sexta-feira, 9 de maio de 2008

QUEM VAZOU FOI ÁLVARO DIAS

por Eduardo Guimarães, do Cidadania.com

Dossiê : duas hipóteses e um único tom

Está sendo apresentado pela imprensa, em bloco, um "laudo técnico" feito para a Casa Civil na investigação dos computadores do Palácio do Planalto na investigação sobre quem vazou o que os meios de comunicação chamam de "dossiê com os gastos da presidência no governo Fernando Henrique". Quem deu o furo foi o Jornal Nacional, segundo quem "a investigação mostra que as informações sigilosas foram divulgadas por um funcionário da Casa Civil".

O destaque dado pela imprensa ao fato de que a documentação saiu da Casa Civil esconde o que realmente revela de novo o laudo do Instituto de Tecnologia da Informação (ITI) , ou seja, que a divulgação dos dados sigilosos foi mesmo obra do senador pelo PSDB paranaense Álvaro Dias, pois nunca houve dúvida de que os dados tinham saído do Palácio do Planalto, pois é lá que esses dados estavam armazenados e isso nunca foi negado pelo governo federal.

Outro dado novo é o nome do responsável pelo computador de onde saíram os dados sobre os gastos de FHC. José Aparecido Nunes Pires é secretário de controle interno da Casa Civil e enviou o material para André Eduardo da Silva Fernandes, assessor do senador Álvaro Dias, do PSDB.

Segundo o Jornal Nacional dá a entender, a Globo já estava de posse dos dados há dois dias e só os divulgou ontem à noite. A retenção das informações é mais significativa do que elas próprias. E o que dá a entender que houve tal retenção foi a seguinte locução da reportagem do JN: "Na terça-feira, Zé Aparecido prometeu entregar cópias dos e-mails trocados com André para provar que o anexo do e-mail não era o dossiê". O assunto, portanto, já vinha sendo desenrolado nos bastidores antes de vir a público.

Ao contrário do tom do noticiário, a revelação do nome de quem entregou a documentação a Álvaro Dias e a confirmação de que foi do senador tucano que partiu a divulgação do "dossiê" para a imprensa é que são os fatos novos. E mais: esses fatos complicam muito mais a oposição do que o governo, porque, apesar do tom que está sendo ditado por jornais como Folha e Globo, foi a própria Casa Civil quem divulgou quem vazou para quem as informações furtadas do Palácio do Planalto.

Nesse aspecto, a manchete de primeira página mais correta, ou menos deturpada, é a do Estadão, que diz o seguinte: "Casa Civil diz que aliado de Dirceu vazou dossiê anti-FHC". Sim, foi a Casa Civil quem divulgou o que está sendo apresentado como denúncia, pois a investigação é da Casa Civil, não da imprensa.

Contudo, a manchete do Estadão tampouco é 100% correta, porque destaca que funcionário que trabalhava na Casa Civil quando o ministro-chefe da pasta era José Dirceu é o responsável pelo vazamento, quando o que se sabe é que foi do computador dele que partiu um e-mail supostamente contendo os dados sigilosos. A especificação de qual mensagem enviada daquele computador é acusada de conter anexados os dados furtados faz supor que já se possa comprovar que foi numa mensagem do ex-assessor de Dirceu José Aparecido para o assessor de Álvaro Dias André Eduardo que os dados foram vazados, mas o notíciário deixa dúvidas de que já seja possível comprovar isso.

De qualquer maneira, a pergunta que mais interessa neste momento é a seguinte: por que José Aparecido enviou os dados para, no fim das contas, Álvaro Dias? Esses dados foram pedidos pelo senador ao seu assessor para que os obtivesse de José Aparecido ou foi este que os ofereceu ao parlamentar tucano? Com que intenção? Foi para chantagear o PSDB ou para comercializá-los com o partido?

Para afirmar que foi para chantagear, é preciso provas. Não dá para afirmar isso porque pode ter sido o PSDB que supostamente corrompeu José Aparecido a fim de armar uma cilada para destruir a candidatura que o partido acreditava que estava sendo promovida por Lula usando o lançamento de obras do PAC, a candidatura de Dilma Rousseff.

Existe um princípio investigativo que deve sempre ser observado para descobrir culpados por crimes. Recentemente, aludi a esse princípio em um texto sobre o caso Isabella Nardoni. Trata-se da expressão em latim "Cui Prodest", ou seja, a quem interessa, e o vazamento dos dados interessa aos dois fins.

Há duas hipóteses completamente antagônicas sobre a razão de, supostamente, José Aparecido ter enviado a Álvaro Dias - no fim das contas - os documentos que, bem orquestrados, poderiam gerar a criminalização da ministra Dilma Rousseff. A de isto ter ocorrido ou a de que o que ocorreu tenha sido o contrário, de que houve esse envio de dados para intimidar o PSDB. Nenhuma das duas hipóteses, porém, pode ser descartada numa investigação policial. A mídia quer transformar a segunda hipótese em fato, mas, legalmente, ambas as hipóteses são admissíveis e precisam ser igualmente investigadas. E serão, não tenham dúvidas.

Ao que parece, a demora de dois dias da Globo em divulgar essa notícia pode ter se devido também à emissora querer esperar o depoimento de Dilma Rousseff ao Senado na quarta-feira, a fim de corroborar as acusações que ali lhe seriam feitas. Contudo, o fator José Agripino Maia frustrou os planos globais ao paralisar as acusações da sessão do Senado em que a ministra foi perquirida. Então, pode ter sido criada uma fórmula para inverter a natureza da notícia, tirando Álvaro Dias da linha de fogo e colocando "os culpados de sempre", ou seja, José Dirceu, sempre chamado a responder pelas acusações dos braços midiáticos do PSDB.

O senador Álvaro Dias diz, candidamente, que "não sabia quem tinha enviado o dossiê ao seu assessor, mas que agora sabe". Segundo a Globo, porém, "O senador não quis pronunciar o nome de André Eduardo da Silva Fernandes, o funcionário de seu gabinete que recebeu o dossiê. Mas confirmou que se trata dele mesmo".

Álvaro Dias teria dito que “O nome que a Globo tem" ele confirma e que essa pessoa o autorizou a confirmar seu nome. Contudo, a emissora diz também que "O senador não soube explicar por que o dossiê foi parar na mão dele, que é de oposição". O tucano teria dito que "não imagina o porquê" e que "certamente houve uma alteração de cronograma, houve um atravessamento, não era hora de vazar esse dossiê, não era isso que estava estabelecido por quem ordenou", e que "O mais importante agora é saber quem mandou fazer esse dossiê e por que mandou fazer”.

Essa é a versão de um dos principais envolvidos no caso, e não os fatos. Álvaro Dias pode muito bem ter orquestrado a obtenção dos dados valendo-se da amizade de seu assessor com o ex-assessor de Dirceu. Essa é uma hipótese tão boa quanto a que está sendo veiculada pela mídia como se fosse fato, à revelia de que ainda não há provas que favoreçam nenhuma das duas versões.

O que se espera, no entanto, é que essas provas ainda surjam. Por isso, a mídia se arrisca muito ao bancar a versão de um dos lados, do lado tucano da investigação. O mais lógico seria ela aproveitar o factóide e deixar o assunto de lado, mas isso seria o mais lógico e a mídia a tem desprezado a lógica reiteradamente, agindo sempre de forma emocional diante dos gols que vem tomando do governo Lula.


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