terça-feira, 29 de julho de 2008

A corrida aos bancos nos EUA

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do site do Luiz Carlos Azenha

Um choque para a psique coletiva

Notícias Ruins e Corridas aos bancos

por MIKE WHITNEY, no Counterpunch

O governo Bush vai enviar em futuro próximo, pelo correio, mais cheques de "estímulo" da economia. Não há outra saída. O Banco Central está num beco sem saída e não pode reduzir a taxa de juros por medo de que os preços da comida e da energia atingirão a estratosfera. Ao mesmo tempo, a economia está se retraindo mais rápido do que se pensava e não há sinal de recuperação. Isso torna os cheques de estímulo a única forma de dar gás na economia e manter os gastos do consumidor. Caso contrário a atividade dos negócios vai cair e a economia mergulhar. Não há outra escolha.

A barragem de más notícias está deixando as pessoas nervosas; é óbvia onde quer que você olhe. A maioria dos "faladores" da TV acabou com as previsões encorajadoras sobre o mercado de ações e ninguém mais elogia o "poder impressionante do mercado livre". Eles sabem que as coisas vão mal, bem mal. É por isso que as notícias de economia não mais são apresentadas como um extravagante filme de Bollywood, com mulheres ondulantes e música exótica. Agora parece flme de horror "B", no qual todo mundo está morto no final.

Uma sensação de baixo astral penetrou nos estúdios de televisão como já havia penetrado nos pregões das bolsas e nas penthouses luxuosas do West End de Manhattan. É palpável. Essa mesma sensação invade como uma nuvem tóxica todas as vilas e cidades do país. Todo mundo está cortando o não-essencial e tirando a gordura do orçamento familiar. Os dias de compras impulsivas no shopping acabaram. Assim como as grandes compras e as viagens para a Europa. A confiança do consumidor está em baixa histórica, a renda disponível é coisa do passado e os cartões de crédito estão no limite.

Nos últimos três meses o crédito bancário encolheu mais rápido do que em qualquer outro período desde 1948. Os bancos não estão emprestando e os consumidores não estão pedindo; é uma combinação letal. Quando o crédito é reduzido, a economia falha, o desemprego aumenta e os índices de miséria disparam. É por isso que o governo Bush vai mandar mais cheques de estímulo queira ou não; ele está de costas contra a parede.

Na sexta-feira, depois que os mercados fecharam, o FDIC fechou mais dois bancos, o First Heritage Bank e o First National Bank. Buuumm. Duas semanas atrás os fiscais fizeram a intervenção no Indymac Bancorp depois de uma corrida de clientes. O FDIC agora opera como uma unidade paramilitar secreta, distribuindo suas tropas nos fins de semana para fazer o trabalho sujo longe dos olhos do público e em momentos que afetem menos o mercado. As razões são óbvias: só tem uma coisa que o governo odeia mais do que ver caixões com bandeiras americanas no noticiário noturno, e isso são as filas de gente impacientemente esperando para tirar o que sobrou de sua poupança em bancos falidos. Filas que mostram que o sistema quebrou.

Corridas aos bancos são um choque na psique coletiva. Quando depositantes vêem a corrida a um banco eles se dão conta de que o dinheiro deles não está seguro. Quando a confiança some o problema se estende para todo o sistema. De repente os clientes passam a questionar tudo o que sempre deram como certo. Eles se tornam céticos em relação às instituições que, dias atrás, imaginavam sólidas como rochas.

Corridas bancárias são um golpe na fundação do sistema de livre mercado. Sem respostas, tremores podem se espalhar por toda a sociedade e provocar movimentos políticos violentos, até revolução. O público pode não entender o seu significado, mas todos em Washington estão prestando atenção. Levam isso a sério, muito a sério.

Um artigo no San Francisco Business Times diz que o FDIC está preocupado com as notícias nos blogs da internet. Eles prefeririam manter as notícias sobre os problemas do sistema bancário fora do noticiário. Sheila Bair, presidente da Federal Deposit Insurance Corp., resumiu da seguinte forma depois da corrida ao Indymac:

"Os blogs estavam fora de controle. Temos em mente a cobertura da mídia e dos blogs no controle da desinformação. Tudo o que posso dizer é que continuaremos acompanhando. A desinformação do fim de semana alimentou o medo dos depositantes".

É uma ameaça? A cura para um sistema bancário falido é capital adequado e fiscalização prudente, não ameaças aos críticos imparciais do sistema. A comissária Blair aparentemente acredita que os blogueiros deveriam ser tratados da mesma forma que os jornalistas no Iraque, os quais, se saem fora do script do Pentágono de que "o aumento do número de tropas foi um grande triunfo", acabam sob ameaça de um M-16 em algum posto de vigilância perto de Baquba.

Domingo passado o secretário do Tesouro Henry Paulson tentou reassegurar o público de que o sistema bancário está bem, já se preparando para mais problemas adiante:

"Acho que serão meses de trabalho nesse caminho - claramente meses. Mas, de novo, é um sistema bancário seguro, uma sistema bancário firme. Nossos fiscais estão acompanhando. É uma situação gerenciável."

Paulson está errado; o sistema bancário não é firme, nem está bem capitalizado.

Se a taxa de fechamento de bancos continuar no ritmo atual, até a metade de 2009 haverá restrições em saques. Aposte nisso.

Então, enquanto o seu banco ainda tiver dinheiro para honrar os seus cheques, pode ter chegado a hora de pagar dívidas, de pagar adiantado os impostos trimestrais e as prestações da casa própria e pense em ter dinheiro fora dos bancos (ouro, moeda estrangeira), etc., antes que seu dinheiro fique inacessível ou evapore. Não pense que os seus investimentos fora dos bancos estão imunes a essa confusão. Por exemplo, fundos mútuos, nos quais os americanos têm 3 trilhões investidos, não são cobertos pelo seguro do FDIC. Recentes perdas em alguns desses fundos mútuos fizeram com que algumas companhias fossem obrigadas a tapar o buraco. Por exemplo, Legg Mason Inc. e a SunTrust Banks Inc. recentemente bombearam 1,4 bilhão de dólares em seus fundos. O Bank of America Corp. injetou 600 milhões.

Quanto às suas contas de poupança e bancária, considere que você pode ter cinco contas diferentes no mesmo banco, mas que o FDIC segura apenas indivíduos, não cada conta, em até 100 mil dólares. Colocar o seu dinheiro em diferentes contas no mesmo banco não dá maior segurança aos seus depósitos.

Mike Whitney lives in Washington state and can be reached at fergiewhitney@msn.com

Fonte: Vi o Mundo

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