sábado, 31 de maio de 2008

Imprensa Bandida

por Marcelo Salles


Imprensa bandida

O comentário abaixo (sobretudo as palavras da deputada Cidinha Campos) nos leva a mais uma questão: por que nem todos os presos são classificados pela imprensa como "bandidos". Quando alguém é detido portando ecstase, geralmente o título é "Estudante universitário é preso com drogas". No caso do Álvaro Lins, em nenhum momento foi usada a palavra "bandido". E o mesmo se deu quando foi preso o executivo do banco Suíço UBS, em SP, no ano passado: "Executivo é preso". Mas, quando alguém é preso levando maconha de uma favela para outra, a imprensa logo rotula: "Bandido é preso com X gramas de maconha". Será que algum ombudsman consegue responder a essa questão?

Onde está o PMDB?

Veja se não é curioso, caro amigo. Quinta-feira, 29 de maio. O ex-governador do Rio, Antonhy Garotinho, é denunciado pelo Ministério Público e o ex-chefe da Polícia Civil, Álvaro Lins, é preso pela Polícia Federal. São acusados de lavagem de dinheiro e formação de quadrilha armada. Garotinho é presidente do PMDB no estado e Lins é deputado estadual pelo mesmo partido. O Globo dedicou 6 páginas ao tema e destacou 25 repórteres para a cobertura. Entretanto...

Em nenhum dos 11 títulos nas seis páginas aparece a sigla PMDB. E em apenas um dos 14 subtítulos, o da última página da série de matérias, vemos a legenda.

A construção da mensagem é clara: Garotinho e Álvaro Lins são descolados do PMDB, como se os crimes de que são acusados tivessem sido cometidos sem o conhecimento das lideranças partidárias – o que nos remete a uma situação esquizofrênica, visto que o próprio Garotinho é uma dessas lideranças. Aqui os petistas têm toda a razão de reclamar: “Ué, será que Sérgio Cabral, do PMDB, não sabia?”. Se o mesmo ocorresse com o PT, seguramente a sigla iria para as manchetes.

No Jornal Nacional desta sexta-feira (30/5) foi pior ainda. Na matéria sobre o caso, de 3 minutos e 12 segundos (tempo considerado alto para telejornal), em nenhum momento aparece a sigla PMDB. Parece que Garotinho e Álvaro Lins nunca tiveram partido. Clique aqui para ver o vídeo. Só pra deixar claro: pela legislação eleitoral brasileira, nenhum cidadão pode ser eleito sem ser filiado a partido político. E, uma vez filiado, é preciso que a direção do partido conceda uma legenda para que o cidadão concorra a cargos eletivos. É assim que funciona. Portanto, a omissão da sigla PMDB constitui erro jornalístico grave. Mas politicamente compreensível...

A prisão de Álvaro Lins mobilizou a Assembléia Legislativa. Fato incomum para uma sexta-feira, 55 deputados compareceram e debateram a respeito da legalidade da prisão do ex-chefe da Polícia Civil. Foram 40 votos por sua liberação contra 15 pela manutenção da prisão.

Vamos observar a cobertura do fim de semana. Luiz Paulo Correia da Rocha, líder do PSDB na Assembléia Legislativa e vice na chapa do Gabeira, não apenas votou a favor da liberação de Álvaro Lins, como discursou em seu favor. Paulo Melo (PMDB), líder do governo Cabral, idem. A resistência ficou por conta dos deputados Marcelo Freixo (PSOL), Paulo Ramos (PDT) e Cidinha Campos (PDT), que chegou a dizer, com todas as palavras: "Álvaro Lins é um "bandido".

Fonte: Fazendo Media


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