A indicação de Geraldo Alckmin como candidato a candidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo torna interessante o jogo de xadrez do governador José Serra.
No passado, Serra se caracterizou pelo purismo nas alianças. Flertou com uma área do chamado PMDB autêntico, com partidos de centro-esquerda, juntou em torno um grupo grande com quem mantinha afinidades intelectuais. Havia "serristas" no PMDB autêntico, no PSB, no PDT, no PT moderado.
Após as eleições de 2002, provavelmente julgou que esse purismo seria insuficiente. Mesmo com queixas em relação ao tratamento recebido do então presidente FHC, deixou-se guiar por ele e aí foi gradativamente se descaracterizando. Hoje é conduzido pela mão pelo pragmatismo de FHC. E é refém da pior parcela do jornalismo patrício.
Politica e administrativamente é superior a Alckmin.
Alckmin quase hostilizava os prefeitos do interior. Um deles me contou que foi ao Palácio com um colega de uma cidade mais pobre. Lá, pediu para que determinada verba destinada à sua cidade pudesse ser repassada para a cidade do colega. Alckmin sacou do seu caderninho, conferiu suas anotações pessoais e concluiu que aquela cidade já recebera muito. E que o remanejamento deveria ser para outra cidade. Perdeu o aliado.
Serra montou uma base de apoio política competente em São Paulo. Eleito prefeito da cidade, entregou a sub-prefeituras a ex-prefeitos do interior. O Secretário Guilherme Afif Domingos montou uma base de dados ampla em que os dados do orçamento estão claramente fixados. O prefeito chega, conversa, coloca suas reivindicações e recebe resposta na hora, sem a necessidade dos rapapés ao governador.
Alckmin colocou Arnaldo Madeira com articulador político. Madeira tentou impor o presidente da Assembléia Legislativa. Usou de todos os meios mas foi fragorosamente derotado pelo deputado Rodrigo Garcia, que fez campanha em dobradinha com Kassab. Eleito, Rodrigo foi até o Palácio e ofereceu a vitória ao governador – que pretendia derrotá-lo.
Serra fez dobradinha com Kassab a partir da qual pensava lançar as bases de uma nova aliança nacional com o DEM.
Um esbanja amadorismo, outro aparentemente esbanja profissionalismo. Quem leva?
Quem decide é sua majestade, o eleitor. E aí Serra se enrola.
Nas útlimas campanhas presidenciais, Serra perdeu a indicação em parte por falta de vontade – sabia ser muito difícil vencer Lula. Mas também porque Alckmin passou a viver seu grande papel: o do homem simples, sem firulas, que se propõe a enfrentar os cardeais do partido. Foi quando cresceu e se tornou personagem nacional.
É evidente que contribuiu para isso o anti-lulismo arraigado da mídia, que escondeu a fraqueza administrativa do candidato – o homem do caderninho apresentado como gerente moderno.
Agora, se repete o enredo, mas de forma mais complicada para Serra. São Paulo talvez seja o último reduto de militância do PSDB. Para conseguir alguns minutos a mais de TV, Kassab-Serra fecharam com Orestes Quércia, político de baixa penetração na capital (a eleição não é para prefeito?) com altos índices de rejeição.
Agora se trata do homem só – Alckmin – e sua teimosia, contra uma geléia geral, que junta o DEM (baixa penetracão em São Paulo), o PMDB de Quércia e... e... e não sei mais. Serra criou sua sinuca de bico. Não poderá fazer campanha a favor de Kassab, para não ser visto como traidor do partido. Ao mesmo tempo coloca seus homens para uma campanha de desgaste em cima de Alckmin – não apenas os políticos mas aceitando o anti-jornalismo mais desqualificado para ataques baixos contra adversários.
Quando sua majestade, o eleitor, se manifestar, será mais fácil para ele entender as complexas estratégias políticas de Serra ou a simplicidade simplesinha de Alckmin?
É mais um passo da Serra em direção à descaracterização de sua proposta original. Poderá chegar às próximas campanhas repletos de aliados. Mas estará bem mais vazio de propostas.
Fonte: Blog do Luis Nassif
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