quarta-feira, 14 de maio de 2008

Marina Silva

Sobre a saída da Ministra Marina Silva, selecionei vários textos.

Ambientalista acusa: governo quer “bonequinho” para autorizar obras

Por Anselmo Massad

José Adilson Vieira, secretário geral da rede Grupo de Trabalho Amazônico, considera um desastre a saída da ministra Marina Silva, que era “a única coisa boa no governo”. Para ele, o sinal é de que a gestão do presidente Lula mostra falta de compromisso com a questão ambiental e com a busca pelo desenvolvimento sustentável.

Apesar de medidas criticadas por ambientalistas – como a liberação do plantio de sementes transgênicas, a construção das hidrelétricas do Rio Madeira, da transposição do São Francisco, entre outras –, a preocupação é com a ausência de resistência no conflito de forças entre os ministérios.

Um dos convidados para o lançamento do Plano Amazônia Sustentável (PAS), no dia 8 de maio, Adilson Vieira afirma que não sabe se a entrega da coordenação do plano para Mangabeira Unger tenha sido ou não o pivô da crise. Mas “se eu fosse ministro do meio ambiente também pediria demissão”, declara.

Para ele, quem entrar agora no cargo, independentemente do nome escolhido, estará debilitado, porque o governo está querendo apenas um “bonequinho” para aprovar os licenciamentos ambientais.

Confira a íntegra.

Fórum – Como o GTA avalia o pedido de demissão da ministra Marina Silva?
José Adilson Vieira –
Para nós, do GTA, a saída é um desastre para a política ambiental brasileira. Pelo compromisso dela e pelo que ela representava no Ministério do Meio Ambiente, que era uma certa qualidade da política ambiental, uma seriedade. O desastre é deixar de fazer o combate interno dentro do governo. Com a demissão, o sinal é de que o governo não tem compromisso com o meio ambiente, com a redução do desmatamento da Amazônia, com povos da Amazônia.

Fórum – Há alguma outra pessoa que, ao substituir a ministra, poderia representar esse compromisso dentro do governo?
Adilson Vieira –
Para nós, a única coisa boa no governo era a ministra Marina. De todos os quadros do atual governo, nenhum tem a preocupação socioambiental ou qualquer interesse em equacionar o desenvolvimento com sustentabilidade. É só fachada. A única que a gente respeitava era a ministra Marina. Sem ela, ficamos totalmente céticos em relação ao governo.

Fórum – Durante a gestão da ministra, diversos grupos ambientalistas criticaram decisões do governo, a exemplo das hidrelétricas do Rio Madeira. Mesmo diante dessas derrotas, a ministra Marina Silva tinha esse papel importante?
Adilson Vieira –
Tem questões que, olhando de fora, parecem derrota, mas que também tem ganhos. No caso das hidrelétricas do Madeira, somos contra a construção. O Ibama deu as licenças, mas adicionou condicionantes, incorporou uma série de exigências aos estudos que não existiam. Parece derrota, mas [essas condicionantes] podem ser consideradas vitórias. Em um governo desenvolvimentista por natureza, agregar vitórias ambientais é um avanço. A vitória plena seria barrar, mas é complexo no conflito de forças.
Os ambientalistas são muito exigentes, sempre reclamamos um pouco para conseguir mais. É inegável que se conseguiu baixar as taxas de desmatamento. Mesmo assim, as taxas atuais são elevadas. O nível bom seria reduzir a 1% ou 2%. É inegável que o esforço dela fez com que o desmatamento baixasse por cinco anos seguidos. Não considero isso uma derrota.

Fórum – O fato de a coordenação do Plano Amazônia Sustentável (PAS) ter sido dado ao ministro Mangabeira Unger é apontada como “gota d’água” para a saída da ministra Marina. Qual a avaliação sobre Mangabeira Unger nesse cargo?
Adilson Vieira –
Não sei se o fato foi esse como se divulgou, só a própria ministra pode explicar. Eu estava no lançamento do PAS, em Brasília, e fiquei extremamente sem graça e até meio deslocado quando residente Lula anunciou que a coordenação do plano iria ficar com Mangabeira Unger. Uma pessoa que desconhece totalmente a região, cuja “melhor idéia” a respeito é a de um aqueduto para levar água da Amazônia ao Nordeste. Eu, no lugar dela [Marina Silva], também me demitiria, porque mostra que o presidente não tem compromisso com a região, que só quer oba-oba, o que nem é sério.

Fórum – O senhor mencionou um aqueduto?
Adilson Vieira –
Há algum tempo, o Mangabeira Unger veio ao Amazonas e falou um milhão de coisas. Entre as "pérolas" estava construir um aqueduto para levar água da região amazônica para o Nordeste Setentrional como alternativa à transposição do rio São Francisco. Quer dizer, em vez de falar em revitalização, reflorestamento, falou em tirar água da Amazônia para o Nordeste. Uma idéia sem pé nem cabeça. Isso mostra o desconhecimento deste senhor. Se eu fosse ministro do meio ambiente também pediria demissão.

