segunda-feira, 28 de julho de 2008

A Quarta Frota e a "retórica esquerdista"

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Vários documentos oficiais comprovam que o Departamento de Estado dos EUA investe bilhões de dólares em veículos de comunicação do mundo inteiro para divulgar sua visão manipuladora sobre a política externa imperialista. Artigo do jornal Folha de S.Paulo deste domingo (27) se encaixa como luva nestas “operações especiais”, tentando amainar o impacto negativo da recente decisão do presidente-terrorista George W. Bush de recriar a poderosa Quarta Frota para “vigiar” os mares da América Latina. Na opinião do seu autor, Ricardo Bonalume Neto, as duras críticas dos presidentes Lula e Chávez a este iniciativa bélica não passariam de “retórica esquerdista”.


Por Altamiro Borges


Na sua estranha análise, que muito se assemelha ao cínico comunicado recente do Comando Sul das Forças Armadas dos EUA, “recriada após quase 60 anos, a Quarta Frota consiste apenas em um quartel-general com cerca de 120 militares, localizado na Flórida. Criá-la sob esse nome foi uma óbvia medida administrativa, pois outras regiões do planeta têm esquadras americanas numeradas”. Ou seja: não há o que temer! Com sua “retórica direitista”, bem ao gosto do falcão Bush, o jornalista deixa implícito que se há um culpado pela recriação desta “esquadra de papel” este seria o presidente Hugo Chávez, que tem investido na modernização de suas forças armadas.


Servilismo da mídia nativa

Os comentários do “especialista” da Folha expressam bem a postura servil da maioria da mídia nativa. Arrogante diante das nações mais frágeis, como nos recentes episódios da estatização do petróleo na Bolívia e da reabertura da negociação sobre o Tratado de Itaipu com o Paraguai, ela esbanja subserviência e covardia diante do império estadunidense. Reproduz acriticamente tudo o que é veiculado pelo governo imperialista dos EUA, como as mentiras grosseiras para justificar as bárbaras invasões do Iraque e do Afeganistão. Diante de um fato de tamanha gravidade, como a recriação da Quarta Frota, o capacho midiático silencia e aposta na ignorância da sociedade.

Argumentos contrários, mais críticos, são desqualificados como “retórica dos líderes esquerdistas da América Latina”, conforme fuzila Bonalume. Neste time de “dinossauros” estariam incluídos, segundo ele, os presidentes Chávez e Lula e o líder cubano Fidel Castro, que ainda insistem em “reclamar da intervenção ‘imperialista’ local”. Também poderiam ser rotulados de esquerdistas vários intelectuais de renome que têm denunciado os planos expansionistas e belicistas dos EUA. É o caso do teólogo Frei Betto, que num recente artigo para a Agência Adital, refutou o discurso “humanitário” do governo ianque e da mídia venal para justificar esta nova investida guerreira.


Inocência ou subserviência?

“No dia 12 de julho, os EUA decidiram reativar sua Quarta Frota, a quem vigia os mares do Sul, atuante entre 1943-50, em decorrência da Segunda Guerra, e desde então desativada. Compõem a frota 22 navios: quatro cruzadores com mísseis, quatro destróieres com mísseis, 13 fragatas com mísseis e um navio-hospital. Segundo as autoridades usamericanas, o objetivo é ‘realizar ações humanitárias’. Então, para que tantos mísseis?”, ironiza. Ele lembra ainda que o comandante da Quarta Frota, contra-almirante Joseph Kernan, não fez carreira na marinha, mas sim na força de elite (Seal), destinada às operações “não convencionais” de combate e repressão ao terrorismo.

Num trecho que poderia ser dedicado ao “inocente” repórter da Folha, Frei Betto contesta alguns desavisados: “É a velha história do lobo-mau pretendendo enganar chapeuzinho vermelho. Quem acredita que nariz tão grande é apenas para cheirar a netinha? Não é muita coincidência a Quarta Frota ser reativada no momento em que Cuba aprimora sua opção socialista, Daniel Ortega volta a presidir a Nicarágua, o Brasil descobre reservas petrolíferas sob a camada pré-sal, e a América do Sul é governada por pessoas como Chávez, Lula, Correa, Kirchner, Morales e Lugo, que não morrem de amores pelo Tio Sam e se empenham em reduzir a dependência de seus países em relação aos EUA?”. Somente os ingênuos e os vendidos não enxergam este contexto explosivo.

Fonte: Vermelho

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