quinta-feira, 8 de maio de 2008

Para jornalistas, oposição deu 'tiro no pé' e Dilma 'venceu'

Dilma Roussef desafinou a festa da oposição ao governo Lula. Na opinião de jornalistas e blogueiros, o que houve nesta quarta-feira (7), na Comissão de Serviço e Infra-Estrutura do Senado, foi um baile da ministra da Casa Civil sobre senadores do PSDB e do Democratas (ex-PFL).

Por André Cintra


"São 11h30min e a ministra Dilma Rousseff está dando um banho", adiantou a colunista tucana Eliane Cantanhede, da Folha, que apontou logo o responsável pelo desastre: "É o Agripino". Àquela altura, a grande mídia já estava fula com o vilão do dia - o senador José Agripino Maia (DEM-RN).


Em recente entrevista na Folha de S.Paulo, Dilma declarou que mentiu nos porões da ditadura militar (1964-1985) para salvar a vida de seus companheiros. Tinha apenas 19 anos e estava sob tortura. Presa em seguida, ainda na mocidade, recusou-se a delatar quem quer que fosse, pois estava do lado da democracia, combatendo um regime totalitário e impopular.

Agripino, um inconfundível filhote desse período ditatorial, insinuou que não via diferença entre uma sessão de tortura e um depoimento ao Senado. Insinuou mais: se Dilma havia mentido diante do regime militar, teria tudo para repetir o gesto diante dos atuais senadores da República. Um ato falho para a história.

"Dilma arrasa a oposição" foi a chamada de Paulo Henrique Amorim no site Conversa Afiada. Em sua opinião, a ministra revidou à altura a provocação de Agripino. "Rousseff atingiu o ponto certo da resposta, com firmeza e serenidade, e colocou o senador na posição histórica que ocupam os que acionavam a maquininha do choque elétrico."

"Dilma tem uma dívida impagável com José Agripino Maia", zombou o principal colunista do Globo Online, Ricardo Noblat. "Ela entrou na sala da Comissão como suspeita de ter encomendado um dossiê sobre despesas sigilosas do governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Saiu como a heroína que aos 19 anos de idade foi presa e torturada por agentes da ditadura militar de 1964, e mesmo assim não dedurou ninguém."

Constrangimento

O fiasco da oposição constrangeu até os críticos mais empedernidos do governo Lula, como o blogueiro Reinaldo Azevedo, porta-voz da revista Veja. Ele alegou que "é preciso qualificar o que significa 'vencer'", mas foi obrigado a reconhecer o excepcional desempenho de Dilma. "Não, não vou divergir da avaliação de que ela representou com eficiência o seu papel, mas vou matizar a sua 'vitória'."

Que a matize à vontade! Até Heraldo Pereira, no Jornal da Globo, disse que "Dilma deu um show". Luis Nassif, em seu blog, espinafrou tucanos e demos: "Está na hora da oposição se dar conta de que Agripino + Virgílio = tiro no pé", resumiu Nassif.

Noblat descreveu o embate com mais detalhes e ênfase: "Dilma pegou o pião na unha, subiu no palco, ficou com dois metros de altura e por antecipação engoliu com farofa e tudo seus eventuais desafetos. A resposta que deu a Agripino foi aplaudida intensamente por correligionários e adversários. E baixou o ânimo desses últimos".

Conforme o relato de Noblat, "a partir daquele momento, os senadores de oposição começaram a se preocupar mais com o Programa de Aceleração do Crescimento do que com o dossiê. E os que acossaram Dilma com perguntas sobre o dossiê o fizeram de forma branda e respeitosa como se temessem levar o banho que Agripino levou".

Tourada

O caso mais curioso de desapontamento foi o de Josias de Souza, colunista da Folha de S.Paulo e blogueiro do Folha Online. Para ele, não cabe dar os méritos a Dilma, mas, sim, tacar pedras no pobre diabo Agripino. Ao escrever sobre a sessão na Comissão do Senado, Josias fez um rodeio - e revelou tanta irritação - que vale a pena ser reproduzido em mais trechos:


Há touradas e touradas. Na Espanha, mata-se o touro. Em Portugal, o touro sai da arena vivo. Cansado. Irritado até. Mas vivo.

Dilma Rousseff foi à comissão de Infra-Estrutura do Senado na condição de touro português. José Agripino Maia (DEM-RN), porém, atravessou o script.

O líder do DEM tratou a ministra à moda espanhola. Fincou-lhe a espada nas costas. Deixou no ar a impressão de que fez com o touro algo que não se faz nem com um animal.

Agripino içou do baú uma entrevista em que Dilma reconhecera que havia mentido ao ser torturada por algozes da ditadura. Espetado nas costas, o touro reagiu: "Eu fui barbaramente torturada, senador (...)".

Ao lembrar que, na década de 70, estava do lado claro da história, Dilma como que acomodou Agripino do outro lado. O líder do DEM cometeu um erro estratégico incompatível com sua experiência parlamentar. Empurrou o touro para o corner de vítima. E Dilma prevaleceu sobre a oposição como um touro português.

Fonte: Vermelho

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