Fórum – Há especulações sobre nomes de substitutos. Há algum que poderia retomar esse compromisso?
Adilson Vieira –
Não vou opinar sobre especulações. Quem perdeu não foi só o governo Lula, mas a sociedade brasileira. Perdeu o compromisso dela e dá uma marcha ré no caminho para a sustentabilidade no desenvolvimento brasileiro. Um ministro que queira seguir o rumo trilhado vai estar muito debilitado. O sinal do governo é de falta de compromisso com o meio ambiente. Quem entrar vai ser um “bonequinho” para fazer licenciamento. O governo Lula não quer sustentabilidade.

por Anselmo Massad - Fonte: Revista Fórum


O mito das derrotas de Marina Silva. E a derrota de Marina Silva - ATUALIZADO (14/05) - por Alon Feuerwerker

Há toda uma mitologia sobre a suposta série de derrotas que a ministra Marina Silva, de saída do Meio Ambiente, teria sofrido ao longo de sua passagem pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva. Nos transgênicos, por exemplo, a ministra não foi derrotada. Ela lutou bravamente e conseguiu negociar um modelo institucional que dá ao governo a palavra final em qualquer liberação do uso comercial de organismos geneticamente modificados. Antes, a liberação era monopólio de uma alçada "técnica". Excessivamente permeável à indústria e ao agronegócio. Quem insiste em dizer que Marina foi derrotada na polêmica dos transgênicos? Os que defendiam o poder de veto do Ibama nas autorizações. E quem tinha essa opinião? Quem desejava impor ao Brasil uma moratória nos transgênicos por tempo indeterminado. Os tentáculos do aparato ambientalista global no estado brasileiro. Pessoas para quem a soberania do país e a autoridade do governo em assuntos ambientais deve ser relativizada. Melhor dizendo, subordinada ao poder de veto das organizações não-governamentais financiadas do exterior para bloquear o desenvolvimento brasileiro. Marina nunca defendeu esse ponto de vista, mas cometeu o erro de reunir em torno dela gente que defende. Infelizmente, sua equipe virou um enclave antinacional na Esplanada dos Ministérios. E cuja remoção passou a ser imperativa para que o país possa crescer e se desenvolver de modo justo, sustentado e sustentável. Marina tampouco foi derrotada no debate sobre o projeto das usinas hidrelétricas do Rio Madeira. O MMA e o Ibama conseguiram impor todas as restrições e condicionalidades necessárias para que os aproveitamentos de Santo Antônio e Jirau venham a representar o estado da arte em hidrelétricas ambientalmente (e socialmente) responsáveis. Quem diz que Marina foi derrotada nesse caso? Os que gostariam de manter intocado o potencial hidrelétrico da Amazônia, e também gostariam de impedir a expansão da navegabilidade dos rios da bacia amazônica. São os adversários do desenvolvimento continental e da integração regional entre Brasil, Peru e Bolívia. Ganha um doce quem conseguir identificar. Não é difícil. Os transgênicos e o Madeira são dois temas que, por razões profissionais, acompanhei de perto, do lado dos que trabalharam para tornar viável uma solução política que não afetasse negativamente o desenvolvimento do Brasil. Por isso, sou testemunha de que a hoje quase ex-ministra nunca que eu saiba pretendeu bloquear as possíveis soluções consensuais em disputas que envolviam sua pasta. Mas houve, sim, um debate, um caso em que Marina foi completamente derrotada. Falo dos biocombustíveis. O governo Lula montou um discurso segundo o qual a suposta grande quantidade de áreas já desmatadas mas improdutivas permitir-nos-ia expandir ao mesmo tempo as terras destinadas a produzir comida e as voltadas para plantar cana-de-açúcar, para fabricar etanol combustível e abastecer o mundo desenvolvido. Isso sem desmatar mais. Como se trata de uma mistificação (o que ficará claro ao longo do tempo), criou de uma disputa insolúvel entre o Ministério do Meio Ambiente e o pedaço do Planalto que se converteu numa agência de lobby para usineiros, latifundiários e caloteiros do álcool (e do açúcar). Aí a senadora pelo PT do Acre resolveu cair fora e retomar o mandato. Minha admiração e meu respeito pela ministra Marina Silva. Pessoa de valor a quem as circunstâncias permitiram que eu conhecesse pessoalmente. No governo tem hora de entrar e hora de sair. É difícil encontrar quem, como a senadora, comporte-se em ambas as situações com igual elegância.

Atualização, 14.05 às 17.08 - Um bom roteiro sobre a trajetória de Marina Silva à frente do MMA (e com um viés diferente do meu) está no site O Eco, em artigo de Andreia Fanzeres com o título "O que restou de Marina".

Fonte: Blog do Alon Feuerwerker

Marina Silva pede demissão do Ministério do Meio Ambiente

Após cinco anos e meio à frente do Ministério do Meio Ambiente e diversas batalhas políticas travadas dentro do governo, Marina Silva envia carta ao presidente Lula comunicando seu pedido de demissão “em caráter irrevogável”. O secretário do Ambiente do RJ, Carlos Minc, foi convidado para seu lugar.

RIO DE JANEIRO - A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, pediu demissão do cargo nesta terça-feira (13). Para o seu lugar, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva convidou o secretário estadual do Meio Ambiente do Rio de Janeiro, Carlos Minc, ex-deputado petista com longa trajetória de militância ecológica. Marina, que estava à frente do Ministério do Meio Ambiente (MMA) desde o primeiro dia do governo Lula e é uma das figuras políticas brasileiras com maior prestígio no cenário internacional, voltará a ocupar sua cadeira no Senado. Ela retomará o lugar de Sibá Machado (PT-AC), que voltará à suplência após cumprir o mandato de senador por cinco anos e meio.

Na carta enviada a Lula no começo da tarde, Marina afirmou o caráter “pessoal e irrevogável” do pedido e explicou os motivos de sua saída: “Essa difícil decisão, presidente, decorre das dificuldades que tenho enfrentado há algum tempo para dar prosseguimento à agenda ambiental federal (...) Vossa excelência é testemunha das crescentes resistências encontradas por nossa equipe junto a setores importantes do governo e da sociedade. Ao mesmo tempo, de outros setores tivemos parceria e solidariedade. Em muitos momentos, só conseguimos avançar devido ao seu acolhimento direto e pessoal. No entanto, as difíceis tarefas que o governo ainda tem pela frente sinalizam que é necessária a reconstrução da sustentação política para a agenda ambiental”, disse.

Protagonista de diversas batalhas políticas dentro do governo, nas quais acumulou vitórias e derrotas, a ex-ministra decidiu deixar o cargo, segundo fontes de Brasília, após o lançamento do Programa Amazônia Sustentável (PAS) pelo governo na última quinta-feira (8), mas esperou pelo término da III Conferência Nacional de Meio Ambiente, que se encerrou no sábado, para comunicar sua decisão ao presidente Lula.

A insatisfação de Marina Silva teria chegado ao limite durante a apresentação do PAS, após a então ministra saber que, numa decisão de última hora, as metas do programa que haviam sido acertadas entre o MMA e a Casa Civil, com o aval de Lula, não seriam anunciadas. Outro fator teria sido a decisão de Lula de confiar a coordenação do PAS ao ministro Mangabeira Unger, da Secretaria Especial de Ações de Longo Prazo. A indicação de Mangabeira, segundo pessoas próximas à Marina, teria sido, nas palavras da ministra, “um gesto de desprestígio ao trabalho realizado no MMA”.

Nas horas que se seguiram ao pedido de demissão de Marina, nem ela nem o presidente da República se manifestaram oficialmente. Segundo o blog de Ricardo Noblat, após sair de um encontro com Lula, o ex-governador do Acre Jorge Vianna (que chegou a ser cotado para o ministério), contou que o presidente “lamentou muito” a saída de Marina e disse ter “perdido uma grande ministra”.

Pressão interna

Nos últimos meses, Marina Silva vinha sofrendo grande pressão interna no governo em conseqüência dos embates políticos acerca de temas como o controle do desmatamento da Amazônia ou a liberação comercial dos transgênicos. No primeiro caso, as ações de combate à destruição da floresta que o MMA, através do Ibama, procura implementar em parceria com a Polícia Federal, como a atual Operação Arco de Fogo, sempre sofreram a oposição de setores ruralistas ligados ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). No caso dos transgênicos, a oposição à Marina se concentrava nos setores ligados à indústria da biotecnologia que integram o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT).

O início das obras do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) também teria contribuído para desgastar Marina dentro do governo. A polêmica sobre a concessão das licenças ambientais para projetos de grande impacto como, por exemplo, a construção das usinas hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau, no Rio Madeira, colocou a ex-ministra em rota de colisão com a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, e com o próprio presidente Lula.

Além de Marina, também pediram demissão o secretário-executivo do MMA, João Paulo Capobianco, e o presidente do Ibama, Bazileu Margarido. Por intermédio de sua assessoria, Carlos Minc confirmou sua ida para o MMA. Até o início da noite, diversas organizações do movimento socioambientalista, como o MST, o Greenpeace, o Instituto Sociambiental (ISA) e o Fórum Brasileiro de ONGs pelo Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável (FBOMS), entre outras, divulgaram notas lamentando a saída de Marina.



Marina sofreu bombardeio desde o 1º mandato de Lula

Ministra fez várias concessões e teve de aceitar derrotas seguidas em 5 anos e 5 meses de governo, mas sai no instante em que desmatamento volta a aumentar

AO FINAL do primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, já estava claro para quem quisesse ver que seu governo não merecia Marina Silva. A voz ao mesmo tempo frágil e firme da ex-doméstica que chegou a senadora permanecia solitária na Esplanada. Era a única a defender que o desenvolvimento econômico não pode ser obtido a qualquer preço, porque não seria de fato desenvolvimento.

Lula repetiu a estratégia Fernando Collor com José Lutzenberger. Pôs Marina Silva na vitrine do MMA (Ministério do Meio Ambiente) para neutralizar pressões internacionais contra o país pela destruição da Amazônia. Funcionou por algum tempo. Tempo demais.

Era fácil deixar a ministra falando sozinha sobre "transversalidade". Soava como (e era de fato) uma abstração insistir na necessidade de injetar a questão ambiental em todas as esferas de decisão e planejamento do governo. O desenvolvimentismo lulista seguiu em frente.

Foram muitas as batalhas perdidas. Primeiro, perante o Ministério da Ciência e Tecnologia, a dos transgênicos. Depois de anos de omissão do governo FHC quanto ao plantio de soja geneticamente modificada contrabandeada da Argentina, Lula capitulou diante do agronegócio e do lobby dos biotecnólogos, permitindo a comercialização do grão ilegal.

Em seguida vieram várias concessões, fracassos e derrotas do MMA: explosão do desmatamento (que chegou a 27 mil km2 em 2004, segunda maior marca de todos os tempos); licenciamento ambiental da transposição do São Francisco e das grandes hidrelétricas na Amazônia; a decisão de construir Angra 3 e outras quatro usinas nucleares...

Apesar disso, Marina Silva continuava como um conveniente bode expiatório. A certa altura, o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) parecia ser o maior entrave ao desenvolvimento nacional. Pior que a taxa de juros mais alta do planeta, a julgar pelo bombardeio dos jornalistas de negócios e dos ministérios interessados em camuflar a própria inoperância.

Mãe do PAC, mãe do PAS

O MME (Ministério de Minas e Energia), onde começou a ser gestada a mãe do PAC e também o embrião de um apagão, capitaneava o canhoneio. Entre um mandato e outro, a artilharia quase derrubou Marina Silva. Havia até candidato preferido do MME, segundo se especulava na época: Jerson Kelman, diretor-geral da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica). A proverbial raposa no galinheiro.

Marina Silva resistiu e ficou para um segundo mandato. Disse na época que o fez a pedido do próprio Lula. Afinal, o desmatamento na Amazônia vinha caindo, tendência que se confirmou ao longo do primeiro ano do segundo mandato. As cifras traumatizantes despencaram quase 60% em três anos. A ministra continuava bem na fita, pelo roteiro de Lula.

Aí começaram a surgir os primeiros sinais de que o desmatamento na Amazônia voltava a crescer. Era inevitável, diante da alta retomada no preço de commodities agrícolas, como soja, carne bovina e algodão. Enquanto isso, o frenesi dos biocombustíveis tomava conta do Palácio do Planalto.

Só os incautos acreditam que a expansão da produção será obtida apenas com aumento da produtividade e ocupação de áreas degradadas de pastagem. O empreendedor rural se dirige para onde encontrar a melhor combinação de terra e mão-de-obra baratas, solos férteis, topografia favorável e infra-estrutura logística. Soja e cana não desmatam a Amazônia, mas a pecuária, sim -e como.

Diante do trator pilotado pelo Ministério da Agricultura e teleguiado da Casa Civil, o espaço de manobra de Marina Silva se restringiu ainda mais. Nem ela fala mais em transversalidade, embora não deixe de apontar os riscos do excessos de entusiasmo com a expansão do agronegócio.

Os sensores de satélites, capazes de discernir florestas de verdade das áreas em processo de degradação, não se enganam a respeito. O desmatamento está em alta. É indiferente para eles que Lula, Dilma Rousseff e Marina Silva tenham lançado há poucos dias o enésimo programa desenvolvimentista, mais uma compilação de ações anteriormente providenciadas, e o batizem como PAS (Plano Amazônia Sustentável).

Lula tentou fazer blague na cerimônia, afagando a "mãe do PAS". Ao mesmo tempo, designou o ministro Roberto Mangabeira Unger (aquele do aqueduto ligando a Amazônia ao Nordeste) para coordená-lo.

O presidente ainda jactou-se de estar "criando uma nova China aqui". A infeliz frase presidencial -mais uma, apenas- não deve ter sido a causa do pedido de demissão da ministra. Mas nunca esteve nos planos de Marina Silva ajudar a armar a segunda maior bomba-relógio ambiental do planeta.

Escrito por Marcelo Leite

Até que demorou para Marina Silva deixar o governo Lula. A decisão de sair só agora fala mais da disciplina e do caráter da ministra do que de qualquer outra coisa. Mais não vou falar agora porque escrevi para a edição da Folha de amanhã e não quero furar a mim mesmo.

Nada impede, porém, que deixe aqui um testemunho pessoal sobre Marina Silva. Estive no máximo meia dúzia de vezes com ela. Em todas as ocasiões comportou-se como pessoa absolutamente íntegra e gentil. Trata com deferência e atenção até aqueles que a criticam com freqüência.

Projeta em público uma imagem de retidão e inflexibilidade que não corresponde, a julgar por sua gestão no ministério, à capacidade de negociar e fazer compromissos de modo discreto, mas fixando limites claros, além dos quais não se dispõe a prosseguir.

Alguém capaz de dizer, enfim, que estava disposta a perder a cabeça, mas não o juízo. Rola agora a cabeça da ministra, mas sua volta ao Senado vai aumentar consideravelmente o teor de juízo na Casa.

por Marcelo Leite

Veja quem gostou da saída da Marina Silva

Como você analisa a saída de Marina Silva do Ministério do Meio Ambiente, de acordo com quem gostou da notícia em declarações ao UOL.

"Ela não estava preocupada com o desenvolvimento do país, não que a questão do meio ambiente não seja importante, é muito importante, mas ela nunca pensou no desenvolvimento sustentável, ela sempre pensou no ’não’ desenvolvimento"
Glauber Silveira - presidente da Ass. dos Prod. de Soja de MT

"Espero que o próximo ministro não seja tão radical quanto a Marina. Ela era uma barreira para o desenvolvimento econômico do Brasil"
Rui Prado - presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do MT

"As propostas que apresentávamos, os problemas como área legal, ela fazia ouvidos moucos. Acredito que o bom senso agora deve prevalecer. O meio ambiente é uma ciência e não deve ser tratado ideologicamente. Ideologia é inimiga do meio ambiente"
Alberto Lupion - agropecuarista e empresário

Fonte: NovaE

Marina, que transversalidade queremos?

A alegria dos representantes do agronegócio indica um dos principais significados da saída de Marina Silva, do Ministério do Meio Ambiente. É o caso de repensar se queremos a hegemonia ou pretendemos deitar eternamente no berço esplêndido de um “Estado de Compromisso".

Duas características marcaram a passagem de Marina Silva pelo governo Lula: o espírito missionário e a lealdade pessoal ao presidente. Com a têmpera de quem superou cinco malárias, duas hepatites e uma leishmaniose, a herdeira política de Chico Mendes travou, nem sempre com sucesso, vários "empates" durante sua gestão no Ministério do Meio Ambiente. Perdeu, sem dúvida, mas jamais recuou.

Conseqüência de disputas no interior da própria máquina governamental, a agenda da "Senadora da Floresta” foi a grande perdedora em um governo que, mais uma vez repetimos, acumula êxitos atestados tanto na diversificação do parque industrial quanto no comportamento dos indicadores econômicos e sociais.

O aumento de poder da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), cujos pareceres sobre pesquisa e comercialização passaram a ter caráter vinculativo, foi a maior derrota da ministra que um dia acreditou ser possível - através da prática de ações transversais para a construção de sustentabilidade - “interferir nos projetos de desenvolvimento, das rodovias aos leilões de petróleo."

Há algum tempo, alertamos, em artigo aqui publicado, que "é hora de a própria esquerda se livrar do imaginário herdado do padrão fordista e incorporar a luta pela preservação natural ao seu horizonte político. Fora disso, a palavra progressista torna-se um vocábulo vazio. Um atributo discutível para quem luta no campo democrático-popular". Sem contar que corremos o risco de cair no “crescimentismo”, doença infantil de um keynesianismo canhestro.

O meio ambiente, como destacou o ambientalista Fran Araujo, deve ser um fator de primeira ordem na tomada de decisão sobre políticas de desenvolvimento econômico. Imaginá-lo como algo que deve ser protegido depois que impactos adversos tenham ocorrido é confundir bagres com índios, caboclos e pescadores dentro de um imaginário produtivista que peca pela pouca inteligência.

No primeiro pronunciamento do presidente após a demissão da ministra, Lula afirmou termos “criado no Brasil uma palavra mágica chamada transversalidade, para que não houvesse política de ministro. Isso significa colocar todos os atores envolvidos naquela matéria em torno de uma mesa para que a decisão se transforme em políticas de Estado e políticas de governo. Para mim a questão ambiental tem que ser tratada com mesmo carinho que a gente trata a política social. A companheira Marina que o diga. Não há separação da política de desenvolvimento sustentável e a preservação ambiental. Então a companheira Marina se foi e a política dela continua."

Talvez a questão seja mais complexa do que imagina o presidente. Transversalidade, quando a comunidade internacional financia projetos para contrapartidas de responsabilidade sócio-ambiental, não é uma “palavrinha mágica". E a companheira Marina se foi porque a política dela não conseguiu se viabilizar ante as pressões do agronegócio, o velho latifúndio remodelado semântica e politicamente.

Se um momento histórico pode ser avaliado pela reação dos atores diretamente envolvidos, convém observar quem festeja a saída da ministra. Uma rápida leitura da Folha de S. Paulo não deixa margem para dúvidas:

"Sem demagogia, eu tenho admiração pela história e a vida da ministra. Só que ela tem um componente ideológico fortíssimo que atrapalha o Brasil a crescer"( Kátia Abreu, senadora do DEM e vice-presidente da Confederação Nacional da Agricultura)

"Ronaldo Caiado (DEM-GO), um dos líderes da bancada ruralista na Câmara, lembrou que Marina dificultou os avanços na área tecnológica. "Os problemas que ela criou o próprio governo é que tem de explicar.”

"A saída dela pode fazer com que o bom senso seja retomado nas questões ambientais. Havia uma carga ideológica muito forte, um preconceito contra o agronegócio." "Ela atrasou muito o Brasil com a irracionalidade no trato de questões como os transgênicos.” (Onyx Lorenzoni (DEM-RS), presidente da Comissão de Agricultura da Câmara).

A alegria desses personagens dá a exata dimensão da tragédia. É o caso de repensar se queremos a hegemonia ou pretendemos deitar eternamente no berço esplêndido de um “Estado de Compromisso".

Marina deixou o governo com a mesma dignidade em que nele atuou. Sai do cargo com a certeza de que a aposta no governo Lula ainda é a melhor alternativa. Novos empates a esperam no Senado e deles, mais uma vez, ela não fugirá.

Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, e colaborador do Jornal do Brasil e Observatório da Imprensa.

Fonte: Agência Carta Maior

Sapos amazônicos

por Eliane Cantanhêde

Lula se disse surpreso com a decisão de Marina Silva de abandonar o barco e o governo. Como sempre, disse que não viu nada, não sabia de nada, nem que a ministra do Meio Ambiente estava cansada de engolir um sapo amazônico atrás do outro. O pedido de demissão era só questão de tempo. Foi agora.
Até que Marina resistiu bem. Digamos que bem mais do que se supunha já desde o início do primeiro mandato, quando ficou claro que o PT --como, de resto, o PSDB e os grandes partidos-- é extremamente urbano e acha esse negócio de desenvolvimento sustentável uma chatice. Coisa para inglês ver. E, claro, para moldar a aura do partido politicamente correto.
Marina é uma cabocla que cresceu descalça, foi alfabetizada já mocinha, fez faculdade de história na marra e enveredou pela política no grupo do ambientalista Chico Mendes, no Acre. Magrinha e frágil, sofre com a contaminação de mercúrio.
Com essa história de vida, foi uma das figuras mais, senão a mais, aplaudida na posse de Lula em primeiro de janeiro de 2003. Mas já era, ali, o que foi durante todos os cinco anos e pouco de governo: mais um símbolo do que uma ministra no poder.
Marina perdeu, uma atrás da outra, as batalhas dos transgênicos, do licenciamento ambiental para a transposição do Rio São Francisco, do avanço das hidrelétricas na Amazônia e da decisão política de tocar a usina nuclear de Angra 3 adiante, até amargar o aumento do desmatamento.
Perdeu para Palocci, para Gushiken, para Furlan, para Stephanes, para Dilma. Por fim, perdeu o PAS (Plano da Amazônia Sustentável) para o ministro do tudo e do nada, Roberto Mangabeira Unger, que cuida da Amazônia, das leis trabalhistas, de compra de aviões com a França, de negócios de satélites com os russos...
Entre o PAC e o PAS, adivinha com o que Lula ficou? Mas ele fez pior: anunciou que a coordenação ficava com Unger já na própria solenidade de lançamento. Marina foi a última a saber. E soube em público, no meio de governadores, sem poder reagir.
Marina, portanto, perdeu tudo. O Ministério do Meio Ambiente perdeu tudo. A discussão sobre quem será o novo ministro não tinha a mínima importância, porque o novo ministro não terá a mínima importância também. Qualquer um que aceitasse já entraria perdendo.
A única preocupação era escolher bem a marca, o símbolo. Daí a decisão pelo secretário de Meio Ambiente do Rio, Carlos Minc, que é ligado à área. Mas... a Amazônia não é a sua praia e é aí que mora todo o problema. Por isso, seu nome pode ser insuficiente para amenizar a reação internacional.
É só para inglês ver? Ou é para virar rainha da Inglaterra?

Fonte: Folha Online

http://www1. folha.uol. com.br/folha/ pensata/elianeca ntanhede/ ult681u401537. shtml

O que restou de Marina

Andreia Fanzeres

14.05.2008


As demonstrações de fidelidade da ex-ministra do meio ambiente Marina Silva ao presidente Lula levavam a crer que, depois de engolir tantos desaforos e de até ser desautorizada publicamente, dificilmente ela teria outros motivos para pedir demissão. Mas sua saída inesperada revela que, por baixo do véu de castidade ambiental que sua figura ostentava às vitrines internacionais, estavam em ebulição centenas de contradições dentro do próprio governo, que emperravam muito mais os trabalhos de Marina do que supostamente travavam o desenvolvimento econômico do país. Os números do desmatamento acumulado na Amazônia durante o governo Lula, que hoje beiram os 100 mil km2, não deixam negar.

Antes de enfrentar seus maiores embates dentro governo, ainda em 2004, a então ministra chegou a declarar que cada vez que perdia uma briga, estava só afiando as garras “como a águia que tem de quebrar o bico na pedra, arrancar as penas e as unhas para nascer uma nova unha, um novo bico”. A resistência chegou à exaustão, coisa que, na mesma época, ela mesma anteviu. “Quando ministro acha que não dá mais, vai lá e entrega carta de demissão em caráter irrevogável”.

