terça-feira, 27 de maio de 2008

“A CULPA É DOS MIGRANTES”

Por causa dele as escolas públicas de São Paulo não prestam

por Paulo Henrique Amorim

Máximas e Mínimas 1141


Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.

“Ele (Serra) é sem escrúpulo, passa por cima da mãe”.
De Ciro Gomes, numa sabatina na Folha

. A Folha (da Tarde (*) de S. Paulo não considerou tão relevante que merecesse a primeira página uma informação impressionante: das 4.830 escolas de São Paulo avaliadas pelo Enem no ano passado, a melhor escola da rede ESTADUAL, quer dizer, do Governo do presidente eleito José Serra, não passa de 913ª. posição.

. 913ª. posição !

. Que beleza !

. É a comprovação de que São Paulo é a Chuíça brasileira: crescimento econômico da China e IDH da Suíça.

. Quando candidato a governador de São Paulo, depois de assinar na Folha documento em que se comprometia a ser prefeito de São Paulo até o fim do mandato, o presidente eleito deu entrevista a Chico Pinheiro, na Globo de São Paulo.

. Chico perguntou como ele explicava as notas baixas das escolas públicas de São Paulo – estado que os tucanos controlavam, então, há doze anos.

. A resposta de Serra foi taxativa: a culpa é dos migrantes.

. Quer dizer, dos nordestinos.

. O portal UOL colocou essa resposta numa manchete e Serra recorreu ao velho hábito de praticar a liberdade de imprensa: pediu a cabeça do responsável por aquela barbaridade: reproduzir por escrito uma declaração que ele tinha acabado de dar à Rede Globo ...

. A reportagem que a Folha escondeu da primeira página e é primeira página no jornal Agora, do Grupo Folha, e pode ser lida em aqui.

. De quem será a culpa agora ?

. Provavelmente dos funcionários da Nossa Caixa, que não querem que Serra venda o banco sem licitação.

. O Conversa Afiada já demonstrou que Serra não está interessado em vender bem a Nossa Caixa, mas vender rápido. (clique aqui para ler)

. É o que demonstra reportagem – aí, sim, na primeira página da Folha – de hoje: Serra já entregou os dados da Nossa Caixa ao Banco do Brasil. (clique aqui para ler)

. Rapidinho.

. Do jeito que ele gosta: se colar, colou.

. No Estadão, na página B4, o presidente do Bradesco, Márcio Cypriano, faz uma pergunta elementar: “Se há mais compradores – como o Bradesco – por que não fazer leilão ?”

. Serra não tem resposta para isso.

. Como sempre, ele se esconde atrás de declarações que não declaram nada: “Não há nada de concreto... Nós recebemos uma proposta do Banco do Brasil para conversar... Primeiro, precisamos saber quanto o Bando do Brasil vai oferecer, depois avaliar.” (Estadão, pág. B5)

. (O problema de Serra é a liberdade de imprensa. Porque ele nunca tem o que dizer. Quando se você obrigado a dizer qualquer coisa, percebe-se que, calado, ele é um poeta.)

. Se o presidente eleito está mesmo tão interessado em saber quanto vale a Nossa Caixa, porque não faz um leilão para ver quanto o Banco do Brasil, o Bradesco, o Itaú, o Santander e o Unibanco oferecem pela Nossa Caixa.

. O problema não é vender bem.

. É vender rápido para imprimir os convites da posse em 2010.


(*) Instigado pelo Azenha – clique aqui para ir ao Viomundo – acabei de ler o excelente livro “Cães de Guarda – jornalistas e censores do AI-5 à Constituição de 1989”, de Beatriz Kushnir, Boitempo Editorial, que trata das relações especiais da Folha (e a Folha da Tarde) com a repressão dos anos militares. Octavio Frias Filho, publisher da Folha (da Tarde), não quis dar entrevista a Kushnir.

Fonte: Conversa Afiada
Share/Save/Bookmark

Nenhum comentário: