segunda-feira, 25 de maio de 2009

Mangabeira e as abelhas

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por Roberto Malvezzi

O ministro de assuntos estratégicos continua pautando os rumos do Brasil a partir de sua própria cabeça. As andanças pelo Brasil pouco influenciam na sua leitura do que seja o Brasil, exceto as novidades que se encaixem exatamente no que ele pensa. As mudanças na legislação ambiental, com a finalidade de facilitar o avanço do capital, têm as mãos de Mangabeira, Dilma e Lula.

Depois de passar pelo Nordeste, Mangabeira reconheceu que existe aqui um fenômeno econômico a partir da produção de mel. De fato, a região, baseada em produtores descentralizados, tem tornado a abundância natural de abelhas e mel um processo econômico que melhora a renda das famílias envolvidas. Já era uma prática antiga, mas os apicultores tinham todos os vícios de queimar as colméias e amassar o mel com a cera, o que resultava num mel de péssima qualidade.

A entrada de ONGs e do próprio SEBRAE vem melhorando o manejo e transformando esses extratores de mel em apicultores. Hoje o Brasil produz cerca de 50 mil toneladas de mel/ano, gerando 80 milhões de reais. Cerca de 350 mil apicultores estão envolvidos com a atividade, grande parte no Nordeste (http://www.abemel.com.br/).

O que maravilhou Mangabeira foi a tecnologia avançada para produzir um mel de qualidade. Ok, ela é importante. Mas aí Mangabeira mostrou também os limites de sua visão de mundo. Muito mais importante que a tecnologia, o que favorece a produção de mel na região é sua base natural, isto é, a caatinga ainda em pé. Com suas árvores baixas, com muita produção de flores, é a região brasileira mais apropriada para a apicultura, particularmente o sul do Piauí e o norte da Bahia. Além do mais, distante das áreas poluídas por agrotóxicos, nosso mel é considerado orgânico e puro. Portanto, sem caatinga em pé não há apicultura no Nordeste.

O economista Vinod Thomas, do Banco Mundial, comparando um hectare de pastagem com um hectare de floresta em pé, disse que a diferença econômica é de duzentos para dez mil dólares. Oras, com o processo de desmatamento tantas vezes incentivado pelo próprio governo federal, através da entrada do eucalipto, da cana, das carvoarias e de outros ramos do agro e hidronegócio, a caatinga está sendo devastada. O que cresce é o deserto. Portanto, não há tecnologia que salve a apicultura nordestina caso prossiga a devastação da caatinga.

São esses e centenas de outros exemplos que mostram como a concepção de desenvolvimento de nossas elites acaba matando nossas galinhas que põem ovos de ouro.

Roberto Malvezzi (Gogó), ex-coordenador da CPT, é agente pastoral.

Fonte: Correio da Cidadania

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