sábado, 23 de agosto de 2008

Os gringos ainda mandam no Brasil

::

por Wálter Maierovitch

Durante anos, o megatraficante Juan Carlos Ramírez viveu no Brasil como operador do Cartel do Vale Norte, comandado por Diego Montoya Sanchez, apelidado Don Diego.

Depois do desmantelamento dos cartéis de Cáli, dos irmãos Orejuela, e o de Medellín, dirigido por Pablo Escobar, os traficantes colombianos de drogas ilícitas realizaram uma reengenharia e optaram pela formação de "cartelitos".

Na Colômbia existe uma miríade de cartelitos, que são mais ágeis e os chefões permanecem anônimos. Dos grandes cartéis, remanesceu apenas o do Vale Norte, que, num acordo com as agências norte-americanas (CIA e DEA), sustentava financeiramente os paramilitares das AUC (Auto Defesas de Colômbia),combatentes das FARC e do ENL.

Com o desmantelamento das AUC, em razão do acordo de pacificação do presidente Álvaro Uribe, o cartel do Vale Norte perdeu, para os norte-americanos, significação : era um cartel forte, que já havia
construído até submarino para traficar drogas pelo Pacífico.

Na nova geoestratégia norte-americana para a Colômbia, o cartel do Vale Norte virou inimigo. Em menos de dois meses foram presos Abadia no Brasil, Sandra, a rainha da cocaína (no México, onde vivia e operava cartel ligado ao do Vale Norte) e Diego Montoya Sanchez, o chefão.

Nesta sexta-feira 22 o megatraficante Juan Carlos Ramírez Abadia, operador do Cartel do Vale Norte no Brasil até ser preso por pressão da Drug Enforcement Agency (DEA), foi extraditado para os EUA. Tudo sem revelar a lista dos corruptos que asseguraram, durante anos, a sua presença no Brasil.

O Supremo Tribunal Federal (STF), com todo acerto, deferiu o pedido de extradição. Mas, com a ressalva de competir ao poder Executivo deliberar sobre a conveniência da execução da medida: Abadia está condenado no Brasil.

Abadia, que quis formalmente barganhar na Justiça a sua extradição para os EUA e ofereceu parte da sua fortuna-suja, celebrou um acordo de delação-premiada com os EUA. O acordo foi intermediado pelos 007 da DEA. Por isso, ele pretendia ser extraditado.

O teor do acordo com a DEA não foi revelado. Os Ochoa, sócios de Pablo Escobar no extinto Cartel de Medellín, foram extraditados da Colômbia para os EUA. Em face de delações, retornaram livres para a Colômbia. Hoje, são os maiores empresários na área do agro-negócio, pois preservaram a fortuna conseguida com o tráfico ilegal de cocaína.

O estranho é que, uma semana antes da extradição de Abadia, começou a circular, pela imprensa, a informação de que Abadia tinha planos para seqüestrar altas autoridades: inclua-se o filho do presidente Lula, conforme uma escuta ambiental. O mesmo se falou a respeito do plano do brasileiro Fernandinho Beira-Mar.

Na verdade, algo que soava coisa encomendada, plantado vias escutas interceptadas, para tornar a extradição palatável e abafar as críticas. Não se importaram com o tiro no pé, pois a versão divulgada estava a revelar, no presídio, que o sistema especial de regime disciplinar não funcionava.

Sabe-se que os 007 da DEA visitaram o juiz Fausto De Sanctis, que teria exigido a lista de corruptos de Abadia.

O governo federal, depois da notícia dos planos delinqüenciais de Abadia, entendeu enviá-lo para os EUA. Isto, sem cumprir pena no Brasil e sem revelar os agentes que corrompeu para viver como nababo no Brasil.

PANO RÁPIDO. O governo brasileiro que entendeu em extraditar Abadia e os corruptos, que davam proteção ao traficante internacional, devem estar a festejar.

Fonte: Carta Capital

::
Share/Save/Bookmark

Nenhum comentário: