por Luiz Carlos Azenha
Como vender caro uma derrota
A disputa entre os dois candidatos do Partido Democrata pelo direito de concorrer à Casa Branca vive amanhã, sábado, mais um capítulo no que caminha para se tornar a derrota de Hillary Clinton – mas não sem antes de extrair do vencedor todas as concessões possíveis.
Barack Obama lidera em praticamente todas as contagens, mas ainda não obteve o triunfo matemático sobre a adversária no número de delegados necessários para consagrá-lo candidato na convenção nacional.
Além disso, partidários de Hillary Clinton argumentam, com razão, que ela venceu as prévias nos grandes estados – Califórnia e Nova York, por exemplo – e em estados essenciais para levar um candidato à Casa Branca – caso de Ohio e Pensilvânia.
Obama ganhou entre os democratas jovens, de maior renda e educação. Entre os negros venceu de forma esmagadora. Hillary ganhou na classe média baixa, base tradicional do partido, os chamados “democratas de colarinho azul”.
Se o senador de Illinois herdará ou não os votos de Hillary nas eleições gerais não é certo. Isso dá à senadora poder de barganha tanto na definição da chapa democrata quanto em futuras políticas e cargos em um eventual governo Obama. As especulações de que ela busca a vice-presidência, por enquanto, não passam disso.
Amanhã um comitê do partido analisa os casos da Flórida e de Michigan. Nos dois estados os democratas locais decidiram antecipar as prévias contrariando a direção nacional do partido. Qual é a graça de promover uma prévia se o candidato já foi escolhido? A luta para escapar da irrelevância explica as tentativas de alterar o calendário eleitoral.
Para punir os desobedientes o Partido Democrata resolveu desconsiderar os resultados da Flórida e de Michigan. Agora, advogando em causa própria, a campanha de Hillary quer que os resultados sejam contados.
Ao ignorar a Flórida e retirar o nome da cédula em Michigan o senador Obama estava apenas cumprindo determinações do próprio partido. Deixou o campo livre para “vitórias” de Hillary por ampla margem.
Agoara, Hillary quer que a punição seja revista e que os resultados sejam levados em conta. Obama, por sua vez, não pode simplesmente desconhecer os democratas dos dois estados. Ele precisa deles para vencer um eventual confronto com o republicano John McCain em novembro.
Tudo indica, assim, que haverá algum tipo de acordo. E que esse acordo seja mais vantajoso para Hillary. Não será suficiente para virar o jogo, mas reforçará a mão da ex-primeira dama para extrair concessões de Obama.
Siga o dinheiro
A tática adotada para o esclarecimento de crimes pode servir também para explicar a solidez da candidatura do senador Barack Obama.
Nos momentos finais da campanha, que termina em 3 de junho, a senadora Hillary Clinton continua a argumentar que é a melhor candidata para derrotar John McCain e devolver a Casa Branca ao controle dos democratas em novembro.
Assessores de Hillary fazem todo tipo de cálculo com o objetivo de justificar a permanência dela na disputa. Por exemplo, acrescentam às contas os votos obtidos pela ex-primeira dama na Flórida e em Michigan – estados em que os democratas locais anteciparam a data das primárias e foram punidos pela direção nacional do partido com a desconsideração dos resultados.
Hillary venceu em ambos. Em Michigan Obama mandou tirar o nome da cédula; na Flórida, não fez campanha.
No que conta, no entanto, Hillary perdeu de goleada. Desde que iniciou sua campanha o senador Obama, apesar de novato, já conseguiu arrecadar mais de 260 milhões de dólares – contra cerca de 200 milhões do casal Clinton. Nada mal, considerando que Bill Clinton cumpriu dois mandatos na presidência e controla a maior parte da máquina partidária. Por comparação, a arrecadação do republicano John McCain é de “apenas” 100 milhões de dólares até agora.
Isso ajuda a explicar o apoio que Obama vem recebendo de um grande número de superdelegados, aqueles que têm direito automático a voto na convenção do partido por ocuparem cargos eletivos ou por serem integrantes da burocracia democrata.
Já foram convencidos do poder da máquina de arrecadação de Obama.
A grande vantagem do senador é que ele conseguiu fazer com que milhares de americanos doassem pequenas quantias à campanha. De todas as doações que recebeu, 47% foram de 200 dólares ou menos. A maior parte dessas doações foi feita através da internet.
Além de absolutamente inédito, esse fato é revelador do potencial futuro da máquina de arrecadação de Obama. Os pequenos doadores são justamente aqueles mais inclinados a fazer uma segunda doação ao longo da campanha. E o candidato ainda ganha o direito de dizer que suas contas não estão sendo pagas pelos grandes lobistas, mas pelo “povo”.
Fonte: Blog das Américas
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