quarta-feira, 21 de novembro de 2007

A melhor democracia que o dinheiro pode comprar - Greg Palast



Diário de Pernambuco / Data: 30/3/2004
Voz dissonante na mídia
LIVRO Lydia Barros "Fique fora de nossa política, seu porco inglês", a ameaça está estampada em uma das tantas cartas endereçadas ao jornalista Greg Palast, que não é inglês e muito menos parece disposto a deixar os assuntos políticos fora de sua pauta. Acostumado ao desprezo dos gigantes norte-americanos da comunicação, o combativo repórter, que nasceu em Los Angeles, em 1952, encontrou abrigo na BBC de Londres e no jornal The Guardian, também londrino, através de onde torna públicos escândalos envolvendo autoridades dos Estados Unidos e do Mundo, Brasil inclusive. É só dar uma conferida em A melhor Democracia que o Dinheiro pode Comprar, série de reportagens reunidas em livro, cuja recém-lançada edição brasileira, pelo selo Francis (W11), inclui capítulo sobre o "esquema" que teria garantido a reeleição do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em 1998: "Quando era menino, o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Robert Rubin, sonhava ser presidente do Brasil. E em 1999 seu sonho se realizou. É claro que, como tem endereço em Washington e nacionalidade americana, Rubin conquistou o controle do Brasil da única maneira que podia: por intermédio de um golpe brilhante", escreve, sobre a sobrevalorização da moeda brasileira... Deu para sentir o torpedo? A contundência e ousadia de Greg Palast, amparada em investigações, documentação e testemunhos de fontes governamentais e não governamentais, é um petardo do qual a imprensa americana faz força para se livrar. Não por acaso, é de sua autoria a reportagem sobre a fraude eleitoral da família Bush na Flórida - entre as oito publicadas em A Melhor Democracia... - que seria responsável pelo desaparecimento de 57 mil nomes do registro de eleitores, supostos criminosos impedidos de exercer o direito de voto, a maior parte inocente, negra e declaradamente democrata. O livro, um grito solitário anti-globalização que condensa em capítulos, nas palavras do autor, "tudo que você não leu no New York Times ou que não viu na CBS", é uma denúncia vigorosa sobre os abusos políticos e econômicos que calam a imprensa ao redor do Mundo. Palast, militante de um jornalismo investigativo cada vez mais raro no Planeta, conta que tentou evitar a carreira. Começou estudando livros contábeis de algumas empresas americanas, quando trabalhava para os sindicatos dos Eletricitários, na década de 1970, para custear sua pós-graduação. Resultado: conseguiu que empresas de gás pagassem multas altíssimas, usando como artifício as regras financeiras dessas mesmas empresas. Virou um expert. "Transformei-me do flagelo anti-empresas, sem um tostão furado, com a cabeça enterrada em arquivos, no especialista número um dos Estados Unidos em regulamentação governamental", reproduz, irônico, a definição de um jornal americano. Graças ao seu fôlego investigativo e sua personalidade cáustica, Greg Palast é uma figura odiada pelos poderosos dos quatro continentes e com um fã-clube em ascensão, que o acessa pela Internet (www.gregpalast.com/) e prova que as pessoas querem sim saber sobre fraudes corporativas e manipulações financeiras. Os brasileiros que ainda não ouviram essa voz, podem conferir o lançamento da W11 nas prateleiras e saber um pouco mais do Lobbygate, sobre corrução no governo de Tony Blair (achou que ele escaparia?), do "Triângulo de Ferro da Globalização", sobre o Fundo Monetário Internacional, e do financiamento de grupos terroristas da Arábia Saudita, entre outras denúncias bem quentes.

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