quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Lembrete aos cucarachas: Quem tem poder manda. Quem tem juízo, obedece - por Luiz Carlos Azenha - fonte: http://viomundo.globo.com

Lembrete aos cucarachas: Quem tem poder manda. Quem tem juízo, obedece





"O Projeto para um Novo Século Americano" foi criado no início de 1997 e, ainda no governo de Bill Clinton, os integrantes dele escreveram uma carta-aberta pregando a ocupação do Iraque. Em 2000, o PNAC divulgou seu documento mais importante e polêmico: "Reconstruindo as Defesas da América: Estratégia, Forças e Recursos para um Novo Século".

Com a vitória de George W. Bush, em 2000, autores, signatários ou simpatizantes do PNAC - que ainda existe, como instituto de estudos - assumiram cargos importantes no governo americano.

Elliott Abrams, Conselho de Segurança Nacional
Richard Armitage, subsecretário de Estado (2001-2005)
John R. Bolton, Departamento de Estado e embaixador americano na ONU (2001-2006)
Richard Cheney, vice-presidente
Eliot A. Cohen, integrante do Comitê Assessor para Política de Defesa
Seth Cropsey, diretor da Voz da América (até 2004)
Paula Dobriansky, subsecretária de Estado para Global Affairs
Francis Fukuyama, integrante do conselho presidencial de bioética
Zalmay Khalilzad, embaixador no Afeganistão, no Iraque e nas Nações Unidas
I. Lewis "Scooter" Libby, chefe da Casa Civil condenado por perjúrio, obstrução de Justiça e por mentir ao FBI, teve a pena comutada pelo presidente Bush
Richard Perle, Comitê Assessor para Política de Defesa
Peter W. Rodman, secretário-assistente de Defesa para Segurança Internacional
Donald Rumsfeld, secretário de Defesa
Randy Scheunemann, fundador do Comitê para a Liberação do Iraque, integrante do Instituto Republicano Internacional (ligado ao Partido Republicano) e do Projeto para Democracias em Transição
Paul Wolfowitz, subsecretário de Defesa e ex-presidente do Banco Mundial
Dov S. Zakheim, da Controladoria do Departamento de Defesa
Robert B. Zoellick, subsecretário de Estado, representante comercial e hoje presidente do Banco Mundial

Qual o sentido de reproduzir esta longa lista? Para deixar claro que pessoas em carne-e-osso levaram, para o governo, um projeto que tem o objetivo de garantir a hegemonia dos Estados Unidos no século 21 - política, econômica e militar, em terra, nos oceanos, no ar e em órbita. Eles estão errados? Depende do ponto-de-vista. Do ponto-de-vista dos Estados Unidos, estão certíssimos.

O fracasso americano no Iraque matou o projeto? Depende do que é considerado "fracasso". O fato concreto é que os Estados Unidos mantém controle militar DIRETO da segunda maior reserva de petróleo do mundo fora de seu próprio território, no Iraque, sem considerar o controle indireto na Arábia Saudita e no Kuwait e o meia-boca, político, sobre as reservas da Nigéria e de Angola. Ficam faltando aí as duas pedras no sapato de Washington, Irã e Venezuela, embora a Venezuela continue sendo um exportador importante para o mercado americano, dentro das condições que pode impor sem ser degolada.

Mais do que isso, existe uma peculiaridade no governo dos Estados Unidos: as políticas de Estado dificilmente sofrem grandes transformações. As mudanças são de calibragem entre republicanos e democratas. Essas mudanças não acontecem por dois motivos principais:

1) os partidos políticos são reféns do Colégio Eleitoral americano, que na escolha do presidente garante um peso desproporcional a estados de menor importância econômica. Quem tem coragem de mudar a política do país para Cuba? Ninguém, já que o apoio de um ativo lobby anticastrista, na Flórida, pode ser a diferença entre a vitória e a derrota.

