quarta-feira, 23 de julho de 2008

O Copom foi refém do mercado

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por Márcia Pinheiro

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central aumentou, na quarta-feira 23, a taxa básica de juro em 0,75 ponto porcentual, para 13% ao ano. Segundo a Uptrend Consultoria, esse movimento mantém o País no pódio do ranking do maior juro real do mundo (descontada a inflação), de 7,2% ao ano. O Copom errou.

Nada mudou desde a última reunião, em 3 e 4 de junho. Então, a crise hipotecária americana já havia se escancarado e não havia dúvidas de que existe um processo inflacionário global.

A questão relevante é se o Copom pode manejar a crise mundial. Não pode. Fez-se de durão por puro medo, medo do futuro. Desconsiderou que, com a desaceleração econômica mundial, os mercados entrarão nos eixos. Na marra, mas entrarão. Repetiu o movimento do segundo semestre de 2004.

Mais juro real? O colunista de CartaCapital Delfim Netto vai, certamente, dançar sobre os cabeças de planilha do Copom. O efeito será exatamente o inverso. A curva de juro, de contratos futuros negociados na BM&F, foi pressionada ontem e hoje. Nesta quinta, 24, vai cair. O BC fez trabalho sujo, porque a maioria das instituições financeiras apostava em alta de 0,5 ponto percentual.

Pura especulação. O BC se rendeu, novamente, aos ditames do mercado. Sequer esperou pelos efeitos das últimas altas da Taxa Selic. Afobou-se, como é típico da seara do medo. O País vai computar, no balanço de perdas e danos, essa decisão do Copom. Não se contém inflação global com juro interno.

O que vai acontecer? Mais dólares a entrar no Brasil, mais apreciação cambial, mais fragilidade das contas externas. O que mina todo o esforço da equipe econômica de manter um nível razoável de crescimento neste ano, na faixa de 4,5%. Errou. Quem consegue me provar o contrário?

Fonte: Carta Capital

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