WASHINGTON - O oportunismo político no Brasil é tão deslavado que as viúvas da ministra Marina Silva vertem lágrimas de crocodilo. A quem interessa a cristianização da "ex-empregada doméstica"? Deixemos, portanto, de comiseração. Essa farsa só cola com a turma do "me engana que eu gosto." Reflitam sobre os textos que me foram encaminhados pela Amyra:
Do Leonardo Aguiar Morelli:
Não sejamos ingênuos. Marina não pode agora ser tratada como uma violentada. Ela participou de muitas ações nocivas por ação ou omissão: transgênicos; retomada do programa nuclear; transposição; gestão privada de florestas públicas, etc... Quanto ao governo Lula, o que esperar de um governo que chama de companheiros ex-representantes da Ditadura Militar, elogia programas de investimentos de Geisel e tem como seu grande conselheiro econômico alguem como Delfim Neto?
Entre as opções, Jorge e Tião Viana representam as elites light que estão comprometidas com a extração de madeira para exportação, fraudando sistemas
de certificação de origem, coniventes com o aumento do desmatamento no Acre; Carlos Minc aprovou às pressas e por baixo do pano licenças ambientais para obras de construção do Complexo Petroquímico da Petrobras em Itaboraí, Rio de Janeiro, que destruirão 3 APAs federais, além de estar comprometido com grupos luso espanhóis de especulação imobiliária.
Do Hélio Sassen Paz:
Fui tão criticado ao escrever no PALANQUE DO BLACKÃO um texto contra a ministra... Ela simplesmente não podia e, certamente, também não quis lutar. Ela pagou o pato e o mico de correr um sério risco de manchar a sua biografia ao ter de ceder a uma série de medidas anti-ambientalistas impostas por Mangabeira Unger e por Reinhold Stephanes, representantes das "forças ocultas".
Sou do princípio de que se deve conhecer muito bem seus amigos e seus inimigos antes de se assumir qualquer responsabilidade, sob pena de ficar sozinho e de ser transformado em bode expiatório pela mídia. Não tenho esperança nenhuma em uma política de meio ambiente para o Brasil. Para Lula, para o operariado industrial urbano (que serve de massa de manobra para a falsa esquerda) e também para os tecnocratas econômicos, engenheiros e agrônomos (de viés predominantemente direitista), desenvolvimento é sinônimo de exploração de commodities e todo imposto recebido pelo Governo para posterior investimento no social justificaria a depredação do meio ambiente.
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Como notou o Hélio Paz, acredito - eu, Azenha - que Lula representa o operariado industrial brasileiro. E esse operariado busca a ascensão social, que de fato exige uma agenda desenvolvimentista. No governo essa agenda é representada pela ministra Dilma Rousseff, que tem o perfil dos tecnocratas de antanho. Já pensaram na Dilma abraçada a uma árvore? Ela é mulher da energia, da produção e das barragens.
A coalizão montada por Lula para fazer avançar os interesses do operariado industrial brasileiro tem os mesmos objetivos, nesse momento, que os que faturam com a idéia de que é "uma frescura" essa história de proteger florestas e índios.
Não seria uma aliança trágica, não fosse a conjuntura internacional: a pressão para expandir a fronteira agrícola é enorme e raros são os países que reúnem as condições necessárias para permitir isso.
Lembrem-se: terras contínuas são essenciais para permitir o plantio em grande escala e maximizar os lucros, que é afinal do que estamos falando.
A transposição do rio São Francisco serve a isso: à incorporação de milhões de hectares de terra aos grandes negócios do agronegócio, num momento em que China, Índia e outros países incorporam um bilhão de novos consumidores ao mercado.
Nunca, na História, houve tamanha demanda pelos recursos de que o Brasil hoje dispõe. Nunca, na História, o capital viajou tão facilmente em busca desses recursos, onde quer que estejam: no mar, na terra, sob a terra.
São as forças gigantes do agronegócio, da energia e do minério as que fazem a redescoberta do Brasil.
Europeus, americanos e japoneses não querem mais saber de indústrias de uso intensivo de energia.
Com a globalização, é mais fácil fazer a barragem no rio Xingu, entregar a energia para a Alcoa, que fura a terra e manda o minério brasileiro para a China, que faz quase de graça a peça de plástico que será incorporada ao Mercedes Benz na Alemanha.
Na escala de valores a energia custa 1, o minério 5, a peça de plástico 10 e o Mercedes 1000. Quem embolsa os 6 (1 de energia + 5 de minério)? Quem arca com as consequências?
Antes que a gente consiga responder eles vão cortar, cavar e sugar tudo o que puderem cortar, cavar e sugar, com a nossa ajuda e colaboração.
O papel do estado brasileiro deveria ser o de moderador desse apetite. De árbitro. De fiscal.
Porém, Lula e Dilma se colocaram como pilotos do trator. De vez em quando dão uma freada, mas o trator é feito para andar para a frente e quem paga o diesel quer o seu de volta.
Política é a arte do possível. Imagino que Lula e Dilma acreditem que o possível é esse: arrumar um canto para a maioria dos brasileiros na caçamba do trator, o que não é pouco.
Parem agora um minuto para refletir sobre o desastre ambiental que é São Paulo: milhões de pessoas amontadas umas sobre as outras, rios apodrecidos, congestionamentos monstruosos e miséria. O fato é esse: São Paulo é a flor que o pântano brasileiro produziu.
Parem um minuto para pensar no absurdo: o jornal que representa a elite supostamente MAIS MODERNA do Brasil, a Folha de S. Paulo, elege UMA PONTE como símbolo da cidade. Uma ponte através da qual automóveis e motos vencem um rio morto.
Nos Estados Unidos os ricos entregam parte da fortuna para nomear bibliotecas, universidades e auditórios. Nossa elite é sovina e se contenta com viadutos.
O que me leva a dizer que, no amplo espectro político que vai da família Frias à família Lula, todos são fascinados por pontes, ainda que elas não levem a lugar algum, ainda que sob elas passem rios mortos.
Enfrentar as forças que reproduzirão na Amazônia a terra arrasada sobre a qual se ergueu São Paulo requer um grau de consciência que simplesmente não existe na população brasileira.
Na Amazônia estamos assistindo ao início de um crime contra o Brasil e contra a Humanidade.
Momentos extraordinários, como o atual, exigem políticos extraordinários.
Temos alguns bons tratoristas.
Fonte: Vi o Mundo
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