terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

“É a luta política, estúpido” - por Alon Feuerwerker - fonte:http://blogdoalon.blogspot.com/

“É a luta política, estúpido” (12/02)

Coluna (Nas entrelinhas) publicada hoje (12/02/2008) no Correio Braziliense.

A profusão de textos a respeito da tal “refundação” do PT já há muito tempo deveria ter contribuído para agravar o aquecimento global (por meio da combustão) ou, numa hipótese ecologicamente mais correta, para embrulhar peixe

Alon Feuerwerker
alon.feuerwerker@correioweb.com.br

Deu a lógica no PT. O antigo Campo Majoritário, atual Construindo um Novo Brasil (CNB), está firme e forte no comando da legenda. Já havia emplacado o deputado federal Ricardo Berzoini (SP) na presidência da sigla e agora obteve a hegemonia absoluta na comissão executiva nacional. Para alcançar esse objetivo, o CNB aliou-se exatamente ao grupo Mensagem ao Partido (MP), que sob o comando do ministro da Justiça, Tarso Genro, agrupou-se lá atrás para supostamente “refundar” o PT e livrá-lo da hegemonia do Campo Majoritário. Em resumo, e para ficar bem claro, os candidatos a “refundadores” do PT deram os votos decisivos na direção nacional para enterrar qualquer veleidade de reforma estrutural no PT. Em troca, ganharam uma suculenta fatia do poder partidário. E a vida segue.

Para sorte dos jornalistas que ainda escrevem em papel impresso, a profusão de textos a respeito da tal “refundação” já há muito tempo deveria ter contribuído para agravar o aquecimento global (por meio da combustão) ou, numa hipótese ecologicamente mais correta, para embrulhar peixe. Menos mal. Já passou da hora de os jornalistas entenderem que na política tudo se subordina à luta pelo poder. Inclusive e, principalmente, as idéias. E também já passou da hora de o jornalismo recusar-se a reproduzir candidamente aspas proferidas apenas para obter algum efeito político imediato. A frase clássica de James Carville, adaptada, merece estar obrigatoriamente exposta em cartazes onde houver atividade jornalística: “É a luta política, estúpido”.

Mas que o leitor não cometa o equívoco de entender minhas observações como crítica. Não há aqui interpretação, apenas descrição objetiva dos fatos. E, como não se faz omelete sem quebrar ovos (é a segunda coluna seguida com o ditado. Haja ovos…), sobrou na dança das cadeiras a ministra do Turismo, Marta Suplicy. Que ousou desafiar a hegemonia do CNB na ultima eleição partidária, levou o candidato dela, deputado federal Jilmar Tatto (SP), ao segundo turno na eleição interna e agora recebe o troco. E recebe também um recado a respeito de seus possíveis sonhos presidenciais. Em resumo, o que o CNB disse para Marta, sem dizê-lo, foi que se ela deseja disputar a sucessão de Luiz Inácio Lula da Silva que arranje força política própria. Não deixa de ser um conselho útil, nas circunstâncias. Se você não pode ajudar objetivamente um amigo, pelo menos ajude-o a enterrar as próprias ilusões.

Um dos efeitos práticos do escanteamento do grupo que se articulou em torno de Tatto é estimular ainda mais a ex-prefeita Marta Suplicy a colocar o pé na estrada, para retomar a cadeira que foi dela em São Paulo. A situação da ministra é privilegiada em terras paulistanas. Ela tem, firme, cerca de um terço do eleitorado e é competiviva contra qualquer nome com quem precise disputar um eventual segundo turno. Principalmente agora que o tucanato de São Paulo está cindido entre lançar o ex-governador Geraldo Alckmin ou apoiar o prefeito Gilberto Kassab (DEM), aliado do governador José Serra.

Marta vai para a campanha municipal em situação confortável. Se ganhar, terá retomado para o PT uma cidadela-chave e seu nome estará vitaminado em todas as listas de presidenciáveis. Se disputar duro e perder, manterá intocada sua liderança política na principal base do petismo. E estará pronta a estender seu protagonismo aos quatro cantos do estado de São Paulo — eventualmente como candidata fortíssima à sucessão do próprio Serra. Na política, feio não é eventualmente perder uma eleição. Não se pode é fugir da luta. Nesse particular, o temperamento de Marta conta a favor dela. E os números também. No desfecho da polarizadíssima campanha de 2004, a então prefeita alcançou o pico de 48% de “ótimo” e “bom”, contra apenas 17% de “ruim” e “péssimo”.

Outra eleição quente será a de Belo Horizonte. Onde o governador Aécio Neves (PSDB) e o prefeito da capital, Fernando Pimentel (PT), tentam construir uma candidatura comum, saída do PSB. O petismo antitucano e o tucanismo antipetista torcem o nariz. Em comum, ambos têm a característica de só existirem um em oposição ao outro. E de manterem o país refém de crises cíclicas e artificiais. Ainda que muito úteis para mobilizar uma opinião pública que, de tempos em tempos, compra, pelo valor de face, a tese de que é necessário evitar a todo custo que o suposto adversário chegue ao poder, ou continue nele. Com isso, ambas as facções “anti” se perpetuam elas próprias em seus respectivos nichos de poder. De novo, “é a luta política, estúpido”.
por
Alon Feuerwerker - fonte:http://blogdoalon.blogspot.com/
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