segunda-feira, 23 de junho de 2008

“Um quê de constrangedor para a imprensa paulista”



por Eduardo Guimarães


Segundo o ombudsman da Folha de São Paulo opinou neste domingo no espaço que tem nas edições dominicais do jornal, “Tem um quê de constrangedor para a imprensa paulista que as principais revelações sobre a suspeita de corrupção do governo de São Paulo pela multinacional Alstom venham sendo feitas pelo americano The Wall Street Journal".

Mas diante de quem o Wall Street Journal constrange a imprensa paulista (leia-se, sobretudo, Folha, Estadão e Veja)?

O público que paga para ler esses veículos foi imbecilizado por décadas de verdadeira lavagem cerebral ministrada por eles. Não será esse público, portanto, que abaixará a cabeça enquanto a move para os lados – sinalizando um não – e profere um “tsc, tsc, tsc...” ao se dar conta de que a imprensa brasileira (por que só a paulista?) noticia fatos relativos ao Brasil a reboque das imprensas americana e européia por puro partidarismo.

O constrangimento da imprensa brasileira no caso Alstom, entre outros, ocorre, a meu ver, diante das classes jornalística e acadêmica, sob aplausos e vaias da classe política. Mas é um constrangimento dos impotentes, no caso dos que reprovam a partidarização do jornalismo.

Essa é a realidade que fundamenta essa exibição pública e constante de perversão num ofício que, nesta parte do mundo, já perdeu não só o romantismo, mas a própria razão de ser num momento da história em que o jornalismo-cidadão (amador), como o praticado neste blog, consegue, sem grandes fontes e sem tirar a bunda da cadeira, dar “furo” jornalístico em impérios de comunicação.

Foi o caso deste blog na última quinta-feira. As notícias sobre um “intermediário” brasileiro que atuou entre a Alstom e os sucessivos governos paulistas que receberam propinas da multinacional para as campanhas dos políticos que controlam esses governos (Mário Covas, Geraldo Alckmin e José Serra) há 14 anos foram dadas aqui antes de em qualquer outro site, jornal ou telejornal brasileiro.

Eu não leio o Wall Street Journal e, portanto, não teria achado sozinho a notícia sobre a identificação de um tal Cláudio Mendes, que teria intermediado as negociatas entre os governos tucanos e a Alstom. Quem me passou a matéria do WSJ que reproduzi aqui foi Daniel Florêncio, um jornalista brasileiro radicado em Londres com quem estabeleci um canal de comunicação, e que prometeu me abastecer com informações do exterior sobre o caso Alstom, pois nas imprensas européia e americana o caso está bombando.

Aqui no Brasil, as notícias sobre a roubalheira da Alstom vão para as páginas internas da imprensa escrita e permanecem fora dos telejornais. Além disso, o governador paulista, José Serra, vai empreendendo uma enorme “operação abafa” na Assembléia Legislativa de seu Estado, coordenando o sepultamento da investigação naquela Casa.

A imprensa escrita paulista, sobretudo, limita-se a reproduzir notinhas sobre o caso. Não dá destaque sobretudo ao que Serra está fazendo para impedir investigações. E a imprensa eletrônica praticamente não toca no assunto.

Se o escândalo da Alstom envolvesse Lula e o PT, teríamos uma daquelas campanhas como a do dossiê, que, a rigor, não tinha um décimo da importância para a sociedade da que tem o caso Alstom, pois tratavam-se de acusações sem provas de um partido político contra outro, enquanto que no caso da multinacional corruptora dos governos Covas, Alckmin e Serra, as provas começam a brotar em profusão.

Aliás, um dos raros colunistas do PIG que se dignou a se indignar com a operação abafa de Serra, além do ombudsman Carlos Eduardo Lins da Silva, foi Elio Gaspari, que toca no assunto numa notinha na Folha. O resto do “colonismo” nacional faz cara de parede e finge que não vê ou sabe de nada.

O mais bizarro nesse caso é que ele caminha para um ponto em que veremos Serra e Alckmin (porque Covas já morreu) acusando as justiças da França, da Suíça e o Waal Street Journal – que, para quem não sabe, funciona em Nova Iorque – de terem se mancomunado com o PT, por acusarem os tucanos de ladrões de dinheiro público.

E há até um (pequeno) risco de a Justiça brasileira cobrar essa fatura dos políticos supra mencionados. No Brasil, a Justiça dificilmente vai às últimas conseqüências contra líderes políticos ou multimilionários. Porém, as investigações na justiça européia e na imprensa internacional parecem ainda ter muito fôlego. O constrangimento dito pelo ombudsman, portanto, tende a se aprofundar.


Fonte: Blog Cidadania.com


Share/Save/Bookmark

Nenhum comentário: