domingo, 3 de maio de 2009

CADELA, PUTA OU LÉSBICA

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por Eliakim Araujo

As mulheres que servem ao exército norte-americano no Iraque têm que enfrentar dois inimigos: os iraquianos , que querem matá-las, e os próprios americanos, que querem violentá-las se elas não os atendem em seus instintos sexuais. Leia o relato de Mickiela Montoya, que passou onze meses na guerra.

Montoya conta que, certa noite, quando terminava sua guarda, o companheiro que veio substitui-la lhe disse:

"Sabe de uma coisa, eu poderia te possuir agora mesmo e ninguém te ouviria gritar ou ficaria sabendo do que aconteceu".

Com presença de espírito, Montoya respondeu: "se você tentar, eu mato você com o meu punhal ".

Ela não tinha o punhal, mas daquele dia em diante passou a andar com um punhal amarrado à perna. Não para se defender dos iraquianos, mas dos próprios companheiros.

Montoya termina seu depoimento com uma afirmação que é, ao mesmo tempo, um desafio aos comandantes militares e ao próprio governo dos EUA: “Só há três coisas que eles deixam a mulher ser no exército: cadela, puta ou lésbica”.

Essa história real está narrada no livro "O soldado solitário: a guerra particular das mulheres que servem no Iraque", da professora de jornalismo Helen Benedict, da Universidade de Columbia, recentemente lançado nos EUA.

No livro, a professora reuniu os depoimentos de quarenta mulheres soldados que foram apresentados no mês de março em teatros de NY, em forma de monólogos. Das quarenta ouvidas pela autora, todas ex-combatentes no Iraque, 28 foram violentadas, agredidas ou assediadas sexualmente.

Este é um dos lados mais sombrios e cruéis da guerra no Iraque, a que reune o maior contingente feminino da história das guerras norte-americanas, numa proporção de uma para cada dez homens.

Além da cultura machista, por si só origem do tratamento diferenciado entre os dois sexos a partir das próprias organizações militares, as mulheres são vítimas da discriminação dos homens que não as respeitam porque a elas são atribuídas tarefas de apoio, embora pelas características próprias da guerra no Iraque elas corram os mesmos riscos que os combatentes homens.

Essa discriminação e o isolamento em que vivem faz com que elas não consigam criar um espírito de camaradagem, o que as torna vulneráveis à perseguição sexual dos companheiros.

A estatística do Departamento de Veteranos, aparentemente mais branda do que as quarenta ouvidas por Benedict, indica que 30% das mulheres que serviram no Iraque foram violentadas por seus próprios companheiros. Em compensação revela que 90% dos casos de ataques não são denunciados por várias razões, a principal delas o medo de entregar os estupradores e agressores, que são muitas vezes seus superiores hierárquicos. E assim, muito do que acontece nos bastidores da guerra no Iraque não chega ao conhecimento do público.

Daí a importância do livro de Helen Benedict que é implacável em acusar os vários tipos de discriminação de que são vítimas as mulheres soldados americanas. Ela aconselha as mulheres a resistirem, a denunciarem os violadores custe o que custar, como única forma de luta pela igualdade de direitos dentro das organizações militares.

Por último, Helen Benedict acusa os recrutadores de serem coniventes e mentirem para as mulheres quando elas se apresentam para o voluntariado. Eles só falam das “vantagens” de se alistar nas forças armadas, tais como carreira, boa remuneração, benefícios de saúde e ensino para ela e a família. Mas não as alertam para os riscos da guerra e a indiferença da burocracia em cumprir os compromissos assumidos.

Certamente o hábito de tratar a mulher como um ser inferior não deve ser um “privilégio” das forças armadas americanas. Penso que essa luta deve ser também das mulheres brasileiras engajadas em organizações militares. Está mais do que na hora delas se unirem e exigirem uma mudança radical na mentalidade e no comportamento masculino, para que não se ouça novamente depoimentos como este, extraido do livro de Helen Benedict:

“Acabei de lutar a minha própria guerra, contra um inimigo vestido com o mesmo uniforme que o meu”.

Fonte: Direto da Redação

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