempo que os trabalhadores do projecto de Brad Pitt Make It Right (Fá-lo Correctamente) estão a laborar em ritmo acelerado para terminar a primeira das muitas casas previstas no muito devastado Lower Ninth Ward, o bairro continua a estar muito atrás de outros em termos de reconstrução, com apenas 11% do número de lares anteriores ao Katrina. O mesmo relatório observa que, desde a devastação da cidade, as rendas aumentaram 46% em toda a cidade (muito mais em alguns bairros), enquanto muitos serviços permanecem grandemente limitados - por exemplo, apenas 21% dos autocarros do serviço público de transportes estão a funcionar.

Cidade dividida

Não são só os activistas que falam de divisões de raça e de classe em Nova Orleães. Uma sondagem da Fundação Família Kaiser revelou que 70% dos residentes sentem que estão divididos por classe e ou por raça. A sondagem da Kaiser também encontrou unidade entre os habitantes de Nova Orleães: estão unidos em sentirem-se esquecidos pelo resto dos EUA. Oito em dez disseram que o governo federal não lhes deu suficiente apoio. Quase dois terços pensam que o povo norte-americano se esqueceu largamente da cidade.

A sondagem também revelou que grandes percentagens dizem que a sua situação se deteriorou. Cinquenta e três por cento de residentes de baixo rendimento dizem que a sua situação financeira é pior hoje que antes do Katrina. A percentagem de residentes que dizem que tiveram diagnosticada uma doença mental séria, como a depressão, triplicou desde 2006.

Existe um contínuo debate sobre quantas pessoas vivem em Nova Orleães, sem que haja dados definitivos até o próximo censo completo. Mas, no ano passado, o departamento de censo estimou uma população de 239 mil. Outros analistas - e o mayor (presidente da Câmara) C. Ray Nagin - estimam que a população é superior em cerca de 100 mil pessoas. Seja qual for a medida, o crescimento estagnou e mesmo os mais optimistas dizem que de 150 mil a 200 mil ex-residentes (de uma população anterior ao Katrina de cerca de 500 mil) não conseguiram voltar. A então cidade de cerca de 70% de afro-americanos tem hoje menos de 50% de afro-americanos, uma mudança que se reflecte nas políticas eleitorais no estado. Num momento em que os republicanos têm vindo a perder eleições nos Estados Unidos, o candidato da Coligação Cristã, Bobby Jindal, foi facilmente eleito governador no ano passado e, na cidade, décadas de um conselho de maioria negra foram substituídas por um novo conselho de maioria branca.

Quadro branco ou cemitério

Muitas das mudanças são lideradas por uma nova camada de população da cidade - planeadores, arquitectos, criadores e outros reformadores. Muitos deles auto-identificam-se como "YURPs" - Jovens Profissionais Urbanos e Reconstrutores - no seu trabalho em incontáveis organizações sem fins lucrativos, fundações e empresas. Alguns dos mais novos residentes de Nova Orleães falam da cidade como se fosse um quadro branco no qual podem projectar e praticar as suas ideias de reformas, seja no que se refere ao serviço de saúde, à arquitectura, ao planeamento urbano, ou à educação. As consequências desta visão, segundo alguns dos seus defensores, é que as pessoas que viviam antes na cidade, as mais afectadas por estas mudanças, têm menos direito de palavra sobre o seu próprio futuro. "Não era um quadro branco, era um cemitério", diz o poeta e educador Kalamu Ya Salaam. "As pessoas morreram, e estão a construir edifícios em cima dos seus ossos."

A grande maioria dos novos profissionais de Nova Orleães vieram com as melhores intenções, com um amor por esta cidade e um desejo de ajudar à sua recuperação. Contudo, muitos activistas criticam o que vêem como tentativas simbólicas de envolvimento na comunidade, e como uma atitude paternalista entre muitos dos novos decisores.

Por exemplo, o nosso sistema de educação estava em crise antes do Katrina, e certamente precisava de uma mudança revolucionária. Houve realmente mudança - mas a sua revolução foi esmagadoramente conduzida de fora, com poucas contribuições dos pais, dos estudantes e do staff do sistema escolar de Nova Orleães. Pouco depois da evacuação da cidade, o staff completo do sistema de escola pública foi despedido. Não muito tempo depois, o conselho de educação decidiu pôr fim às negociações com o sindicato dos professores - o maior sindicato da cidade, e comprovadamente a maior fonte de poder político da classe média negra na cidade. Desde então, o panorama escolar mudou marcantemente - do staff, à estrutura de decisores e às instalações. De acordo com o professor de Tulane Lance Hill, "Nova Orleães passou por mudanças profundas quanto a quem governa as escolas e uma dramática redução de controlo dos pais e dos contribuintes locais sobre as escolas".

O sistema escolar era constituído por 128 escolas, 124 das quais controladas pelo Conselho Escolar de Nova Orleães. Agora, de acordo com Hill, 88 abriram para o Outono, e "50 delas são escolas concessionadas (gestão privada) governadas por conselhos auto-nomeados e que se auto-perpetuam; 33 são geridas pelo departamento estadual de Educação através do Distrito de Recuperação Escolar; e apenas cinco são geridas pelo conselho escolar eleito."

"Existem hoje 42 sistemas escolares separados a operar em Nova Orleães", prossegue Hill, com as suas próprias "políticas escolares, incluindo requisitos para os professores, curricula, políticas de disciplina, limites de contratação e promoções sociais. As escolas que têm de prestar contas ao público, nas quais os pais têm forma de tornar públicas as suas queixas, são apenas cinco (5,6% do total)."

