terça-feira, 27 de maio de 2008

Eleições Americanas

Linguagem do apocalipse afasta eleitores





A linguagem incendiária de líderes religiosos forçou Barack Obama e John McCain à delicada tarefa de se afastar dos autores das declarações sem renegar a fé cristã. O tema deverá ressurgir ao longo da campanha, especialmente se os candidatos decididirem usá-lo em ataques ao adversário.

O caso de Obama já foi amplamente explorado durante as prévias democratas, ainda que indiretamente, pela senadora Hillary Clinton. Os danos causados ao senador pelo relacionamento com o pastor protestante Jeremiah Wright, da Igreja Trinity, de Chicago, foram limitados.

Numa era em que frases bombásticas têm seu apelo multiplicado pela repetição constante nos canais de notícias 24 horas e em vídeos distribuídos pela internet, as do pastor Wright passaram semanas liderando a parada de sucessos. Além de ter dito em um sermão que Deus deveria "amaldiçoar os Estados Unidos", o pastor afirmou que os ataques de 11 de setembro de 2001 eram retribuição pelo terrorismo de estado praticado pelos norte-americanos no Exterior.

O pastor, que celebrou o casamento de Barack Obama e batizou as duas filhas do senador, já se aposentou. Obama repudiou as declarações de Wright. Um discurso do democrata, dedicado especialmente à questão racial nos Estados Unidos, fez muito para dissolver a controvérsia. É tido como um dos melhores textos produzidos na campanha eleitoral de 2008. Obama decidiu apostar na inteligência do eleitorado: atacou as nuances da questão e contextualizou as posições de Wright, que sustentou a tradição oral combativa das igrejas negras nos Estados Unidos.

Obama, no entanto, ficou sujeito à acusação de que demorou demais para se afastar de Wright. Só fez isso quando o caso ganhou ares de controvérsia na mídia.

Numa questão não relacionada a Wright, mas no campo da religião, Obama enfrentará ainda a tarefa de se desfazer dos persistentes boatos de que seja muçulmano. O pai de Obama, nascido na fé muçulmana, no Quênia, se afastou da religião ao longo da vida. O senador diz que sempre foi cristão.

De sua parte, o republicano John McCain já rejeitou o apoio de dois religiosos. Um deles, o pastor Rod Parsley, de Ohio, disse que o islamismo "é a religião do anti-Cristo que pretende conquistar o mundo através da violência".

John Hagee, do Texas, outro pastor protestante que teve seu apoio a McCain rejeitado pelo candidato, é um veterano das campanhas políticas, sendo um dos organizadores do grupo Cristãos Unidos por Israel. Hagee afirmou que o Holocausto fez parte do plano de Deus para Adolf Hitler, que ao provocar a barbárie acabou, sem que fosse esse o seu objetivo, dando força política à criação do estado judaico.

O pastor também afirmou que o furacão Katrina foi punição divina pelo fato de que Nova Orleans havia autorizado a realização de uma Parada Gay. Também é dele a referência à igreja Católica como "a grande prostituta".

Partidários de McCain rejeitam comparações, lembrando que enquanto o reverendo Wright foi o pastor de Obama durante 20 anos, Parsley e Hagee nunca pregaram em igrejas frequentadas pelo republicano.

Porém, o republicano parece mais vulnerável à questão religiosa quando se considera que ele ainda não foi endossado com fervor pela coalizão de protestantes, católicos e judeus que injetou a fé, literalmente, nas campanhas de Ronald Reagan e George W. Bush.


Lobistas podem ser pedra no sapato de McCain




O candidato republicano à Casa Branca, John McCain, já ensaia o discurso que vai usar contra o provável adversário democrata, Barack Obama, na campanha presidencial.

McCain, veterano da guerra do Vietnã e com longa experiência parlamentar em questões de política externa, pretende definir Obama como "inexperiente" e "ingênuo".

O republicano, de 71 anos de idade, tem atacado o democrata pela proposta de negociar com Cuba, Venezuela e Irã. Obama tem apenas 46 anos de idade, é senador em primeiro mandato e de fato tem escassa experiência na esfera internacional.

Porém, a experiência de McCain poderá ser usada contra ele, pelas associações políticas que o republicano desenvolveu em Washington ao longo de sua carreira.

Recentemente, dois assessores de McCain renunciaram aos cargos por terem trabalhado como lobistas para o DCI Group Network, uma empresa que foi contratada pela junta militar de Mianmar para melhorar a imagem do governo daquele país em Washington. O contrato, de 2002, rendeu 348 mil dólares à empresa.

Um dos que renunciaram foi Doug Goodyear, o homem que havia sido escolhido por McCain para organizar a Convenção Nacional Republicana.

Agora um dos principais assessores de McCain, o lobista Charles Black, está sob fogo dos democratas por ter defendido em Washington uma série de interesses estrangeiros - do guerrilheiro angolano Jonas Savimbi ao governo de Mobutu Sese Seko, do Zaire.

Black se aposentou da empresa BKSH e Associados mas os arquivos do Departamento de Justiça, onde os lobistas devem registrar suas atividades, revelam uma longa carreira de serviços prestados a governos autoritários - da Guiné Equatorial à Nigéria.

O lobista serviu às campanhas de Bush pai e Bush filho e agora é o principal homem de McCain na capital dos Estados Unidos.

O problema para o candidato republicano é que tanto ele quanto Obama prometem não sucumbir a "interesses especiais", ou seja, a grupos de pressão que se organizam em Washington para influenciar o Congresso e a Casa Branca.

