Coluna Econômica - 07/05/2008 - por Luis Nassif
Segurança alimentar foi uma preocupação que surgiu no pós-guerra, depois de países inteiros terem sido assolados pela fome, em decorrência do conflito. Nas décadas seguintes, ajudou a consolidar políticas protecionistas na Europa e no próprio Estados Unidos – mesmo após o fim da ex-URSS.
Quando parecia que tinha sido exorcizado, inclusive nas negociações da rodada de Doha (que visa reduzir o protecionismo internacional) reaparece, inclusive em culturas que nunca tiveram problemas maiores de oferta, como o arroz.
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Para o consultor Alexandre Mendonça de Barros, da MB Agro, em entrevista ao programa Agribusiness Online, do Canal Rural, as raízes desse problema estão na mudança da Farm Bill (a lei agrícola americana) em fins da década passada.
Até então, os EUA praticavam uma política tradicional de estoques reguladores. Definia um preço mínimo para o agricultor. Se os preços de mercado ficassem abaixo, o governo adquiria a produção e ficaria com estoques para atuar na entressafra. Em geral, mantinha em estoque o equivalente a um ano de consumo.
Com a mudança da Lei, transferiram-se os estoques para o setor privado. O governo manteve o preço mínimo, mas em vez de adquirir estoques quando os preços caíssem abaixo do mínimo, passou a pagar a diferença em dinheiro. E os agricultores passaram a vender para o setor privado.
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A estratégia das tradings foi simples. Como atuam em países do hemisfério sul, passaram a praticar a política de transferir os estoques para os produtores. Na entressafra americana, recorrem à produção do Brasil e da Argentina, por exemplo. Foi isso que ajudou ambos os países a se tornarem supridores mundiais.
De repente o mundo se deu conta de que não dispunha mais de estoques reguladores. Esse foi o ponto central, ao qual se somaram o aumento da produção de etanol em detrimento de alimentos (nos EUA e Europa) e o movimento especulativo dos fundos hedge em direção ao mercado de commodities agrícolas.
Seguiu-se uma espécie de pânico, que levou a essa onda protecionista inédita, atingindo inclusive países que nunca haviam colocado entraves à exportação de alimentos. A China chegou a bloquear a venda de fertilizantes.
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E aí se entra em um capítulo relevante da segurança alimentar. Se quiser aspirar a ser grande potência agrícola mundial, o Brasil tem que perseguir a auto-suficiência em fertilizantes.
Hoje o Brasil importa a maior parte dos fertilizantes e dos macro-nutrientes. Não há preocupação com a auto-suficiência interna. Pelo contrário: a importação de fertilizantes é isenta de tributos; a produção interna paga ICMS.
São três os macro-nutrientes. O primeiro, nitrogênio, depende fundamentalmente da Petrobrás, já que é subproduto do gás – que hoje em dia está em preços proibitivos. O potássio é o problema maior. 93% são importados do Canadá e da Bielo Rússia e há uma única mina, da Vale do Rio Doce, mas sem grande potencial. O terceiro é o fósforo, que possui boas reservas e onde algumas empresas têm investido mais.
Essa política será essencial na estratégia agrícola brasileira.
Fonte: Blog do Luis Nassif
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