domingo, 31 de maio de 2009

Um jornal que zomba de seus próprios leitores

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O que mais me impressiona na mídia corporativa brasileira é a crença dos redatores de que os leitores são absolutamente estúpidos e incapazes de raciocinar. O Eduardo Guimarães se deu ao trabalho de desmontar a lógica de um editorial da Folha publicado neste domingo que zomba da capacidade dos leitores:

por Eduardo Guimarães, no Cidadania.com

Pode não ter sido o herdeiro Otavio Frias “Júnior” quem escreveu o editorial da Folha de São Paulo deste domingo que trata da nova pesquisa Datafolha, instituto que um leitor bem-humorado chamou aqui de “Databranda”. Porém, o texto foi escrito sob sua encomenda e refletindo sua visão deturpada dos fatos.

Esse sujeito que ditou os termos do editorial “Assunto encerrado” (31/05), para mim nem é mais mentiroso e mistificador: acho que é maluco mesmo. Sofre daquele problema mental chamado “Complexo de Napoleão”.

Aquele herdeiro do velho Frias acha que seu jornal tem poder para encerrar a discussão sobre um terceiro mandato de Lula. Nesse afã, seu editorial omite e distorce fatos e se esquiva da opinião que o jornal defendeu no passado sobre um governante promover, mandar promover ou permitir que seus aliados promovam mudança na Constituição em benefício próprio.

Além disso, o texto chancelado por Frias faz uma leitura absolutamente despropositada de um dos fatos que visivelmente mais irritaram aquele “Napoleãozinho” da Barão de Limeira*, o fato de Lula ter recuperado (todinha) a pouca popularidade que teria perdido ao fim do primeiro trimestre deste ano por ação óbvia do surto de desemprego ocorrido em dezembro do ano passado.

Comento a seguir, portanto, alguns trechos do editorial em tela.

REFORÇAM-SE mutuamente os números, publicados nesta edição, da pesquisa Datafolha sobre a sucessão presidencial e sobre a tese de um eventual terceiro mandato para o presidente Lula.

Fruto bizarro, ao que tudo indica, dos interesses bajulatórios e do maquiavelismo rústico do baixo clero governista, a proposta da "re-reeleição" para o presidente petista não alcança, pelos dados da pesquisa, densidade suficiente para se impor.


Ao contrário: com 49% dos entrevistados contra a ideia, e 47% a seu favor, comprova-se acima de tudo o quanto haveria de arriscado na manobra.

O editorial contraria a própria pesquisa, que revela que entre o ano passado e este o percentual dos que apóiam a re-reeleição de Lula subiu de 34% para 47%, segundo o “Databranda”. Ou seja: sem campanha pelo terceiro mandato e com o presidente Lula dizendo que não o quer, seus entusiastas aumentaram de forma impressionante.

A possibilidade de instituir-se uma fratura profunda de opiniões, em assunto diretamente ligado à estabilidade institucional, surge com clareza - e, do frio registro dos números às vicissitudes de um entrechoque real no debate público, certamente esse potencial divisivo tenderia a intensificar-se gravemente.

Gozado é que, antes, o jornal não via na mudança das regras do jogo com ele em andamento qualquer ameaça à “estabilidade institucional”, pois em editorial publicado em 5 de janeiro de 1996, cerca de um ano antes de a emenda constitucional que permitiu reeleição de FHC em 1998 ser aprovada, a Folha disse exatamente o contrário, disse que essa mudança de regras “apenas” permitiria que FHC se recandidatasse, pois, segundo escreveu aquele jornal, “Entre a candidatura e a renovação do mandato estará sempre o democrático e o inquestionável veredicto das urnas.”

Note-se, aliás, a circunstância positiva de que os índices de popularidade do presidente Lula não se transferem automaticamente para o apoio a uma nova reeleição.

Como não se transferem? Se o apoio ao terceiro mandato subiu tanto do ano passado para cá mesmo com Lula dizendo que em nenhuma hipótese iria se recandidatar, é lógico que, se ele viesse a público dizer que mudou de idéia devido a uma causa compreensível como a de sua candidata se inviabilizar por algum motivo (doença ou sabotagem de sua candidatura), praticamente todos aqueles eleitores fiéis do presidente que hoje dizem não apoiar um terceiro mandato unir-se-iam àqueles que querem esse terceiro mandato desde já.

*Barão de Limeira é a rua em São Paulo onde fica a sede da Folha

Fonte: Cidadania.com e Vi o Mundo

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