O candidato democrata tem dito em seus discursos que a disparada do preço da gasolina pegou os americanos de surpresa por causa de uma política energética que só atende aos interesses das grandes empresas.

Essa política, diz Obama, foi definida pelo vice-presidente Dick Cheney em reuniões a portas fechadas com executivos e lobistas.


Obama apoiará ataques da Colômbia além-fronteira

Se for eleito presidente dos Estados Unidos o democrata Barack Obama apoiará o direito do governo da Colômbia "de atacar terroristas que buscarem santuário além de suas fronteiras", de acordo com o documento "Uma nova parceria para as Américas", divulgado hoje, que define a plataforma do candidato para a América Latina.

O documento foi divulgado assim que Obama fez um discurso diante da Fundação Nacional Cubano-Americana, na Flórida.

De acordo com o texto, um governo Obama apoiará o direito da Colômbia "de se defender contra as FARC" e exporá "para condenação internacional e isolamento regional" qualquer apoio às FARC "que vier de integrantes de governos vizinhos."

Mas, quando se trata de comércio, a postura de Obama será protecionista: ele reafirma que é contra a aprovação do Tratado de Livre Comércio entre Estados Unidos e Colômbia, que aguarda aprovação no Congresso americano.

Sobre a Venezuela, diz o texto:

"O presidente Hugo Chávez aumentou a sua retórica anti-Estados Unidos e tentou se opor à influência americana em toda a América Latina. Alguns comentaristas temem que Chávez ameace os mercados de petróleo e a estabilidade regional. Barack Obama acredita que os Estados Unidos devem restabelecer a sua liderança tradicional na região - em democracia, comércio, desenvolvimento, energia e imigração. Isso vai reduzir o antiamericanismo que brotou da oposição às políticas globais da administração Bush e à falta de engajamento na América Latina."

Sobre eleições na região, diz a plataforma do candidato:

"O presidente Obama vai defender a luta dos democratas quando eles denunciarem eleições que não forem justas, nem livres, e enfrentará os que tentarem solapar o processo democrático, de forma que eleições fraudulentas não possam mais ser usadas para legitimar governos em lugares como a Venezuela ou Colômbia, onde as FARC têm rotineiramente sequestrado autoridades do governo."


Plataforma de Obama: Amazônia é "recurso global"

O senador Barack Obama, provável candidato do Partido Democrata à Casa Branca, propôs hoje uma "Nova Parceria para as Américas", em que pretende "restabelecer a liderança americana no hemisfério".

O papel dos Estados Unidos seria o de defender a "liberdade política", "a liberdade das necessidades" e a "liberdade do medo".

Sobre o Brasil, a plataforma do candidato inclui o seguinte texto:

"O caso do Brasil:

O Brasil é um exemplo do grande potencial das energias renováveis na América Latina, além dos riscos que devem ser evitados. O Brasil é o décimo consumidor mundial de energia. O poder hidrelétrico tem sido a fonte de energia do Brasil e cobre hoje 83% da demanda por eletricidade. O Brasil também é um dos maiores produtores de etanol do mundo. O etanol do Brasil vem da cana-de-açúcar, que prospera no clima tropical do país. Nos anos 70, ex-ditadores militares do Brasil decidiram subsidiar a produção de etanol e garantir a distribuição. Mais da metade de todos os automóveis do país são flex, significando que podem usar etanol ou gasolina. Toda gasolina do Brasil contém etanol.

A liderança do Brasil na área de renováveis não veio sem preocupações. A região da Amazônia, um importante recurso global na batalha contra o aquecimento do planeta, cobre quase 60% do Brasil. Perdeu 20% da floresta - 1,6 milhão de milhas quadradas - para o desenvolvimento, a exploração da madeira e a agricultura.

Enquanto o cultivo da cana não causou desflorestamento maciço da mesma forma que a soja, ambientalistas se preocupam que a crescente demanda poderia empurrar os produtores de cana para a Amazônia. Os produtores domésticos de etanol nos Estados Unidos se preocupam com razão com a competição do Brasil, que é o maior exportador de etanol do mundo.

Os Estados Unidos, no ano passado, se engajaram na Parceria de Biocombustíveis com o Brasil para ajudar os dois países a produzir biocombustíveis e procurar mercados globais para esses produtos. Esse acordo envolve parceria tecnológica entre Estados Unidos e Brasil, o avanço global do desenvolvimento de biocombustíveis e ajuda terceiros países para desenvolver suas próprias indústrias domésticas de biocombustíveis.

Barack Obama quer expandir a produção de energia renovável por toda a América Latina de forma a que ao mesmo tempo promova a auto-suficiência e a criação de mercados para os fabricantes americanos de energia verde e de biocombustíveis."


Obama propõe uma "Nova Parceria para as Américas"



No discurso que fez esta tarde, em Miami, Barack Obama definiu como será seu programa para a América Latina, definido como "Uma nova parceria para as Américas":

"É hora de uma nova aliança para as Américas. Depois de oito anos de políticas do passado, precisamos de uma nova liderança para o futuro. Depois de décadas pressionando por reformas de cima para baixo, precisamos de uma agenda para avançar a democracia, segurança e oportunidade de baixo para cima. Assim, minha política será guiada pelo simples princípio de que o que é bom para o povo das Américas é bom para os Estados Unidos. Isso significa medir o sucesso não apenas através de acordos entre governos, mas também através da esperança da criança nas favelas do Rio, da segurança do policial na Cidade do México e da diminuição da distância entre Miami e Havana".



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