do site Vermelho
A ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva disse nesta quinta-feira (15) que deixou o governo porque sua permanência na pasta "não estava mais agregando". Em entrevista coletiva que durou quase duas horas, ela defendeu a manutenção das políticas já estabelecidas e elogiou seu substituto, Carlos Minc (PT-RJ). A ex-ministra descartou a possibilidade de deixar o PT. Afirmou que sua trajetória se funde à do partido. Argumentou que, apesar de ter se filiado apenas em 1985, participou ativamente da fundação da sigla, ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Então, a trajetória do PT e minha trajetória é um casamento”, acentuou.
Marina Silva também negou a possibilidade de concorrer ao governo do Acre. "Fui incitada a ser candidata [na última eleição], mas entendi que a minha melhor contribuição era ficar no ministério. Com certeza, não seria candidata, sou senadora e claro estou avaliando se, de fato, vou buscar a reeleição [ao Senado].
Ela deverá voltar ao Senado apenas depois do feriado prolongado da próxima semana. Até lá, pretende dar continuidade aos estudos de Psicopedagogia.
A ex-ministra desejou boa sorte ao seu sucessor e brincou: "Conheci o Minc quando ele ainda tinha cabelo e acho que ele corre o risco de perder um pouco mais". Para ela, o novo ministro do Meio Ambiente terá a responsabilidade de manter as políticas estabelecidas, sem retrocesso. "O Minc é uma pessoa comprometida com a agenda, um ambientalista que todos nós respeitamos e acredito que vai dar uma contribuição representativa ao país", elogiou.
"Eu entreguei o bastão para o presidente Lula para que ele o entregue a outra pessoa, que, rogo a Deus, faça mais e melhor do que eu", completou. Marina invocou um episódio bíblico do Rei Salomão para ressaltar que "preferia a criança viva no colo de outra pessoa do que pela metade em seu colo".
Parte de um processo
Marina Silva negou que tenha decidido deixar a pasta após a indicação do ministro Mangabeira Unger (Assuntos Estratégicos) para chefiar o Programa de Amazônia Sustentável (PAS), apesar de admitir que não foi consultada sobre a ida dele para a coordenação do programa. Segundo ela, a demissão não teve um motivo isolado e fez "parte de um processo." Ela indicou, inclusive, que já pensava em deixar o cargo há algum tempo e esperou o melhor momento para isso. "Saí com a certeza de que encerramos um ciclo e de que eu não podia continuar só por continuar."
Ela afirmou ainda que "suas aparentes derrotas de agora, no futuro, poderiam ser vistas como vitórias." Para ilustrar sua tese, lembrou que o presidente Lula perdeu três eleições presidenciais para depois ser eleito duas vezes consecutivas.
"Se o desgaste fosse tão grande que não valesse a pena lutar, vocês jornalistas não estariam aqui em tão grande número e eu teria saído pela porta dos fundos. Mas saí na porta da frente, como entrei", falou.
Também reafirmou, como já havia antecipado na carta enviada ao presidente Lula, que sua decisão foi "difícil e dolorida", mas que deixa o cargo tranqüila por ter contribuído com o "fortalecimento do processo de desenvolvimento ambiental sustentável no país".
Foi a primeira vez, desde que entregou o cargo na terça-feira, que Marina falou publicamente sobre sua saída do ministério. Com o presidente Lula, disse a ex-ministra, o contato ficou restrito à carta "bastante respeitosa", como classificou, que continha o pedido de demissão.
Avançar na política ambiental
Para Marina Silva, o Brasil não pode "retroceder" no processo de criminalização da cadeia produtiva que extrai madeira ilegal.
"Não podemos retroceder na criminalização da cadeia produtiva das áreas embargadas e [deixar de cumprir] a resolução do Conselho Monetário Nacional", afirmou.
A resolução do conselho prevê que os municípios que não apresentarem seus planos de desenvolvimento sustentável ficarão impedidos de receber financiamentos públicos.
Para a ex-ministra, no lugar da pecuária extrativista, deve-se estimular a pecuária intensiva, “para maior produtividade e a proteção da floresta”. “É fundamental que não se mexa nas questões essencial que temos, como a lei de florestas”, argumentou.
Marina Silva ressaltou que, depois de anos de discussão, o governo conseguiu aprovar a Lei de Gestão de Florestas Públicas e defendeu que “não podemos voltar atrás”.
“Agora temos a concessões de manejo florestal, [temos que] avançar cada vez mais na certificação dos produtos para que tenham mais qualidade ambiental. O entendimento é que muito foi feito, mas temos coisas para fazer e outras que não podemos retroceder”, afirmou Marina durante a coletiva.
Marina afirmou ainda que, caso o seu substituto, consiga, por exemplo, dar andamento à demarcação das unidades de conservação que estão paradas em função da resistência de alguns setores, no futuro vai ser possível dizer que a sua renúncia do cargo de ministra foi algo bom para o país. “A vitória não é algo que se possa celebrar individualmente”, completou.
Com informações da Folha Online e Agência Brasil
Fonte: Vermelho
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