quinta-feira, 15 de maio de 2008

Serra e FHC 'são dois impostores', diz Paulo Henrique Amorim

Na segunda e última parte de sua entrevista ao Vermelho (clique aqui para ler a primeira), o jornalista Paulo Henrique Amorim ironiza a reputação dos tucanos José Serra e Fernando Henrique Cardoso. "Como diz o Mino Carta, você conhece alguém que tenha lido o Fernando Henrique? Algum estudante de Sociologia que tenha lido? E quem é que já leu livro de Economia do Serra? Você conhece?".

Por André Cintra e Priscila Lobregatte



PHA: Fernando Henrique é o rei do PIG

Que responsabilidade tem o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso nesse processo de fortalecimento do (banqueiro Daniel) Dantas? Qual é o papel que ele desempenha?
O presidente que fez a privatização dos telefones no México (Carlos Salinas de Gortari) tem um irmão na cadeia e fugiu para a Irlanda. O presidente do Peru que fez a privatização lá (Alberto Fujomori) está preso no Peru. O presidente do Chile que fez a privatização - o insigne general Augusto Pinochet - terminou a vida na cadeia, em prisão domiciliar, por processo de evasão fiscal, lavagem de dinheiro. O presidente que fez a privatização na Argentina (Carlos Menem), se ele vê um policial ou um juiz na rua, sai correndo, muda de calçada. Mas o Fernando Henrique tem a seguinte peculiaridade.

Aqui, o Fernando Henrique é o pai da pátria - é o rei do PiG. As pessoas ouvem o Fernando Henrique! Ainda bem que não lêem, porque ninguém consegue lê-lo (risos). Como diz o Mino Carta, você conhece alguém que tenha lido o Fernando Henrique? Algum estudante de Sociologia que tenha lido? E quem é que já leu livro de Economia do Serra? Você conhece?


Não (risos).
Ninguém, porque ele nunca escreveu. E, no entanto, ele tem a reputação de ser um grande economista. Ninguém sabe de uma tese que ele tenha defendido e que tenha sido original. São dois impostores. O Fernando Henrique desempenha nessa história o papel de ser o cara que fez o processo que criou o Dantas. Foi ele que permitiu que os fundos de pensão fossem entregues ao Daniel Dantas para que ele tomasse conta da telefonia brasileira. E o Dantas entrou na Brasil Telecom e na Telemar também - o que é contra lei.

Um dia, a Previ se deu conta do problema que era ter o Dantas como gestor do dinheiro da Brasil Telecom e trocou a diretoria para destituir o Dantas. O "seu" Nizan Guanaes (publicitário) foi sócio do Dantas nessas ilhas de lavagem de dinheiro. O "seu" Dantas conseguiu uma audiência à noite no Palácio da Alvorada no domingo - e na terça-feira a nova diretoria que destitui o Dantas estava destituída. Só isso! Ele foi ao presidente da República para destituir a diretoria de uma empresa de fundo de pensão, meu. O que você acha?

A irmã do Daniel Dantas financiou com alguns milhões de dólares uma empresa da filha do Serra. Antes da eleição de 2002, o Serra mandou fechar a empresa para não dar problemas na eleição. Eu mostrei os documentos que provam a associação delas em Miami. O Dantas jogou no PSDB e depois jogou no PT com a mesma tecnologia, via Marcos Valério e Zé Dirceu.


Outro dia, você atacou o Lula no Conversa Afiada por causa dessa tal de Ordem Roberto Marinho...
Ele fez uma coisa muito importante. Tinha uma ordem obscura, inútil, chamada Ordem das Comunicações, que não servia para nada. Ninguém sabia que existia aquela desgraça. Aí o senador Marco Maciel (DEM-PE), que é um iluminado - quando ele acorda pela manhã, o sol brilha com mais intensidade (risos) -, teve a idéia de mudar o nome para Ordem das Comunicações Jornalista Roberto Marinho. É mais ou menos como chamar o Amador Aguiar de bancário, chamar o Antônio Ermírio de Moraes de operário metalúrgico (risos). E o Lula sancionou!

Eu sugeri modestamente que, se o presidente Lula tivesse o ímpeto de dar uma contribuição ao espírito da pátria, mudasse para Ordem das Comunicações Roquete Pinto, que é o pioneiro do rádio brasileiro, da TV pública brasileira - um homem que desbravou a região de Rondônia ao lado do marechal Rondon, que fez um acervo etnográfico e entregou de presente ao Villa-Lobos, um grande brasileiro! Não quis.

