COLAPSO
Jared Diamond
Editora Record, 2005
Neste livro, Jared Diamond usa lições dos desastres ambientais do passado como alerta para os perigos que ameaçam a sobrevivência dos seres humanos
O geógrafo Jared Diamond é uma rara combinação de cientista e bom contador de histórias.
Graças a essas duas virtudes, é capaz de transformar assuntos sérios e complicados, porém relevantes, em textos atraentes, de fácil compreensão mesmo para leitores não familiarizados com o tema.
“Colapse: how societies choose to fail ou succeed ” é o segundo bestseller de Diamond (*). O primeiro, “Guns, Germs and Steel”, ganhou o prestigiado Prêmio Pulitzer, nos Estados Unidos. A receita é semelhante. Ambos misturam ciência, pesquisa histórica e experiências pessoais do autor para explicar alguns dos aspectos mais fascinantes da história da civilização.
Em “Guns, Germs and Steel”, Diamond fazia uma radiografia das raízes dos seres humanos para demonstrar como a combinação de clima e recursos naturais havia contribuído decisivamente para o surgimento e a prosperidade das grandes civilizações.
Por essa teoria, a geografia somada à disponibilidade de determinados recursos, como animais facilmente domesticáveis, tinham sido fundamentais para que alguns povos se desenvolvessem e triunfassem sobre outros menos favorecidos.
Em “Colapso”, ele dá um passo adiante ao tirar lições do passado como alerta para os riscos de um colapso ambiental no futuro do planeta.
Neste livro, com o uso de descobertas científicas em disciplinas tão diferentes quanto a zoologia, sismologia, botânica, história das religiões e física nuclear, Diamond investiga o lado dos derrotados: por que algumas grandes civilizações, que tinham tudo para dar certo, fracassaram ou desapareceram enquanto outras prosperaram? Um exemplo é o destino misterioso da sociedade primitiva que colonizou a Ilha de Páscoa.
Além dos gigantescos menires de pedra que até hoje assombram os turistas, nada mais restou dessa antiga civilização polinésia.
Destino semelhante tiveram os maias, na América Central, e os vikings, no norte da Europa. Por que, depois de florescer de forma tão exuberante num determinado período, todas essas civilizações sumiram do mapa deixando para trás apenas ruínas de suas construções?
Uma primeira conclusão é que o futuro de todos os grupamentos humanos primitivos sempre dependeu da forma como encararam ou enfrentaram os desastres ambientais que os aguardavam.
O planeta Terra, observa Diamond, é um ambiente altamente mutável, no qual o sucesso e a continuidade da vida estão intimamente associados à sua capacidade de se adaptar às mudanças.
Sociedades que souberam cuidar dos seus recursos naturais foram mais bem sucedidas ao se antecipar às alterações climáticas e ambientais de modo a conseguir sobreviver à elas.
Povos que, ao contrário, exploraram em excesso esses recursos, movidos pela necessidade ou pela imprevidência, traçaram o caminho do próprio fracasso.
É o que Diamond chama de “eco-suicídio”, ou seja, a incapacidade de entender a fragilidade do meio ambiente combinada com a ganância que leva a exploração dos recursos naturais muito além do limite sustentável.
Um caso exemplar é o dos polinésios da Ilha de Páscoa. Plantada no meio do Oceano Pacífico, essa ilha vulcânica, descoberta em 1722 pelo explorador holandês Jacob Roggeveen, é uma dos pontos mais remotos do planeta.
A terra mais próxima pelo leste é a costa do Chile, situada a 4.100 quilômetros de distância. A oeste, são as Ilhas de Pitcairn, separadas por mais 2.400 quilômetros de mar.
A ilha é conhecida pelas centenas de estátuas gigantescas de pedra com feições humanas, que há séculos miram o oceano de forma enigmática.
Algumas pesam mais de 270 toneladas. A existência desses monumentos rochosos indicam que nessa ilha um dia floresceu uma civilização criativa e ambiciosa, mas quando os europeus lá chegaram tudo que viram pela frente foi um povo empobrecido sobrevivendo a duras penas da agricultura rudimentar num solo pedregoso em acelerado processo de desertificação.
