DESTRUIÇÃO DE SATÉLITE AMERICANO: MAIS UM DEGRAU NA MILITARIZAÇÃO DO ESPAÇO
Atualizado em 21 de fevereiro de 2008 às 14:15 | Publicado em 21 de fevereiro de 2008 às 13:43
WASHINGTON - Quer entender a política externa dos Estados Unidos? Nenhuma leitura é tão essencial quanto "Rebuilding America's Defenses: Strategy, Forces and Resources for a New Century", o mapa da mina dos neocons publicado em setembro de 2000 - portanto, antes que George W. Bush assumisse a Casa Branca.
Alijados do poder, os neocons fundaram uma ONG com o nome de "Project for an American Century". Já em 26 de janeiro de 1998 pregavam a derrubada de Saddam Hussein, em carta escrita ao então presidente Bill Clinton.
Quem assinou? Elliot Abrams, Richard L. Armitage, William J. Bennett, Jeffrey Bergner, John Bolton, Paula Dobriansky, Francis Fukuyama, Robert Kagan, Zalmay Khalilzad, William Kristol, Richard Perle, Peter W. Rodman, Donald Rumsfeld, William Schneider Jr., Vin Weber, Paul Wolfowitz, James Woolsey e Robert Zoellick.
Além disso, o PNAC, como é conhecido o Projeto para um Século Americano, desenhou uma estratégia militar para garantir a hegemonia dos Estados Unidos no século 21, de olho especialmente nos recursos necessários à economia do país.
Quem ajudou a escrever o texto acima? William Kristol, Robert Kagan, Stephen Cambone, Lewis Libby, Eliot Cohen, Paul Wolfowitz, Barry Wattz (da Northrop Grumman Corporation, uma das maiores fabricantes de armas do mundo)...
Kristol é o editor da revista Weekly Standart, bíblia dos neocons americanos e brasileiros. Quer entender a cabeça deles? Leia a revista. Quer entender a postura adotada por alguns editores brasileiros de jornais, revistas e emissoras de TV em política internacional? Leia a revista.
Quando George W. Bush assumiu o poder os neocons assumiram com ele.
A política externa já estava traçada. Faltava uma justificativa para implantá-la. Surgiu em 11 de setembro de 2001.
O "operador" dessa política foi o vice-presidente Dick Cheney, assessorado inicialmente por Lewis Libby - condenado pela Justiça e perdoado por George W. Bush no episódio do vazamento da identidade de uma agente da CIA.
Donald Rumsfeld foi para o Departamento de Defesa, levando consigo Wolfowitz, que depois se tornou presidente do Banco Mundial e hoje dirige um comitê do Departamento de Estado para "controle armamentista e desarmamento".
Richard Perle foi chefe do Comitê Assessor de Política de Defesa do governo Bush.
Robert Zoellick foi representante comercial da Casa Branca e hoje dirige o Banco Mundial.
Richard Armitage foi subsecretário de Estado.
Elliot Abrams foi assessor especial de Bush.
Eliot Cohen é conselheiro do Departamento de Estado.
John Bolton foi embaixador dos Estados Unidos nas Nações Unidas.
Zalmay Khalilzad foi embaixador no Afeganistão, no Iraque e hoje está nas Nações Unidas.
Qual é meu ponto com essa longa lista de nomes e cargos? Demonstrar que os neocons aparelharam o governo americano para seus objetivos políticos e ideológicos. Em muitos casos, econômicos. Muitos deles já foram ou se tornaram lobistas de empresas. Em comum, eles têm a participação em think-tanks, entidades que formulam , fora do governo, sugestões para a política externa, de energia, militar - com o objetivo de competir com a política formulada pela burocracia estatal.
Vou dar um exemplo brasileiro para vocês entenderem melhor. A TV Globo é contra o Estatuto da Igualdade Racial. Mesmo que a decisão de aprovar o Estatuto resultar de um consenso entre lideranças negras e deputados a TV Globo vai fazer campanha contra. Ou seja, a emissora quer fazer política de governo e de estado usando uma concessão pública. Muitos deputados e senadores têm medo de contrariar a emissora e entrar na lista negra. Outros querem botar a cara no Jornal Nacional a qualquer custo, mesmo que contrariem aqueles que os elegeram. A isso chama-se de "terceirização" da política governamental. É o que aconteceu nos Estados Unidos.
Quando Bush assumiu o poder, adotou como oficiais as idéias do Projeto para um Século Americano. Elas não foram formuladas pela diplomacia americana, muito menos pelo Pentágono. Foram formuladas pelos neocons em seus think-tanks.
Diz o texto lá em cima:
GLOBAL MISSILE DEFENSES - Uma rede contra ataques limitados, capaz de proteger os Estados Unidos, seus aliados e forças precisa ser construída. Deve ser um sistema baseado em terra, mar, ar e espaço.
CONTROL OF SPACE AND CYBERSPACE - Assim como o controle do alto mar - e a proteção do comércio internacional - definiu os poderes globais no passado, o controle do "espaço comum internacional" será chave para o poder mundial no futuro. Uma América incapaz de proteger seus interesses e de seus aliados no espaço e na "infosfera" terá dificuldade para exercer liderança política global.
O mesmo documento sugere que o país comece a criar um novo braço das Forças Armadas, a US Space Force, Força Espacial dos Estados Unidos.
Entendeu agora porque a China e a Rússia protestaram contra a destruição de um satélite em órbita pelos Estados Unidos?
Tudo indica que o satélite se desintegraria ao reentrar na atmosfera. Essa conversa de "combustível tóxico" é para enganar os editores da Folha de S. Paulo e do Estadão. Não é preciso ser gênio, é só ler o documento do PNAC. A destruição do satélite foi um teste militar americano no espaço.
As Nações Unidas querem aprovar um tratado para impedir a militarização da órbita da terra. Os Estados Unidos são contra.
Quando Stálin mandou a cadelinha Laika, Gagarin e Valentina para o espaço estava fazendo propaganda. O verdadeiro objetivo do programa espacial soviético era desenvolver os foguetes para jogar bomba na Europa Ocidental e nos Estados Unidos. Ele estava cercado de bases americanas e vulnerável aos ataques de grandes bombardeiros. Como equilibrar o jogo? Com mísseis balísticos intercontinentais.
Washington agora quer instalar sistemas anti-mísseis na Europa Oriental, alegando que seria uma defesa contra mísseis iranianos. Mentira. O objetivo é se aproximar das bases de lançamento da Rússia, obtendo assim uma vantagem estratégica.
Por outro lado, americanos e chineses desenvolvem sistemas que seriam capazes de destruir satélites a partir do solo.
Estados Unidos, China e Rússia estão de olho nas guerras do futuro. O Brasil fez mal criação? Bala nos satélites que servem ao país, interrompendo a transmissão de dados e de imagens, afetando desde as telecomunicações até a economia. Esse é o nome do jogo.
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