Por que não dá ao coronel Dagoberto Rodrigues, o cara que era diretor-geral dos Correios e ficou ali resistindo até o último momento, segurando as informações para passar ao presidente eleito João Goulart, para evitar o golpe de 64? Ou então ao Roberto Rodrigues, brizolista histórico, um homem de caráter.


Foi o que a (ex-prefeita de São Paulo) Marta Suplicy fez aqui com a Águas Espraiadas, rebatizada para Avenida Jornalista Roberto Marinho. Você, na época, propôs uma homenagem a Vladimir Herzog (jornalista assassinado pelo regime militar).
Claro. Ou Avenida Getúlio Vargas, porque São Paulo é a única metrópole do Brasil que não tem avenida de nome Getúlio Vargas.


Em compensação, tem um feriado estadual, o 9 de julho, que comemora uma grande derrota para Vargas (risos).
O 9 de julho é o grande momento da história de São Paulo! É como se tivesse na França o Dia de Waterloo (nome da batalha que culminou na derradeira queda de Napoleão Bonaparte). Vamos celebrar Waterloo (risos)! Inacreditável!


Em qual candidato a presidente você apostaria para 2010?
Eu votaria em Leonel Brizola, que deveria ter sido presidente deste país.


Você é brizolista?
Não, não... Eu não sou brizolista.


Você o cita freqüentemente, escreveu um livro muito elogioso ao Brizola...
Sou a favor de provocar, semear a inquietação intelectual, entendeu? É isso que gosto de fazer. Eu fico indignado com o senso comum, com a "pax tucana", que é uma coisa sombria, medíocre, medíocre, entende? E isso só foi possível porque se criou essa grande salada política, em que foi rolando o PSDB, PT, tudo no mesmo saco, e azeitado pelo dinheiro do Daniel Dantas e os interesses que estão em volta disso.

Estou falando também de Sérgio Andrade. Estou falando também do Carlos Jereissati, que é dono de um shopping center e vai ficar dono de 70% da telefonia do país, sem botar um tostão. Por que não eu, que sou presidente da PH Comunicação, uma empresa próspera? Mandei o balanço ao BNDES. Minha situação é mais sólida que a do Carlos Jereissati - e, pelo que ele vai botar, eu também posso ficar com a empresa.


Você diz que a internet é o último flanco de liberdade de expressão. Mas isso pode prejudicá-lo também, já que você tem o trabalho na Record. Se você convidasse o Serra, por exemplo, para uma entrevista de 15 minutos...
Na Record? Na Record eu não trato dessas coisas...


E por que não tratar esse assunto na TV?
Porque a TV tem outro perfil, e eu também tenho um outro perfil na Record. Meu perfil na Record é de apresentador e repórter de um programa como o Domingo Espetacular, que não trata de política. As últimas matérias que eu fui fazer foi sobre contrabando no Paraguai, numa diligência da Polícia federal. Isso não tem nada a ver com política. Aqui eu sou repórter de cotidiano, de geral - que é o que eu fiz por anos da minha vida, em Nova York, pelo Fantástico.


Mas você é um dos poucos contrapontos que temos com espaço na televisão...
Mas é que tem o Paulo e o Henrique. O Paulo trabalha na Record e é um santinho, é uma gracinha (risos). Já o Henrique é um azougue. Só que, quando eu venho para cá, o Henrique não vem - ele fica lá do lado de fora.


Quem são seus inimigos? Você tem uma lista?
Não, não... Tem alguém que já falou que você conhece as pessoas pelos inimigos que tem.

E que você mediria seu caráter pelos inimigos...
Isso, que mede o caráter pelos inimigos. Mas eu não tenho inimigos - eu tenho divergências políticas.

O Daniel Dantas é apenas um "divergente político" seu?
O Dantas, durante muito tempo, me procurou através de vários intermediários - um deles, o (publicitário) Mauro Sales -, para saber por quê que eu falava mal do Dantas. Eu disse: "Não tenho nada a ver com o Dantas". Depois, quando eu soube que ele grampeou a minha família, passei a ter um problema pessoal. Mas até aí, não tenho nada contra ele. Só queria que ele me desse o nome dos tucanos que compraram cotas do fundo dele mesmo residindo no Brasil. Porque o fundo dele não pode vender cota no Brasil - só pode vender cota no exterior.

