terça-feira, 27 de março de 2007

O amor está no ar

Ando pelas ruas do Butantã olhando para o céu, sorrindo para as pessoas, sorrindo para mim mesma. É fato, quando menos se espera acontecem as paixões. No meu caso, de onde eu menos esperava veio uma surpresa que faz meu ano recomeçar azul, rosa, amarelo. Me faz pensar que tenho que parar de pensar, parar de ter medo e ir vivendo o agora, sem planos nem projetos, porque assim o amor flui, sem posse, sem cobrança, sem egoísmo.
Nem sei para quem agradeço, mas costumo agradecer com frequência pela minha sorte e por ser a pessoa que sou. Por tudo que já passei, eu até que era para ser mais surtada.
Mas tenho a clara consciência de que só indo atrás de meus sonhos e meus desejos poderei ser plena e feliz. E isso inclui todo dia lidar com o medo, com a culpa, com a insegurança. Essas coisas todas que nos fazem neuróticos e estressados. Por ter ido atrás de quem eu desejava, estando essa pessoa fora dos guetos, ali, na rua, sem um rótulo na testa, me faz uma pessoa livre e feliz por não me prender a regras, códigos ou tabus.
Minha liberdade não tem preço.
O amor está no ar.

É isso, a Alê enamorada mais uma vez. Com um sorriso nos lábios...
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domingo, 4 de março de 2007

Uma noite de lua cheia com tambores e fogo!

Ontem os acontecimentos tiveram uma seqüência que eu jamais poderia sonhar. Tive uma experiência única, experimentei a liberdade de seguir meu instinto, dominar o medo e seguir certos tambores que insistiam em tocar madrugada adentro.
Inicialmente eu iria numa festa, no Embu. Eu já havia ido nesta casa, que fica no meio do mato. O objetivo da festa era o de contemplar a lua cheia, ficar perto do fogo, ouvir música e fazer novas amizades. Porém, fiquei com medo de me perder à noite, naquelas bandas. Como eu já havia prometido uma carona para duas amigas até a Raposo, fiz esse bonde, porém voltei rapidamente para meu canto escondido no Butantã, sem chegar à citada festa.
Já no meu quarto, devidamente paramentada para uma boa noite de sono, começo a ler o livro "Trevas no Eldorado - como cientistas e jornalistas devastaram a Amazônia e violentaram a cultura Ianomâmi". Esse livro foi o resultado da pesquisa de um americano, que durante dez anos esteve embrenhado na selva amazônica, para documentar uma das maiores tragédias da Antropologia moderna: a história de como os Ianomâmis foram descobertos por cientistas americanos e de como foram sendo dizimados, contaminados e corrompidos por um contato inescrupuloso com antropólogos como o americano Napoleon Chagnon e o francês Jacques Lizot. Já no começo do livro, se tem a clara noção que os vários antropólogos e pessoas que, durante muito ou algum tempo, tiveram a oportunidade de conviver com essas tribos isoladas e intactas, de algum modo, simplesmente, surtaram! Bom, este livro serviu de base para um documentário da Nadja, que mora comigo, chamado "Napepe". Estou lendo o livro para depois assistir o documentário.
De pijama, na cama, comecei a ouvir tambores, um tipo de flauta amazônica ou inca, mulheres cantando em coro... As músicas se alternavam: ora parecia que eu estava no meio de uma cerimônia inca, hora parecia que eu estava no Maranhão. Senti uma saudade imensa dos meus amigos do Rio e de Floripa e de todas as vezes que pude desfrutar de uma noite embalada a tambores tão genuinamente brasileiros. Nesse caso, me parecia haver uma festa em algum lugar pelas redondezas. A cada música, eu pensava nos rostos das pessoas que estariam ali, em suas danças e seus coros. A lua estava cheia e meu coração e meu cérebro queriam estar naquela festa, com pessoas que eu nunca vi.
Essa é uma história de como minha teimosia pode me proporcionar momentos de pura felicidade.
Troquei de roupa, munida de chave, chinelo e muita curiosidade de saber de onde vinha tanta alegria. Moro num vale, o eco não me permitia precisar de onde vinha o som dos tambores. Andei um pouco, localizei a direção do som mas nada de achar uma festa... Voltei para casa, frustradíssima, botei o pijama e continuei a ler.
O som ficou mais forte, mais instigante, e eu não conseguia ler ou pensar ou dormir. Eu queria muito estar lá. Saí de carro, dessa vez. Pensei que seria mais fácil, poderia investigar melhor, eu precisava entrar em contato com essas pessoas que no meu bairro estavam celebrando e tocando os ritmos que mais gosto: cacuriá, coco, afoxés, maracatus e outros tantos mais. Enquanto estava dando voltas pelo bairro, a música diminuiu e uma pausa foi dada. Assim, volto para casa, sem ter conseguido, de novo.
Pijama, livro, de novo os tambores. Nossa, fui ficando absolutamente fora de mim, inconformada, inquieta, insatisfeita. Eu sabia que havia uma festa ali perto e que eu queria poder estar perto, ver as pessoas dançarem. Mais uns dez minutos e eu saio de novo, agora decidida a achar de qualquer jeito. Rodei várias ruas, subi ladeiras, ligando e desligando o motor do carro para ouvir melhor de onde vinha o som. Finalmente descobri a casa. Parei o carro e fui até o portão. Na escada que descia até a casa, muitas velas, pedras, imagens de orixás. Penso então que se trata de uma festa religiosa, o que me deixa também feliz porque eu estive pensando em ir a um centro espírita, para uma consulta anual e saber que tinha um por perto me deixou contente. Mas não era um centro espírita. Me pendurei no portão para ver melhor o que acontecia lá embaixo quando vejo um homem subindo as escadas em minha direção. Pergunto a ele do que se tratava a comemoração ou se era uma festa religiosa. Ele me disse que as pessoas estavam celebrando a lua cheia, muitos percussionistas colombianos e do maranhão se revezando em tocar para todos dançarem. Conto a ele o motivo da minha ida e sou convidada a participar. Nossa, nem acreditei que tinha conseguido.
Havia uma fogueira, pessoas muito bonitas e felizes, mulheres de saias a rodar em volta dos tambores. Cheguei careta, com uma felicidade dentro de mim que mal cabia e a certeza de que valeu a pena chegar num lugar como aquele, sentar em volta da fogueira, deitar na grama e comtemplar a lua ao som de tambores que me remetiam a minha amada África, tudo isso com pessoas que eu nunca tinha visto na vida e que me acolheram de forma calorosa.
Conversei com várias pessoas, fiz amizades, fumei um banza, paquerei, encontrei uma pessoa que me conhecia, e o mais importante: segui meu instinto mais primitivo de estar perto do fogo, perto dos tambores, como faziam os antigos. Eles eram felizes e sabiam disso.
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