por Luiz Carlos Azenha
Eu não sou expert na questão Daniel Dantas. Tudo o que sei li na mídia ou nos comentários deixados neste site. Confesso que não entendi, até agora, o que levou a Folha de São Paulo, em abril deste ano, a publicar uma reportagem sobre a investigação sigilosa dos negócios de Daniel Dantas, que acabou servindo para alertar o banqueiro e os clientes do banqueiro a respeito.
O que era mais importante: que o leitor da Folha ficasse sabendo da existência de uma investigação ou que essa investigação fosse bem sucedida? Onde estava o verdadeiro interesse público?
A Folha serviu ao interesse público ao publicar que a PF estava interceptando as mensagens de correio eletrônico do servidor do Opportunity? Precisava mesmo ter descido a esse nível de detalhe? Ou a Folha foi usada por Daniel Dantas para alertar a clientela de que não deveria trocar e-mails comprometedores com funcionários do Opportunity?
Eu já havia manifestado essa dúvida em um texto anterior (clique aqui para ler a matéria da Folha).
Mino Carta também está cheio de dúvidas:
Onde fica a famosa verdade?
28/07/2008 11:19:47
Mino Carta
O mundo, como sempre, curva-se diante do Brasil. O enredo a seguir talvez pareça paradoxal. Não é. Os advogados de Daniel Dantas e a mídia aborígine trombeteiam que o banqueiro orelhudo conta com uma reviravolta no processo em andamento, graças à Operação Satiagraha, urdido com o sinistro propósito de colocá-lo em maus lençóis.
Viriam da Itália, da primeira para a última flor do Lácio, as informações destinadas a provar que o nosso DD é vítima em lugar de vilão. O Estadão, por exemplo, publica, na terça 22, imponente reportagem para revelar que espiões da Telecom Italia, a security comandada por Giuliano Tavaroli, montaram um esquema destinado a invadir a privacidade do banqueiro e do seu Opportunity. A Procuradoria de Milão, conta o jornal, denunciou a operação e incriminou 34 pessoas, a começar por Tavaroli.
Maçã da discórdia, obviamente, o controle da Brasil Telecom. Ocorre, porém, que a verdade factual só dá mão do lado oposto. A Procuradoria de Milão visou apenas a espionagem na Itália e limitou-se a reconhecer que os 007 italianos tiveram excelente aprendizado no Brasil. Eis aí mais um capítulo de uma história cômica outrora de grande popularidade, Spy vs. Spy.
Dantas convoca a Kroll para desvendar os segredos da Telecom Italia e esta, ao se perceber espionada, recorre a Tavaroli e sua turma. Mais talentosos no mister, os italianos não somente capturam o arquivo da Kroll, mas também a rica documentação em poder de Carla Cico, conterrânea a serviço do Opportunity.
Inspirados pela ginga nativa, aspiram-lhe, literalmente, a extraordinária capacidade de tecer ardis, minar terrenos, arquitetar tocaias, vasculhar vidas privadas. Enfim, aspiram-lhe as manhas. Donde, a afirmação inicial. Tavaroli e sua turma cursaram com diligência invejável a escola brasileira e superaram os mestres, assim como os nossos torturadores, em outros tempos, conseguiram apurar as técnicas apreendidas com os especialistas da CIA. Certo é que neste cenário não há bala perdida.
Na quarta 23 o próprio Estadão tenta, se bem entendi, corrigir o efeito da reportagem da terça. Os defensores de Dantas é que esperam aproveitar-se dos resultados da apuração milanesa. Nem sempre fica claro, porém, até onde vão as esperanças dos advogados e onde começam aquelas da mídia. Por isso, pergunto amiúde aos meus perplexos botões o porquê desta situação no mínimo ambígua.
Por que a mídia evita evocar o passado do Opportunity, que de banco do PFL passou-se ao PSDB e floresceu à sombra do pássaro que não voa? Por que a mídia não contempla, em nome da verdade que enfaticamente afirma motivá-la, o papel do banco na duvidosa operação das privatizações? Por que a mídia insiste em circunscrever o caso ao escândalo do chamado mensalão como se os alvos, muito antes de Dantas, fossem o próprio presidente Lula, seu governo e o PT?
Abundam os porquês sem resposta. Por exemplo: por que a Folha de S.Paulo publicou em abril passado reportagem de Andréa Michael que deixou Dantas e Cia. de sobreaviso quanto aos rumos da operação do delegado Protógenes? É possível imaginar que o chefe de Andréa, o chefe do chefe, e o chefe de todos os chefes não tenham percebido a importância das informações trazidas pela repórter? Ou que tenham permitido a publicação sem sua autorização?
Não é possível dizer que o primeiro relatório do delegado Protógenes seja convincente nas passagens que dizem respeito à mídia. Falta substância, já foi escrito aqui. Sobra a impressão de que o policial não conhece os meandros desse labirinto. O comportamento midiático não deixa, entretanto, de ser estranho. Muito estranho.
Fonte: Vi o Mundo
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