segunda-feira, 25 de maio de 2009

O óleo de peroba é nosso

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por Guilherme Scalzilli

Resta pouco a acrescentar sobre o caráter oportunista e hipócrita da onda moralizadora que se abate sobre a Petrobrás. Um tanto contrário à maioria, porém, creio ser positivo jogar doses responsáveis de luz solar sobre os contratos da empresa – e não apenas para coibir a corrupção (que existe), mas principalmente para continuar perseguindo um padrão de qualidade internacional que não comporta certas bananices.
Sabendo que a iniciativa fracassará (pois nasceu apenas para constranger o governo federal, faltando-lhe mínimo respaldo popular ou político), espero que o susto leve a uma reflexão sobre a transparência desejada para as operações da estatal. A estupidez privatizadora, articulada nas catacumbas dos governos PSDB-DEM (PFL) e permanentemente em pauta, não pode servir de escudo para liberalidades obscuras.
Claro, ninguém está realmente interessado em investigar o que seja. Até os ectoplasmas demotucanos sabem que uma gigante como a Petrobrás precisa ocasionalmente driblar os rigores muitas vezes estúpidos da legislação licitatória nacional para poder operar. Isso já é feito para garantir lápis em escolas municipais.
Quando os ranulfos da imprensa paulistana aparecem com “deixem a cultura em paz” ou “peguemos apenas valores maiores que xis”, denunciam justamente os esqueletos que deveriam ser exumados para o bem da vergonha nacional. Porque fora dessas zonas nebulosas praticamente só existem operações complexas, de grande potencial estratégico e, portanto, acentuado apelo midiático. A desproporção custo-benefício se esconde nos meandros enganadoramente singelos de um patrocínio teatral, de uma exposição em Cracóvia, de um seminário sobre cultura tupinambá.
O mais ridículo argumento a favor dessa infame CPI eleitoreira é: “quem não deve não teme” (ah, que triste o fim de Ferreira Gullar!). Engraçado. Isso não serve para o necrosado governo Yeda Crusius (PSDB-RS) ou para as dezenas de escândalos de José Serra, sistematicamente arquivados por sua tratoragem na Assembléia paulista. Os caras-de-pau sabem apelar para interesses estratégicos e conveniências políticas quando se trata de preservar seus fiofós, mas nos outros esse mesmo “pragmatismo” se transforma em ardil maquiavélico para salvar lulinhas e afins.
Com o perdão da metáfora infeliz, todos (governo e oposição) querem perfurar apenas onde sabem o que jorrará: alguns constrangimentos localizados para burocratas impopulares, testas-de-ferro e fornecedores provincianos.

Fonte: Blog do Guilherme Scalzilli

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