Vários artigos recentes expressaram entusiasmo e admiração pelo novo sistema escolar, incluindo extensos artigos no The New York Times e no New Orleans Times-Picayune. Para os reformadores escolares, que vieram a Nova Orleães com o desejo de tentar aplicar as mudanças que tinham imaginado, isto representa um sonho tornado realidade. Têm apoio dos média, têm funcionários federais, estaduais e municipais do seu lado, e um afluxo maciço de dinheiro e de trabalho barato (e jovem, e idealista). A organização Teach for America apoiou 112 professores no ano passado, comprometeu-se com 250 este ano, e projecta apoiar 500 no ano que vem, enquanto dezenas de milhões de dólares de fundos estão a chegar através de fontes como as fundações Gates e Walton.

Não há dúvida de que alguns estudantes recebem uma excelente educação nos novos distritos escolares de Nova Orleães, mas os críticos estão preocupados com os estudantes que estão ficar para trás, que são os que precisam de mais ajuda - os que não têm quem os apoie, quem os procure e os matricule nas melhores escolas. De acordo com o cidadão de Nova Orleães Kalamu Ya Salaam, director de um programa escolar chamado Estudantes no Centro, os novos sistemas representam "uma experiência de privatização, com tudo o que isso implica".

Apesar de novas escolas concessionadas terem podido escolher as melhores instalações e terem usado métodos como os testes padronizados para seleccionar os alunos (incluindo 40% de estudantes menos especiais), ainda há questões sérias sobre a extensão do seu tão proclamado sucesso. A G. W. Carver School, objecto de um artigo bajulador do The New York Times na última Primavera, teve um índice de reprovações de 88% em inglês e um e 86% em matemática nos testes padronizados do estado.

Aniversário e Comemoração

O aniversário da devastação da cidade, 29 de Agosto, cai entre as convenções democrata e republicana. Enquanto os partidos Democrata e Republicano coroam os seus candidatos, activistas no terreno estarão nas ruas, continuando a luta por uma reconstrução justa. "Não está a chover no desfile de Obama", diz Sess 4-5, uma estrela de hip hop e activista que vive em Nova Orleães, "mas as pessoas daqui precisam que o mundo compreenda que continua a haver uma situação trágica. As rendas triplicaram, o sistema de saúde está em ruínas, temos menos acesso à educação para os nossos filhos. A classe trabalhadora e os pobres estão a ser explorados, enquanto todos os de cima engordam com a nossa miséria."

"Achamos que o 29 de Agosto devia ser feriado, não um dia de trabalho normal", explica Sess, um dos organizadores da Marcha e Comemoração Katrina, que começa esta sexta-feira de manhã no Lower Ninth Ward, e se desloca para o 7º Ward. Esta marcha é um dos dois eventos organizados por activistas no dia; o outro é também uma marcha que começa na cidade alta, perto do BW Cooper development, um dos maiores complexos urbanísticos demolido este ano. "O Mayor anunciou ao mundo que Nova Orleães estava 'aberta aos negócios', mas nós viemos dizer que está fechada às famílias", declara a ex-residente de uma casa pública Barbara Jackson, que participa da manifestação na BW Cooper, chamada Sankofa Day of Commemoration. "Cinco mil casas demolidas. Oito mil novos lugares na cadeia. Este é o plano de substituição para nós."

Sair às ruas não é a única agenda dos activistas locais. Em Nova Orleães, as pessoas estiveram a organizar-se a partir da sociedade civil, trabalhando juntas para construir um movimento. Na sequência do Fórum Social dos EUA do ano passado em Atlanta, uma ampla coligação de organizações pela justiça social começou a fazer reuniões mensais para juntar esforços. Este grupo, chamado Organizers Roundtable (Mesa-redonda de organizadores), é um importante foco de colaborações e de construção comunitária.

Tem sido a comunidade, não as fundações ou o governo, que tem liderado a recuperação da sociedade civil desta cidade. Bayou Road - uma rua de negócios de proprietários negros, orientados para a comunidade no 7º Ward de Nova Orleães - foi reconstruída no pós-Katrina com mais negócios do que havia antes da tempestade. Não foi a ajuda do governo que permitiu o regresso destes negócios, mas o esforço conjunto dos membros da comunidade. Também foi o apoio da comunidade, e o apoio local, que trouxe de volta os membros de muitas organizações culturais, como a rede de Clubes de Ajuda Social de Prazer, que organizam desfiles de música tradicional ("second line") todos os fins-de-semana, assim como recolha de doações que entregam às escolas da área.

A Aliança Pelo Direito da Cidade (RTTC), uma coligação nacional de organizações que se dedicam a questões urbanas, como a saúde, à justiça criminal e à educação, considera a crise de Nova Orleães uma das questões centrais do seu trabalho. Está a co-patrocinar a marcha de Nova Orleães, assim como acções em sete outras cidades, incluindo Los Angeles, Nova York, Oakland, Providence, São Francisco, Washington, D.C. e Miami.

O trabalho da RTTC merece uma atenção especial, como uma coligação que trabalhou para apoiar as lutas do povo de Nova Orleães, e para trazer a luta e a solidariedade às suas próprias comunidades, colhendo ao mesmo tempo orientação das vozes no terreno. Nestes tempos de muitos visionários competindo por moldar de novo esta cidade, esta vontade de ouvir as pessoas cujas vidas estão a ser afectadas, e por levar essa luta e essas lições às suas próprias comunidades, pode ser a mudança radical que Nova Orleães mais precisa.

Jordan Flaherty é editor do Left Turn Magazine, e jornalista que mora em Nova Orleães. Recentemente, os seus escritos podem ser lidos na antologia "Red State Rebels", publicada este mês pela AK Press. Pode ser contactado pelo e-mail neworleans@leftturn.org.

Tradução de Luis Leiria

Fonte: Revista Fórum

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