domingo, 27 de julho de 2008

Eleições no RJ: Eduardo Paes cresce e ameaça embolar disputa pelo 2º turno

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Detestado por muitos, o ex-deputado tucano ressurge pelo PMDB como “candidato do Lula e do Cabral”, apesar da notória antipatia que o presidente nutre por ele desde a CPI dos Correios. Campanha mais cara e maior tempo de tevê são trunfos do peemedebista.

RIO DE JANEIRO – Divulgada na quinta-feira (24) pelo Instituto Datafolha, a última pesquisa de opinião sobre as eleições municipais no Rio de Janeiro traz como grande novidade a ascensão do candidato Eduardo Paes (PMDB/PTB/PP/PSL), que aparece com 13% das intenções de voto e esquenta a briga pelo segundo lugar com Jandira Feghali (PCdoB/PSB/PTN/PHS), que tem 16%.

O líder nas pesquisas continua sendo Marcelo Crivella (PRB/PR/PSDC/PRTB), com 24% das intenções de voto. Em quarto lugar aparece Fernando Gabeira (PV/PSDB/PPS), com 7%, seguido por Solange Amaral (DEM) com 5%, Chico Alencar (PSOL/PSTU) com 3%, Alessandro Molon (PT) com 2% e Paulo Ramos (PDT) com 1% das intenções de voto.

O crescimento de Eduardo Paes reflete o que se vê nas ruas, onde sua campanha é a mais presente, com cartazes, estandartes e centenas de distribuidores de panfletos trabalhando nos principais pontos da cidade. A previsão de gastos do candidato do PMDB (R$ 12 milhões) é a maior entre os concorrentes, assim como o tempo de propaganda gratuita na tevê. Após consolidar os apoios de PTB e PP, Paes garantiu o direito a mais de seis minutos de exposição diária. Todos esses fatores contribuem para o crescimento do peemedebista e o tornam um potencial candidato ao segundo turno.

Ciente de que a disputa pela Prefeitura do Rio será muito acirrada, Paes tem adotado como principal estratégia de campanha até aqui “roubar” votos dos adversários mais próximos. De um lado, na condição de “membro da base de apoio ao governo Lula”, o peemedebista tem se apresentado como mais forte do que Jandira num possível segundo turno, já que conta também com o apoio do governador Sérgio Cabral Filho. À direita, Paes busca tirar votos da classe média inicialmente destinados à Solange e a Gabeira. Para isso, conta com sua própria trajetória política, que teve início no laboratório político de Cesar Maia (DEM) e continuidade no PSDB, partido que deixou há pouco mais de um ano.

Com a ajuda de Cabral, Paes costurou alianças políticas que vitaminaram sua candidatura. Primeiro, ele obteve o apoio do PP, que garantiu dois minutos a mais de exposição na tevê. O avalista dessa aliança foi o senador Francisco Dornelles: “O PP apóia Paes porque acredita nele e porque acha que o Rio deve ter um prefeito que restaure o diálogo com os governos federal e estadual. Não pedimos nada nessa aliança”, diz o senador. Na verdade, além da participação que já tem no governo Cabral, o PP aposta num vôo mais alto que já está sendo articulado nos bastidores: a ida de Dornelles para o Ministério da Saúde, no lugar de José Gomes Temporão, com a benção do governador.

Outro importante apoio conquistado por Paes foi o do PTB (mais dois minutos de televisão). O fato de o partido ser presidido pelo ex-deputado Roberto Jefferson não atrapalhou o acordo com o “aliado de Lula”, de quem o petebista é crítico contumaz. Ao contrário, Jefferson colocou a própria filha _ a vereadora Cristiane Brasil _ na coordenação de campanha de Paes. Antes do início oficial da campanha, quando Cabral ainda fazia de conta que iria apoiar Alessandro Molon, o PTB havia declarado apoio a Crivella. Assim que Molon foi abandonado pelo PMDB e o nome de Paes foi lançado pelo governador, no entanto, Jefferson comandou a migração petebista.

