por Luiz Carlos Azenha
Frequentemente eu encontro leitores deste e de outros blogs na rua. Em geral muitos deles lamentam a dureza de se contrapor à mídia corporativa, que tem uma aparência muito mais sólida que o exército de Brancaleone dos blogs "independentes" ou "progressistas" da internet.
Depois de quase quarenta anos de Jornalismo, respondo: calma, gente. Vamos devagar, mas sempre em frente. A graça está em guerrear, nem toda vitória é definitiva, muitas derrotas são necessárias antes de uma conquista.
A primeira sugestão que faço é que não se fique dependente do reconhecimento da mídia corporativa em relação ao nosso trabalho. "Eles" jamais vão reconhecer que estão perdendo público -- o que é possível auferir matematicamente -- ou que nós estamos ganhando. Falo pelo Viomundo, que tem um medidor de audiência bastante confiável, da Hostnet: a audiência é crescente, desde que este site debutou, quando eu ainda morava em Nova York.
Hoje pipocam propostas para algum tipo de organização envolvendo a blogosfera progressista, talvez nos moldes do movimento que, quando amadureceu, teve papel essencial na eleição de Barack Obama, nos Estados Unidos. Sim, o evento anual da blogosfera progressista dos Estados Unidos é o maior do gênero, atrai patrocinadores e políticos de todos os tipos, é um sucesso comercial e jornalístico.
Àqueles que duvidam eu também costumo dizer: todos os grandes movimentos sociais começaram em torno de meia dúzia de pessoas. Não duvidem de seu próprio poder. Não duvidem do impacto que UM SÓ e-mail de protesto tem naquele que o recebe, especialmente se contém uma crítica de qualidade, verdadeira, justa. Não duvide da sua presença em uma manifestação de 100 pessoas, da faixa que você mandou pendurar, da camiseta que decidiu usar.
A sociedade é um ser vivo e a sua disposição de mudá-la não terá impacto imediato: tudo obedece a um lento processo de amadurecimento. Lembram-se quando se pregava a abolição pura e simples do Bolsa Família? Faz tão pouco tempo, não faz? Pois é, hoje os tucanos tentam se passar por pais do Bolsa Família. Isso reflete uma mudança na sociedade brasileira, que já se deu conta de que os projetos sociais são importantes para ampliar o mercado interno, que reduziu enormemente o impacto da crise financeira mundial no Brasil.
Ou seja, aquela mensagem que você deixou em um site defendendo o Bolsa Família fez seu trabalho. Se sua argumentação foi boa e alguém leu, você ajudou a mudar a sociedade brasileira.
A terceira coisa que digo aos meus interlocutores desanimados é que precisamos construir nosso próprio espelho. É óbvio que numa sociedade complexa e midiatizada a gente precisa ver o resultado de nosso engajamento social. Mas a mídia corporativa se nega a refletir esse resultado, uma vez que remamos contra a maré. Você só será reconhecido se remar em favor das Idéias "certas": apoio à ideologia econômica neoliberal, ao Gilmar Mendes, ao estado mínimo, à candidatura Serra e à elite política e econômica do Brasil. Aos brancos de olhos azuis.
Construir nosso próprio espelho significa ampliar o alcance de uma rede de informações que atinja a massa crítica de brasileiros. Uma rede formada por blogs, sites, rádios e TVs comunitárias, revistas,editoras, rádios e TVs educativas. É um trabalho de formiguinha, que só vai amadurecer mesmo dentro de uns dez anos.
Eu costumo criticar com frequencia a idéia da auto-estima, que importamos dos Estados Unidos. Você não está bem? A culpa é da auto-estima. Bateu o carro? É a auto-estima. Engordou? É a auto-estima. Tenho comigo que muito de nossa felicidade diária depende da organização social a que estamos submetidos. E essa em que vivemos, calcada na sobrevalorização do indivíduo, precisa nos deixar eternamente insatisfeitos para que a gente tente se satisfazer consumindo. Comprando. Acumulando. É uma sociedade escravocrata, em que poucos mandam e muitos obedecem. Em que a elite se acostumou a usar o Estado para manter seus privilégios políticos e econômicos.
Num país assim, o recurso à auto-estima desloca a crítica -- da sociedade para o indivíduo. Em vez de mudar o mundo, você é convocado a mudar apenas a si mesmo, lendo um livro, malhando ou dizendo diante do espelho: "Sou bom o suficiente, estou bem o suficiente e me importo" (Bordão do programa americano Saturday Night Life, que brincava com a auto-estima).
Não seja enganado. Mudar o mundo é essencial. É tarefa de todos. E você vai se sentir muito melhor se se der conta de que é capaz de fazê-lo. De que você também faz a diferença.
Acabou a sessão de auto-ajuda. Remeta 100 reais para a conta bancária do Viomundo.
Fonte: Vi o Mundo
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