quinta-feira, 1 de novembro de 2007

O império mora ao lado

O império mora ao lado.
Paraguai: nosso vizinho aceita uma base permanente dos
EUA em seu território, junto à fronteira brasileira.

De acordo com lei aprovada pelo seu congresso em 26
de maio, o governo paraguaio deu autorização ao
Pentágono para instalar a primeira base estrangeira
permanente na América do Sul, com vigência até
dezembro de 2006 e prorrogável automaticamente. Perto
de Mariscal Estigarribia, no Chaco, já há uma pista
capaz de receber bombardeiros B-52 e transportes C-5
Galaxy, a 200 quilômetros da fronteira da Bolívia, 280
de Porto Murtinho e 700 de Itaipu e Foz do Iguaçu.
O primeiro contingente deverá ser de 400
soldados, mas poderão vir até 16 mil, cuja missão não
está claramente definida. Vigiar possíveis atividades
de terroristas na Tríplice Fronteira? Será que para
isso é preciso tanto? Monitorar os acontecimentos na
Bolívia? Controlar os recursos hídricos da Bacia do
Prata?
O Paraguai concedeu aos militares estadunidenses a
completa imunidade diplomática que Washington exigia e
que Brasil, Argentina e Uruguai continuam a recusar.
Razão pela qual, nos últimos anos, o Pentágono só
participou de exercícios militares conjuntos com
exércitos do Cone Sul no Chile ou em alto-mar.
As tropas dos EUA poderão entrar e sair, transportar
armas e equipamentos e atuar em qualquer parte do
território sem novas autorizações. Assunção não poderá
investigar os delitos de soldados dos EUA ou processar
Washington ante o Tribunal Penal Internacional.
Para todos os efeitos, Brasil, Argentina e Bolívia
logo estarão na mesma situação em que se viram a Síria
e o Irã desde 2003(Guerra no Iraque)-com uma
imprevista e incômoda fronteira com os Estados Unidos.
E o Pentágono, quando quer uma base permanente, fala
sério. Nem Fidel Castro conseguiu tirá-lo de
Guantánamo.

Revista Carta Capital – Edição 350 – 13 de julho de
05.


EUA no Paraguai

O governo de Assunção acaba de autorizar o
estacionamento de tropas norte-americanas em seu
território. Pela primeira vez teremos bases
estrangeiras permanentes na América do Sul, na
estratégica região da usina de Itaipu.

MAURO SANTAYANA
da Agência Carta Maior

Com os olhos em Roberto Jefferson, não
estamos atentos ao que se passa ali, no Paraguai. O
governo de Assunção acaba de autorizar o
estacionamento de tropas norte-americanas em seu
território. Pela primeira vez teremos bases
estrangeiras permanentes na América do Sul, e em
região estratégica continental. Nessa tríplice
fronteira se encontra a
maior represa do mundo, a de Itaipu, de cuja energia
todo o território paraguaio e grande parte do
território brasileiro dependem. A região é também das
mais férteis do mundo
e se encontra mais ou menos na eqüidistância dos dois
oceanos.
Temos relações historicamente difíceis com o
Paraguai, desde a guerra contra López. Os
revisionistas procuram culpar o Brasil pelo conflito,
mas a isso fomos levados pelo fechamento do Rio
Paraguai aos nossos barcos e, em seguida, pela invasão
de grande parte do território do Mato Grosso. Não
coube ao Brasil a iniciativa da agressão. É certo que
o genro do Imperador Pedro II foi particularmente
cruel com a população derrotada e, talvez por isso,
tenhamos cedido em tudo nas nossas relações com o país
vizinho.
Não sabemos se o Paraguai nos comunicou essa
decisão perigosa. É provável que não. A submissão
paraguaia aos Estados Unidos é tão forte que este
colunista, há quarenta anos, ao descer em Assunção,
encontrou o aeroporto tomado por tropas formadas, ao
lado de colegiais que agitavam bandeirolas
norte-americanas. Procurou saber o que ocorria: o
funcionário do Departamento de Estado que cuidava dos
assuntos do Paraguai estava chegando em visita oficial
a Assunção.
Conforme divulgou a revista Newsweek, logo
depois de 11 de setembro, o sub-secretário da Defesa,
Douglas Feith, sugeriu a Bush a invasão da tríplice
Fronteira por tropas aerotransportadas, a fim de
capturar membros da Al Qaeda e ocupar permanentemente
a região. Alguém achou melhor a invasão do Iraque,
mais viável politicamente. Tudo isso nos leva a pensar
um pouco no que nos está ocorrendo. É bem provável que
Washington tente retirar vantagens da crise interna.
Um país dividido, conforme a velha advertência de
Lincoln, é presa fácil para os seus adversários.
Como os Estados Unidos não podem viver sem
guerras, e estando suas tropas escorraçadas do Iraque,
não seria de admirar se viessem a nos agredir sob o
pretexto da presença de muçulmanos em Foz do Iguaçu.
Tudo isso deve convocar a nossa reflexão, a fim de
esclarecer logo as denúncias que atingem o governo e o
Partido dos Trabalhadores, a fim de que possamos nos
organizar para a eventual defesa da soberania
territorial do Brasil. Temos, ali, o exemplo histórico
de provocações e de ocupação de nosso espaço soberano.
Os Estados Unidos, hoje, mais do que nunca,
estão desrespeitando todas as regras de convívio
internacional, a ponto de o mais submisso governante
europeu, Sílvio Berlusconi, ver-se obrigado, na última
sexta-feira (1º), a pedir explicações oficiais ao
embaixador norte-americano pelo fato de a CIA ter
seqüestrado um clérigo muçulmano em Milão e o haver
transferido clandestinamente para fora do país. A
Justiça italiana determinou a prisão dos 13 agentes da
CIA envolvidos no episódio. Se assim agem contra um
país da União Européia com o qual têm as relações mais
fraternas ao longo da História, que podemos deles
esperar quando nos encontramos fragilizados pela
crise, e pela entrega de setores estratégicos aos
estrangeiros, durante o governo neoliberal de Fernando
Henrique, quando
disputamos com o Paraguai a vassalagem a Washington?

Mauro Santayana, jornalista, é colaborador do Jornal
da Tarde e do Correio Braziliense. Foi secretário de
redação do Última Hora (1959), correspondente do
Jornal do Brasil na Tchecoslováquia (1968 a 1970) e na
Alemanha (1970 a 1973) e diretor da sucursal da Folha
de S. Paulo em Minas Gerais (1978 a 1982). Publicou,
entre outros, "Mar Negro" (2002).


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