Ao passar por ali em 1774, o explorador britânico James Cook descreveu os habitantes como “pequenos, esquálidos, tímidos e miseráveis”.
O que aconteceu? A explicação de Diamond: os moradores da Ilha de Páscoa exageraram na exploração dos seus recursos ambientais. Quando os primeiros seres humanos ali chegaram, por volta do século nono da Era Cristã, a ilha era coberta por um densa floresta tropical, repleta de aves e animais, mas o desmatamento sem controle para uso agrícola e exploração da madeira rapidamente transformaram a região num deserto.
A extinção das espécies nativas inviabilizou a caça e a coleta de frutos. Para complicar a situação, o oceano em volta era pobre em peixes e frutos do mar, devido à ausência de corais.
O resultado óbvio foi que, em pouco tempo já não havia recursos para alimentar a população, estimada em cerca de 30 000 habitantes no seu auge. A chegada dos europeus, portadores de doenças como varíola e sarampo, foi uma contribuição adicional e decisiva para o desastre.
“Não existe exemplo mais clamoroso de sociedade que destruiu a si própria explorando além da conta seus recursos naturais”, escreve Diamond.
Ao investigar essa e outras histórias semelhantes de civilizações fracassadas, Diamond identifica alguns padrões de erro, como o crescimento populacional descontrolado e a exploração excessiva da caça, pesca e outros recursos naturais - todos problemas agravados por fatores como secas, invernos rigorosos, convulsões políticas ou guerras civis.
Ciclos de desmatamento excessivo deram lugar à erosão do solo e à fome decorrente do desaparecimento de animais e espécies vegetais usadas na alimentação, seguida da decadência de toda uma civilização.
Natureza e seres humanos, afirma Diamond, estão ligados para sempre por laços indissolúveis. O futuro de um dependerá sempre do outro.
A diferença agora é que nunca antes os problemas foram tão graves e em escala tão gigantesca. Enquanto as civilizações antigas enfrentaram problemas locais ou regionais, desta vez a humanidade inteira encontra-se diante do desafio de salvar o planeta. Não é mais apenas um povo ou uma nação ameaçada, mas todos os seres humanos.
“O paralelo entre o destino da Ilha de Páscoa e o mundo moderno é absurdamente óbvio”, afirma o autor.
“Graças à globalização, ao comércio internacional, aos aviões a jato e à Internet, todos os países do mundo hoje compartilham os mesmos recursos finitos.
A Ilha de Páscoa era um lugar isolado no Oceano Pacífico, tanto quanto a Terra é um planeta solitário na imensidão do universo. Quando os habitantes polinésios da ilha se viram em dificuldade, não havia para onde fugir, da mesma forma como nós, seres humanos atuais, não teremos para onde ir caso os problemas atuais continuem a se agravar até o limite do desastre”.
O autor fornece uma lista de doze desafios para a humanidade hoje:
1. Destruição dos habitats naturais
2. Pesca exagerada nos rios e oceanos
3. Redução na diversidade biológica
4. Empobrecimento do solo
5. Crise do petróleo e falta de recursos fósseis capazes de fornecer energia para uma população crescente
6. Dramática redução nos estoques de água potável
7. Redução da energia solar devido às mudanças climáticas
8. Contaminação do solo por resíduos tóxicos
9. Invasão dos antigos habitats naturais por pragas e espécies alienígenas
10. Atividade humana exagerada
11. Super-população do planeta
12. Aumento no impacto per-capita sobre os recursos naturais
Apesar do tom pessimista, Jared Diamond encerra seu livro com uma nota positiva: de todas as sociedades que, ao longo da História, contemplaram o colapso, apenas a nossa tem a oportunidade de aprender com o passado.
O problema é que, dependendo de como essas lições forem estudadas e aplicadas, talvez não haja mais ninguém para contar essa história no futuro - como fez Diamond.
(*) Esta resenha foi feita com base na edição original, em inglês, publicada em 2005 nos Estados Unidos pela Editora Viking Penguin
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