2) Inteligentemente, as grandes empresas fabricantes de armas espalharam suas linhas de montagem e fornecedores nos 50 estados americanos, de forma a ter alguma influência praticamente em todos os distritos que elegem congressistas. Raríssimo é o congressista que aceita passivamente cortes no orçamento do Pentágono que resultem em perdas de empregos nos distritos que representam.

A combinação dos fatores que apontei acima cria um sistema político que favorece a inércia. As políticas são de longo prazo. George W. Bush deixa o poder em 2008, mas o legado das políticas adotadas por ele sobreviverá, com remendos, cerzidos, ajustes, troca de botões e outros serviços.



No documento que trata da estratégia americana para o Século 21, há uma mísera menção à América Latina:

"Atualmente, o Comando Sul dos Estados Unidos, o comando regional do Pentágono para a América Latina, implementa um plano para "forward operation locations" (bases de operação avançadas) para compensar a perda da Howard Air Force Base com a retirada das forças do Panamá e o retorno do controle do canal. De fato, sustentar operações aéreas contra o tráfico de drogas será difícil até que acertos para novos locais sejam feitos. Para obter cobertura total da região para operações anti-drogas, o comando planeja utilizar bases aéreas de Porto Rico ao Equador.



Além de garantir acordos que permitam acesso adequado de forças americanas a novas bases, as localizações devem ter capacidade para operar 24 horas por dia, em todas as condições de tempo; controle de tráfego aéreo adequado; pistas de no mínimo 8 mil pés que sejam capazes de suportar aeronaves pesadas de carga; serviços modernos de reabastecimento e emergência; espaço para estacionar vários aviões do tamanho do AWACS (de monitoramento e espionagem); além de atender a várias exigências, como alojamento e escritórios para pessoal.

O comando acredita que por um custo relativamente pequeno - talvez U$ 120 milhões para as duas primeiras das três bases planejadas - e com presença mínima de pessoal seja possível recuperar a perda estratégica de uma base como Howard".

Portanto, não são minhas, mas são deles as palavras: a perda da base aérea no Panamá seria compensada por três novas bases. Porém, desde então as coisas mudaram. No cenário do continente surgiram lideranças como Hugo Chávez, Evo Morales e Rafael Correa, sem mencionar Daniel Ortega, Cristina Kirchner e outros "populistas".

Quais são os aliados 100% ponta-firme dos Estados Unidos na região, do ponto-de-vista militar? O Chile, cujas Forças Armadas compram armas americanas e tem um grau de independência sem igual na região, já que são financiadas pela Lei Secreta do Cobre, que dá a elas uma fatia do Orçamento chileno independentemente de quem esteja no governo. E a Colômbia, que além de comprar armas americanas com dinheiro público americano, numa espécie de Bolsa Fuzil, produz seus próprios blindados.



Veja aqui alguns vídeos sobre o militarismo na Colômbia.

Hugo Chávez nega aos americanos o petróleo nas condições em que as empresas petrolíferas e o abastecimento estratégico dos Estados Unidos exigem; Evo Morales nega um bem essencial à segurança energética futura de Washington, o gás natural; e Rafael Correa já disse que não pretende renovar a "concessão" para uso da base aérea de Manta, no Equador, que vence em 2009.

Uma colega, que acaba de ler exaustivamente sobre a expansão política, econômica e militar dos Estados Unidos, inclusive a compra da Lousiana, a conquista de território do México e a compra do Alasca, acha que Chávez, Morales e Correa não tem muito futuro - no que concordo com ela. Compraram briga com um cachorro gigante, que sai para passear acompanhado por uma enorme matilha, que ataca por motivos ideológicos, políticos e econômicos. Eles latem quando é para latir e mordem quando dá para morder.

Paraguai? Suriname? Bolívia balcanizada? Onde é que ficarão as futuras bases de operação avançadas do Pentágono na América Latina? Ou vocês acreditam que americano rasga dinheiro?

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