E a ministra Ellen Gracie não deixa mostrar! A ministra Ellen Gracie - essa grande jurista que pretende ser da Corte Internacional de Haia - não deixa abrir o disco rígido que a Polícia Federal apreendeu no banco Opportunity porque ela acha que não há maneira de juntar Banco Opportunity com Daniel Dantas. Uma coisa não tem nada a ver com a outra. Eu costumo dizer o seguinte: é a mesma coisa que você dizer que o Fausto Silva não apresenta o programa do Faustão. O programa do Faustão é apresentado por uma pessoa chamada Fausto Silva que não é o Fausto Silva. Esse é o entendimento dessa grande juíza Ellen Gracie.


Você é um dos jornalistas mais severos com o Supremo. Vira e mexe, critica o Marco Aurélio de Mello...
Marco Aurélio de Mello não é preparado. É a mesma coisa que me convidar para ser ministro do Supremo - eu não posso. Ele é uma pessoa despreparada. Ele é um colunista da Globo. Não é ministro.


No Supremo, quem se salva?
Eu acho formidável que o presidente Lula tenha tido a oportunidade fantástica de renovar o Supremo e nomeou para lá o juiz Carlos Alberto Direito, que não votou a célula-tronco embrionária para não perder e atrasou o processo. A cada dia que ele atrasa o processo, são menos dias de pesquisa para curar o Alzheimer, o diabetes, a Doença de Parkinson. Ele é um católico, ele é da Associação dos Magistrados Católicos. Ele simplesmente não votou. Que vote contra, meu. E quem o nomeou foi o presidente Lula.


Apesar dessas críticas que você faz ao governo e ao presidente Lula, muitas pessoas o qualificam como "lulista".
Quê que eu posso fazer?


Como você quer ser visto?
Eu quero ser visto como um jornalista independente que diz o que pensa - na internet. Aqui (na Record) não. Aqui sou um funcionário do empresário Edir Macedo e estou aqui para trabalhar dentro da política da TV Record. Quero ser conhecido como um repórter de televisão muito bom - porque eu sou um repórter muito bom mesmo, adoro ser repórter de televisão, conceber a matéria, gravar, editar. Eu luto pelas minhas matérias feito um leão na jaula. Isso é uma coisa.

A outra é o seguinte: quando eu trabalho no meu site - em casa, no telefone, aqui, na madrugada, quando fico com insônia -, aí é outro negócio. Sou um jornalista independente, gosto de provocar as idéias dos outros, gosto de ser do contra, torço pelo mais fraco. Se o cara ganhou, ganhou, ganhou, eu passo a torcer pelo outro.


É um cricri (risos)...
É, eu gosto de confusão. E eu gosto do Brizola porque o Brizola não ganhava. O Brizola falava assim: "Quando eu sentar naquela cadeira (da Presidência da República), a primeira coisa que farei será contestar aquele monopólio (da Globo)". Qual outro político brasileiro que você já ouviu falar isso? Ninguém diz, meu.


Você acha mesmo que a Record vai passar a Globo?
Vai!


Quando? O Hoje em Dia já bate a Globo regularmente...
De manhã, isso já é uma questão ultrapassada. Não se trata mais desse assunto...


Você acompanha essas negociações da Record - por exemplo, a disputa pela transmissão do Campeonato Brasileiro?
Não. Isso eu não sei nada, não é a minha área. Eu sou apenas um repórter, um apresentador. Acabei de fazer a reunião de pauta. Recebi instrução para fazer duas matérias nesta semana e me reuni com os produtores - já traçamos os rumos.


E o que o leva a crer que a Record passará a Globo?
A Record está com uma programação boa, com produtos bons. O Domingo Espetacular é um programa muito bom, muito profissional, muito sério. Eu já trabalhei no Fantástico e não vejo nenhuma diferença substantiva entre os atributos tecnológicos ou de pessoal entre a Record e a Globo. Então nós vamos pra cima.


O processo movido por fiéis da Igreja Universal contra a Folha de S.Paulo e outros jornais...
Ah, eu não posso falar sobre isso. É uma questão que diz respeito à política, que não é da empresa, da TV Record. É da Igreja Universal.


Mas o Domingo Espetacular fez uma matéria longa, apresentada por você e claramente favorável aos fiéis.
O que eu posso te dizer é o que diz aquela matéria: os fiéis têm o direito de reclamar. Acabou.


A Globo lançou a campanha do "Q" de qualidade...
A gente está em duvida se é um "Q" de qualidade ou se é um "Q" de queda (risos). Estamos fazendo um estudo profundo aqui.


Nessa campanha, eles dizem que respeitam a liberdade de expressão...
Sobre isso, sugiro a gente pegar aquela edição do dia que caiu o avião da Gol e que a Globo não deu. Foi o primeiro grande golpe de Estado dado pelo Ali Kamel. Falta o segundo.