Por muito tempo, ela tentou sustentar o duvidoso compromisso do governo com a área ambiental à base das migalhas recebidas do orçamento da União. Para complicar, o pouco dinheiro sempre ficou retido na sede da administração, em Brasília, deixando os executores da política ambiental, nas pontas, à míngua, sem infra-estrutura e, muitas vezes, com a segurança em risco.

Essa situação, somada às estratégias de gestão freqüentemente criticadas por ambientalistas diminuíam a eficácia das ações propostas. A surpresa da divisão do Ibama e a criação do Instituto Chico Mendes, foi recebida com protestos dos próprios servidores, que promoveram greves e resistência declarada em eventos como o Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação de 2007, quando a ausência da ministra acirrou ainda mais o clima de descontentamento.

Bem cedo, já era claro que o meio ambiente nunca foi prioridade para o presidente Lula. Às vezes, em seus discursos de improviso, ele até se traia. A posição cada vez mais marcada de isolamento de Marina entre seus colegas de ministério ficou patente quando ela pressionou, em vão, pela aprovação do Projeto de Lei Complementar do Cerrado (PEC) e quando foi derrotada na aprovação da lei de biossegurança, rebaixando conquistas pretéritas que a área ambiental galgava timidamente. Era a época em que mais se esperava a saída de Marina, mas, intimamente, ela ainda não tinha chegado ao seu limite.

Foi com muito custo que a ex-ministra conseguiu emplacar a criação de dezenas de unidades de conservação na Amazônia até 2006, um dos maiores méritos de seu governo – êxito que não se repetiu mais com tal dimensão. Como lembra o ambientalista Roberto Smeraldi, da organização Amigos da Terra, curiosamente este feito de Marina era o contrário do que se esperaria dela, que sempre frisou que o objetivo da área ambiental não era discutir o que fazer ou não, mas como fazer. “Ela foi mais bem sucedida na agenda antiga, como nos anos 80, de criar unidades de conservação, principalmente no primeiro ano do governo Lula. Foi o único espaço que deram a ela”, opina Smeraldi.

Um dos maiores baques foi a avalanche de projetos de infra-estrutura do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que nem de longe respeitava o principio de transversalidade ambiental tão defendido por Marina. O governo se posicionava de modo destemido que o meio ambiente era mesmo um entrave. Não foi à toa que, depois de negativas de técnicos de licenciamento do Ibama sobre a viabilidade ambiental da construção das usinas do complexo Madeira (RO), o governo tenha derrubado o diretor de licenciamento e permitido a interferência direta do Ministério de Minas e Energia e da Casa Civil no processo, autorizando a sua continuidade com base no parecer de um consultor estrangeiro sobre o rio Madeira, desmoralizando os técnicos em licenciamento do órgão federal de meio ambiente.

Termômetro amazônico

A divulgação dos números do desmatamento era como um termômetro na gestão de Marina. Quando diminuíam, como ocorreu entre 2005 e 2007, o governo comemorava, credenciando o sucesso à eficiência do Plano de Combate ao Desmatamento, por sinal, questionado por ONGs como o Greenpeace e o Instituto Socioambiental . As ações do plano se somaram às dezenas de operações conjuntas entre Ibama e Polícia Federal para combater crimes ambientais pelo país, que, depois da Curupira, em Mato Grosso, começaram a revelar a complexidade das teias fraudulentas contra o meio ambiente, especialmente nos estados amazônicos. Obviamente, depois de baques como este, a floresta saía ganhando, pelo menos provisoriamente. Foi assim, em junho de 2005, quando a taxa de desmatamento baixou a apenas 5% em relação ao ano anterior, como nunca antes na história do país.

Foi um suspiro, porque sem mexer na pressão que commoddities como a soja e a carne exercem na expansão da fronteira agrícola, o desmatamento voltaria a crescer. Entre o fim do ano passado e o início de 2008, o governo foi obrigado a admitir, mas Lula, mais uma vez, desmoralizou sua própria ministra e declarou que a pecuária e a agricultura não podem ser responsabilizados pelo desmatamento.

Mesmo assim, o Ministério do Meio Ambiente montou um pacote de medidas para restringir esse avanço, limitando o crédito bancário a desmatadores, obrigando cadastramento das propriedades rurais, divulgando nome e sobrenome dos infratores e endurecendo as ações nos municípios campeões do desmatamento. A resposta foi imediata. Blairo Maggi, governador de Mato Grosso, saiu na dianteira questionando até a metodologia do Inpe para identificar desmatamentos e negou até o fim que seu estado continue na liderança dos desmates. Em vez de ficar do lado de sua pasta ambiental, o presidente afagou Maggi. Era mais um recado claro a Marina, que estava a poucos momentos de abandonar o barco.

