quarta-feira, 30 de julho de 2008

Grandes hidrelétricas ameaçam a Amazônia

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por Altino Machado

A construção de 79 hidrelétricas previstas para a Amazônia pode contribuir com aumento de um terço da área naturalmente alagada na região, que passaria de 300 mil km² para 400 mil km²

O aumento da área alagada será prejudicial para a vegetação, fluxos d’água, biologia dos rios, biodiversidade, além de contribuir para o aumento das emissões de gases tóxicos para a atmosfera, sobretudo o metano, cuja molécula polui 24 vezes mais que uma molécula de gás carbônico.

O alerta é do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), que realizou uma pesquisa, no entorno do lago da Usina Hidrelétrica de Balbina, sobre a capacidade de espécies arbóreas absorverem carbono da atmosfera e de influenciar no ciclo de chuvas na Amazônia. Balbina está localizada no rio Uatumã, no município de Presidente Figueiredo (AM), a 107 quilômetros de Manaus..

Os resultados da pesquisa fazem parte da terceira tese de doutorado do Programa de Pós-Graduação em Ciências de Florestas Tropicias, que será apresentada nesta terça-feira, em Manaus, por Ulysses Moreira dos Santos Júnior e seu orientador José Francisco de Carvalho Gonçalves.

Os dois pesquisadores do Inpa estudaram 10 espécies arbóreas, sendo sete adaptadas ao período de cheia e três não adaptadas. A pesquisa fez o levantamento de cerca de 200 árvores num raio de 100 km a montante (acima) e a jusante (abaixo) da barragem.

- As plantas tolerantes ao afogamento mantêm a capacidade de dissolver carbono relativamente moderada. Mas as plantas sensíveis aumentam a temperatura interna das folhas, o que leva ao colapso do metabolismo celular - assinalam os pesquisadores do Inpa.

Intitulado “Fisiologia e indicadores de estresse em árvores crescendo em ambientes alagados pela hidroelétrica de Balbina na Amazônia Central”, o trabalho faz um apanhado histórico de projetos desenvolvimentistas do governo federal, a partir de 1985, que prevêem a construção de 79 hidrelétricas na região amazônica.

- Balbina é um dos piores exemplos de construção de hidrelétricas, por isso resolvemos estudar o impacto dela na vegetação marginal.

De acordo com os cientistas, a questão é quando se pensa nas implicações nos contextos amazônico e do aquecimento global, ou seja, aumento da temperatura. Eles questionam como as plantas irão se comportar em cenários extremos, mas não sabem com certeza quais espécies poderão sobreviver.

Impacto global negligenciado

Em relação à capacidade de assimilar carbono, as plantas tolerantes ao alagamento tiveram uma redução de 11%. Já as plantas não tolerantes tiveram uma redução de 85%.

- Com a diminuição da capacidade de realizar esse tipo de tarefa, há aumento dos níveis de gases responsáveis pelo efeito estufa na atmosfera - alertam.

A transpiração (troca de água com o ambiente externo) das folhas foi outro fator agravante destacado pelos pesquisadores. As plantas tolerantes ao alagamento tiveram uma redução de 15,5%.

Segundo eles, existem duas implicações. A primeira, que as plantas perderão a capacidade de trocar calor lantente com a atmosfera. Isso quer dizer que, se a planta trabalhava em uma temperatura “ótima”, terá que trabalhar em uma temperatura maior. Dessa forma, perderá sua eficiência. A segunda implicação é a diminuição da quantidade de vapor e compostos volatéis emitidos, que contribuem com a temperatura do ar e a dinâmica de formação de nuvens.

- Fizemos um teste sobre a capacidade da planta assimilar carbono, conforme a temperatura da folha. Observamos que, conforme a temperatura da folha aumenta, a capacidade de assimilar carbono diminui. As espécies foram expostas até 42ºC. Não se sabe até que temperatura uma planta pode suportar.

Santos Júnior e Carvalho Gonçalves explicam que quando as plantas tolerantes ao alagamento foram expostas a 42ºC, a média em assimilar carbono foi de 44%, enquanto nas que não são tolerantes, no período alagado, a diminuição foi de 67%.

- A contribuição das usinas hidrelétricas para o aquecimento global está sendo negligenciado, uma vez que a maioria dos estudos são concentrados apenas em grandes extensões de florestas.

Fonte: Blog da Amazônia

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