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Estadão perdido no espaço
Quando a linha editorial de um veículo estabelece no seu corpo redacional idéias fixas em relação a algo ou alguém, qualquer desatenção leva tudo para o espaço. Foi o que aconteceu na versão on-line da editoria de Ciência do jornal Estado de S.Paulo.
por Gilson Caroni Filho
Está certo que a publicidade brasileira é uma das melhores do mundo. A qualidade e criatividade dos seus jingles são por demais conhecidas, aqui e alhures, agindo com eficácia na imaginação do consumidor, fixando marcas, produtos e pessoas.Fundamental como estratégia comunicativa, a função primordial deles é grudar na cabeça do público-alvo. Para fixar no subconsciente, a melodia tem que ser de fácil aceitação. Nada de rebuscamento; acordes fáceis e campo harmônico simples são o suficiente para a estratégia comunicativa. O importante é que a mensagem seja memorizada, levando à compra do produto anunciado.
Estamos tratando de um gênero textual publicitário, mas que pode pregar peças em jornalistas distraídos, criando uma intertextualidade inusitada. Foi o que ocorreu na versão on-line da editoria de Ciência do Estado de S. Paulo, em 23 de julho de 2008.
Ao reproduzir matéria da BBC sobre a divulgação, por um artista gráfico, da imagem de uma nave russa capaz de fazer viagens tripuladas à lua, o jornalista responsável pelo título talvez tenha sido vítima de associação involuntária, provocada pelo jingle “Vai lá e vê", composto para a campanha presidencial de 1989, do então candidato Luis Inácio Lula da Silva.
Sem se dar conta da poderosa estratégia de convencimento do verso "Lula, lá, brilha uma estrela", o profissional do conservador diário paulista não titubeou:como planetas, estrelas, cometas são corpos celestes ,sem qualquer hesitação, tascou: "Artista revela nave russa para viagem tripulada à Lula"
Será que é preciso tanto para se descobrir as razões da popularidade do presidente? Será que o carisma do primeiro mandatário terminou por dar força gravitacional ao satélite? Jornalismo, publicidade e astronomia, definitivamente, não dão uma boa mixagem.
Quando a linha editorial de um veículo estabelece no seu corpo redacional idéias fixas em relação a algo ou alguém, qualquer desatenção leva tudo para o espaço. Gravidade zero.
* Publicado originalmente no Observatório da Imprensa
Fonte: Agência Carta Maior
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