Está marcado para o dia 21 de outubro o Dia Internacional Contra a Invasão de Privacidade. É um protesto contra o Echelon, nome codificado do projeto secreto do governo dos Estados Unidos, que permite à sua Agência Nacional de Segurança (NSA) interceptar e monitorar todo tipo de comunicação eletrônica. Haverá várias manifestações em todo o mundo.
Um relatório do Parlamento Europeu afirma que o "Echelon é um sistema global de vigilância, que se espalha por todo o mundo e tem como alvo todos os principais satélites Intelsat usados para a maioria das comunicações mundiais com telefones, Internet, e-mail e faxes, que são rotineiramente interceptados pela NSA". E que "o Echelon foi concebido sobretudo para espionar governos, organizações e empresas em todos os países do mundo".
O Ministério da Defesa da França denunciou que agentes da NSA ajudaram a instalar chips de espionagem nos programas da Microsoft. Isto significa controle das comunicações na Internet e a transformação dos computadores, sejam eles brasileiros, americanos ou iraquianos, em linha auxiliar do governo dos Estados Unidos. A Microsoft contou com o apoio da NSA desde a sua fundação, inclusive financeiro. Além disso, a NSA obrigou a IBM a aceitar o sistema operativo MS-DOS para operar com a administração norte-americana.
Em janeiro de 1994, o primeiro-ministro francês Edouard Balladur acertou com a Arábia Saudita a assinatura de um megacontrato de fornecimento de Airbus e de armamentos. Além do dinheiro oficial, haveria o barani (por fora). O Echelon interceptou a oferta, Washington "protestou" (dizem que baranou mais) e o contrato acabou ficando com a McDonnell-Douglas.
O Brasil também não escapou da vigilância e novamente os franceses foram prejudicados. Quando já davam como certo o fornecimento de radares para o Sistema de Vigilância da Amazônia (SIVAM), novo “protesto” de Washington. Teria sido tão substancial esse “protesto”, que estremeceu as relações entre o Brasil e a França, que viu a sua Thomson-CSF ser superada pela americana Raytheon.
Hoje, o Pentágono é o maior cliente da Microsoft no mundo.
Um pequeno exemplo do poderio do Echelon: Iyad Hardan, 30 anos, dirigente militar do Jihad Islâmico, foi localizado no norte da Cisjordânia e morto por uma explosão quando utilizava um telefone público. Outro palestino, Yahya Ayyash, do Hamas, teve o mesmo fim. Seu telefone celular explodiu quando fazia uma ligação.
O assassinato desses dois palestinos foi um favor prestado aos dirigentes israelenses, defensores incondicionais do Echelon. Foi também um recado a organizações não-governamentais como as pacifistas Anistia Internacional, Greenpeace, Ajuda Cristã, Médicos-Sem-Frontreiras e Repórteres do Mundo, entre outras, que não gozam da simpatia do Pentágono.
Além da sede central em Fort Meade, o Echelon possui bases em Yakima (200 quilômetros a sudoeste de Seattle) e Sugar Grove (250 quilômetros a sudoeste de Washington). Fora dos Estados Unidos, opera no Canadá, em Morwenstow (Cornualha britânica), Waihopai (Nova Zelândia) e Geraldton, no Oeste da Austrália. Daí o sugestivo título de "rede de espionagem dos anglo-saxões".
O Echelon possui a capacidade de decodificar e gravar mais de dois milhões de conversas políticas, industriais e pessoais por hora em qualquer lugar do planeta. Existem palavras-chave que, ao ser captadas, são encaminhadas a computadores de decodificação, denominados "dicionários Echelon".
E são palavras como as que seguem abaixo que os defensores da privacidade pedem para utilizar no dia 21 de outubro para congestionar o Echelon: Anistia Internacional, OLP, Greenpeace, revolução, terrorismo, carta-bomba, carro-bomba, ETA, Hamas, Hizbullah, IRA. O texto não precisa ser coerente. Existem também inúmeras palavras na área econômica, mas aí cada país precisa especificar a sua. No Brasil, por exemplo, temos o caixa-dois, propina, molhar a mão, xexeta, Cayman, Amazônia etc. E a confirmar as palavras tucano, sociólogo e filho não assumido.
Georges Bourdoukan é jornalista e escritor.
Consciência.Net
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