sexta-feira, 29 de agosto de 2008

BARACK OBAMA, O MESSIAS DIGITAL

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por Luiz Carlos Azenha

DENVER, COLORADO -- O estádio dos Broncos, time de futebol de Denver, foi transformado num templo, com colunas gregas integradas ao cenário grandioso. Sobre o gramado, coberto por um tablado de madeira, havia uma passarela que acabava em um púlpito.

Bandeiras dos Estados Unidos e cartazes com a palavra CHANGE foram distribuídos à multidão de mais de 70 mil pessoas. Só a "ola", observou uma colega jornalista, não foi previamente ensaiada pelos assessores de campanha.

Eu ainda não me defini entre o anarquismo ou o partido libertário. Com certeza herdei a minha rebeldia do velho Azenha, que foi comunista circunstancialmente: ele era do contra. Fico desconfiado de qualquer turma ou movimento.

Um assessor do candidato veio ao púlpito pedir que as pessoas presentes sacassem os seus celulares e mandassem uma mensagem de texto para o número que representa Obama. Com isso, todos estariam registrados para receber mensagens da própria campanha ao longo das próximas semanas. Nos telões apareceu a imagem do mapa dos Estados Unidos que identificava a origem das mensagens por código de área, já que ali havia convencionais de todas as regiões do país.

Mais tarde o assessor da campanha de Obama voltou para dizer que 30 mil mensagens de texto haviam sido registradas. Sob patrocínio da companhia telefônica AT&T algumas das mensagens foram reproduzidas nos telões.

De tempos em tempos imagens do candidato e trechos de discursos dele eram reproduzidos. Oradores ressaltavam as qualidades de Barack Obama. Almirantes e generais da reserva, vestidos com roupas civis, vieram dar apoio ao candidato. Havia uma mulher almirante e vários generais negros e eu pensei que o exército americano foi essencial para a integração racial nos Estados Unidos.

No setor das celebridades estavam alguns atores e atrizes de Hollywood mas eu confesso que só conheci a Susan Sarandon. E o ex-âncora da rede CBS, Dan Rather. Eu estava na plataforma dos jornalistas e entre nós circulavam políticos sempre ávidos pelas luzes da televisão. O ex-candidato à Casa Branca, Michael Dukakis, está velhinho. O pastor Jesse Jackson usa pó vermelho nas bochechas (ele colabora com uma emissora de TV).

Confesso que fiquei um pouco incomodado com aquele espetáculo, uma mistura de televangelismo com messianismo digital. Depois pensei de novo e concluí que eu é que corro o risco de ser ultrapassado pelos tempos. Barack Obama é produto da geração da internet, do celular, das mensagens de texto. Como o próprio democrata lembrou na campanha, ele era menino nos anos 60. É um político do século 21.

Eu gostei de ver a Sherryl Crow e o Stevie Wonder.

Pensei que os Estados Unidos não teriam nenhuma graça sem os negros. Eles têm bossa, têm ginga, são desbocados e criativos.

Mas não deixei de me perguntar sobre os "seguidores" de Obama: eles serão perseguidos pelo candidato 24 horas por dia, na internet, no celular, na TV? Será Obama, eleito, o Big Brother digital?

O que me confortou, depois de ouvir os discursos de Bill Richardson, Al Gore e do próprio Barack Obama foi que, apesar do cenário, todos eles discutiram questões políticas realmente essenciais para o futuro.

E a galera vibrou intensamente especialmente em dois momentos: quando George Bush foi acusado de rasgar a Constituição americana e quando Al Gore condenou a tortura.

Pensei comigo mesmo: se essa molecada consegue se identificar com a defesa de princípios abstratos, que vão muito além do interesse individual e pecuniário imediatista, existe um futuro para os Estados Unidos.

Fonte: Vi o Mundo

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