Coluna Econômica - 09/11/2007
No Summit do Ethanol, ocorrido no início do ano em São Paulo, participei de uma mesa que juntou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o investidor George Soros. O tema era o enorme potencial do Brasil nesse campo.
O ex-presidente fez digressões sobre a Cepal (Comissão Econômica para a América Latina), que dizia que as relações de trocas entre nações sempre favoreciam os produtores de produtos industrializados em detrimento dos exportadores de produtos primários. Mencionou a explosão de preços das commodities para tentar demonstrar que a teoria estava errada.
De seu lado, com a perspicácia de quem consegue identificar o que é efetivamente relevante em processos econômicos, Soros limitou a analisar a explosão dos preços agrícolas sob o prisma da “maldição das matérias primas”. O processo é conhecido. Países que, de repente, conseguem se tornar grandes exportadores de determinadas matérias primas, obtêm enormes superávits comerciais que provocam uma apreciação tal na sua moeda que acaba matando todo o desenvolvimento industrial.
***
A descoberta do poço de Tupi pela Petrobrás, de um lado, é motivo de orgulho para o país. Pelas primeiras informações, poderá mais que dobrar as reservas brasileiras incluindo o Brasil no primeiro time dos exportadores de petróleo.
Por outro lado, se não houver visão estratégica da parte do governo, poderá ser a pá de cal na tentativa de modernização do país.
Hoje em dia, a explosão das commodities, somada à imprudência da política monetária e cambial, já está produzindo uma avaria irreversível no tecido industrial brasileiro. A cada dia que passa, com o dólar deslizando ladeira abaixo, mas indústrias, emprego, produção brasileira são alijados do mercado por produtos importados.
Por enquanto esse processo é menos explícito devido ao aquecimento da demanda interna. Em um primeiro momento, as importações não conseguem crescer a ponto de atender a todo crescimento de demanda. O dólar vai caindo e cada importação nova que se viabiliza necessita de tempo, até que os importadores identifiquem os vendedores e montem estruturas internas de distribuição.
A partir de certo momento – que já começou – as importações ganham velocidade de cruzeiro. O crescimento da demanda, por si, não consegue mais sustentar o aumento do emprego e da renda – porque mais e mais esse espaço será ocupado por produtos importados.
Quando arrefecer a atual onda de aumento de demanda, a maré baixa e os escombros aparecem.
***
Com a descoberta dessa super-reserva, o governo tomou uma primeira atitude sensata: mandou cancelar o leilão de todas as áreas contíguas ao poço. Agora, precisaria partir para o segundo tempo: discutir com o país o tratamento a ser dado a esse novo presente da natureza ao Brasil. Sem uma visão de longo prazo, que permita acumular recursos para o desenvolvimento futuro, que impeça o aprofundamento da “maldição dos recursos naturais”, o presente poderá se transformar em tragédia com data anunciada.
É hora de comemorar. Mas é hora de se pensar com seriedade o futuro.
Petróbrás – 1
Duas implicações a serem analisadas, em função da descoberta do super-campo. O primeiro, como ficarão os investimentos da Petrobrás na adaptação das refinarias para tratar o petróleo pesado. O segundo, os impactos da descoberta sobre os programas de agro-energia da empresa. A Petrobrás estava focada em se transformar em uma empresa de energia. E agora, com a possibilidade de se transformar em um membro da OPEP?
Petrobrás- 2
Ontem mesmo, o presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrelli, anunciou a necessidade de alterar todos os planos de investimento da companhia. Já tinha acontecido uma primeira revisão com o aumento de custos. Agora, terá que ser revisto em função das novas prioridades de investimento. Hoje em dia o Brasil importa 300 mil barris de petróleo por dia, do tipo leve. Mas ainda não se tem claro o novo perfil do refino.
Petrobrás – 3
Há a possibilidade de um primeiro projeto piloto no campo de Tupi em 2010, produzindo 100 mil barris por dia, segundo o diretor de Exploração e Produção da Petrobras, Guilherme Estrella. Como o campo está a 250 km da costa, não haverá como transportar o gás. Ou será aproveitado em térmicas flutuantes, com a eletricidade sendo transportada por cabos submarinos; ou seria liquefeito em pleno mar.
Um comentário:
Postar um comentário