Diante deste quadro totalmente desfavorável ao êxito de medidas ambientais efetivas, é pouco provável que um novo ministro, seja qual for, possa alterá-lo. Nem mesmo a internacionalmente prestigiada Marina conseguiu. Para isso, Lula precisaria ser iluminado o suficiente para perceber que se encontra num caminho insustentável. “Neste caso, o legado mais forte da passagem de Marina pelo governo talvez seja sua própria demissão, que poderia servir de alerta para que haja uma eventual mudança de foco”, sugere Roberto Smeraldi, que sinceramente não crê que isso possa ocorrer na prática.

Em seu primeiro pronunciamento após do pedido de demissão de Marina Silva, Lula afirmou que a ex-ministra se vai, mas sua política ambiental permanece. Ao comparar Marina a um filho que sai de casa, o presidente se disse triste com a decisão, mas afirmou que a política ambiental do Brasil será tratada “com o mesmo carinho” que o governo trata a política social. “A política ambiental no Brasil não muda [com o pedido de demissão de Marina Silva]. Criamos no Brasil uma palavra mágica chamada transversalidade, para que não houvesse política de ministro. Isso significa colocar todos os atores envolvidos naquela matéria em torno de uma mesa para que a decisão se transforme em políticas de Estado e políticas de governo”, disse Lula, durante cerimônia de assinatura de atos com a chanceler da Alemanha, Ângela Merkel, na tarde desta quarta-feira.

Pelo jeito, ao menos no discurso presidencial, a demissão teve efeito.

* Colaborou Cristiane Prizibiszcki

Fonte: O Eco

A MENINA QUE PERDEU O PESCOÇO, MAS NÃO PERDEU O JUÍZO.


por Walmir Carvalho


Maria Osmarina Silva de Lima, morena, magrinha, de cabelos longos, é uma ex-seringueira acreana.

Ela nasceu - no dia 8 de fevereiro de 1958 - numa colocação de seringa chamada Breu Velho, no Seringal Bagaço, a 70 quilômetros da capital Rio Branco, casou, descasou, casou de novo, e hoje é mãe de quatro filhos - Shalon, Danilo, Moara e Mayara.

De menina cortou seringa, plantou nos roçados, caçou e pescou para ajudar no “com quê” dela e da família, aprendeu com a avó as devoções católicas – queria ser freira, rapaz - e, aos 15 anos ficou órfã de mãe. Irmã mais velha teve que assumir a criação dos irmãos, mas no ano seguinte pegou-se com hepatite e teve que buscar tratamento na capital.

Curada, analfabeta,ficou por lá trabalhando de doméstica.

Tinha tudo de necessário p’ra viver uma vidinha estragada, é ou não é?

Pois deu de freqüentar aulas do Mobral, pulou para o curso de Educação Integrada, aprendeu a ler e escrever aos 16 anos, foi morar com as freiras – seu sonho - fez o supletivo de 1º e de 2º graus.

Mas aí vem o destino e rola sua pedrinha.

Católica, começou a trabalhar nas CEBs – Comunidades Eclesiais de Base.

Entusiasmou-se.

Largou mão do sonho de ser freira, de viver no convento p’ra atuar no mundo, ligar-se aos movimentos ecológicos da região amazônica.

Entrou para a universidade, teve filhos, aliou-se ao Chico Mendes - líder seringueiro assassinado - e aos 38 anos foi eleita a mais jovem senadora do país, a “Senadora da Floresta”, voz respeitada no mundo inteiro, referência para todo ambientalista sério.

Com a eleição do presidente Lula - outro sobrevivente lá de cima - foi chamada p’ra ser ministra do Meio Ambiente.

Aceitou.

Ministra, lutou a boa luta, bateu-se contra interesses poderosos, poderosos atrasos travestidos de desenvolvimentismo - que é a doença do desenvolvimento sustentado - foi acusada de retardar obra de usina, chamada de “ministra dos bagres”, procurou conciliar o desenvolvimento do país com a preservação do meio ambiente.

Não conseguiu, mas deixou nua a pregação de que governos federais e estaduais priorizam o meio ambiente.

Perdeu o pescoço, mas não perdeu o juízo – foi ela mesma quem disse frase assim.

Hoje, pediu demissão do cargo, em caráter irrevogável.

Escreveu em sua carta de demissão ao presidente Lula: Quero agradecer a oportunidade de ter feito parte de sua equipe. Nesse período de quase cinco anos e meio esforcei-me para concretizar sua recomendação inicial de fazer da política ambiental uma política de governo, quebrando o tradicional isolamento da área.

Exerceu o poder, dançou com o diabo, mas não se rendeu aos seus encantos. Preferiu sair.

Saiu maior do que entrou, ao contrário da quase totalidade dos políticos.

Está com 50 anos, mas quando a vejo na TV, miudinha, magrelinha, carregando umas infâmias de doenças incuradas, só enxergo nela a menina moreninha e mirrada do seringal por quem senti carinho desde a primeira vez em que a vi.

Fico hoje mais pobre e mais rico.

E penso que o Brasil também fica.

Paz e bem, Marina Silva.

Fonte: Blog do Walmir

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