O Nassif tem a tese de que o Ali Kamel...
O Raimundo Rodrigues Pereira é que tem uma tese - de que o Ali Kamel é o Ratzinger da Globo (Ratzinger é o sobrenome de batismo do papa Bento XVI).Ele escreveu um livro para dizer que o Brasil não é racista e que resulta na defesa do nosso modelo de racismo. Interessante - não deixa de ser um malabarismo.


O Ali Kamel foi o maior beneficiário da morte do Roberto Marinho?
Não, não é nada disso! Não concordo! O negócio é o seguinte: o Roberto Marinho morreu, e os três filhos do Roberto Marinho não têm nome próprio. São conhecidos como "filhos do Roberto Marinho". São intelectualmente e empresarialmente despreparados. Eles não estudaram, não fizeram curso superior e não dominam língua inglesa - que são atributos necessários para você ser administrador de empresas.

Então eles inventaram a teoria de que, para ofuscar ou mitigar a sua incompetência, eles iam adotar uma administração profissional - e entregaram a administração de seus negócios a profissionais, entre eles Ali Kamel. Esses profissionais agem na suposição de que fazem aquilo que o patrão queria que eles fizessem.

Eu mandei importar agora pela Amazon - está chegando aí nas próximas semanas - um livro chamado Right Is Wrong, da jornalista Arianna Huffington, que defende exatamente esta tese. Na grande imprensa americana, as empresas de jornalismo se despersonalizaram, com raras exceções, e se tornaram grandes negócios, conglomerados de mídia. E aí quem adora as posições antidemocráticas, conservadoras, são os próprios profissionais. São os jornalistas.


Que é também a tese do (jornalista) Mauro Santayana...
Que é, exatamente, a tese do meu amigo Mauro Santayana, com quem eu conversei hoje por uma hora e meia pela manhã. É uma tese perfeita. Você não vê mais um jornalista pobre. Você não vê mais um jornalista de origem humilde. São todos mauricinhos, bonitinhos, cheirosinhos, que querem trabalhar para banco. Nenhum deles tem compromisso com a sociedade. Nenhum deles sabe para que serve ser jornalista numa sociedade democrática.

E para que serve ser jornalista? Para você oferecer uma opinião isenta para que o leitor, espectador ou ouvinte possa decidir, com seus valores, o que quer fazer da vida. Esse valor se perdeu completamente. Nenhum jornalista brasileiro sabe para que serve o jornalismo. É o mesmo que entregar o bisturi a um médico que não sabe para que isso serve. Ele vai pensar que é para fazer as unhas.


Voltando ao Ali Kamel. Dá para dizer que ele hoje tem mais autonomia na Globo do que, por exemplo, o Alberico de Souza Cruz há uns 20 anos?
Hum...


O Alberico não tinha uma boa sintonia com o Roberto Marinho?
No tempo do Roberto Marinho, era diferente. Nenhum editor tinha autonomia. O Alberico é produto de uma fase de transição em que o doutor Roberto Marinho já estava envelhecido, e ele entrou vendido na eleição do (ex-presidente Fernando) Collor. O Collor foi o terceiro candidato do Roberto Marinho. Os candidatos do Roberto Marinho foram (Orestes) Quércia, (Mário) Covas e depois Collor.

Quem fez a ligação do Collor com a Globo foi o Alberico. O Roberto Marinho não gostava do Collor porque não gostava do pai do Collor e demitiu o irmão do Collor, o Leopoldo, que trabalhava na Globo de São Paulo. Quando o Collor se tornou inevitável, o Roberto Marinho entrou no vagão dele - no último vagão da composição.

E o Collor dizia - como disse para mim em Nova York - que não precisou do Roberto Marinho para ser eleito. A relação dele era com o Alberico. Por que foi possível haver isso? Porque o Roberto Marinho estava enfraquecido fisicamente, já estava muito velho e não delegava para os filhos. Os filhos não mandavam nada.

O Roberto Marinho ainda escondia deles decisões de cunho editorial. Ele dizia para os executivos: "Não conte isso pro João Roberto... Não trate disso com o João Roberto". Ele entrou vendido. O que ele fez: ele derrubou o Armando (Nogueira) e botou lá uma cara que era de confiança do presidente da Republica também. Agora, não. Agora mudou a qualidade do processo.

Leia também: Paulo Henrique Amorim vai à guerra contra o PiG

Fonte: Vermelho

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