Difícil PMDB

Para Eduardo Paes, mais difícil do que conquistar apoios de outros partidos a sua candidatura foi vencer a batalha interna no próprio PMDB. Recém-chegado ao partido a convite de Sérgio Cabral, o ex-tucano sempre foi visto como um estranho no habitat peemedebista por aves endêmicas do porte de Jorge Picciani, Moreira Franco e Anthony Garotinho. No convite feito pelo governador a Paes, veio embutida a candidatura a prefeito, mas a rejeição inicial ao seu nome foi tanta que Cabral preferiu tirar da cartola o apoio a Molon.

Mesmo quando o jogo virou no PMDB e Cabral ressuscitou a opção Paes _ desta vez com o apoio do grupo de Picciani _ a candidatura tremeu sob o ataque de Garotinho. Presidente regional do PMDB, Garotinho lançou a pré-candidatura do deputado federal Marcelo Itagiba, que foi secretário estadual de Segurança Pública no governo de Rosinha Matheus. A disputa só foi resolvida em uma convenção do PMDB, realizada no dia 22 de junho, quando Paes venceu Itagiba por 136 votos a 67, num resultado que selou o isolamento de Garotinho no partido. Agora, o ex-governador, através da candidatura de sua filha Clarissa à vereadora, ensaia um apoio a Marcelo Crivella.

“A base do partido mostrou que está unida. Eu quero o apoio de todo mundo”, disse Paes, após a convenção. Ao invés do armistício, no entanto, Garotinho preferiu um novo ataque, baseado no fato de Paes somente ter se desencompatibilizado da Secretaria Estadual de Turismo, Esportes e Lazer um dia após a data limite estabelecida pela lei eleitoral: “O Eduardo Paes é um candidato inelegível”, repete Garotinho que, apesar dos pesares, continua no PMDB.

Desafetos

A má-vontade com Eduardo Paes não se limita a Garotinho. Outro desafeto do candidato do PMDB é o prefeito Cesar Maia, que o lançou na política em 1993, quando Paes tinha apenas 23 anos, como subprefeito da Barra da Tijuca. Após romper com seu padrinho político para tentar o Governo do Rio pelo PSDB, Paes ganhou um ferrenho adversário político. Na campanha, o candidato do PMDB faz críticas afiadas à administração de Cesar: “A cidade está abandonada, o prefeito não cuida das praças, não poda as árvores, não troca as lâmpadas”, diz.

Paes promete, se for eleito, enxugar a máquina administrativa montada por Cesar: “É um absurdo, existem secretarias para coisas que são absolutamente desnecessárias. Vou cortar pelo menos treze secretarias”, disse o candidato, citando, entre outras, as secretarias especiais de Prevenção à Dependência Química e de Revitalização do Patrimônio e da Memória Histórica. Cesar respondeu: “Não me surpreende que o Paes queira acabar com a Secretaria do Patrimônio, afinal ele é o candidato da especulação imobiliária, como vou provar em breve. Acho que a eleição o está enlouquecendo”, disse o prefeito.

Sem Lula

Apesar de trabalhar a imagem de “candidato de Lula e Cabral”, Paes também não é visto com muita simpatia pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mesmo decidido a não subir em palanques no Rio de Janeiro (nem no segundo turno, se possível), Lula não esconde de assessores e pessoas próximas sua preferência pelos nomes de Molon, de Jandira e até mesmo de Crivella.

O presidente, dizem fontes do Palácio do Planalto, não esquece o papel desempenhado por Paes como deputado tucano na CPI dos Correios. No auge da crise do mensalão, com o governo praticamente nas cordas, Paes se tornou um personagem quase diário do Jornal Nacional, onde desferiu virulentos ataques ao “governo tomado pela corrupção”. Essa, Lula não perdoa: “No palanque do Eduardo Paes eu não subo nem no terceiro turno”, costuma dizer o presidente, segundo amigos.

Fonte: Agência Carta Maior

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