quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

As primárias do Potomac - Eleições Americanas - por Idelber Avelar - fonte: http://www.idelberavelar.com/

As primárias do Potomac

Foram realizadas na noite passada as chamadas primárias do (rio) Potomac: os estados de Virgínia e Maryland e o Distrito de Columbia votaram para escolher o candidato democrata. Já se sabia que a vitória seria de Obama. A demografia lhe era favorável: a altíssima população afro-americana do Distrito de Columbia e a concentração de jovens em Virgínia garantia uma boa performance. Mas nem mesmo a campanha de Obama esperava a goleada que aconteceu. No post anterior sobre as primárias, eu citava uma pesquisa da Rassmussen que dava Obama por 55 x 37 na Virgínia, notando que os números poderiam estar exagerados, já que entre a população de trabalhadores blue-collar (proleta) da Virgínia, Hillary tinha boa penetração. E não é que os números da Rassmussen não estavam exagerados, e sim demasiado modestos? Obama ganhou a Virgínia por 64 x 35.

A goleada em DC foi 75 x 24 e em Maryland a diferença foi 62 x 35. A pior notícia para Hillary não é exatamente a diferença, mas a demografia dos votos. Em cada um dos grupos sociais em que Hillary vinha sistematicamente vencendo, Obama virou o jogo. 6 de cada 10 mulheres de Maryland votaram em Obama. 6 de cada 10 mulheres em Virgínia votaram em Obama. Na Califórnia, a vantagem entre o eleitorado latino havia sido chave para Hillary. Em primeiro lugar, acredito eu, porque eles se lembravam da administração de Bill Clinton, onde pela primeira vez os latinos tiveram postos de liderança. Em segundo lugar, pelas conhecidas tensões existentes -- em alguns lugares -- entre negros e latinos. Pois, na Virgínia, Obama carregou o voto latino com quase 60%. Há que se conhecer os EUA para saber a revolução que representa isso. Por pura curiosidade, passei a procurar informação sobre os eleitores de mais de 60 anos de idade, que era o único grupo social em que Hillary ainda ganhava de Obama em qualquer estado. Até mesmo com os velhinhos, entre os quais Hillary costumava vencer com mais de 30 pontos, ela perdeu. Todos os grupos que constituíam a base da candidatura de Hillary vão migrando para Obama.

Para piorar a situação de Hillary, a campanha entrou em parafuso. A coordenadora foi despedida. No seu discurso de ontem à noite no Texas, ela quebrou pela segunda vez uma longa tradição da política americana, ao não oferecer os parabéns a Obama pelas vitórias e nem mesmo agradecer aos seus voluntários no Potomac. Discursou como se não tivesse havido primárias na noite de ontem. Para quem, como eu, acompanhou cinco campanhas presidenciais americanas, é sinal de que o lateral-esquerdo já está na direita levantando chuveirinhos para o volante cabecear: confusão total. Minhas fontes dentro da campanha de Hillary são poucas, mas são unânimes: pegou mal, muito mal. A aposta de Clinton é clara neste momento: ganhar no Texas, em Ohio e na Pensilvânia. Mas na terça-feira que vem falam os eleitores de Wisconsin onde, pelo que parece, Obama já virou o jogo.

Agora Obama já tem uma vantagem de mais de 100 votos sobre Hillary entre os delegados conquistados democraticamente, nas primárias. Como a estas alturas já sabem os leitores do Biscoito, 20% da convenção democrata vem de “superdelegados” -- parlamentares e burocratas no partido -- nos quais Hillary tem maioria. Mas pela primeira vez nesta campanha, Obama já vence no cômputo geral até mesmo depois que consideramos os superdelegados (veja aqui e aqui). Para piorar a situação para a senadora de Nova York, cresce entre os democratas a sensação de que os superdelegados não podem reverter a vontade dos eleitores. Um a um, os superdelegados vão migrando para Obama.

PS: Amanhã, aqui no Biscoito: um texto sobre o que eu considero a votação mais importante do Senado americano nos últimos dez anos – surpreendentemente ignorada pela imprensa brasileira.


Escrito por Idelber - fonte: http://www.idelberavelar.com/

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