por Eduardo Guimarães
Faz pouco tempo li um artigo do lingüista americano Noam Chomsky em que ele previa grande dificuldade para Barack Obama se eleger, pois sua condição de negro faria mobilizar-se contra ele toda a direita racista do país, unindo-a com um só objetivo: impedir a eleição do primeiro presidente negro americano através da máquina de difamação do partido republicano.
Os necons americanos são os pais dos Reinaldos Azevedos e de seus clones que se espalham pela internet vestindo-se de comentaristas de blogs e sites ou até criando suas páginas para brincar de Azevedo, tentando imitar seu estilo de agressividade difamadora, preconceituosa e intolerante de forma tão idêntica que hoje já é possível ler textos de clones do pitbull da Veja que se pode jurar que foram escritos por ele.
O estilo neocon foi bastante discutido no blog do Luis Nassif e levou-o até a criar uma designação para a modalidade brasileira da claque neocon, as abelhas, com a particularidade de que elas existiriam tanto à esquerda quanto à direita do espectro político.
Mas o fato é que, na arena política, o Brasil tem hoje o equivalente aos partidos Democrata e Republicano, ainda que este último, por aqui, esteja dividido em duas facções por grau de reacionarismo, enquanto que o partido Democrata brasileiro é uno.
O partido Republicano fracionado é formado pelo PSDB e pelo PFL (já expliquei a vocês, novos leitores, que me recuso a chamar o PFL de “democratas”?) e o partido Democrata brasileiro é o PT. Ambas correntes renderam-se (no caso do PT) ou encabeçam (no caso de tucanos e pefelês) o ideário neoliberal, o modelo americano de sociedade excludente.
Num país desigual como o Brasil – que, apesar de ser rico, tem péssima distribuição de renda, e que também, mesmo rico, é muito menos rico do que os EUA –, a adoção dessa visão de sociedade em que a pobreza extrema é tolerada gera uma verdadeira catástrofe.
Por sorte, os brasileiros não fazem cumprir a lei como fazem os americanos, pois a pobreza gera crimes aqui que nos EUA são punidos com dureza, como, por exemplo, passar cheques sem fundos. Imaginem vocês se fôssemos interpretar a lei com a dureza dos americanos. Aquela lei nova-iorquina que prende de vez o sujeito que é apanhado cometendo o terceiro crime leve conduziria dezenas de milhões às cadeias, gerando uma nação de presidiários dentro da nação brasileira.
O que não consigo entender é por que tanta gente e tantos países querem imitar uma sociedade que, do ponto de vista da cidadania, constitui hoje o maior fracasso do mundo.
Entre os países muito ricos, os EUA são o que tem maior pobreza e desigualdade. Vejam só que escrevi este texto inspirado num outro do Azenha em que ele reproduz reflexões que fez numa viagem entre Nova Iorque e Washington. No texto, ele relata a exposição da pobreza ianque ao mundo à época do desastre
O modelo de sociedade norte americano, a forma americana de fazer política, as campanhas eleitorais em que a difamação do adversário é a arma principal, movida a escândalos engendrados contra candidatos a cargos eletivos ou contra governantes, só não é igual ao que se vê no Brasil devido ao fato inegável de que nos EUA todos podem ir parar na cadeia, ao contrário do que ocorre aqui até mesmo nas classes mais pobres por falta de condição de se punir qualquer crime com prisão.
Mas, no que diz respeito ao modelo econômico, o Brasil, como os EUA, privilegiam os números da economia em detrimento dos números do social, empurrando as chagas sociais com a barriga sob o bom e velho discurso de que o bolo tem que crescer para ser dividido, apesar de que os bolos americano e brasileiro já cresceram dezenas de vezes nos últimos cem anos e continuam sem ser divididos.
O modelo de sociedade americano não é bom para os EUA e, parodiando aquela frase estúpida de que o que é bom para os EUA é bom para o Brasil, digo que o que é ruim para os americanos é igualmente ruim para qualquer povo. E o que é ruim na superpotência são seus modelos social e econômico, que, no Brasil, produziram um desastre devido a este país não ter os recursos dos EUA para aliviar o paroxismo da desigualdade como pode fazer o Big Brother nortista com sua economia descomunal.
Porém, o que se vê neste momento é que, tal como aqui com Lula, às vezes nem toda difamação da direita americana consegue prevalecer nos processos eleitorais. Barack Obama, à diferença do que pensa Noam Chomsky, vai se firmando num momento psicológico diferente da sociedade americana.
O que gerou George Bush, seus falcões e neocons na mídia foi a catarse que o 11 de setembro produziu entre os americanos. Eles de fato entenderam que era preciso exibir ao mundo o poder militar de seu país, a capacidade da potência hegemônica de criar suas próprias leis internacionais e de aplicá-las à revelia da comunidade das nações, enfim, de dizer aos países que decidiram bater de frente com o poderio americano que os EUA ainda detêm o maior poder da Terra e que estavam dispostos a pisotear o direito internacional com ele.
Barack Obama chega num momento em que os próprios americanos já ficaram satisfeitos com o que mostraram ao mundo e começam a perceber que os problemas sociais é que entraram na ordem do dia, e que os danos causados pelos falcões e pelos neocons à imagem dos EUA no mundo já ameaçam a própria hegemonia americana, haja vista a busca de tantas nações por diminuir o comércio com o país mais rico do mundo, fugindo da dependência dele.
Levará algum tempo, mas o estilo neocon na mídia e o ultraliberalismo acabarão sumindo daqui também. É possível que
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